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segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Frankenweenie, de Tim Burton (2012)

2012 está a ser um ano de regresso ao passado para Tim Burton. Depois de ter estreado «Sombras da Escuridão», adaptando ao grande ecrã, de forma bastante razoável, uma das séries de televisão que mais o marcaram na infância, o realizador que conseguiu conquistar Hollywood através de uma obra marcada por tons sombrios, apresentou agora um projecto que já vem desde os primórdios da sua carreira, quando ainda era um desconhecido à procura da sua oportunidade no Cinema. Corria o ano de 1984 quando o jovem Tim Burton foi despedido pela Disney depois de ter realizado uma curta-metragem intitulada «Frankenweenie». A justificação do estúdio criado por Walt Disney foi que o realizador tinha gasto dinheiro da empresa num projecto que não era vendável para um público mais novo, pois era demasiado assustador. A curta apenas teve o devido crédito anos mais tarde, já Tim Burton era um nome consagrado, quando foi incluída numa edição especial do DVD de «O Estranho Mundo de Jack».

Mas, como o destino dá muitas voltas, quase 30 anos depois deste despedimento, a Disney resolveu dar luz verde a Tim Burton para realizar uma longa metragem baseada em «Frankenweenie», que acaba de chegar às salas de cinema. À semelhança de «A Noiva Cadáver», a outra animação realizada por Burton (também podíamos quase incluir aqui «O Estranho Mundo de Jack», filme de Henry Selick, mas quase sempre associado ao criador de «Eduardo Mãos de Tesoura», que escreveu a história original), o filme recorre à técnica stop motion, uma das paixões do cineasta neste género de Cinema.

Filmado a preto e branco, «Frankenweenie» não só recupera o espírito da curta original, apesar de também ser em 3D, como acaba por ser uma homenagem a um dos filmes favoritos de Burton: «Frankenstein», na versão de 1931, realizada por James Whale e protagonizada pelo ícone do terror clássico Boris Karloff. Com a diferença de que neste caso o 'herói' não é um cientista que realiza experiências para dar vida a um corpo morto, mas um rapaz que, utilizando o mesmo método, tenta ressuscitar o seu cão, personagem principal dos seus filmes caseiros, que fora atropelado.

Se a ideia original da Disney era fazer um filme para crianças, o resultado final não parece o mais adequado para este tipo de público, apesar de a moral do filme estar presente, de modo um pouco forçado, e alertar os mais novos para os perigos da má utilização de algo, neste caso a Ciência. Mas mal não faz, para quem é mais novo, apanhar um ou outro susto, se no final levar na memória a história de amizade entre um miúdo e o seu melhor amigo canino. Já um público mais adulto e fã do imaginário dos filmes de terror, sobretudo os grandes clássicos do género, irá divertir-se e perceber um pouco melhor as inúmeras referências a personagens e cenas destes filmes.

Tecnicamente «Frankenweenie» está sublime, mesmo no 3D, bem melhor do que no anterior «Alice no País das Maravilhas», e é difícil encontrar grandes defeitos neste capítulo. O único ponto negativo do filme é que parece que Tim Burton se perdeu um pouco no meio de tantas referências aos seus filmes favoritos (às tantas parece que estamos num filme de Quentin Tarantino, tal é a diversidade de referências a outros filmes dentro do filme) e descurou a história. A moral, como já referi mais acima, parece um pouco forçada e metida a martelo, mas o que conta é que no final podemos contar com uma bela homenagem aos filmes de terror clássico. E mesmo em modo preguiçoso, Tim Burton não falha.

Classificação: 4/5

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Alvos, de Peter Bogdanovich (1968)

Corria o ano de 1968 quando o grande mestre Roger Corman, pai de uma não menos famosa geração de realizadores norte-americanos, convidou o então jovem jornalista Peter Bogdanovich para realizar um filme com Boris Karloff, actor que devia a Corman dois dias de trabalho, segundo reza a lenda contada pelo próprio Bogdanovich. Foi assim que nasceu «Alvos», o primeiro filme oficial de Peter Bogdanovich depois de uma outra longa-metragem, assinada com o nome de Derek Thomas e com o fantástico nome de «Voyage to the Planet of Prehistoric Women». Aceite o desafio, Bogdanovich escreveu uma história com a ajuda da então companheira Polly Platt e depois de uma revisão feita por Samuel Fuller o projecto «Alvos» lá avançou.

Filmado com poucos meios, como era hábito nestas produções, «Alvos» conta duas histórias em paralelo que se vão cruzar no final, numa sequência onde as personagens principais se confrontam num drive-in, o melhor cenário possível para um cineasta conhecido por ser também um dos maiores historiadores da Sétima Arte. E uma das histórias, a que é protagonizada por Karloff, acaba também por nos mostrar essa faceta de Bogdanovich, pois o homem que deu vida a Frankenstein interpreta aqui um popular actor de filmes de terror que decide reformar-se, o que acaba por surpreender todos à sua volta, que contavam com ele para pelo menos mais um filme, que apenas avançará com a sua presença. A segunda história de «Alvos», que serviu para complementar a presença obrigatória de Karloff, é a de Bobby Thompson (Tim O'Kelly), um jovem adepto de armas de fogo que resolve começar a matar pessoas aparentemente sem razão.

Com um orçamento de pouco mais de 125 mil dólares, Peter Bogdanovich conseguiu aqui uma estreia auspiciosa, que apesar de não ser uma excelente filme nos mostra como a escola de Corman funcionava, ao criar bons filmes com poucos meios. Neste caso concreto temos o recurso a um nome relativamente sonante, Boris Karloff, a utilização de poucos cenários, que em alguns casos serviam para cenas passadas em diferentes sítios, e até a filmagem em locais sem autorização, num estilo que se designa de cinema guerrilha e que foi utilizado nas sequências da auto-estrada. Esta boa estreia acabou por ajudá-lo a mais tarde realizar aquela que é, ainda hoje, a sua melhor obra e a mais conhecida: «A Última Sessão».

Classificação: 4/5

domingo, 16 de setembro de 2012

O Túmulo Vazio, de Robert Wise (1945)


Para a maioria dos cinéfilos o nome de Robert Wise talvez seja mais conhecido por filmes como «Música no Coração» ou «Amor Sem Barreiras» («West Side Story»). Mas a carreira de Wise foi muito além destes dois clássicos e andou pelos mais variados géneros, incluindo o terror. Um desses exemplos é «O Túmulo Vazio», o seu terceiro filme, produzido por Val Lewton, um lendário produtor de filmes de série B em Hollywood, daqueles que gostava de controlar os seus filmes sem pedir licença aos realizadores, que foi recentemente 'homenageado' por Edgar Pêra no seu último filme, «O Barão». Neste filme, baseado num conto de Robert Louis Stevenson, a história centra-se num negócio obscuro, mas de certa forma comum, na Edimburgo do século XIX: a venda de cadáveres para as universidades de Medicina, onde os corpos que não eram reclamados nas morgues iam parar aos auditórios.

Com a escassez de matéria-prima começaram a surgir formas alternativas de encontrar cadáveres e o caso da dupla Burke e Hare (dois destes comerciantes que começaram a matar pessoas para venderem os corpos às universidades e mais tarde acabaram condenados à morte - o caso é relatado na comédia negra «Burke and Hare», o último filme realizado por John Landis e que passou no ano passado no Motelx) terá servido de base a «O Túmulo Vazio». Se no filme de Landis é a própria dupla a protagonizar o filme, no caso da obra de Robert Wise os protagonistas são o Dr. MacFarlane (Henry Danniel), um professor de Medicina, e John Gray (Boris Karloff), o seu fornecedor de cadáveres. Esta relação irá atravessar todo o filme num arco narrativo tão simples como eficaz, o suficiente para conseguir atingir o objectivo: contar uma boa história com poucos meios.

Estes poucos meios permitem criar cenários, tão ao gosto dos filmes de série B, que nos remetem para ambientes obscuros, desde pequenas ruelas pouco recomendáveis a salas onde são guardados cadáveres onde aparentemente a luz não se sente à vontade. A forma como estes cenários e as luzes são exploradas, basta ver a brutal sequência (em todos os sentidos) da morte de uma das vítimas de Gray, que não mostra o que se passa, mas ao mesmo tempo é um não mostrar que acaba por dizer tudo, ajuda bastante a levar-nos até à Edimburgo do século XIX.

Depois temos ainda direito à presença de dois 'monstros' do cinema de terror: Boris Karloff, naquela que é considerada por muitos como uma das suas melhores interpretações, e o seu grande rival Bela Lugosi, que não tem tanto destaque no filme. Apesar de ter a sua importância, o seu papel acaba por ser mínimo. Mas, reza a lenda, este foi bastante cortado na sala de montagem.

Em suma, este filme de Robert Wise tem vários atractivos que o tornam bastante recomendável: não só é uma obra muito diferente dos filmes mais conhecidos do cineasta, mas também um bom filme de terror, que conta com a presença de um dos seus maiores nomes, Boris Karloff, também ele num registo bastante diferente do seu mais conhecido Frankenstein. Só é pena não ter havido mais espaço para Bela Lugosi, com quem nunca terá tido uma grande relação, apesar de ambos terem participado juntos noutros filmes.

Classificação: 4/5