O quarto dia de IndieLisboa trouxe-nos um regresso aguardado (Brillante Mendoza com «Thy Womb»), um exemplo da vitalidade do cinema romeno («Rocker», de Marian Crisan) e mais um capítulo da trilogia Paradise do austríaco Ulrich Seidl («Paradise: Hope»).
O mais recente filme de Brillante Mendoza chega ao IndieLisboa quando ainda podemos ver em sala o seu anterior «Cativos», um filme que desilude tendo em conta aquilo que o cineasta filipino nos mostrou em obras anteriores, como foi o caso do excelente «Lola». «Thy Womb» não se aproxima tanto desse filme protagonizado por Isabelle Huppert (analisado aqui), mas mais de «Lola», apesar de ser um tema um pouco diferente. Em «Thy Womb» o cineasta filipino acompanha um casal cuja mulher é infértil à procura de uma nova esposa para o marido, para que dessa forma possam cumprir o sonho de poderem ter um filho.
Não estando à altura de «Lola», esta obra de Brillante Mendoza acaba por marcar um regresso ao que ele fez com esse filme, o primeiro da sua obra que chegou a estrear comercialmente a Portugal. Partindo de uma história enraizada na cultura local, «Thy Womb» apresenta-nos belíssimas imagens da paisagem filipina (algumas a fazer lembrar precisamente «Lola») e de algumas tradições locais, ao mesmo tempo que acompanhamos a 'saga' do casal. Esse é um dos pontos fortes do filme, sempre filmado com o mesmo estilo de câmara à mão tão caro a Mendoza, que acaba por compensar um argumento onde a história não tem a força que poderia ter tendo em conta a premissa. Sobretudo a partir do momento em que o marido é colocado perante um dilema complicado (contá-lo seria estragar a surpresa do filme) cujo desenlace terá consequências duras para o casal. Mesmo assim não deixa de ser uma agradável surpresa constatar que o realizador não se deixou levar pelos excessos de «Cativos» e soube regressar às origens.
Classificação: 3/5
Outro dos filmes bastante aguardados por estes lados era «Rocker», o único representante do cinema romeno na edição deste ano do IndieLisboa. Realizado por Marian Crisan, que apresentou há uns anos no festival a sua primeira longa-metragem («Morgen»), «Rocker» é a história de Victor, o pai do vocalista de uma banda de rock à procura de fama que faz tudo para ajudar o filho toxicodependente. Esta segunda obra de Marian Crisan é mais um exemplo do bom cinema que se tem feito na Roménia nos últimos anos, assente num realismo social bastante forte, apesar de estar longe da qualidade de títulos mais consagrados, como «A Morte do Senhor Lazarescu» ou «Quatro Meses, Três Semanas e Dois Dias», para referir apenas dois bons exemplos.
Contudo, apesar de alguns bons pormenores, «Rocker» não faz parte do mesmo campeonato do melhor que se fez na Roménia ultimamente e que foi alvo de uma homenagem há uns anos no Indie. Faz lembrar um outro filme que já assistimos este ano no festival, o norte-americano «Francine». Aqui em vez de acompanharmos uma ex-presidiária à procura de regressar à normalidade, temos um pai a tentar ajudar um filho. Todo o filme é centrado na personagem de Victor, numa excelente interpretação a cargo de Dan Chiorean, alguém que está à beira de explodir e acaba por fazê-lo apenas no último momento para depois voltar a estar ao lado do filho e ajudá-lo quando é preciso. E o olhar desencantado de Victor no plano final de «Rocker» acaba por fazer eco com o olhar de Francine no final de «Francine». Falta esperança a estas personagens, mas a Roménia continua a provar que tem muito para dar ao Cinema, mesmo quando produz obras que não são tão boas como outras que já foram apresentadas no passado.
Classificação: 3/5
O final do quarto dia de Indie ficou reservado para mais um capítulo da trilogia Paradise, de Ulrich Seidl, desta vez dedicado ao tema da Esperança e protagonizado por Melanie (Melanie Lenz), a filha de Teresa (protagonista de «Paradise: Love») e sobrinha de Anna Maria (protagonista de «Paradise: Faith»). Neste capítulo acompanhamos a adolescente Melanie durante a estadia num campo de emagrecimento, onde a jovem vai travar conhecimento com novas amigas e a maior parte das conversas acaba por ir parar ao tema
do sexo e a partilha de experiências. Aos poucos Melanie começa a aproximar-se de um dos médicos do campo por quem acaba por se apaixonar. A relação entre ambos vai evoluindo até que o médico acaba por se aproveitar da jovem. Seidl não mostra o que realmente se passou entre os dois em dois momentos em que ambos estão isolados, mas dá a entender que algo de pouco inocente se passou nesses momentos.
Em «Paradise: Hope» voltamos ao mesmo território de «Paradise: Faith»: uma comédia negra sobre um tema forte, que nos faz rir com coisas sérias, filmada através do olhar pouco inocente de Ulrich Seidl. Os planos utilizados são semelhantes, bem filmados e certinhos, criando quase que quadros protagonizados pelas personagens, e a fotografia recorre aos mesmos tons que já tínhamos visto em «Paradise: Faith». E uma vez mais o cineasta austríaco torna-nos voyeurs de uma determinada situação. Nada de novo em relação ao capítulo anterior da trilogia, apenas uma transgressão um pouco mais difícil de engolir pois apesar de o tema ser a Esperança (Melanie procura sempre algo melhor do que tem nas situações que enfrenta ao longo do filme), o filme foca também um tema mais complicado de aceitar como é o caso dos abusos contra menores, no caso contra uma jovem inadaptada, com problemas em relação a si própria e em casa (é das poucas que não consegue falar com os pais na chamada hora do telemóvel) que acaba por se apaixonar por alguém que pensa ser o amor da sua vida e apenas vai ser alguém que se aproveita dela e se afasta no final. Provavelmente será a primeira grande desilusão amorosa da adolescente. E o que é a destruição de símbolos religiosos vista em «Paradise: Faith» em comparação com a história de Melanie? É a questão (e, gostemos ou não, são muitas as questões que a obra de Seidl nos coloca) que nos deixa o cineasta quando arranca o genérico final de «Paradise: Hope».
Classificação: 3/5
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segunda-feira, 22 de abril de 2013
quinta-feira, 11 de abril de 2013
Sugestões para o IndieLisboa 2013: dia 21 de Abril
«Thy Womb», de Brillante Mendoza

Outro dos nomes fortes a marcar presença no Indie em 2013 é Brillante Mendoza. Depois de «Cativos», filme que estreia esta semana nas salas portuguesas e conta com a presença de Isabelle Huppert no elenco, o realizador filipino traz-nos uma história sobre a maternidade e o papel da mulher no seio de uma comunidade muçulmana numa ilha remota do arquipélago asiático. Prevê-se um regresso às origens de filmes como «Lola» ou «Kinatay». (sinopse)

Dia 21 de Abril, 21h30, Culturgest (Grande Auditório)
«Paradise: Hope», de Ulrich Seidl
O primeiro fim de semana do festival termina com o encerramento da trilogia «Paradise», de Ulrich Seidl. No derradeiro episódio da trilogia o cineasta austríaco conta a história de Meli, filha de Teresa e sobrinha de Anna Maria, protagonistas dos outros dois filmes da série, uma adolescente com problemas de obesidade que vai para uma colónia de férias com o objectivo de perder peso. O objectivo acaba por ser posto de parte quando a jovem se apaixona por um dos médicos da colónia, num filme dedicado ao tema da Esperança. (sinopse e trailer)
terça-feira, 9 de outubro de 2012
13ª Festa do Cinema Francês: Captive, de Brillante Mendoza (2012)
(crítica com spoilers)
Que ninguém sai inteiro de um filme de Brillante Mendoza não é grande novidade. Mas em «Captive» saímos um bocadinho mais inteiros do que nos anteriores filmes do cineasta filipino, apesar de alguma violência percorrer as duas horas deste filme, que relata o cativeiro de um grupo de reféns raptado por terroristas islâmicos. Não sabemos se os murros no estômago que estavam presentes nos últimos filmes de Brillante Mendoza, tanto o poético «Lola» como o mais duro «Kinatay», sobretudo este, foram suavizados devido ao facto de «Captive» ser uma co-produção com financiamento europeu ou não, mas o que é certo é que esta última obra do realizador não é tão forte como as duas anteriores, mesmo tocando situações sensíveis.
Filmado como se de um documentário ficcionado se tratasse, com uma câmara sempre nervosa, a mostrar a tensão do que se vive, «Captive» mostra-nos a dura realidade do cativeiro desde que o grupo é raptado até à sua libertação. Pelo meio há ainda tempo para reflectir sobre temas como o terrorismo e as suas ligações tanto à religião como às forças políticas. Mas o que falta a este filme em relação às duas anteriores obras do realizador, talvez as mais conhecidas, é precisamente essa dureza que fazia dos filmes de Mendoza quase como uma experiência.
Em «Captive» não há nada que nos prenda suficientemente à história ou nos leve a viver o que se passa com as personagens, como acontecia em «Lola» ou «Kinatay». Aqui estamos demasiado afastados do filme, mas talvez seja esse o objectivo, tal como é explicado nas legendas que aparecem no início e no final de «Captive», onde em traços gerais é descrita a situação dos raptos de pessoas nas Filipinas, que tiveram a sua génese precisamente no episódio que é relatado neste filme. Apesar da presença de uma certa violência, não só nas sequências mais previsíveis, como são as dos conflitos entre os terroristas e o exército ou milícias armadas, o filme poderia ter ido um bocado mais longe na exploração dos cenários, como a floresta onde decorre grande parte da acção, que não conseguem ser opressivos e falham em criar a sensação de que aquelas pessoas estão numa situação desesperante. Mesmo que todo o elenco tenha boas interpretações, «Captive» acaba por ser pouco satisfatório para quem estava à espera de algo mais à semelhança dos outros filmes de Brillante Mendoza.
Classificação: 3/5
«Captive» vai passar hoje, dia 9 de Outubro, às 22 horas no Cinema São Jorge, em Lisboa, e no dia 7 de Novembro às 21h45 no Cinema São Mamede, em Guimarães.
Que ninguém sai inteiro de um filme de Brillante Mendoza não é grande novidade. Mas em «Captive» saímos um bocadinho mais inteiros do que nos anteriores filmes do cineasta filipino, apesar de alguma violência percorrer as duas horas deste filme, que relata o cativeiro de um grupo de reféns raptado por terroristas islâmicos. Não sabemos se os murros no estômago que estavam presentes nos últimos filmes de Brillante Mendoza, tanto o poético «Lola» como o mais duro «Kinatay», sobretudo este, foram suavizados devido ao facto de «Captive» ser uma co-produção com financiamento europeu ou não, mas o que é certo é que esta última obra do realizador não é tão forte como as duas anteriores, mesmo tocando situações sensíveis.
Filmado como se de um documentário ficcionado se tratasse, com uma câmara sempre nervosa, a mostrar a tensão do que se vive, «Captive» mostra-nos a dura realidade do cativeiro desde que o grupo é raptado até à sua libertação. Pelo meio há ainda tempo para reflectir sobre temas como o terrorismo e as suas ligações tanto à religião como às forças políticas. Mas o que falta a este filme em relação às duas anteriores obras do realizador, talvez as mais conhecidas, é precisamente essa dureza que fazia dos filmes de Mendoza quase como uma experiência.
Em «Captive» não há nada que nos prenda suficientemente à história ou nos leve a viver o que se passa com as personagens, como acontecia em «Lola» ou «Kinatay». Aqui estamos demasiado afastados do filme, mas talvez seja esse o objectivo, tal como é explicado nas legendas que aparecem no início e no final de «Captive», onde em traços gerais é descrita a situação dos raptos de pessoas nas Filipinas, que tiveram a sua génese precisamente no episódio que é relatado neste filme. Apesar da presença de uma certa violência, não só nas sequências mais previsíveis, como são as dos conflitos entre os terroristas e o exército ou milícias armadas, o filme poderia ter ido um bocado mais longe na exploração dos cenários, como a floresta onde decorre grande parte da acção, que não conseguem ser opressivos e falham em criar a sensação de que aquelas pessoas estão numa situação desesperante. Mesmo que todo o elenco tenha boas interpretações, «Captive» acaba por ser pouco satisfatório para quem estava à espera de algo mais à semelhança dos outros filmes de Brillante Mendoza.
Classificação: 3/5
«Captive» vai passar hoje, dia 9 de Outubro, às 22 horas no Cinema São Jorge, em Lisboa, e no dia 7 de Novembro às 21h45 no Cinema São Mamede, em Guimarães.
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