terça-feira, 16 de outubro de 2012

Um Herói Muito Discreto, de Jacques Audiard (1996)

O segundo filme de Jacques Audiard, estreado em 1996, é talvez o mais leve e menos sombrio dentro do conjunto da obra do cineasta francês, contando mesmo com alguns toques de comédia (o final demasiado irónico e ambíguo é delicioso), algo que não veremos nos seus seguintes filmes. Filmado em jeito de falso documentário, com depoimentos de historiadores e alguns dos supostos envolvidos na história, «Um Herói Muito Discreto» conta o percurso de Albert Dehousse (Mathieu Kassovitz e Jean-Louis Trintignant, que interpretam a versão jovem e mais velha da personagem, respectivamente) um jovem tímido e fechado, criado por uma mãe que o convence que o seu pai foi um herói da I Guerra Mundial, que se faz passar por herói da resistência francesa no final da II Guerra Mundial junto das forças militares gaulesas para ultrapassar este seu trauma. Tudo vai bem neste jogo de enganos até Dehousse ser descoberto e cair em desgraça.

A história de Dehousse, apesar de fictícia, foi baseada em casos reais que aconteceram em França no final da II Guerra Mundial e serviu neste filme para Audiard fazer um retrato sobre a ténue linha entre a realidade e a ficção, criada por um pobre diabo que quis ser alguém na vida. Uma vez mais Kassovitz, que já tinha algum destaque na obra de estreia do cineasta, está à altura do papel, levando aos ombros todo o filme. É curioso que para o pequeno papel de Albert mais velho tenha sido escolhido Jean-Louis Trintignant, que em «Regarde Les Hommes Tomber» interpretava uma figura paternal para a a personagem de Kassovitz. Mais um espelho neste jogo de enganos que é «Um Herói Muito Discreto».

Quem também transita do primeiro filme de Audiard é o compositor Alexandre Desplat, colaborador habitual do cineasta, que volta a ser responsável pela banda sonora do filme. Neste caso com um certo impacto visual, pois o realizador optou por colocar os intérpretes musicais em cena nas sequências onde a música precisa de dar força às imagens, algo que acaba por funcionar quase como uma espécie de entretítulos sonoros. E bastante bem.

Classificação: 4/5

Sem comentários:

Enviar um comentário