quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

O melhor de 2012

Com o aproximar do final do ano é tempo de olhar para trás e pensar um bocado no que se passou nos últimos meses. Por aqui vamos manter uma tradição iniciada no anterior blogue, o extinto «A Última Sessão», e apresentar a listinha dos melhores filmes que foram vistos em sala no ano que está prestes a findar. Nesta lista reúno os 20 filmes que tiveram estreia comercial em Portugal durante 2012, independentemente do ano de produção, e que mais gostei de ver. O Vertigo, por razões óbvias, fica de fora destas contas, mas há um bocado de tudo, para todos os gostos. Eventualmente ficaram de fora alguns filmes que podia ter visto, mas não tive oportunidade, o que no meio de tantas estreias num ano é compreensível. Não me vou alongar em justificações para estas escolhas, pois algumas já foram partilhadas em posts escritos ao longo dos últimos meses, tanto aqui como no blogue anterior. Resta-me divulgar a lista, sem mais demoras.

1 - Era Uma Vez na Anatólia, de Nuri Bilge Ceylan

2 - Tabu, de Miguel Gomes

3 - Holy Motors, de Leos Carax

4 - Shut Up and Play The Hits, de Dylan Southern e Will Lovelace

5 - Galinha com Ameixas, de Marjane Satrapi e Vincent Paronnaud

6 - Moonrise Kingdom, de Wes Anderson

7 - Vergonha, de Steve McQueen

8 - O Gebo e a Sombra, de Manoel de Oliveira

9 - Oslo, 31 de Agosto, de Joachim Trier

10 - Amor, de Michael Haneke

11 - Le Havre, de Aki Kaurismaki

12 - NEDS - Jovens Delinquentes, de Peter Mullan

 13- As Vantagens de Ser Invisível, de Stephen Chbosky

 14 - O Cavalo de Turim, de Béla Tarr e Ágnes Hranitzky

15 - Declaração de Guerra, de Valérie Donzelli

16 - Martha Marcy May Marlene, de Sean Durkin

17 - Argo, de Ben Affleck

18 - Os Descendentes, de Alexander Payne

19 - César Deve Morrer, de Paolo Taviani e Vittorio Taviani

20 - Mata-os Suavemente, de Andrew Dominik

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Feliz Natal!!!

O Shut up and watch the movies deseja a todos os seus leitores e seguidores um Feliz Natal. Com os cumprimentos do W. C. Fields.

domingo, 23 de dezembro de 2012

O Hobbit: Uma Viagem Inesperada, de Peter Jackson (2012)

Quando Peter Jackson se lembrou de pôr mãos à obra e transportar o universo de «O Senhor dos Anéis» para o grande ecrã muitos duvidaram da possibilidade de sucesso da façanha. O certo é que a aposta deu resultado e o neozelandês conseguiu levar a bom porto tamanha aventura, criando uma das mais memoráveis trilogias do Cinema. Goste-se ou não. Uma década depois da estreia do primeiro capítulo da saga, «A Irmandade do Anel», o autor de «Braindead» voltou à carga para adaptar «O Hobbit». «O Hobbit: Uma Viagem Inesperada» é assim o primeiro de uma trilogia cinematográfica dedicada ao livro que funciona como prequela às aventuras de Frodo, Aragorn e companhia.

A maior parte dos protagonistas da primeira trilogia está de fora, apesar de uma pequena aparição de Frodo logo no início do filme. Em «O Hobbit», cuja acção decorre 60 anos antes do primeiro tomo de «O Senhor dos Anéis», o herói da história é Bilbo (Martin Freeman) que sem saber bem como vai parar ao meio de uma aventura na companhia do carismático Gandalf (Ian McKellen) e de 13 anões (a raça de guerreiros mais dura e divertida do universo de Tolkien) que pretendem reaver o seu lar: uma montanha que agora está na posse do temível dragão Smaug. Pelo meio Bilbo encontra um misterioso anel que irá depois estar no centro da trilogia «O Senhor dos Anéis».

Se Peter Jackson tinha arriscado demasiado quando se lembrou de avançar com o projecto da primeira trilogia, desta vez o risco foi outro: esticar um livro muito mais pequeno do que qualquer um dos três volumes de «O Senhor dos Anéis» para três filmes. Se o cineasta ganhou ou não a aposta, isso é algo que só saberemos em 2014, quando estrear o terceiro filme. Mas pelo menos «O Hobbit: Uma Viagem Inesperada» é um filme que irá agradar à maioria dos fãs da primeira trilogia. O efeito surpresa dos três primeiros filmes já não existe, é certo, mas quem gostou deles não sairá defraudado do filme. Apesar de o tom ser um pouco diferente  e leve (não nos podemos esquecer que «O Hobbit», o livro, era uma obra mais infanto-juvenil do que a trilogia dos anéis), o universo de Tolkien recriado por Jackson volta a ser deliciosamente belo, com cenários sumptuosos e criaturas que ganham vida como se existissem de facto, graças às tecnologias bem utilizadas para esse fim e o que fará desta trilogia uma séria candidata a arrebatar tudo o que forem Óscares de categorias técnicas durante os próximos anos, tal como tinha acontecido com os anteriores três filmes. (nota: a sessão a que assisti foi em 2D nos tradicionais 24 frames por segundo, por isso não me posso alargar na questão dos 3D a 48 frames por segundo)

Dito isto e para terminar, «O Hobbit: Uma Viagem Inesperada» é um filme que apenas irá cativar os fãs da primeira trilogia realizada por Peter Jackson. Quem se deixou apaixonar por aqueles primeiros filmes não terá problemas em regressar à Terra Média. Mesmo tendo em conta a possibilidade de ficar entediado pelo alargamento do livro a três filmes, esse alargamento não me pareceu assim tão exagerado quando algumas críticas têm apontado, até porque o filme não tem assim tantos tempos mortos quanto isso. Já quem não apreciou a primeira saga, penso que não valerá a pena arriscar, pois se não gostou da primeira vez, dificilmente gostará de repetir a dose. Por aqui, não demos o tempo por mal empregue.

Classificação: 4/5

sábado, 22 de dezembro de 2012

TCN Blog Awards 2012: resultados, vencedores e agradecimentos

Há cerca de uma semana uma parte da comunidade da blogosfera cinéfila e de televisão de Portugal reuniu-se em Lisboa para mais uma cerimónia de entrega dos TCN Blog Awards, uma iniciativa do blogue Cinema Notebook e da revista Take Magazine destinada a premiar os melhores blogues de Cinema e Televisão escritos por autores portugueses. A cerimónia não passou ao lado deste cantinho que estava nomeado na categoria de Melhor Novo Blogue e apenas ainda não tinha sido feita qualquer referência ao assunto (a lista dos vencedores foi partilhada no dia seguinte via Facebook) por uma simples razão: faltavam saber os resultados finais das votações para esta categoria. E estes acabam de ser conhecidos o que causou uma agradável surpresa, não no número de votos do público (34, o mesmo número que os últimos classificados na votação do público - Caminho Largo e Viagem a Andrómeda - tiveram) que me pareceu normal tendo em conta a 'popularidade' do Shut up and watch the movies, mas pelo facto de ter sido o favorito da Academia, que lhe atribuiu nota máxima, segundo os dados agora divulgados. Esta foi para mim a grande surpresa, confesso. Desta forma, de acordo com as novas regras dos prémios, o Shut up and watch the movies acabou por ficar em segundo lugar no top final, atrás do vencedor Hoje Vi(vi) um Filme, que foi o mais votado pelo público e a quem aproveito uma vez mais para dar os parabéns.


Resta-me agora a parte dos agradecimentos: em primeiro lugar a todos os que se deram ao trabalho de votar no blogue, pois apesar de este ser um bocado mais pessoal do que o anterior (A Última Sessão), sem vocês este espaço deixaria de ter tanto sentido; em segundo a quem me incentivou a candidatar o Shut up and watch the movies aos TCN mesmo em cima da data final do envio das candidaturas, pela força e apoio que me tem dado nos últimos tempos, não só em relação ao blogue mas também noutras situações; em terceiro à Academia, pelo reconhecimento que deu ao blogue; e por fim, como não podia deixar de ser, ao Cinema Notebook e à Take Magazine por continuarem a organizar os TCN, que mesmo não contando com a participação de todos os blogues de Cinema e Televisão em Portugal (tarefa impossível, é certo), não deixam de ser uma boa forma de todos os anos conhecermos novos espaços e dar o devido reconhecimento aos que se esforçam por escrever em blogues, na maior parte das vezes sem qualquer lucro a não ser a simples partilha de opiniões sobre a nossa paixão e são uma lição para muitos profissionais nos Media tradicionais. Parabéns a todos e continuem o bom trabalho!

Vencedores de todas as categorias dos TCN Blog Awards 2012:


Melhor Crítica de Televisão:
"House - episódio Everybody Lies", por Mafalda Neto, do blogue TV Dependente

Melhor Crítica de Cinema:
"O Cavalo de Turim", por Tiago Ramos do blogue Split-Screen

Melhor Entrevista:
"Entrevista a Jonathan Rosenbaum", por Miguel Domingues, do blogue À Pala de Walsh

Melhor Site/Portal de Cinema/Televisão:
Magazine HD

Melhor Artigo de Televisão:
"RTP 2 - Sentimento de Revolta", por Rui Alves de Sousa, do blogue Companhia das Amêndoas

Melhor Artigo de Cinema:
"Ninho de Cucos (IV)", por Gustavo Santos, no blogue Dial P for Popcorn

Melhor Novo Blogue: 
Hoje vi(vi) um filme

Melhor Iniciativa: 
Ficheiros Secretos - 10 anos

Melhor Blogue Individual:
Close-Up

Melhor Blogue Colectivo:
TV Dependente

Blogger do Ano:
Nuno Reis

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

When Charlie met Ash

Via Justin Hillgrove's Imps and Monsters

Sugestão de prenda de Natal cinéfila #3

Lançada há cerca de um mês, esta caixa reúne a obra integral de Agnès Varda, uma das raras mulheres realizadoras que surgiram no período da Nouvelle Vague. No total são 22 DVD que incluem todas as 20 longas metragens de Agnès Varda e as suas 16 curtas. Como extra para completar esta edição os fãs da eterna companheira de Jacques Demy ainda têm direito a um álbum de 132 páginas com textos e fotografias assinados por Varda e uma carteira surpresa. Mais informações aqui.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Sugestão de prenda de Natal cinéfila #2

Considerado um dos cineastas mais raros da actualidade, apesar de ter em preparação três novos filmes para o próximo ano, Terrence Malick tem também uma enorme legião de fãs. Esta caixa reúne os cinco primeiros filmes do cineasta norte-americano e será decerto um bom presente para quem quiser rever ou descobrir as suas obras antes da chegada às salas do mais recente «To The Wonder».

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

10 filmes: protagonizados por cantores

O objectivo desta rubrica é apresentar 10 filmes temáticos. Não são necessariamente obras-primas. Nem estes posts pretendem ser tops definitivos. A ordem é a cronológica, precisamente para não dar mais ou menos destaque a um determinado filme. São simplesmente os dez primeiros filmes que me vieram à cabeça sobre um determinado tema e quase todos bastante recomendáveis. A proposta para hoje são filmes protagonizados por cantores que arriscaram aventurar-se na Sétima Arte, com melhor ou pior resultado. Convido-vos também, se quiserem, a partilhar na caixa de comentários outras propostas. Estas são as minhas:

Elvis Presley em «O Prisioneiro do Rock and Roll», de Richard Thorpe (1957)

Frank Sinatra em «Deus Sabe Quanto Amei», de Vincente Minnelli (1958)

Mick Jagger em «Performance», de Donald Cammell e Nicolas Roeg (1970)

Bob Dylan em «Pat Garrett & Billy the Kid», de Sam Peckinpah (1973)

Kris Kristofferson em «As Portas do Céu», de Michael Cimino (1980)

David Bowie em «Feliz Natal, Mr. Lawrence», de Nagisa Ôshima (1983)

Tom Waits em «Down by Law», de Jim Jarmusch (1986)


Bjork em «Dancer in the Dark», de Lars von Trier (2000)

 Eminem em «8 Mile», de Curtis Hanson (2002)

 Justin Timberlake em «As Voltas da Vida», de Robert Lorenz (2012)

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Sugestão de prenda de Natal cinéfila #1

Para os fãs da dupla Tim Burton e Danny Elfman uma edição especial de coleccionador que reúne as 13 bandas sonoras assinadas pelo músico durante os últimos 25 anos. A edição inclui uma caixa personalizada em forma de zootropo (uma das primeiras formas de ver imagens em movimento) com música criada especialmente para esta edição e imagens da dupla, 16 CDs com as bandas sonoras criadas por Danny Elfman para os filmes de Burton (além das bandas sonoras, os CDs incluem inúmeros extras, entre os quais faixas nunca editadas), o livro de 250 páginas «Danse Macabre: 25 Years Of Danny Elfman And Tim Burton», o DVD «A Conversation With Danny Elfman & Tim Burton» e uma drive USB em forma de chave esqueleto. Mais informações aqui.

As Vantagens de Ser Invisível, de Stephen Chbosky (2012)



A adolescência é tramada. Que o diga Charlie (Logan Lerman), o jovem introvertido protagonista de «As Vantagens de Ser Invisível». Acabado de chegar à Escola Secundária, pouco tempo depois da morte do seu melhor amigo e ainda a recuperar de um trauma relacionado com a morte da sua tia, com quem tinha uma relação especial na infância, Charlie tem algumas dificuldades em adaptar-se a este novo mundo. Ao travar conhecimento com dois colegas mais velhos, Patrick (Ezra Miller) e Sam (Emma Watson), que se encontram numa situação diferente da sua (ambos estão no último ano do Secundário), o jovem começa a descobrir o mundo para lá de tudo o que conhecia. E em simultâneo Charlie ganha novas perspectivas e horizontes que o vão ajudar a ultrapassar as dificuldades de ser como é.

Realizado por Stephen Chbosky, o autor do livro que serve de base ao filme, «As Vantagens de Ser Invisível» aborda as dores de crescimento de Charlie e como este consegue ultrapassar os seus problemas de adaptação com a ajuda de novos amigos. Podia ser apenas mais um filme sobre aquela fase complicada que todos nós temos de passar, mas o que sobressai do filme de Stephen Chbosky é que não cai nos clichés habituais de filmes semelhantes e deixa completamente de fora as personagens estereotipadas. O que o torna uma agradável surpresa para quem não estava à espera de um filme tão adulto sobre este tema. Em vez do coitadinho de serviço, que não se consegue adaptar ao mundo à sua volta, «As Vantagens de Ser Invisível» trata Charlie como uma pessoa normal, com os seus problemas.

A par disso «As Vantagens de Ser Invisível» conta com um excelente elenco de jovens actores que dá força à narrativa e está seguríssimo para levar o filme a bom porto. Não só Logan Lerman e Emma Watson, que se afastam dos papéis que os tornaram conhecidos anteriormente em filmes destinados a outro tipo de público (as sagas Percy Jackson e Harry Potter, respectivamente), mas sobretudo Ezra Miller, que depois do assustador Kevin de «Temos de Falar Sobre Kevin», de Lynne Ramsay, consegue mais uma grande interpretação, completamente diferente desse papel anterior. Mais um passo numa carreira que se prevê bastante auspiciosa.

Para os fãs de música, uma das paixões de Charlie, «As Vantagens de Ser Invisível» também irá ser uma surpresa, pois a banda sonora está carregadinha de grandes pérolas dos anos 1980, a década em que decorre a acção do filme. Não necessariamente aquelas que todos gostam de ouvir nas festas de revivalismo dos 80's, (também as há no filme, é certo. Curiosamente uma delas até acaba por ser bastante importante para o desenrolar da acção), mas as que aparentemente toda a gente se esqueceu que existiam naquela altura e não costumam passar nessas festas, apesar de serem as que merecem ser (re)descobertas. Nomes como David Bowie, The Smiths, Sonic Youth, New Order ou L7 são só alguns exemplos do que podemos encontrar como pano de fundo de «As Vantagens de Ser Invisível». E é bom descobrir um filme que trata a adolescência de forma diferente do que estávamos à espera.

Classificação: 4/5

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

A última ceia de Luis Buñuel

Viridiana (1961)

Sexo, Religião e Burguesia. Foram estes os temas abundantes na obra de Luis Buñuel, os dois últimos alvo de mordazes críticas por parte do realizador espanhol, um dos nomes mais sonantes do cinema surrealista. Um dos melhores exemplos das críticas à Religião no cinema de Buñuel surge em «Viridiana», clássico de 1961 que conquistou a Palma de Ouro em Cannes. Numa das cenas finais, quando os pobres ajudados pela protagonista se vêem sozinhos na quinta onde lhes deram refúgio e resolvem tomar conta do espaço para um jantar à moda dos senhores ricos, alguém se lembra de tirar uma fotografia de grupo (com uma máquina oferecida pelos pais - mais um pormenor delicioso do filme) e o resultado é o que se pode ver na imagem de cima: uma alternativa do fresco «A Última Ceia», de Leonardo Da Vinci. Neste caso não é Jesus Cristo que encontramos no centro da mesa, mas um cego. Brilhante metáfora, para um brilhante filme. O original encontra-se na imagem aqui em baixo.

«A Última Ceia», de Leonardo Da Vinci

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Parabéns Mestre Oliveira

«Douro, Faina Fluvial» (1931)
No dia em que comemora 104 anos (marca que faz dele o realizador mais velho em actividade nos dias de hoje) a melhor homenagem que pode ser feita a Manoel de Oliveira é rever os seus filmes. Escolhi este por ser o primeiro, mas no YouTube encontram-se muitos outros filmes do cineasta portuense, nome maior do Cinema Português e Mundial. É só procurar e desejar parabéns ao Mestre Oliveira.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Anna Karenina, de Joe Wright (2012)

Não é a primeira vez (nem será a última) que um grande clássico da literatura, como é o caso de «Anna Karenina», é adaptado ao grande ecrã. A mais recente adaptação da trágica história da heroína de Leon Tolstoi a chegar às salas foi realizada por Joe Wright e conta com a participação de Keira Knightley no papel de Anna Karenina. Tal como costuma acontecer neste tipo de filmes, que pretendem retratar uma época e o modo como se vivia na altura, tudo é em grande: cenários sumptuosos, um belo guarda-roupa e interpretações bem conseguidas. Em todos estes capítulos a «Anna Karenina» de Joe Wright consegue marcar pontos.

O pior vem depois, na forma como as peças se começam a ligar e o método encontrado para o fazer. Se de início até parece que a abordagem de Joe Wright é engraçada, colocando todas as personagens no meio do palco de um teatro (e que melhor metáfora poderia existir para retratar uma sociedade que vive para as aparências - como refere uma das personagens ao justificar o facto de não falar a Anna, o problema não foi ela violar uma lei, mas as regras) e movendo a câmara pelos vários cenários, que mudam consoante o local onde as personagens se encontram, sempre como se estivéssemos nesse mesmo teatro a assistir a uma peça, passado pouco tempo soltamos o primeiro bocejo. E começamos a reparar que ainda faltam quase duas horas (e muitos mais bocejos) até o filme terminar.

Esta abordagem à obra de Tolstoi acaba por tornar a adaptação de Joe Wright em algo como uma mistura entre o «Moulin Rouge» de Baz Luhrmann, sem as músicas pop, mas com os mesmos cenários sumptuosos e coreografias (no caso de «Anna Karenina», completamente forçadas), e o «Enter The Void» de Gaspar Noé, sem a câmara a mil à hora, mas com os movimentos de câmara típicos do realizador francês. Tudo muito bem para quem gostar de ver 'coisas novas' nos grandes clássicos. E há-de haver quem goste. Por estes lados, perdoem-me os fãs do filme e do realizador (de quem já não tinha achado grande piada ao anterior «Hanna»), mas há coisas em que ser conservador compensa mais do que arriscar por algo mais arrojado. Sobretudo quando não se consegue atingir o objectivo. O risco do falhanço era enorme e Joe Wright não conseguiu escapar dele.

Classificação: 2/5

domingo, 9 de dezembro de 2012

Dúvida da Semana #5

As pessoas que falam em voz alta na sala de Cinema pensam que estão no café a meter a conversa em dia com os amigos?

sábado, 8 de dezembro de 2012

Da Finlândia com Amor


Margaret: What about now? You still want to die?
Henri Boulanger: No no, not anymore.
Margaret: Because you met me?
Henri Boulanger: Yes, that's made me change my mind.
Margaret: Only because of my blue eyes?
Henri Boulanger: Are they blue?

In «Contratei Um Assassino», de Aki Kaurismaki (1990)

É difícil explicar porque gosto tanto (ou aprendi a gostar, mas isso já é história para outro post) dos filmes de Aki Kaurismaki. Parecem simples mas a simplicidade apenas se encontra no estilo calmo do finlandês. As personagens parecem sempre os mesmas: não são particularmente bonitas e na maior parte das vezes vivem completamente à margem da sociedade. Como se vivessem num mundo próprio, só delas, apesar de no fundo serem como nós. Mas são de uma humanidade tremenda, mesmo que estejam completamente na merda e as perspectivas de melhores dias não passem de meras ilusões. É essa a maior lição que o Cinema do finlandês tem para nos dar e é isso que me faz venerar a sua obra ainda mais cada vez que descubro um dos seus filmes.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

«Amor», de Michael Haneke (2012)

Há dias publiquei um post dedicado a «Le Havre», o mais recente filme de Aki Kaurismaki, com o título «Afinal ainda se fazem filmes assim», a propósito da sua simplicidade e beleza, tão ao gosto do Cinema do finlandês. O mesmo título quase (e sublinho o quase) poderia ser aplicado a uma crítica sobre «Amor», não fosse o filme de Haneke muito mais complexo do que à partida parece. Mas é, sem sombra de dúvidas, A (assim mesmo, com A maiúsculo) estreia desta semana e muito provavelmente o melhor filme que passará pelas nossas salas até ao final deste ano. Sem contar com o regresso de «A Mulher Que Viveu Duas Vezes», obviamente, mas isso é outra conversa.

Vencedor da Palma de Ouro na última edição do Festival de Cannes, o novo filme de Michael Haneke acompanha a história de George (Jean-Louis Trintignant) e Anne (Emmanuelle Riva), um casal de idosos pertencente à classe alta, a partir do momento em que Anne sofre um ataque e começa a perder aos poucos as suas capacidades. «Amor» podia ter sido apenas mais um melodrama sobre as agruras do envelhecimento e como um homem trata da sua mulher, o amor da sua vida (calculamos que de sempre, nunca chegamos a saber).

Mas num filme do austríaco as coisas nunca são assim tão simples. A câmara de Haneke volta a funcionar, como aconteceu em tantos outros filmes do realizador, como o nosso próprio olhar invasor para dentro daquelas duas vidas. Literalmente. Não há mais nada para lá do apartamento de George e Anne (tirando uma breve sequência no início do filme) e as restantes personagens parecem, tal como nós, voyeurs da situação do casal. Obrigadas a assistir ao desenrolar da situação, lidando da melhor forma possível com a mesma, muitas vezes sem saber como, e tentando confortar George na sua nova condição. Como às tantas diz George à filha (que nesta cena em específico até podia ser um de nós, espectadores do filme), em mais uma daquelas provocações tão ao jeito de Haneke, «estas coisas não são para ser vistas». Mas Haneke insiste em mostrá-las e ninguém resiste a desviar o olhar e sente a necessidade de ver como está Anne. Mesmo sabendo à partida que não vai gostar do que vai ver ou se sentirá desconfortável.

São estes pequenos detalhes que fazem a marca do realizador austríaco, que consegue analisar, como poucos cineastas nos dias de hoje, os sentimentos humanos de uma forma fria, sem cair no óbvio ou em mostrar as coisas de forma demasiado chocante. E em certas sequências «Amor» é duro de engolir, pois não sabemos em que posição gostaríamos de estar (na de George ou na de Anne) ou mesmo o que fazer naquela situação, que inevitavelmente nos poderá acontecer um dia. No final tudo se resume a uma bela história de amor, daquelas que pensamos já não existir nos dias de hoje, em que o que é bom hoje amanhã já não interessa para nada.

Não poderia terminar este post sem destacar a (enorme) interpretação dos dois protagonistas. Jean-Louis Trintignant, que regressa aos ecrãs depois de um afastamento voluntário do Cinema que durou quase uma década, é o que passa mais tempo no ecrã, mas o desempenho de Emmanuelle Riva é um daqueles que ficará como um dos melhores e mais marcantes do ano. Poucos actores serão capazes de se expor tanto como a protagonista de «Amor» o faz neste filme. E um filme que trata o Amor e o envelhecimento sem cair num tom de excessivo melodramismo não merece passar ao lado de ninguém. Quanto mais não seja para pensarmos a sério nestas coisas e não empurrá-las para debaixo do tapete. O que, no fundo, é o que Michael Haneke nos propõe na maioria dos seus filmes. E este não é excepção.

Classificação: 4/5

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Mata-os Suavemente, de Andrew Dominik (2012)


Se há frase que melhor pode resumir «Mata-os Suavemente» esta será «it's all about the money». Na mais recente obra de Andrew Dominik, que em 2007 tinha realizado o western «O Assassínio de Jesse James Pelo Cobarde Robert Ford», o dinheiro ocupa um lugar de destaque. Podíamos estar perante um simples filme de gangsters que começa pelo planeamento de um golpe que tinha tudo para dar certo: assaltar um jogo de póquer ilegal bem frequentado por mafiosos cheios de dinheiro e pôr a culpa num chico esperto que já tinha feito algo semelhante no passado. Mas o assalto cheira tão mal como os dois assaltantes escolhidos para o desempenhar, cuja inteligência não é o mais forte, e o assassino profissional Jackie Coogan (Brad Pitt) é chamado para descobrir quem foi o verdadeiro autor do esquema. O enredo parece simples, mas não é, pois às tantas toda a gente quer saber onde está o dinheiro e as ligações entre os criminosos começam a vir ao de cima. A falta de inteligência de alguns leva os outros a aproveitarem para ganhar a vida.

Mas aos poucos «Mata-os Suavemente» torna-se mais uma reflexão sobre o sonho americano e o estado da economia nos dias de hoje (partindo da crise dos bancos nos EUA que surgiu no final do consulado de George W. Bush) e como todos nós vivemos para o dinheiro, independentemente da nossa profissão, do que um filme sobre um assalto que podia ter corrido melhor. Não é à toa que em pano de fundo, nos noticiários, vamos ouvindo os principais protagonistas envolvidos na tentativa de resolução da dita crise, incluindo o discurso de Barack Obama na noite em que venceu as primeiras eleições para a Casa Branca, numa grande sequência que encerra com chave de ouro o filme.

Antes disso e para lá de todas as analogias sobre a economia, a terceira longa de Andrew Dominik consegue ser um filme cheio de estilo. Não tanto como «Drive - Duplo Risco», um filme com mais estilo do que sumo para espremer, mas um filme com estilo. A responsabilidade não é tanto de uma realização competente, que é de facto, com a utilização da câmara a destilar estilo por todos os cantos (atente-se à cena do primeiro espancamento de Markie Trattman) sem cair no exagero do filme de Nicolas Winding Refn, mas de uma excelente galeria de personagens, cujos diálogos maravilham quem gosta de filmes de gangsters. Desde o Jackie Coogan de Brad Pitt (numa excelente interpretação) aos vários secundários que integram esta rede de criminosos que fazem parte de uma autêntica economia que vive às margens da lei e se rege com base em princípios empresariais, como diz às tantas uma das personagens, e também sofre com a crise. Os tempos são outros, diz a mesma personagem, que serve de elo de ligação entre Coogan e a 'organização' que o contrata para resolver os seus problemas. Cada uma destas personagens (e nem sequer referi o genial Mickey de James Gandolfini) merecia um post para analisar os diversos elos desta cadeia.

«Mata-os Suavemente» é mais um daqueles estranhos filmes sobre a crise e como esta acaba por afectar todos os sectores da sociedade. Neste caso os pequenos criminosos, para quem o dinheiro serve para tentar escapar a uma vida miserável, perseguindo o tal sonho americano e as supostas oportunidades que todos têm direito a ter, seja qual for o custo. No fundo é apenas isso que os autores do golpe queriam no início do filme, apesar de cada um ter em mente objectivos diferentes. Incluindo abrir um negócio (nem por isso legítimo, mas sempre é uma ideia de negócio), dando largas a um espírito empreendedor tão ao gosto dos dias de hoje. E um filme que dá que pensar na forma como o dinheiro, afinal tudo gira em torno do vil metal, do início ao fim de «Mata-os Suavemente», tomou conta do mundo.

Classificação: 4/5

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Parabéns JLG

Jean-Luc Godard faz hoje 82 anos. Para recordar um dos grandes sobreviventes da Nouvelle Vague, autor de uma centena de filmes nos mais diversos formatos e géneros, uma entrevista no início dos anos 1960, dada após a estreia de «Desprezo».

domingo, 2 de dezembro de 2012