quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Nos Meus Lábios, de Jacques Audiard (2001)

E ao terceiro filme Jacques Audiard começa a aprimorar um estilo que vai estar bastante presente nos filmes que realiza posteriormente. Os tons sombrios que tínhamos visto em «Regarde Les Hommes Tomber», a sua obra de estreia, entram de rompante e tomam conta das personagens de «Nos Meus Lábios». A principal diferença em relação aos dois filmes seguintes («De Tanto Bater o Meu Coração Parou» e «Um Profeta») reside no facto de neste caso a personagem principal ser feminina, algo que não encontramos nos filmes anteriores, nem posteriores do realizador.

«Nos Meus Lábios» é a história de Carla (Emmanuelle Devos) uma empregada de escritório praticamente surda que é desprezada pelos seus colegas de trabalho devido à sua condição. Ao travar conhecimento com Paul (Vincent Cassel), um novo colega, recentemente saído da prisão, e com quem vai estabelecer uma certa relação de cumplicidade, começa a ter algo que não tinha antes: alguém que, de certa forma, e independentemente das suas razões, lhe dá alguma atenção e a ajuda a ultrapassar as suas dificuldades. São estas duas personagens marginalizadas, que acabam por se complementar, que vamos encontrar no terceiro filme de Audiard, onde unem esforços para tentar alcançar uma vida melhor num mundo no qual não se conseguem inserir.

Uma vez mais um dos pontos fortes nesta segura terceira obra do cineasta gaulês é a excelente interpretação arrancada aos seus actores, neste caso concreto Devos e Cassel, dois grandes nomes do Cinema francês. É algo comum na obra de Audiard, a junção de grandes actores que dão corpo a estas histórias de pessoas que vivem um pouco à margem da sociedade. E o resultado não volta a desiludir, apesar de representar uma certa mudança em relação aos filmes anteriores do realizador. E «Nos Meus Lábios» pode mesmo ser visto como o filme que marca um antes e um depois na sua obra, que começa a ganhar contornos mais violentos e sombrios e a ficar centrada em personagens um pouco marginalizadas.

Classificação: 4/5

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