Com dois anos de atraso, depois de uma passagem pela edição de 2012 do IndieLisboa, chega às salas de cinema portuguesas «Um Planeta Solitário». Nesta segunda obra de Julia Loktev a relação de um jovem casal em viagem pela Geórgia, protagonizado por Hani Furstenberg e Gael García Bernal, é posta em causa depois de um encontro acidental com membros de uma comunidade local. A partir desse estranho incidente, que coloca em risco a vida dos dois sem que o guia que os acompanha possa fazer algo (e também nunca chegamos a saber bem o que se passa, pois a única personagem capaz de entender as intenções do grupo, o próprio guia, não revela o que eles disseram), o comportamento dos dois muda e a cumplicidade da relação deixa de estar presente, como se o par tivesse passado um ponto de não retorno.
«Um Planeta Solitário» parte de uma boa premissa e conta com uma realização competente de uma cineasta praticamente desconhecida, com apenas duas outras obras no currículo, uma das quais também chegou a passar pelo IndieLisboa há uns anos. Mas acaba por falhar quando podia dar um resultado melhor. Apesar da excelente química entre o par protagonista, a que se junta uma outra boa prestação de Bidzina Gujabidze, que interpreta o guia, o filme pouco mais é do que o vaguear das três personagens pelas montanhas georgianas, que custa a arrancar (apesar de muito andarem as personagens do filme), como se Julia Loktev quisesse enfatizar a força da paisagem perante a pequenez daqueles três viajantes. E os próprios dilemas que assolam as personagens, sobretudo a partir do momento em que se dá o tal encontro com os habitantes das montanhas, são pouco explorados quando havia uma enorme margem de manobra para nos mostrarem um pouco mais das personagens.
Por muito que nos fascinem as belas paisagens do Cáucaso filmadas por Julia Loktev, o resultado final acaba por se tornar de certa forma um objecto enfadonho e «Um Planeta Solitário» mais um daqueles filmes que bem podia ter perdido alguns minutos na sala de montagem.
Classificação: 2/5
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quinta-feira, 23 de maio de 2013
segunda-feira, 6 de maio de 2013
Não, de Pablo Larraín (2012)
Ao quarto filme o chileno Pablo Larraín volta a dar provas de ser um dos cineastas actuais a ter debaixo de olho. Se «Tony Manero» e «Post Mortem» já tinham sido obras bastante recomendáveis, sobretudo a primeira, o talento de Larraín explodiu no ano passado com «Não», um filme sobre a campanha política que afastou Pinochet do Governo no Chile e abriu as portas à democracia naquele país, depois de 15 anos de ditadura militar. Além de ser um excelente estudo sobre os meandros da propaganda política na década de 1980, «Não» é um retrato dos últimos dias de um regime, através do olhar de um publicitário que a princípio não quer estar ligado a questões políticas, mas acaba por se ver envolvido no olho do furacão ao tomar as rédeas de uma campanha destinada a defender o voto no Não num referendo criado pelo governo chileno para legitimar o poder de Pinochet.
Candidato chileno na última edição dos Óscares ao galardão de Melhor Filme Estrangeiro (acabaria por perder para «Amor», de Michael Haneke), «Não» podia ficar-se pelo simples retrato histórico de uma época. E a utilização de uma fotografia que faz lembrar o vídeo (efeito que vimos recentemente num outro filme completamente diferente: «Computer Chess», de Andrew Bujalski) está lá para isso, para nos relembrar que o filme 'é' daquela época. Mas não, vai muito mais além do simples retrato histórico. Não é só a representação do que aconteceu de ambos os lados da campanha, com especial enfoque na campanha de oposição à ditadura militar chilena que pensava estar a defender uma causa perdida à partida. Há todo um universo paralelo que volta a ser explorado por Pablo Larraín, tal como fizera nos seus filmes anteriores, que lhe deram fama.
Neste caso «Não» parte da campanha para nos mostrar o que se passava no Chile naquela altura e é curiosa a relação entre o protagonista René (Gael Garcia Bernal) e Lucho (Alfredo Castro, habitual colaborador de Larraín com mais uma excelente interpretação, apesar de não ser o protagonista, como acontecera nos dois filmes anteriores do realizador), o chefe da agência publicitária para quem o jovem trabalha e que acaba por ter um papel de relevo na campanha do Sim devido às suas relações com o governo de Pinochet. É esta relação que acaba por ser a outra face do filme e que vai culminar numa sequência final, também ela bastante curiosa e que faz espelho com a abertura, em que ambos apresentam uma nova campanha publicitária e um deles diz «agora o Chile já está preparado para uma coisa destas», algo que não acontecia na primeira campanha a um refrigerante, onde a presença de um mimo, um elemento de certa forma alegre, era bastante criticada. E o olhar desencantado de René antes de entrar o genérico final (o olhar de alguém desiludido, ficamos com essa sensação) é de uma força tremenda, dando a «Não» uma nova panóplia de leituras até então escondidas com o rabo de fora.
Classificação: 4/5
Candidato chileno na última edição dos Óscares ao galardão de Melhor Filme Estrangeiro (acabaria por perder para «Amor», de Michael Haneke), «Não» podia ficar-se pelo simples retrato histórico de uma época. E a utilização de uma fotografia que faz lembrar o vídeo (efeito que vimos recentemente num outro filme completamente diferente: «Computer Chess», de Andrew Bujalski) está lá para isso, para nos relembrar que o filme 'é' daquela época. Mas não, vai muito mais além do simples retrato histórico. Não é só a representação do que aconteceu de ambos os lados da campanha, com especial enfoque na campanha de oposição à ditadura militar chilena que pensava estar a defender uma causa perdida à partida. Há todo um universo paralelo que volta a ser explorado por Pablo Larraín, tal como fizera nos seus filmes anteriores, que lhe deram fama.
Neste caso «Não» parte da campanha para nos mostrar o que se passava no Chile naquela altura e é curiosa a relação entre o protagonista René (Gael Garcia Bernal) e Lucho (Alfredo Castro, habitual colaborador de Larraín com mais uma excelente interpretação, apesar de não ser o protagonista, como acontecera nos dois filmes anteriores do realizador), o chefe da agência publicitária para quem o jovem trabalha e que acaba por ter um papel de relevo na campanha do Sim devido às suas relações com o governo de Pinochet. É esta relação que acaba por ser a outra face do filme e que vai culminar numa sequência final, também ela bastante curiosa e que faz espelho com a abertura, em que ambos apresentam uma nova campanha publicitária e um deles diz «agora o Chile já está preparado para uma coisa destas», algo que não acontecia na primeira campanha a um refrigerante, onde a presença de um mimo, um elemento de certa forma alegre, era bastante criticada. E o olhar desencantado de René antes de entrar o genérico final (o olhar de alguém desiludido, ficamos com essa sensação) é de uma força tremenda, dando a «Não» uma nova panóplia de leituras até então escondidas com o rabo de fora.
Classificação: 4/5
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