Apesar de não ser um dos cineastas que ficou entre os grandes da Nouvelle Vague (apesar do seu inegável papel para aquela geração), como Jean-Luc Godard ou François Truffaut, para citar os suspeitos do costume, Claude Chabrol conseguiu cimentar uma longa e prolifera carreira desde a sua estreia, em 1958, até 2009, com o recentemente estreado por cá «Bellamy». Mas esta longevidade não significa que a carreira de Chabrol, cujas obras mais populares tendem a ser policiais ácidos ambientados num mundo burguês, com críticas mordazes ao meio (quase como se de um Buñuel sem surrealismo se tratasse), tivesse sido pêra doce. Logo em 1964 o cineasta gaulês, a braços com más críticas a alguns dos seus filmes, viu-se obrigado a aceitar projectos que não eram do seu agrado. Um desses projectos foi «Tigre Ataca», uma espécie de filme de espiões a la 007.
Nesse mesmo ano o agente preferido de Sua Majestade chegava ao grande ecrã pela terceira vez. O sucesso das aventuras de James Bond, que ainda hoje continua a ser uma das séries de maior longevidade da história do Cinema, levou os produtores de outros países a tentarem seguir a mesma fórmula de sucesso. Em França o clone de 007 chamava-se Tigre e as suas aventuras foram levadas ao Cinema precisamente por Claude Chabrol, numa altura em que a sua carreira estava na mó de baixo. Mas se na origem do projecto estava um filme de acção e espionagem relativamente sério, focado no entretenimento, o universo de Tigre não podia ser mais diferente do de James Bond e cedo constatamos que entrámos no domínio da comédia. Basta ver a entrada em cena do espião francês, interpretado por Roger Hanin, também responsável pelo argumento (escrito a meias com Jean Halain), para chegarmos a essa conclusão.
A partir desta apresentação, já depois de assistirmos à sequência que desencadeia os acontecimentos do filme (um assassinato político ocorrido na Turquia durante a visita de um responsável governamental francês ao país para vender aviões militares), «Tigre Ataca» começa a ser delirante. Aproveitando todos os clichés dos filmes de 007 (vilões maus como as cobras ajudados por anões que não lhes ficam atrás no campo da malvadez, gadgets mirabolantes, belas mulheres e cenas de acção a rodos) a primeira aventura do agente Tigre (que ainda teve direito a mais um filme, também realizado por Chabrol) é divertimento puro. Não sendo um grande filme, longe disso, «Tigre Ataca» é antes uma obra curiosa na carreira de um cineasta que nos habitou a um outro tipo de filmes, completamente diferentes.
E mesmo que não se goste, não há como evitar soltar umas valentes gargalhadas durante o visionamento da estreia de Tigre, de tão absurdo que é. E dar graças por o sucesso alcançado por «Tigre Ataca» por altura da sua estreia ter ajudado Claude Chabrol (que nunca apreciou estes seus filmes) a relançar a sua carreira mais tarde, tornando-se um dos nomes fundamentais do Cinema francês da segunda metade do século passado. «Tigre Ataca» não será uma boa porta de entrada para quem não conhece o cineasta, mas para os fãs do realizador será um filme engraçado de descobrir.
Classificação: 3/5
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domingo, 17 de março de 2013
quinta-feira, 29 de novembro de 2012
Neds, de Peter Mullan (2010)
Depois de ter passado na edição de 2011 do Festival Indie Lisboa «Neds» chega (finalmente) às salas portuguesas, a mais recente longa metragem realizada pelo actor escocês Peter Mullan, responsável por um bastante recomendável filme de 2002 chamado «As Irmãs de Maria Madalena». Apesar de estar apenas numa única sessão em Lisboa, este é um daqueles filmes que corre o risco de passar completamente despercebido tal como poderia ter acontecido com «Bellamy», de Claude Chabrol. Felizmente a afluência de público deu à derradeira obra do cineasta francês o direito a estar em sala durante mais algumas semanas e se o mesmo acontecer a «Neds» será uma boa oportunidade para as distribuidoras que compram filmes a torto e a direito e depois não sabem o que fazer para estreá-los em condições pensarem um bocado melhor nestas políticas. Porque no meio da avalanche de estreias semanais, já para não falar nos filmes que vão directos para DVD, há sempre pérolas que acabam por não ter o devido destaque e são afastadas do público que ainda gosta de ver Cinema em sala.
Desabafos à parte vale a pena esperar pelo regresso de Mullan à cadeira de realizador, pois «Neds» não irá desiludir quem gostou de «Irmãs de Maria Madalena». Tal como neste filme, que conta a história de três raparigas nos anos 1960 que vão parar a um convento na Irlanda para expiarem os seus pecados, «Neds» também remete para um passado recente nas ilhas britânicas, centrando-se num jovem de classe baixa, John McGill (Conor McCarron), que tudo faz para ser aceite na escola e pelos colegas de classe superior, mas a sociedade não o ajuda. Em casa o panorama não é muito diferente, pois o seu irmão mais velho vive sempre metido em sarilhos e o pai alcoólico passa a vida a bater na mãe. Estes factores levam o jovem a procurar refúgio num gangue de jovens delinquentes. Aos poucos o miúdo promissor e com boas notas começa a tornar-se num jovem violento.
«Neds» não é um filme fácil de se ver, pois é um valente murro no estômago e por vezes ganha contornos demasiado violentos. Mas é um grande filme, que pode ser inserido dentro do género conhecido como realismo britânico, ao recriar bastante bem a época em que decorre a acção, desde a música aos cenários, e mesmo a fotografia, que nos ajuda a entrar nesta viagem ao passado, que segundo o realizador é bastante pessoal, mas não autobiográfica. Outro dos grandes destaques de «Neds» é que conseguiu arrancar excelentes interpretações, como é o caso do estreante Conor McCarron. O próprio Peter Mullan também participa, interpretando o pai de John, e é também uma interpretação notável.
Resta esperar que «Neds» consiga o público suficiente para que estreias como esta não passem ao lado da maior parte dos espectadores.
Classificação: 4/5
Desabafos à parte vale a pena esperar pelo regresso de Mullan à cadeira de realizador, pois «Neds» não irá desiludir quem gostou de «Irmãs de Maria Madalena». Tal como neste filme, que conta a história de três raparigas nos anos 1960 que vão parar a um convento na Irlanda para expiarem os seus pecados, «Neds» também remete para um passado recente nas ilhas britânicas, centrando-se num jovem de classe baixa, John McGill (Conor McCarron), que tudo faz para ser aceite na escola e pelos colegas de classe superior, mas a sociedade não o ajuda. Em casa o panorama não é muito diferente, pois o seu irmão mais velho vive sempre metido em sarilhos e o pai alcoólico passa a vida a bater na mãe. Estes factores levam o jovem a procurar refúgio num gangue de jovens delinquentes. Aos poucos o miúdo promissor e com boas notas começa a tornar-se num jovem violento.
«Neds» não é um filme fácil de se ver, pois é um valente murro no estômago e por vezes ganha contornos demasiado violentos. Mas é um grande filme, que pode ser inserido dentro do género conhecido como realismo britânico, ao recriar bastante bem a época em que decorre a acção, desde a música aos cenários, e mesmo a fotografia, que nos ajuda a entrar nesta viagem ao passado, que segundo o realizador é bastante pessoal, mas não autobiográfica. Outro dos grandes destaques de «Neds» é que conseguiu arrancar excelentes interpretações, como é o caso do estreante Conor McCarron. O próprio Peter Mullan também participa, interpretando o pai de John, e é também uma interpretação notável.
Resta esperar que «Neds» consiga o público suficiente para que estreias como esta não passem ao lado da maior parte dos espectadores.
Classificação: 4/5
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