O sexto dia de IndieLisboa ficou marcado por um dos acontecimentos do festival: «Leviathan», de Lucien Castaing-Taylor e Verena Paravel, um documentário experimental sobre a pesca em alto mar. Antes foi tempo de entrar nos quadros de Edward Hopper, através do olhar de Gustav Deutsch, realizador de «Shirley: Visions of Reality». O dia terminou com mais uma comédia seca (não confundir com secante) sobre questões sociais: «Workers», de José Luis Valle.
De certeza que muitos apreciadores de pintura já terão imaginado, ao olhar para os quadros dos seus pintores favoritos, o que vai na cabeça das 'personagens' representadas. É essa a proposta de Gustav Deutsch em «Shirley: Visions of Reality», um filme protagonizado por uma actriz e que tem como cenários diversos quadros de Edward Hopper (é fácil reconhecer a obra do pintor norte-americano, basta ver a imagem acima, tirada de um dos episódios de «Shirley...»). À partida o novo projecto do realizador de «Film ist a Girl & a Gun» teria tudo para dar um bom resultado.
E resulta, em alguns aspectos, como é o caso da composição dos planos e de uma excelente utilização dos cenários e cores, que fazem de facto lembrar os quadros de Edward Hopper. Ao vermos «Shirley...» temos a sensação de que estamos mesmo a ver os quadros do pintor em movimento. Aí não podemos apontar grandes falhas ao filme, sobretudo se gostarmos das obras de Hopper. O que já não resulta tão bem é o resto. A história de Shirley, interpretada por Stephanie Cumming num registo que por vezes parece demasiado teatral, que se nota mais nas cenas que contam com a presença de outras personagens, é demasiado vaga para preencher a imensidão dos quadros recriados. Uma oportunidade perdida para dar vida a um dos mais emblemáticos pintores do século XX, apesar de não deixar de ser uma obra curiosa.
Classificação: 3/5
Falar sobre «Leviathan» não é tarefa fácil. Apesar de ser considerado como um dos grandes acontecimentos do festival, o documentário realizado por Lucien Castaing-Taylor e Verena Paravel não fazia parte dos planos iniciais de visionamento, por ser um tipo de filme que não me atrai muito: um documentário experimental sobre pesca em alto mar. Mas depois do 'susto' apanhado com «Animal Love», de Ulrich Seidl, lá resolvemos arriscar e trocar a sessão de «Jesus, You Know» do austríaco por «Leviathan». E se a escolha de ver filmes em festivais por vezes é um risco, nunca sabemos bem ao que vamos em certos filmes, este foi um risco que valeu a pena correr.
«Leviathan» não é um filme fácil, mesmo enquanto documentário. Praticamente não tem falas, não há narrador, não há texto a complementar o que vamos ver a não ser um breve trecho bíblico no início do filme, tirado do livro de Job. A partir daqui somos transportados de imediato para alto mar e estamos por conta própria. Se há filmes que devem ser vistos em sala, «Leviathan» é um desses casos. Toda a experiência, tanto a nível visual como sonoro, ganha muito mais força neste contexto. Como alguém dizia no final da projecção, o único 'defeito' do filme é que é demasiado imersivo e poderá por vezes custar um bocado mais a 'aguentar'. É difícil recomendar um filme destes a alguém pois é também um filme que se vai gostar ou odiar. Se nos deixarmos levar pela experiência, sem grandes preconceitos, no final será gratificante, mesmo que continuemos durante algum tempo a matutar sobre o que vimos. Se, por outro lado, não gostarmos, o mais certo é amaldiçoarmos a hora em que entrámos naquele barco. Deste lado a viagem valeu a pena. Mas pelo sim, pelo não deixo uma recomendação à tripulação que decidir arriscar: antes do início da projecção tomem comprimidos para o enjoo.
Classificação: 4/5
Depois de um peso pesado como «Leviathan» a melhor opção foi seguir para uma comédia em tons sérios oriunda do México. «Workers», de José Luis Valle, é mais um dos exemplos de filmes de cariz social que integra a programação deste ano do IndieLisboa. Nele acompanhamos as andanças de Rafael (Jesus Padilla), o empregado de limpeza de uma grande multinacional a quem é negada a reforma porque está ilegal e não tratou dos papéis a tempo, e Lidia (Susana Salazar), empregada doméstica de uma milionária que irá receber parte da herança da patroa apenas quando morrer a sua cadela de estimação. Apesar de nunca se encontrarem, sabemos ao longo do filme que no passado houve uma ligação entre as duas personagens.
Não sendo uma grande obra-prima (e este ano ainda não encontrámos nenhuma no Indie, apesar de já nos termos deparado com muitas obras simpáticas e recomendáveis, como é o caso de «Workers»), esta primeira longa-metragem de José Luis Valle consegue ser uma boa estreia para o cineasta mexicano. Abordando temas sérios de forma leve, «Workers» tem os seus pontos altos nas sequências protagonizadas por Rafael, o empregado perfeito, que faz tudo certinho e cumpre horários até ao dia em que lhe negam os seus direitos. Estas sequências acabam por ser uma crítica à forma como são tratados os trabalhadores em algumas situações. E não há como não estar do lado dele nas duas reuniões com a entidade patronal, que culminam com uma bofetada de luva branca, cerca de dez anos depois daquele que seria o primeiro dia da sua reforma.
Já a história de Lidia acaba por destoar um bocado do resto do filme, sendo mais cómica e com alguns momentos que caem num certo absurdo a partir do momento em que a patroa morre e os empregados que trabalhavam para ela têm de continuar a cuidar do seu animal de estimação para que possam vir a receber parte da herança. Acaba por ser um outro lado da moeda de «Workers», mas menos conseguido, pois ambos podiam ser filmes diferentes. E se fossem, o filme protagonizado por Rafael (mais uma excelente personagem que vai ficar na memória desta edição do festival) é bem melhor.
Classificação: 3/5
Mostrar mensagens com a etiqueta Edward Hopper. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Edward Hopper. Mostrar todas as mensagens
quarta-feira, 24 de abril de 2013
quinta-feira, 18 de abril de 2013
Sugestões para o IndieLisboa 2013: dia 28 de Abril
«Frances Ha», de Noah Baumbach

É um dos regressos mais aguardados do ano para quem gosta do cinema independente norte-americano mais mainstream. O novo filme de Noah Baumbach, colaborador de Wes Anderson no passado (e só por isso já merecia a sugestão), vai passar pelo Indie e traz-nos Greta Gerwig (que também assina o argumento em parceria com o realizador) como uma bailarina que se sente atraída pela sua melhor amiga, sem a parte sexual. Em pano de fundo a cidade de Nova Iorque em tons de preto e branco. Uma oportunidade de assistir ao regresso de Baumbach ao Cinema, antes de uma (esperemos que) previsível estreia comercial ainda este ano. (sinopse e trailer)

Dia 28 de Abril, 21h30, Cinema City Classic Alvalade (Sala 1)
«Shirley - Visions of Reality», de Gustav Deutsch
Não é a primeira vez que a pintura inspira o Cinema e sem dúvida que não será a última. Em «Shirley - Visions of Reality» Gustav Deutsch parte das pinturas de Edward Hopper para nos mostrar 13 'cenas' da vida de Shirley, uma actriz ficcional, e ao mesmo tempo fazer uma série de reflexões sobre vários questões, desde o papel feminino ao teatro, entre outras. Uma sugestão para terminar o Indie, num universo onde duas artes se cruzam. (sinopse)
Subscrever:
Comentários (Atom)



