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domingo, 27 de abril de 2014

IndieLisboa 2014, dia 26 de Abril: Do Japão com (muito) amor

O segundo dia de IndieLisboa foi dia de fazer escala em França e depois no Japão, uma vez mais com filmes completamente diferentes: um drama familiar e uma delirante comédia realizada por um não menos excêntrico realizador, Hitoshi Matsumoto, que em 2009 já tinha apresentado Symbol no festival lisboeta.

Realizado por Katell Quillévéré, Suzanne é um daqueles filmes que vale sobretudo pelas interpretações e para esta segunda longa-metragem a cineasta francesa teve a sorte de conseguir reunir um bom elenco para dar vida às personagens principais do filme. Todos os actores chegaram a ser nomeados na última edição dos prémios César, que premeiam os melhores filmes em França, tendo Adèle Haenel conquistado a estatueta de Melhor Actriz Secundária.

Partindo da história da protagonista que dá título ao filme, Suzanne é a história de uma jovem rebelde e da sua relação com a família desde a infância até cerca dos 25 anos. Não sendo um título de encher o olho, Suzanne é um filme sólido tendo em conta que estamos perante uma segunda obra, que só peca por ser pouco audaz. Se a cineasta arriscasse um pouco mais, talvez estivéssemos aqui perante uma boa surpresa. Ao invés Katell Quillévéré opta por jogar pelo seguro, tendo por base um argumento bastante simples, por vezes semelhante a muitos dos dramas familiares que temos visto oriundos do cinema francês. A única e grande diferença é que neste caso, o único risco que Katell Quillévéré corre é utilizar uma estrutura narrativa assente em inúmeras elipses, que funciona bem e não sentimos falta dos buracos deixados pelos saltos na narrativa.

E não há como não destacar a enorme presença de Sara Forestier que dá corpo e alma a uma personagem em constante luta consigo própria e com os que estão à sua volta. A jovem actriz, descoberta por Abdellatif Kechiche em A Cativa, mostra aqui que é uma boa actriz, mesmo que os seus trabalhos por cá sejam pouco conhecidos.

Num registo completamente diferente surge-nos R100, apesar de aqui também haver um drama familiar em pano de fundo. Mas é esse o único ponto de contacto entre o mais recente filme do japonês Hitoshi Matsumoto e o título de Katell Quillévéré. Contar em pormenor o drama familiar do protagonista de R100 é estragar a surpresa do visionamento deste delirante filme, tão delirante quanto Symbol, que já tinha passado pelo IndieLisboa há uns anos atrás. O melhor é ficarmos pela premissa: triste com a sua vida bastante cinzenta (e o cinzento é uma boa cor para descrever a fotografia do filme) o vendedor de mobiliário Takafumi inscreve-se num clube de sadomasoquismo e compromete-se a durante um ano submeter-se ao domínio de um conjunto de dominatrix que o vão fazer sofrer em ataques aleatórios ao longo do período do contrato, que não pode ser cancelado.

A partir daqui estamos por nossa conta e risco. Assim como já estávamos em Symbol, um daqueles objectos cinematográficos que nos deixam completamente fora de pé, tal é a quantidade de delírio que vai surgindo no ecrã e que no final, se conseguirmos sobreviver, acaba por fazer (algum) sentido. E o risco vale bastante a pena, tendo em conta que este é uma daquelas comédias descabeladas para rir do início ao fim. Hitoshi Matsumoto joga com todos os elementos da comédia e dos filmes série B (a sequência final de R100 de certeza que faz inveja a qualquer Grindhouse realizado a meias por Quentin Tarantino ou Robert Rodriguez), subverte-os e no final ainda temos direito a uma espécie de moral da história completamente delirante. O próprio título do filme faz parte do jogo, basta estar atento ao que se passa e tentar perceber este excêntrico labirinto criado por Hitoshi Matsumoto. Ou então não, podemos sempre deixar-nos levar pela loucura do filme e apenas passarmos um bom bocado, tendo em conta que vale tudo. Mesmo tudo para levar R100 a bom porto.

Suzanne repete no dia 28 de Abril às 16h30 na Sala 1 do Cinema City Campo Pequeno.

R100 repete no dia 30 de Abril às 23h50 na Sala 1 do Cinema City Campo Pequeno. 

quarta-feira, 20 de março de 2013

E se os filmes de Tarantino fossem clássicos da Penguin?

Estas poderiam bem ser as capas dos livros. No site do designer gráfico Sharm Murugiah podem ainda ser vistos posters alternativos de séries televisivas e outros filmes icónicos, uns recentes, outros mais antigos. Vale a pena uma visita a este link para quem gostar deste tipo de imagens.

domingo, 17 de março de 2013

CCOP: Top de Fevereiro de 2013

«The Master - O Mestre», de Paul Thomas Anderson, foi o filme preferido pelos membros do CCOP no último mês, chegando à segunda posição do top anual ao igualar a pontuação de «Django Libertado», de Quentin Tarantino. O pódio do top de Fevereiro, mês em que apenas 10 dos 26 filmes estreados comercialmente em Portugal foram considerados elegíveis para o top, é composto ainda por «Bestas do Sul Selvagem», de Benh Zeitlin e «Laurence Para Sempre», de Xavier Dolan. Também estes dois filmes conseguiram chegar ao top anual. Os resultados completos das votações do CCOP relativas a Fevereiro de 2013 podem ser consultados aqui.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Lincoln, de Steven Spielberg (2012)

De vez em quando Steven Spielberg põe de parte o seu lado de contador de histórias para se focar na História com H grande. É o que acontece em «Lincoln», o seu mais recente filme, que este ano caiu nas boas graças da Academia e amealhou o maior número de nomeações para os Óscares. Nesta sua mais recente obra o realizador de «ET» adapta um livro sobre Abraham Lincoln (Daniel Day-Lewis), concentrando-se nos últimos quatro meses da vida daquele que foi um dos mais carismáticos presidentes dos EUA, para retratar dois episódios que ficaram para a História dos EUA: a assinatura da 13ª Emenda da Constituição, que previa a abolição da escravatura, e o fim da Guerra Civil, travada entre os estados do Norte e os secessionistas do Sul com base precisamente na questão da escravatura.

Curiosamente este não é o único filme a chegar à corrida pelas estatuetas douradas mais ambicionadas do ano (pelo menos em Hollywood) que aborda a escravatura. Quentin Tarantino também o fez em «Django Libertado» e com ele conquistou também um bom lote de nomeações. Mas o filme de Spielberg pouco ou nada tem a ver com o western de Tarantino, a começar pelo facto de ser um filme que se quer mais sério, bem longe do olhar mais lúdico sobre este tema, tão ao gosto da veia tarantinesca. E é isso que «Lincoln» é, sem tirar nem pôr. Um drama histórico, baseado em fortes interpretações, não só a de Day-Lewis, que uma vez mais consegue uma interpretação fenomenal, que nos convence mesmo que estamos perante Lincoln himself e não um actor a fazer de uma determinada personagem, mas também de um excelente cast secundário, onde se destaca Tommy Lee Jones, também ele numa das suas melhores interpretações e a merecer totalmente a nomeação que a Academia lhe deu (a quarta, terceira enquanto Melhor Actor Secundário).

Mas, se as interpretações e a reconstituição da época retratadas são os pontos fortes de «Lincoln», onde o novo filme de Spielberg acaba por perder pontos é numa das histórias paralelas. Os melhores momentos de «Lincoln» surgem curiosamente na parte onde o filme se poderia tornar um pastelão, daqueles de difícil digestão: as manobras de bastidores para tentar convencer os membros do Congresso a votarem favoravelmente a proposta do presidente antes que esta seja condenada, caso os estados secessionistas do Sul voltem a esse mesmo Congresso no final da Guerra Civil que está iminente com a assinatura de um tratado que irá colocar um ponto final ao conflito. Esta parte do filme é a que lhe dá força durante as duas horas e meia de duração.

Já o lado mais pessoal e familiar de Abraham Lincoln, que tem de lidar com uma esposa agarrada à morte de um dos filhos do casal e um outro filho que insiste em alistar-se no exército, mesmo contra o desejo dos pais, acaba por ser o elo mais fraco de «Lincoln». Não há interpretações de luxo (como a de Sally Field, por exemplo, mais uma excelente interpretação neste filme) que salvem esta parte do filme, mais maçuda e um pouco à margem de tudo o resto. Desta vez o olhar de Spielberg, que sempre se deu bem com as histórias de família, não resultou da melhor maneira. E «Lincoln» passou ao lado do grande filme que poderia ter sido, apesar de ser suficientemente bom para fazer esquecer o anterior «Cavalo de Guerra».

Classificação: 4/5

domingo, 27 de janeiro de 2013

Django Libertado, de Quentin Tarantino (2012)

Chegamos ao início de 2013 com a estreia de um dos filmes mais aguardados por muito boa gente. Ao nono filme Quentin Tarantino resolveu fazer o que melhor sabe e atirar-se de cabeça a mais um dos seus géneros favoritos. Desta vez a escolha foi o western mas, ao contrário do que muitos pensaram, o novo filme de Quentin Tarantino não é uma homenagem apenas aos western spaghettis de culto, apesar de as influências também estarem por lá para quem quiser ir à procura delas. A começar logo pelo título: «Django Libertado». Arriscaria mesmo dizer que tem mais de spaghetti (salvo seja) a brilhante sequência inicial de «Sacanas Sem Lei» do que todo o «Django Libertado».

A história do novo filme do autor de «Pulp Fiction» é simples e conta-se em poucas linhas. Depois de ser libertado pelo dentista/caçador de prémios Dr. King Schultz (Christoph Waltz) o escravo Django (Jamie Foxx) junta esforços ao seu novo amigo para ir à procura da sua esposa e tentar libertá-la do destino da escravidão, assunto que acabou por se tornar um dos temas fortes e mais polémicos do filme quando se fala dele. E se o realizador tem sido criticado pela forma como abordou este tema sensível há uma frase dita por Django, quase que profetizando essas mesmas críticas, que talvez justifique o ódio e as críticas que o filme tem gerado, quando às tantas a personagem principal do filme diz ao vilão de serviço que já está habituado aos costumes dos americanos à época, por isso não se sente tão chocado quanto o seu comparsa alemão, talvez habituado a costumes mais civilizados. Quiçá esta ferroada no orgulho americano tenha doído tanto a alguns que gostam de limpar a História para debaixo do tapete.

Mas o que Tarantino nos mostra é sobretudo a senda deste par de anti-heróis ao longo de quase três horas que não pesam tanto quanto isso. E o que é «Django Libertado»? Tudo aquilo que seria de esperar de um western feito por Quentin Tarantino: violência a rodos (não se percebe o porquê de tanto alarido em relação a este elemento do filme, quando a violência é algo que sempre fez parte do universo de Tarantino), sequências bem filmadas (a morte dos Brittle ou o massacre em casa de Calvin Candie, são dois dos exemplos maiores), personagens marcantes (sobretudo os três secundários: o já referido Dr. King Schultz, Stephen e Calvin Candie, interpretados por Samuel L. Jackson e Leonardo DiCaprio, respectivamente) e diálogos com frases que ficam na memória.

Contudo, «Django Libertado» não é um filme perfeito e está longe do melhor que Tarantino já nos deu. A começar por uma personagem principal que acaba por ser um pouco abafada pelo elenco secundário e não tem o carisma de, por exemplo, A Noiva de «Kill Bill», para referir um filme do cineasta com algumas semelhanças em relação a este western. Por muito que se tenha esforçado Jamie Foxx não consegue estar à altura de Christoph Waltz, que surge num registo bastante parecido ao anterior Hans Landa de «Sacanas Sem Lei», e muito menos de DiCaprio, um dos grandes injustiçados nas nomeações aos Óscares deste ano (o que será que falta ao actor fazer para cair nas boas graças da Academia?), que criou um dos vilões mais bem conseguidos da obra de Tarantino.

E depois temos alguns elementos que parecem um bocado fora do baralho, desde a sequência da perseguição dos encapuçados ao duo protagonista (tem piada, é certo, mas é um autêntico OVNI dentro do filme, no sentido em que o tom de comédia pura destoa um bocado de tudo o resto, e bem podia ter ficado na sala de montagem à espera de ser incluído como extra na previsível edição em DVD do filme) à utilização de hip hop numa das cenas capitais do filme, que sem som ficaria excelente, se não mesmo perfeita: a sequência final do massacre em casa de Calvin Candie (não é preciso ir mais longe, Sam Peckimpah fez algo semelhante em «A Quadrilha Selvagem» e com um resultado muito melhor). Por fim, o cameo de Quentin Tarantino é um pouco sofrível, que desta vez deveria ter ficado apenas atrás das câmaras.

Dito isto e para concluir um texto que já vai longo, «Django Libertado» é um filme que todos os fãs do cinema de Tarantino vão gostar, mas não deixa de ser mais do mesmo. Um filme competente, não há dúvidas em relação a isso, e uma boa homenagem a um determinado género, mas que muito provavelmente apenas irá agradar a 100 por cento aos que, como alguém disse há alguns anos e foi bastante criticado por causa disso, acreditam ou pensam que o Cinema nasceu com o autor de «Cães Danados». Não começou e há muito para conhecer antes dele. Mas se um filme como «Django Libertado» servir para estes cinéfilos irem atrás de um dos géneros históricos do cinema norte-americano, que tem centenas de obras à espera de serem (re)descobertas (este meu post de ontem, escrito um bocado a quente no final da visualização do filme de Tarantino, contém muito poucos exemplos), já é muito bom. E enquanto divertimento, mesmo partindo de um tema muito sério e pesado, «Django Libertado» também não vai nada mal.

Nota:3/5

sábado, 26 de janeiro de 2013

Querem (mais) westerns?

Conquistadores, de Fritz Lang (1941)

Duelo ao Sol, de King Vidor (1946)

Vera Cruz, de Robert Aldrich (1954)

Johnny Guitar, de Nicholas Ray (1954)

Duelo de Ambições, de Raoul Walsh (1955)

O Homem Que Veio de Longe, de Anthony Mann (1955)

A Desaparecida, de John Ford (1956)

O Comboio das 3 e 10, de Delmer Daves (1957)

Quarenta Cavaleiros, de Samuel Fuller (1957)

Rio Bravo, de Howard Hawks (1959)

O Furacão, de Monte Hellman (1965) 

Aconteceu no Oeste, de Sergio Leone (1968)

A Quadrilha Selvagem, de Sam Peckinpah (1969) 


Imperdoável, de Clint Eastwood (1992)

A crítica a «Django Libertado» sai em breve. Se o novo filme de Quentin Tarantino servir para os cinéfilos mais novos irem à procura de mais títulos de um dos géneros de excelência do cinema norte-americano já não é mau. Para começar, ficam aqui algumas sugestões. (nota: optei por um filme por cineasta. Realizadores como John Ford ou Howard Hawks, para referir apenas dois dos mais populares, podiam e mereciam ter mais títulos nesta lista de sugestões)

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Ainda a propósito das reposições

No próximo mês de Dezembro, nos EUA, regressam às salas de cinema dois grandes clássicos de Quentin Tarantino: «Cães Danados» e «Pulp Fiction». Talvez seja uma manobra de marketing para abrir o apetite aos fãs do cineasta que vai estrear o seu próximo filme, «Django Libertado», no final do mesmo mês. Mas, tal como o regresso de «Vertigo - A Mulher Que Viveu Duas Vezes», de Alfred Hitchcock, às salas portuguesas, esta é uma excelente oportunidade para recordar dois clássicos dos anos 1990 no grande ecrã. Pena que a iniciativa não se repita por cá, onde decerto muitos dos actuais fãs de Tarantino não tiveram oportunidade de ver estas duas obras em sala.
Via Miramax

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Dúvida da Semana #1

Depois de ler isto, lembrei-me de uma curiosa questão: quando Quentin Tarantino tiver realizado um filme de homenagem a todos os seus géneros de eleição, como tem feito na perfeição ao longo dos últimos anos, o que fará o realizador de «Pulp Fiction» a seguir?

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Descubra as diferenças #1

 O Beijo Fatal, de Robert Aldrich (1955)

Pulp Fiction, de Quentin Tarantino (1994)

Com esta rubrica, que irá surgir regularmente consoante as minhas descobertas cinéfilas, pretendo apresentar algumas cenas semelhantes que aparecem em diferentes filmes. Para começar nada como escolher uma cena de um filme de Quentin Tarantino, realizador que actualmente é capaz de ser o melhor na arte de 'pilhar' cenas dos seus filmes favoritos para as integrar nas suas obras. Neste caso a cena pertence a «Pulp Fiction» e envolve uma estranha mala que Jules (Samuel L. Jackson) e Vincent (John Travolta) vão buscar a casa de um grupo de jovens que enganaram o seu patrão, Marsellus Wallace (Ving Rhames). O conteúdo da mala, que irradia uma estranha luz, nunca é desvendado e ainda hoje os fãs do filme debatem o que estaria dentro da mala.

A inspiração de Quentin Tarantino veio de um excelente film noir dos anos 1950 realizado por Robert Aldrich chamado «Kiss Me Deadly» («O Beijo Fatal», no título em português) que é considerado um dos melhores filmes do cineasta e uma das melhores obras dentro deste género. Neste filme também uma estranha mala com algo luminoso dentro tem um papel importante e é o motivo que leva as personagens a tomarem determinadas acções. Também aqui não se sabe ao certo o que está dentro da mala e quem a abre tem uma surpresa desagradável. 

Se para muitos a obra de Quentin Tarantino é mais do que conhecida e já terá sido analisada e vista ao pormenor mais do que uma vez, o filme de Robert Aldrich merece também um visionamento atento. E caso ainda seja um filme desconhecido, fica aqui a recomendação, que decerto irá agradar os fãs do film noir.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Pulp Fiction, de Quentin Tarantino (1994)

Corria o ano de 1992 quando um jovem realizador, de seu nome Quentin Tarantino, realizou a sua primeira longa-metragem oficial, filme que cedo se tornou de culto. Dois anos depois desta auspiciosa estreia (o cineasta tem duas experiências anteriores no currículo, mas pouco conhecidas ou relegadas ao esquecimento) com «Cães Danados», Tarantino voltou à carga com um filme que se tornaria ainda mais importante na sua carreira e um dos principais clássicos do cinema da década de 1990, conquistando nesse ano a Palma de Ouro no Festival de Cannes. Quase que corria o risco de espicaçar os fãs do realizador e afirmar que depois de «Pulp Fiction» Quentin Tarantino nunca mais conseguiu alcançar tamanha genialidade. O que não significa que o homem que saltou do videoclube para a cadeira de realizador, segundo reza a lenda, não seja um dos mais originais realizadores norte-americanos da actualidade, capaz de explorar e homenagear géneros ditos menores como ninguém. E com resultados bastante recomendáveis.

No caso de «Pulp Fiction», como o próprio nome indica, a homenagem é feita aos livros deste género, que normalmente relatam histórias de crime protagonizadas por personagens que vivem à margem da sociedade. E praticamente todas as personagens deste filme se tornaram míticas, desde a dupla Jules (Samuel L. Jackson) e Vincent (John Travolta) ao par de ladrões Pumpkin (Tim Roth) e Honey Bunny (Amanda Plummer), passando por Zed (Peter Greene) ou o gangster Marsellus Wallace (Ving Rhames). A juntar a estas personagens que alcançaram o estatuto de ícone, «Pulp Fiction» inclui ainda diálogos memoráveis que são praticamente conhecidos de fio a pavio por todos os fãs do filme.

«Pulp Fiction» quase que pode ser visto como um upgrade a «Cães Danados», pois todos os elementos que já eram explorados na primeira longa-metragem de Tarantino (a banda sonora com músicas que ficam no ouvido, apesar de não serem grandes clássicos, personagens marcantes, excelentes diálogos, uma história contada através de várias perspectivas, etc.) são aqui levados mais a fundo. Nota-se que o realizador já conta com mais meios, tem um elenco de actores com algumas estrelas, algumas que na altura estavam um pouco esquecidas, como é o caso de Travolta, que viu a sua carreira relançada com este filme, e estrelas em ascensão, como aconteceu com Uma Thurman, que posteriormente se tornou uma das musas de Tarantino em «Kill Bill». E a forma de filmar, com vários longos travellings que nos levam literalmente a percorrer os cenários de uma LA marginal atrás destas personagens fora da lei, já começa a ser aquela que iria ser umas das imagens de marca do cineasta.

Actualmente, quase 20 anos após a sua estreia, «Pulp Fiction» continua a ser um filme de culto e uma das obras mais importantes do cinema norte-americano da década de 1990, com a particularidade de ser também um daqueles filmes que não perdeu o brilho. Apesar de alguns aspectos nos remeterem para aquela época, a segunda longa-metragem de Quentin Tarantino envelheceu bem e continua a fascinar os fãs do realizador a cada novo visionamento.

Classificação: 5/5