É fácil embirrar com um filme como «O Grande Gatsby», a versão de Baz Luhrmann do clássico escrito por Francis Scott Fitzgerald considerado por muitos como um dos grandes livros sobre o período dos loucos anos 20 do século passado e uma das principais obras da literatura norte-americana. Tal como fizera com «Romeu e Julieta», o realizador australiano continua a dar a volta às regras do jogo e recria o material de origem à sua maneira, com um estilo bastante peculiar. Se na versão da peça de Shakespeare Luhrmann traz a tragédia do bardo inglês para os dias de hoje, desta vez a acção permanece no período dos anos 1920 originais, mas, como é apanágio do cineasta, com alguns elementos estranhos à tal época. Um desses elementos é a banda sonora, onde as loucas festas por onde andam as principais personagens de «O Grande Gatsby» deixam de ter a música de época, substituída por ritmos mais actuais, com algum pendor nos ritmos hip hop.
Baz Luhrmann já tinha feito algumas 'experiências' musicais anteriormente em «Moulin Rouge», mas nesse caso o estranho até se entranha. Em «O Grande Gatsby», pelo contrário, a banda sonora acaba por não funcionar de todo e tem o efeito contrário, provocando até algum efeito de distracção que não é sequer suficiente para esconder o que o filme é: um objecto oco, onde a revisitação da obra de Fitzgerald, mesmo que seja adaptada de forma bastante fiel, é uma pálida versão do original. Numa das sequências, a festa no apartamento de Nova Iorque onde Tom se encontra com a amante, chegamos mesmo a temer começar a ouvir os acordes de «Harlem Shake», um dos fenómenos virais mais recentes.
O resto é puro estilo Luhrmann: muita cor a invadir o ecrã por todos os lados (até percebemos que se pretenda enfatizar esse lado mais excêntrico da personagem de Gatsby e das suas loucas festas, mas a partir de certa altura começa a enjoar) e pouco se entra dentro das personagens que passam pelo universo da genial obra de Fitzgerald, onde estaria o grande desafio de adaptar um livro destes. E se há livros com personagens interessantes para explorar, logo a começar pela que dá título ao livro, «O Grande Gatsby» é um desses livros. Pena que nem Leonardo DiCaprio, que podia ter sido uma boa escolha para interpretar o papel de Gatsby, consiga uma interpretação à altura de outras que conseguiu recentemente, optando por um estilo demasiado exagerado para dar vida à personagem.
Em suma, se tivéssemos de escolher uma frase para definir «O Grande Gatsby» segundo Baz Luhrmann optaríamos pelo ditado popular «muita parra e pouca uva». Mas preferimos deixar um conselho de amigo: se tiver oportunidade leia o livro, a experiência será muito melhor.
Classificação: 2/5
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segunda-feira, 27 de maio de 2013
domingo, 27 de janeiro de 2013
Django Libertado, de Quentin Tarantino (2012)
Chegamos ao início de 2013 com a estreia de um dos filmes mais aguardados por muito boa gente. Ao nono filme Quentin Tarantino resolveu fazer o que melhor sabe e atirar-se de cabeça a mais um dos seus géneros favoritos. Desta vez a escolha foi o western mas, ao contrário do que muitos pensaram, o novo filme de Quentin Tarantino não é uma homenagem apenas aos western spaghettis de culto, apesar de as influências também estarem por lá para quem quiser ir à procura delas. A começar logo pelo título: «Django Libertado». Arriscaria mesmo dizer que tem mais de spaghetti (salvo seja) a brilhante sequência inicial de «Sacanas Sem Lei» do que todo o «Django Libertado».
A história do novo filme do autor de «Pulp Fiction» é simples e conta-se em poucas linhas. Depois de ser libertado pelo dentista/caçador de prémios Dr. King Schultz (Christoph Waltz) o escravo Django (Jamie Foxx) junta esforços ao seu novo amigo para ir à procura da sua esposa e tentar libertá-la do destino da escravidão, assunto que acabou por se tornar um dos temas fortes e mais polémicos do filme quando se fala dele. E se o realizador tem sido criticado pela forma como abordou este tema sensível há uma frase dita por Django, quase que profetizando essas mesmas críticas, que talvez justifique o ódio e as críticas que o filme tem gerado, quando às tantas a personagem principal do filme diz ao vilão de serviço que já está habituado aos costumes dos americanos à época, por isso não se sente tão chocado quanto o seu comparsa alemão, talvez habituado a costumes mais civilizados. Quiçá esta ferroada no orgulho americano tenha doído tanto a alguns que gostam de limpar a História para debaixo do tapete.
Mas o que Tarantino nos mostra é sobretudo a senda deste par de anti-heróis ao longo de quase três horas que não pesam tanto quanto isso. E o que é «Django Libertado»? Tudo aquilo que seria de esperar de um western feito por Quentin Tarantino: violência a rodos (não se percebe o porquê de tanto alarido em relação a este elemento do filme, quando a violência é algo que sempre fez parte do universo de Tarantino), sequências bem filmadas (a morte dos Brittle ou o massacre em casa de Calvin Candie, são dois dos exemplos maiores), personagens marcantes (sobretudo os três secundários: o já referido Dr. King Schultz, Stephen e Calvin Candie, interpretados por Samuel L. Jackson e Leonardo DiCaprio, respectivamente) e diálogos com frases que ficam na memória.
Contudo, «Django Libertado» não é um filme perfeito e está longe do melhor que Tarantino já nos deu. A começar por uma personagem principal que acaba por ser um pouco abafada pelo elenco secundário e não tem o carisma de, por exemplo, A Noiva de «Kill Bill», para referir um filme do cineasta com algumas semelhanças em relação a este western. Por muito que se tenha esforçado Jamie Foxx não consegue estar à altura de Christoph Waltz, que surge num registo bastante parecido ao anterior Hans Landa de «Sacanas Sem Lei», e muito menos de DiCaprio, um dos grandes injustiçados nas nomeações aos Óscares deste ano (o que será que falta ao actor fazer para cair nas boas graças da Academia?), que criou um dos vilões mais bem conseguidos da obra de Tarantino.
E depois temos alguns elementos que parecem um bocado fora do baralho, desde a sequência da perseguição dos encapuçados ao duo protagonista (tem piada, é certo, mas é um autêntico OVNI dentro do filme, no sentido em que o tom de comédia pura destoa um bocado de tudo o resto, e bem podia ter ficado na sala de montagem à espera de ser incluído como extra na previsível edição em DVD do filme) à utilização de hip hop numa das cenas capitais do filme, que sem som ficaria excelente, se não mesmo perfeita: a sequência final do massacre em casa de Calvin Candie (não é preciso ir mais longe, Sam Peckimpah fez algo semelhante em «A Quadrilha Selvagem» e com um resultado muito melhor). Por fim, o cameo de Quentin Tarantino é um pouco sofrível, que desta vez deveria ter ficado apenas atrás das câmaras.
Dito isto e para concluir um texto que já vai longo, «Django Libertado» é um filme que todos os fãs do cinema de Tarantino vão gostar, mas não deixa de ser mais do mesmo. Um filme competente, não há dúvidas em relação a isso, e uma boa homenagem a um determinado género, mas que muito provavelmente apenas irá agradar a 100 por cento aos que, como alguém disse há alguns anos e foi bastante criticado por causa disso, acreditam ou pensam que o Cinema nasceu com o autor de «Cães Danados». Não começou e há muito para conhecer antes dele. Mas se um filme como «Django Libertado» servir para estes cinéfilos irem atrás de um dos géneros históricos do cinema norte-americano, que tem centenas de obras à espera de serem (re)descobertas (este meu post de ontem, escrito um bocado a quente no final da visualização do filme de Tarantino, contém muito poucos exemplos), já é muito bom. E enquanto divertimento, mesmo partindo de um tema muito sério e pesado, «Django Libertado» também não vai nada mal.
Nota:3/5
A história do novo filme do autor de «Pulp Fiction» é simples e conta-se em poucas linhas. Depois de ser libertado pelo dentista/caçador de prémios Dr. King Schultz (Christoph Waltz) o escravo Django (Jamie Foxx) junta esforços ao seu novo amigo para ir à procura da sua esposa e tentar libertá-la do destino da escravidão, assunto que acabou por se tornar um dos temas fortes e mais polémicos do filme quando se fala dele. E se o realizador tem sido criticado pela forma como abordou este tema sensível há uma frase dita por Django, quase que profetizando essas mesmas críticas, que talvez justifique o ódio e as críticas que o filme tem gerado, quando às tantas a personagem principal do filme diz ao vilão de serviço que já está habituado aos costumes dos americanos à época, por isso não se sente tão chocado quanto o seu comparsa alemão, talvez habituado a costumes mais civilizados. Quiçá esta ferroada no orgulho americano tenha doído tanto a alguns que gostam de limpar a História para debaixo do tapete.
Mas o que Tarantino nos mostra é sobretudo a senda deste par de anti-heróis ao longo de quase três horas que não pesam tanto quanto isso. E o que é «Django Libertado»? Tudo aquilo que seria de esperar de um western feito por Quentin Tarantino: violência a rodos (não se percebe o porquê de tanto alarido em relação a este elemento do filme, quando a violência é algo que sempre fez parte do universo de Tarantino), sequências bem filmadas (a morte dos Brittle ou o massacre em casa de Calvin Candie, são dois dos exemplos maiores), personagens marcantes (sobretudo os três secundários: o já referido Dr. King Schultz, Stephen e Calvin Candie, interpretados por Samuel L. Jackson e Leonardo DiCaprio, respectivamente) e diálogos com frases que ficam na memória.
Contudo, «Django Libertado» não é um filme perfeito e está longe do melhor que Tarantino já nos deu. A começar por uma personagem principal que acaba por ser um pouco abafada pelo elenco secundário e não tem o carisma de, por exemplo, A Noiva de «Kill Bill», para referir um filme do cineasta com algumas semelhanças em relação a este western. Por muito que se tenha esforçado Jamie Foxx não consegue estar à altura de Christoph Waltz, que surge num registo bastante parecido ao anterior Hans Landa de «Sacanas Sem Lei», e muito menos de DiCaprio, um dos grandes injustiçados nas nomeações aos Óscares deste ano (o que será que falta ao actor fazer para cair nas boas graças da Academia?), que criou um dos vilões mais bem conseguidos da obra de Tarantino.
E depois temos alguns elementos que parecem um bocado fora do baralho, desde a sequência da perseguição dos encapuçados ao duo protagonista (tem piada, é certo, mas é um autêntico OVNI dentro do filme, no sentido em que o tom de comédia pura destoa um bocado de tudo o resto, e bem podia ter ficado na sala de montagem à espera de ser incluído como extra na previsível edição em DVD do filme) à utilização de hip hop numa das cenas capitais do filme, que sem som ficaria excelente, se não mesmo perfeita: a sequência final do massacre em casa de Calvin Candie (não é preciso ir mais longe, Sam Peckimpah fez algo semelhante em «A Quadrilha Selvagem» e com um resultado muito melhor). Por fim, o cameo de Quentin Tarantino é um pouco sofrível, que desta vez deveria ter ficado apenas atrás das câmaras.
Dito isto e para concluir um texto que já vai longo, «Django Libertado» é um filme que todos os fãs do cinema de Tarantino vão gostar, mas não deixa de ser mais do mesmo. Um filme competente, não há dúvidas em relação a isso, e uma boa homenagem a um determinado género, mas que muito provavelmente apenas irá agradar a 100 por cento aos que, como alguém disse há alguns anos e foi bastante criticado por causa disso, acreditam ou pensam que o Cinema nasceu com o autor de «Cães Danados». Não começou e há muito para conhecer antes dele. Mas se um filme como «Django Libertado» servir para estes cinéfilos irem atrás de um dos géneros históricos do cinema norte-americano, que tem centenas de obras à espera de serem (re)descobertas (este meu post de ontem, escrito um bocado a quente no final da visualização do filme de Tarantino, contém muito poucos exemplos), já é muito bom. E enquanto divertimento, mesmo partindo de um tema muito sério e pesado, «Django Libertado» também não vai nada mal.
Nota:3/5
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