quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Neds, de Peter Mullan (2010)

Depois de ter passado na edição de 2011 do Festival Indie Lisboa «Neds» chega (finalmente) às salas portuguesas, a mais recente longa metragem realizada pelo actor escocês Peter Mullan, responsável por um bastante recomendável filme de 2002 chamado «As Irmãs de Maria Madalena». Apesar de estar apenas numa única sessão em Lisboa, este é um daqueles filmes que corre o risco de passar completamente despercebido tal como poderia ter acontecido com «Bellamy», de Claude Chabrol. Felizmente a afluência de público deu à derradeira obra do cineasta francês o direito a estar em sala durante mais algumas semanas e se o mesmo acontecer a «Neds» será uma boa oportunidade para as distribuidoras que compram filmes a torto e a direito e depois não sabem o que fazer para estreá-los em condições pensarem um bocado melhor nestas políticas. Porque no meio da avalanche de estreias semanais, já para não falar nos filmes que vão directos para DVD, há sempre pérolas que acabam por não ter o devido destaque e são afastadas do público que ainda gosta de ver Cinema em sala.

Desabafos à parte vale a pena esperar pelo regresso de Mullan à cadeira de realizador, pois «Neds» não irá desiludir quem gostou de «Irmãs de Maria Madalena». Tal como neste filme, que conta a história de três raparigas nos anos 1960 que vão parar a um convento na Irlanda para expiarem os seus pecados, «Neds» também remete para um passado recente nas ilhas britânicas, centrando-se num jovem de classe baixa, John McGill (Conor McCarron), que tudo faz para ser aceite na escola e pelos colegas de classe superior, mas a sociedade não o ajuda. Em casa o panorama não é muito diferente, pois o seu irmão mais velho vive sempre metido em sarilhos e o pai alcoólico passa a vida a bater na mãe. Estes factores levam o jovem a procurar refúgio num gangue de jovens delinquentes. Aos poucos o miúdo promissor e com boas notas começa a tornar-se num jovem violento.

«Neds» não é um filme fácil de se ver, pois é um valente murro no estômago e por vezes ganha contornos demasiado violentos. Mas é um grande filme, que pode ser inserido dentro do género conhecido como realismo britânico, ao recriar bastante bem a época em que decorre a acção, desde a música aos cenários, e mesmo a fotografia, que nos ajuda a entrar nesta viagem ao passado, que segundo o realizador é bastante pessoal, mas não autobiográfica. Outro dos grandes destaques de «Neds» é que conseguiu arrancar excelentes interpretações, como é o caso do estreante Conor McCarron. O próprio Peter Mullan também participa, interpretando o pai de John, e é também uma interpretação notável.

Resta esperar que «Neds» consiga o público suficiente para que estreias como esta não passem ao lado da maior parte dos espectadores.

Classificação: 4/5

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