O segundo filme de Jacques Audiard, estreado em 1996, é talvez o mais leve e menos sombrio dentro do conjunto da obra do cineasta francês, contando mesmo com alguns toques de comédia (o final demasiado irónico e ambíguo é delicioso), algo que não veremos nos seus seguintes filmes. Filmado em jeito de falso documentário, com depoimentos de historiadores e alguns dos supostos envolvidos na história, «Um Herói Muito Discreto» conta o percurso de Albert Dehousse (Mathieu Kassovitz e Jean-Louis Trintignant, que interpretam a versão jovem e mais velha da personagem, respectivamente) um jovem tímido e fechado, criado por uma mãe que o convence que o seu pai foi um herói da I Guerra Mundial, que se faz passar por herói da resistência francesa no final da II Guerra Mundial junto das forças militares gaulesas para ultrapassar este seu trauma. Tudo vai bem neste jogo de enganos até Dehousse ser descoberto e cair em desgraça.
A história de Dehousse, apesar de fictícia, foi baseada em casos reais que aconteceram em França no final da II Guerra Mundial e serviu neste filme para Audiard fazer um retrato sobre a ténue linha entre a realidade e a ficção, criada por um pobre diabo que quis ser alguém na vida. Uma vez mais Kassovitz, que já tinha algum destaque na obra de estreia do cineasta, está à altura do papel, levando aos ombros todo o filme. É curioso que para o pequeno papel de Albert mais velho tenha sido escolhido Jean-Louis Trintignant, que em «Regarde Les Hommes Tomber» interpretava uma figura paternal para a a personagem de Kassovitz. Mais um espelho neste jogo de enganos que é «Um Herói Muito Discreto».
Quem também transita do primeiro filme de Audiard é o compositor Alexandre Desplat, colaborador habitual do cineasta, que volta a ser responsável pela banda sonora do filme. Neste caso com um certo impacto visual, pois o realizador optou por colocar os intérpretes musicais em cena nas sequências onde a música precisa de dar força às imagens, algo que acaba por funcionar quase como uma espécie de entretítulos sonoros. E bastante bem.
Classificação: 4/5
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terça-feira, 16 de outubro de 2012
segunda-feira, 15 de outubro de 2012
Regarde Les Hommes Tomber, de Jacques Audiard (1994)
(Crítica com spoilers)
Depois de na década de 1980 ter assinado um punhado de bons argumentos para Cinema, o francês Jacques Audiard resolveu sentar-se na cadeira de realizador pela primeira vez quando corria o ano de 1994. Foi nessa altura que escreveu e realizou «Regarde Les Hommes Tomber», a sua obra de estreia, um estranho thriller que nos conta a história de Simon (Jean Yanne), um vendedor que está com o seu melhor amigo, um polícia, quando este é baleado e entra em coma. Depois deste acontecimento Simon resolve ir atrás dos autores dos disparos e entra numa espiral de confusão, deixando para trás familiares e emprego. Em simultâneo o filme retrata a história da relação entre dois homens, Marx (Jean-Louis Trintignant) e Johnny (Mathieu Kassovitz), que começou antes do trágico acontecimento e mais tarde sabemos que estiveram relacionados com o incidente que envolveu o amigo de Simon.
Mesmo com a ajuda de um bom naipe de actores, com destaque para os dois veteranos Yanne e Trintignant e o novato Kassovitz (que teve neste filme um dos seus primeiros grandes papéis no Cinema e uma excelente interpretação), e uma boa banda sonora, assinada por Alexandre Desplat, a estreia de Audiard não é de todo uma das melhores obras do cineasta gaulês. Ou pelo menos a mais acessível, apesar de ter sido reconhecida com a nomeação para alguns prémios, incluindo nos Césares (os Óscares franceses), onde o filme foi distinguido com três galardões, incluindo o de Melhor Primeira Obra.
Tal deve-se a uma certa fragmentação do argumento e à forma como a história se vai desenrolando, tornando o filme a espaços demasiado confuso. Mas, mais do que um thriller policial, diferente dos padrões normais do género, «Regarde Les Hommes Tomber» não deixa de ser um interessante estudo sobre a personalidade de três personagens bastante complexas, cada uma com as suas motivações que as levam a ter as acções que tomaram em determinadas situações. É este o ponto forte da estreia de Jacques Audiard, que mais tarde viria a explorar bastante bem este tipo de personagens, mas focando-se apenas sobretudo numa só personagem, como foi o caso dos filmes seguintes: «Um Herói Muito Discreto», «De Tanto Bater o Meu Coração Parou» e «Um Profeta».
Classificação: 3/5
Depois de na década de 1980 ter assinado um punhado de bons argumentos para Cinema, o francês Jacques Audiard resolveu sentar-se na cadeira de realizador pela primeira vez quando corria o ano de 1994. Foi nessa altura que escreveu e realizou «Regarde Les Hommes Tomber», a sua obra de estreia, um estranho thriller que nos conta a história de Simon (Jean Yanne), um vendedor que está com o seu melhor amigo, um polícia, quando este é baleado e entra em coma. Depois deste acontecimento Simon resolve ir atrás dos autores dos disparos e entra numa espiral de confusão, deixando para trás familiares e emprego. Em simultâneo o filme retrata a história da relação entre dois homens, Marx (Jean-Louis Trintignant) e Johnny (Mathieu Kassovitz), que começou antes do trágico acontecimento e mais tarde sabemos que estiveram relacionados com o incidente que envolveu o amigo de Simon.
Mesmo com a ajuda de um bom naipe de actores, com destaque para os dois veteranos Yanne e Trintignant e o novato Kassovitz (que teve neste filme um dos seus primeiros grandes papéis no Cinema e uma excelente interpretação), e uma boa banda sonora, assinada por Alexandre Desplat, a estreia de Audiard não é de todo uma das melhores obras do cineasta gaulês. Ou pelo menos a mais acessível, apesar de ter sido reconhecida com a nomeação para alguns prémios, incluindo nos Césares (os Óscares franceses), onde o filme foi distinguido com três galardões, incluindo o de Melhor Primeira Obra.
Tal deve-se a uma certa fragmentação do argumento e à forma como a história se vai desenrolando, tornando o filme a espaços demasiado confuso. Mas, mais do que um thriller policial, diferente dos padrões normais do género, «Regarde Les Hommes Tomber» não deixa de ser um interessante estudo sobre a personalidade de três personagens bastante complexas, cada uma com as suas motivações que as levam a ter as acções que tomaram em determinadas situações. É este o ponto forte da estreia de Jacques Audiard, que mais tarde viria a explorar bastante bem este tipo de personagens, mas focando-se apenas sobretudo numa só personagem, como foi o caso dos filmes seguintes: «Um Herói Muito Discreto», «De Tanto Bater o Meu Coração Parou» e «Um Profeta».
Classificação: 3/5
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