sábado, 13 de julho de 2013

Wise man says #1

«The entire conventional approach (as exemplified by even the best American and British films) is wrong. Because the conventional approach tells you that the best way to tell a story is to leave out all except those elements which are directly related to the story, while the master's work clearly indicates that if your theme is strong and simple, then you can include a hundred little apparently irrelevant details which, instead of obscuring the theme, only help to intensify it by contrast, and in addition create the illusion of actuality better.»

Satyajit Ray em 1950, após uma visita a Londres onde 'aprendeu' Cinema durante seis meses a ver filmes. (citação tirada dos extras de uma edição do DVD de «Pather Panchali» («O Lamento da Vereda», título português) e também disponível neste artigo centrado no filme «The Chess Players» e na carreira do realizador indiano)

terça-feira, 9 de julho de 2013

Boudu, Boudu, para onde vais tu?

Há filmes que nos marcam, seja porque razão for. Mais recentemente um dos que teve esse efeito no autor destas linhas (que por estes dias tem andado com falta de tempo para actualizar este espaço) foi «Boudu Querido», uma pérola de Jean Renoir protagonizada por um não menos excelente Michel Simon, em mais uma das suas magníficas criações. E vá-se lá saber porquê este foi um dos títulos de Renoir (cineasta que tenho tido o prazer de vir a descobrir aos poucos na Barata Salgueiro, que mesmo em época de agonia ainda nos dá alguns tesouros a ver) que já andava para ver há tanto tempo e tardou em ser visionado, apesar da insistência de um caro amigo que se fartou de me falar neste filme. Mas, como diz o ditado, vale mais tarde do que nunca. E, verdade seja dita, «Boudu Querido» acabou por ser um dos filmes que mais me marcou ultimamente. Tanto que me deu para escrever algumas linhas sobre o filme. Não farão inteira justiça ao filme, pois não me sinto à altura de conseguir escrever algo de jeito sobre tamanha obra-prima (nem mesmo sobre qualquer obra de Renoir, já agora) à espera de ser descoberta por quem ainda não o fez. E se conseguir fazer com que alguém vá a correr ver esta preciosidade depois de ler este post, já me dou por contente.

Não sei de onde vem o fascínio pela personagem de Boudu, um vagabundo parisiense com uma pequena costela de anarca que é salvo do suicídio por um livreiro de classe média que resolve intervir quando o anti-herói desta história se resolve atirar ao Sena. Mas muito provavelmente vem do contexto pessoal (e quiçá nacional, pois como diz o outro, isto no fundo anda tudo ligado) que tenho vivido nestes últimos tempos e que me fez pensar que no fundo, no fundo, o Boudu é que tinha razão. E se foi salvo das águas para não morrer (e neste aspecto o título original - «Boudu Sauvé Des Eaux» - acaba por ser muito mais adequado, ao contrário da tradução para português, algo infeliz, mas não de todo incorrecta), às águas irá tornar para se salvar da 'vida mundana' que lhe querem oferecer (ou impingir, se preferirmos em português correcto) quando, através de um golpe de fortuna, consegue ficar rico. Mas as riquezas nada dizem a Boudu, que antes prefere a companhia dos animais à dos homens, mais interessados na fortuna monetária de Boudu do que na sua pessoa.

Mas mais não digo, pois acho que o melhor é mesmo fazerem um favor a vocês próprios e seguirem este link para descobrir o magnífico Boudu. Não é a melhor forma de o fazer, mas à falta de melhor, não é má de todo. E a versão que aqui está é magnífica, pois alguém teve a excelente ideia de colocar no YouTube uma versão restaurada do filme. Agora, como diria outro Grande (assim mesmo, com G maiúsculo) do Cinema, apetece também lembrar uma bela frase de «Recordações da Casa Amarela» a propósito da personagem de Boudu: «Vai e dá-lhes que fazer».