Nem sempre é comum, mas há genéricos que nos marcam quando vemos um determinado filme. Por vezes o próprio genérico inicial, que apenas pretende servir de apresentação dos actores e técnicos de um filme, acaba por ser mais interessante do que o filme em si. Com esta rubrica pretendo apresentar alguns dos genéricos que se enquadram nesta categoria e começo por «As Ligações Perigosas», a adaptação do livro «Ligações Perigosas», escrito por Pierre Choderlos de Laclos em 1782, assinada por Roger Vadim.
Protagonizado por Jeanne Moreau e Gerard Phillipe, esta adaptação transpõe o conto original para o final dos anos 1950, no que acaba por ser uma variante bem distante de duas adaptações da mesma obra realizadas posteriormente e talvez mais conhecidas actualmente: «Ligações Perigosas», de Stephen Frears, e «Valmont», de Milos Forman.
O que é curioso neste genérico inicial é o recurso a um tabuleiro de xadrez por onde a câmara 'passeia' apresentando os nomes dos actores e da equipa técnica no meio das peças que correspondem ao papel que cada um irá desempenhar. Esta metáfora do xadrez não poderia ser mais adequada para o filme onde os jogos de intrigas começam no primeiro frame e apenas acabam no último. Em pano de fundo ouvimos o jazz de Thelonious Monk.
Como não consegui encontrar on-line um vídeo apenas com este genérico inicial, para o incluir no final do post, deixo-vos o link para o YouTube onde é possível encontrar o filme completo. Desta forma os mais curiosos podem aproveitar para ver o resto do filme.
Mostrar mensagens com a etiqueta Jeanne Moreau. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Jeanne Moreau. Mostrar todas as mensagens
quarta-feira, 31 de outubro de 2012
sábado, 27 de outubro de 2012
O Gebo e a Sombra, de Manoel de Oliveira (2012)
Manoel de Oliveira não é, de todo, um dos cineastas mais populares por estes lados. Nada contra a cinematografia do veteraníssimo realizador português, cuja obra fala por si e não tem provas a dar a ninguém, muito menos a um jovem cinéfilo. Mas dada a importância do cineasta no panorama português e mundial, é sempre com agrado que vemos um dos seus filmes chegar às salas do circuito comercial e a curiosidade fala sempre mais alto na hora de escolher que filme ver em sala, no meio das dúzias de estreias que nos chegam todas as semanas.
E, neste caso, «O Gebo e a Sombra», mesmo que não fuja muito ao estilo de Oliveira, nomeadamente no recurso aos planos fixos, com excelentes enquadramentos (quase que podemos dizer que neste filme estamos perante belos quadros vivos onde as personagens ganham vida), e uma certa teatralidade na interpretação, que se nota sobretudo na primeira parte, é um daqueles filmes que nos deixa reconfortados por saber que ainda há quem consiga fazer algo assim, que aparentemente requer pouco esforço. De realçar que o elemento teatral acaba por fazer todo o sentido neste caso em concreto, pois o filme adapta a peça homónima, escrita por Raul Brandão em 1923.
Diz-se sobre esta adaptação que Manoel de Oliveira quis fazer um filme sobre os dias de hoje e os tempos conturbados que se vivem um pouco por todo o lado. Se o conseguiu ou não, apenas o tempo o dirá, o que é um facto é que «O Gebo e a Sombra» consegue ser mais do que isso. É um filme com uma história universal (não será à toa que nunca conseguimos saber, nem nos é dito, em que período decorre o filme), cuja acção tanto podia ter lugar em Portugal como em França. E Oliveira conseguiu transmitir bem essa ideia ao pôr as personagens a falar em francês mas todos os restantes elementos, como os nomes das pessoas ou o dinheiro, por exemplo, remetem para o imaginário luso.
Tal como na maior parte dos filmes do mestre português, o «Gebo e a Sombra» vive também muito das interpretações, e neste campo não podemos deixar em claro a presença de um elenco composto na sua maioria por veteranos e grandes nomes do Cinema mundial, como Michael Lonsdale, Jeanne Moreau e Claudia Cardinale, ladeados por Luís Miguel Cintra, Leonor Silveira e Ricardo Trêpa, que consegue surpreender pela positiva, pois está um bocadinho acima do que nos tem habituado em filmes recentes do avô. Mas é Lonsdale que domina completamente o filme, ao interpretar o pobre e honrado Gebo, um homem que vive na sombra do filho desaparecido, e esconde da mulher e da nora, com quem vive numa humilde casa, o pouco que vai sabendo sobre o que vai acontecendo ao seu filho para não as envergonhar.
Dizer que este é apenas um filme sobre a pobreza e os tempos difíceis é simplificar demasiado tudo o que «O Gebo e a Sombra» é, um filme sobre um homem que não abdica dos seus princípios, mesmo sabendo que estes não o levarão a lado nenhum, ao contrário de outros, que aproveitaram sempre que puderam para subir na vida através da cobiça. E Oliveira conseguiu fazer um retrato magistral desta personagem com a ajuda de uma soberba interpretação do actor francês, que dá vida a Gebo.
Classificação: 4\5
E, neste caso, «O Gebo e a Sombra», mesmo que não fuja muito ao estilo de Oliveira, nomeadamente no recurso aos planos fixos, com excelentes enquadramentos (quase que podemos dizer que neste filme estamos perante belos quadros vivos onde as personagens ganham vida), e uma certa teatralidade na interpretação, que se nota sobretudo na primeira parte, é um daqueles filmes que nos deixa reconfortados por saber que ainda há quem consiga fazer algo assim, que aparentemente requer pouco esforço. De realçar que o elemento teatral acaba por fazer todo o sentido neste caso em concreto, pois o filme adapta a peça homónima, escrita por Raul Brandão em 1923.
Diz-se sobre esta adaptação que Manoel de Oliveira quis fazer um filme sobre os dias de hoje e os tempos conturbados que se vivem um pouco por todo o lado. Se o conseguiu ou não, apenas o tempo o dirá, o que é um facto é que «O Gebo e a Sombra» consegue ser mais do que isso. É um filme com uma história universal (não será à toa que nunca conseguimos saber, nem nos é dito, em que período decorre o filme), cuja acção tanto podia ter lugar em Portugal como em França. E Oliveira conseguiu transmitir bem essa ideia ao pôr as personagens a falar em francês mas todos os restantes elementos, como os nomes das pessoas ou o dinheiro, por exemplo, remetem para o imaginário luso.
Tal como na maior parte dos filmes do mestre português, o «Gebo e a Sombra» vive também muito das interpretações, e neste campo não podemos deixar em claro a presença de um elenco composto na sua maioria por veteranos e grandes nomes do Cinema mundial, como Michael Lonsdale, Jeanne Moreau e Claudia Cardinale, ladeados por Luís Miguel Cintra, Leonor Silveira e Ricardo Trêpa, que consegue surpreender pela positiva, pois está um bocadinho acima do que nos tem habituado em filmes recentes do avô. Mas é Lonsdale que domina completamente o filme, ao interpretar o pobre e honrado Gebo, um homem que vive na sombra do filho desaparecido, e esconde da mulher e da nora, com quem vive numa humilde casa, o pouco que vai sabendo sobre o que vai acontecendo ao seu filho para não as envergonhar.
Dizer que este é apenas um filme sobre a pobreza e os tempos difíceis é simplificar demasiado tudo o que «O Gebo e a Sombra» é, um filme sobre um homem que não abdica dos seus princípios, mesmo sabendo que estes não o levarão a lado nenhum, ao contrário de outros, que aproveitaram sempre que puderam para subir na vida através da cobiça. E Oliveira conseguiu fazer um retrato magistral desta personagem com a ajuda de uma soberba interpretação do actor francês, que dá vida a Gebo.
Classificação: 4\5
Etiquetas:
Claudia Cardinale,
Crítica,
Estreias 2012,
Jeanne Moreau,
Leonor Silveira,
Luís Miguel Cintra,
Manoel de Oliveira,
Michael Lonsdale,
Raul Brandão,
Ricardo Trêpa
Subscrever:
Comentários (Atom)
