terça-feira, 28 de maio de 2013

Duetos Cinéfilos #13


Música: The White Lady Loves You More (Elliot Smith)
Filme: Rosetta (Jean-Pierre e Luc Dardenne)

segunda-feira, 27 de maio de 2013

O Grande Gatsby, de Baz Luhrmann (2013)

É fácil embirrar com um filme como «O Grande Gatsby», a versão de Baz Luhrmann do clássico escrito por Francis Scott Fitzgerald considerado por muitos como um dos grandes livros sobre o período dos loucos anos 20 do século passado e uma das principais obras da literatura norte-americana. Tal como fizera com «Romeu e Julieta», o realizador australiano continua a dar a volta às regras do jogo e recria o material de origem à sua maneira, com um estilo bastante peculiar. Se na versão da peça de Shakespeare Luhrmann traz a tragédia do bardo inglês para os dias de hoje, desta vez a acção permanece no período dos anos 1920 originais, mas, como é apanágio do cineasta, com alguns elementos estranhos à tal época. Um desses elementos é a banda sonora, onde as loucas festas por onde andam as principais personagens de «O Grande Gatsby» deixam de ter a música de época, substituída por ritmos mais actuais, com algum pendor nos ritmos hip hop.

Baz Luhrmann já tinha feito algumas 'experiências' musicais anteriormente em «Moulin Rouge», mas nesse caso o estranho até se entranha. Em «O Grande Gatsby», pelo contrário, a banda sonora acaba por não funcionar de todo e tem o efeito contrário, provocando até algum efeito de distracção que não é sequer suficiente para esconder o que o filme é: um objecto oco, onde a revisitação da obra de Fitzgerald, mesmo que seja adaptada de forma bastante fiel, é uma pálida versão do original. Numa das sequências, a festa no apartamento de Nova Iorque onde Tom se encontra com a amante, chegamos mesmo a temer começar a ouvir os acordes de «Harlem Shake», um dos fenómenos virais mais recentes.

O resto é puro estilo Luhrmann: muita cor a invadir o ecrã por todos os lados (até percebemos que se pretenda enfatizar esse lado mais excêntrico da personagem de Gatsby e das suas loucas festas, mas a partir de certa altura começa a enjoar) e pouco se entra dentro das personagens que passam pelo universo da genial obra de Fitzgerald, onde estaria o grande desafio de adaptar um livro destes. E se há livros com personagens interessantes para explorar, logo a começar pela que dá título ao livro, «O Grande Gatsby» é um desses livros. Pena que nem Leonardo DiCaprio, que podia ter sido uma boa escolha para interpretar o papel de Gatsby, consiga uma interpretação à altura de outras que conseguiu recentemente, optando por um estilo demasiado exagerado para dar vida à personagem.

Em suma, se tivéssemos de escolher uma frase para definir «O Grande Gatsby» segundo Baz Luhrmann optaríamos pelo ditado popular «muita parra e pouca uva». Mas preferimos deixar um conselho de amigo: se tiver oportunidade leia o livro, a experiência será muito melhor.

Classificação: 2/5

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Abril com novo líder no top anual do CCOP

Novas mexidas no top anual do Círculo de Críticos Online Portugueses (CCOP), com a entrada de «No», de Pablo Larrain, para o primeiro lugar da lista, destronando o anterior líder da tabela: «A Caça». Em Abril de 2013 os filmes preferidos dos membros do CCOP foram «No», com uma média de 8,43 (em 10), «Fausto», de Aleksandr Sokurov (com uma média de 7,40 em 10), e «Os Amantes Passageiros», o mais recente filme de Pedro Almodóvar (com uma média de 7,25). Destes três filmes, apenas os dois primeiros chegaram ao top anual. Além do filme chileno, que lidera o top, também o vencedor do Leão de Ouro na edição de 2011 do Festival de Cinema de Veneza chegou à tabela principal do CCOP, ocupando agora a nona posição. Os resultados completos do top de Abril do CCOP podem ser consultados aqui.

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Um Planeta Solitário, de Julia Loktev (2011)

Com dois anos de atraso, depois de uma passagem pela edição de 2012 do IndieLisboa, chega às salas de cinema portuguesas «Um Planeta Solitário». Nesta segunda obra de Julia Loktev a relação de um jovem casal em viagem pela Geórgia, protagonizado por Hani Furstenberg e Gael García Bernal, é posta em causa depois de um encontro acidental com membros de uma comunidade local. A partir desse estranho incidente, que coloca em risco a vida dos dois sem que o guia que os acompanha possa fazer algo (e também nunca chegamos a saber bem o que se passa, pois a única personagem capaz de entender as intenções do grupo, o próprio guia, não revela o que eles disseram), o comportamento dos dois muda e a cumplicidade da relação deixa de estar presente, como se o par tivesse passado um ponto de não retorno.

«Um Planeta Solitário» parte de uma boa premissa e conta com uma realização competente de uma cineasta praticamente desconhecida, com apenas duas outras obras no currículo, uma das quais também chegou a passar pelo IndieLisboa há uns anos. Mas acaba por falhar quando podia dar um resultado melhor. Apesar da excelente química entre o par protagonista, a que se junta uma outra boa prestação de Bidzina Gujabidze, que interpreta o guia, o filme pouco mais é do que o vaguear das três personagens pelas montanhas georgianas, que custa a arrancar (apesar de muito andarem as personagens do filme), como se Julia Loktev quisesse enfatizar a força da paisagem perante a pequenez daqueles três viajantes. E os próprios dilemas que assolam as personagens, sobretudo a partir do momento em que se dá o tal encontro com os habitantes das montanhas, são pouco explorados quando havia uma enorme margem de manobra para nos mostrarem um pouco mais das personagens.

Por muito que nos fascinem as belas paisagens do Cáucaso filmadas por Julia Loktev, o resultado final acaba por se tornar de certa forma um objecto enfadonho e «Um Planeta Solitário» mais um daqueles filmes que bem podia ter perdido alguns minutos na sala de montagem.

Classificação: 2/5

segunda-feira, 20 de maio de 2013

domingo, 19 de maio de 2013

Photo, de Carlos Saboga (2012)

Casos de argumentistas que arriscam saltar da escrita para a realização não são raros no mundo do Cinema. O mais recente a entrar neste clube é Carlos Saboga, que começou nestas andanças ao assinar o argumento de «O Lugar do Morto», de António-Pedro Vasconcellos, e ultimamente esteve envolvido nos argumentos de dois filmes de cariz histórico: «Mistérios de Lisboa» e «As Linhas de Wellington». «Photo» é um filme completamente diferente destes dois últimos projectos de Raul Ruiz (o segundo acabou por ser terminado pela viúva do cineasta chileno, que faleceu antes do arranque das filmagens), mas a História não deixa de estar presente. Na sua estreia na cadeira de realizador Carlos Saboga conta-nos a história de Elisa (Anna Mouglalis), uma mulher que resolve ir à procura das suas raízes depois de tomar conhecimento da morte da mãe. Essas raízes, recuperadas através de inúmeras fotografias que encontra em casa da mãe, trazem-na a Portugal para tentar descobrir quem foi o seu pai. E é em Portugal que acaba por desenterrar um punhado de fantasmas que estiveram envolvidos na luta contra a ditadura de Salazar, todos com ligações à sua mãe na década de 1970.

Não sendo um grande filme, longe disso, «Photo» consegue ser uma estreia simpática para Carlos Saboga que não se espalha ao conciliar a História com H grande e a pequena história, de algumas das personagens que a viveram, mesmo que a partir do olhar de alguém que vem duplamente de fora: Elisa não só é uma estrangeira a desenterrar fantasmas longe de casa, mas também é alguém mais novo, que não viveu os factos relatados pelos homens que estiveram ligados à sua mãe. Entre ajustes de contas com o passado e diálogos que abordam os dilemas da geração que derrotou a ditadura (são vários os comentários que apontam a uma certa crítica a quem passou da idolatria a Mao a idolatrar ideologias completamente opostas para chegar a cargos políticos - só falta dar-lhes os nomes, mas quem conhece a realidade portuguesa conhecerá sem dúvida alguns exemplos), a primeira obra de Saboga enquanto realizador não desilude, pois não vai mais além do que lhe é pedido. Talvez o seu maior defeito seja essa simplicidade e falta de medo em arriscar ir um pouco mais longe. Não será um filme para ombrear com as grandes fitas portuguesas, mas passa no teste.

Classificação: 3/5

sábado, 18 de maio de 2013

Cenas #1

A Infância de Ivan, de Andrei Tarkovsky

«A Guerra é coisa para adultos» é provavelmente a frase mais vezes repetida em «A Infância de Ivan», uma das primeiras obras da curta carreira de Andrei Tarkovsky, um dos maiores nomes do cinema soviético. Curiosamente este espantoso filme sobre a guerra (e não de guerra) é protagonizado por uma criança órfã que vive durante a II Guerra Mundial e trabalha como espião para as tropas russas. Cheio de cenas marcantes, sobretudo nos sonhos que o jovem protagonista tem ao longo do filme, o encontro entre Ivan e um homem mais velho, que ocorre durante a fuga da criança quando lhe dizem que não o querem na frente para não morrer, é uma das sequências mais fortes de todo o filme. A viver numa casa em ruínas, o homem aguarda o regresso da esposa, morta por um soldado nazi. A sequência termina com o grupo de soldados a levar Ivan de volta, depois deste breve encontro. No final o homem, de novo sozinho, lança uma frase seca de desespero ao nosso encontro, antes de fechar a porta de uma casa que não existe.
Para quem não conhece esta obra-prima, esta está disponível inteira neste link.

sexta-feira, 17 de maio de 2013

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Lá Fora #1

A pedido da Sofia Santos, autora do bastante recomendável Girl On Film, fui convidado a escrever um texto sobre uma personagem feminina de um filme no âmbito da iniciativa «Um Filme, Uma Mulher», que arrancou esta semana com a publicação de posts de vários bloggers de Cinema. A minha colaboração para a iniciativa foi publicada hoje e pode ser lida neste link. Espero que gostem da minha humilde participação (já foram publicados textos bem melhores, acreditem) e se não conhecem o blogue da Sofia, é favor adicionar aos favoritos.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Só Precisamos de Amor, de Susanne Bier (2012)

É difícil encontrar nos dias de hoje um filme romântico que não caia nos clichés da lamechice. E «Só Precisamos de Amor» tinha tudo para cair nessa armadilha do género, a começar pelo título. Mas o que nos dá a dinamarquesa Susanne Bier, no filme realizado após «Num Mundo Melhor», o vencedor do Óscar para Melhor Filme Estrangeiro em 2010, é uma comédia romântica bastante sincera sobre uma cabeleireira que sofre de cancro e descobre, na véspera do casamento da filha em Itália, que o marido a trai com uma mulher bastante mais nova. A caminho do aeroporto tem um acidente que envolve o pai do futuro genro e a partir daqui nasce uma relação de amizade entre duas pessoas descontentes com o mundo à sua volta, mas com diferentes perspectivas sobre a vida.

«Só Precisamos de Amor» está a milhas de distância de outros filmes do género estreados recentemente em sala e que mais não fazem do que repetir, até à náusea, clichés e modelos que cansam. E assim de repente lembramo-nos de dois filmes visionados há poucas semanas: «O Grande Dia», de Justin Zackham, cujo elenco recheado de estrelas veteranas acaba por salvá-lo do descalabro, e «Fintar o Amor», de Gabriele Muccino, protagonizado por um Gerald Butler claramente em formato peixe fora de água (o actor está muito melhor em «Assalto à Casa Branca», um filme de acção estreado na semana passada onde um grupo de terroristas toma de assalto a residência oficial do presidente dos EUA). 

Susanne Bier podia optar por contar a história da coitadinha, que sofre de uma doença complicada e ainda tem de aguentar com a traição do marido numa altura em que devia estar mais concentrada em travar a luta contra o cancro e apoiar a filha no momento mais feliz da sua vida. Mas não o faz, preferindo contar a história de uma forma em que nada parece forçado, apesar de o primeiro encontro entre o par protagonista (composto por dois actores que se complementam na perfeição: Trine Dyrholm e Pierce Brosnan) poder indicar que estamos prestes a entrar no perigoso mundo das comédias românticas cheias de lugares comuns. É esta a única vez em que tememos pelo regresso de Bier após o sucesso alcançado com o seu filme anterior, pois tudo o resto acaba por ser uma agradável surpresa, mesmo que este não seja o género favorito por estes lados. Mas quando nos surpreendem, como aconteceu com «Só Precisamos de Amor», acabamos por gostar.

Classificação: 3/5

domingo, 12 de maio de 2013

Adivinhem quem voltou


Depois de alguns meses de interregno enquanto revista on-line, apesar de continuar bastante activa no Facebook, a Take está de volta, com um design renovado e uma aposta em edições temáticas. A primeira destas edições já está on-line e é dedicada ao Festival de Cannes, que arranca dentro de dias e vai concentrar a atenção dos cinéfilos de todo o mundo. Além de artigos especiais sobre o certame, incluindo uma antevisão dos principais filmes que vão passar pela Croisette em 2013, esta edição da Take conta ainda com um conjunto de 15 críticas a alguns dos vencedores da Palma de Ouro, escritas pelos membros do Círculo de Críticos Online Portugueses (CCOP). Motivos mais do que suficientes para celebrar o regresso da Take em formato revista.

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Transe, de Danny Boyle (2013)

Depois do brilharete alcançado na cerimónia de abertura da última edição dos Jogos Olímpicos, realizada em Londres no ano passado, Danny Boyle está de regresso aos filmes com algo mais negro do que o espírito das Olimpíadas. «Transe» é também o filme do realizador britânico posterior à aclamação obtida por «127 Horas» e «Quem Quer Ser Bilionário?», obras que o levaram a conquistar inúmeros óscares e nomeações aos prémios da Academia. Mas o lado mais humano destes anteriores filmes e dos Jogos Olímpicos fica de fora de «Transe» onde entramos, literalmente, dentro dos meandros mais escuros da mente humana. O protagonista é Simon (James McAvoy), o funcionário de uma leiloeira envolvido no roubo de um valioso quadro durante um leilão. O assalto corre de feição até que os cúmplices de Simon descobrem que afinal apenas têm nas mãos uma moldura sem tela. Para tentarem reaver o quadro vão atrás do funcionário da leiloeira, que entretanto ficara amnésico por ter levado uma pancada na cabeça. Será com a ajuda de uma hipnoterapeuta, contratada para entrar dentro da mente de Simon, que os criminosos vão tentar reaver o objecto roubado.

Contar mais pormenores sobre a trama de «Transe» é complicado, pois este é um daqueles filmes em que quanto menos se souber antes de entrarmos na sala, melhor. São tantas as reviravoltas e entradas e saídas de dentro da cabeça de Simon ao longo do filme que fazer spoilers é estragar toda a experiência de ver o filme. E se esta confusão, com inúmeras reviravoltas a acontecerem ao mesmo tempo, sobretudo na segunda metade do filme, quando o novelo se começa a desenrolar, podia funcionar contra «Transe», a verdade é que Danny Boyle dá conta do recado, não deixando pontas soltas.

O problema é que acaba por ter um final bastante fraco tendo em conta o material que tinha em mãos, dando a sensação que «Transe» fica bastante perto de ser um grande filme (e isso acaba por acontecer por diversas vezes ao longo do filme), mas acaba por ficar a meio caminho. É uma obra interessante a espaços, quase como que uma revisitação do filme Noir para os tempos modernos por parte do cineasta britânico (e esta não é a primeira vez que Boyle explora diferentes géneros, como aconteceu, por exemplo, com a ficção científica em «Missão Solar» ou o terror em «28 Dias Depois»), com Boyle a aproveitar a sua maneira de filmar para a adaptar ao género (e com bons resultados), mas que apenas peca por falhar na recta final, desperdiçando uma boa história com um final com muito pouco sal.

Classificação: 3/5

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Saul Bass regressa...por um dia

Já não é novidade a presença de doodles animados (versões personalizadas do logótipo do motor de busca Google para comemorar uma determinada data ou aniversário de uma personalidade) criados pela Google para dar uma outra imagem ao motor de busca da empresa. Volta a meia o homenageado vem do mundo do cinema (ainda há dias a versão indiana do motor de busca foi agraciada com o doodle de homenagem a Satyajit Ray, a propósito do 92º aniversário do realizador de origem indiana) e é o que acontece hoje, com um magnífico doodle dedicado a Saul Bass, designer gráfico que criou alguns dos mais brilhantes genéricos de filmes, nomeadamente para «Vertigo - A Mulher Que Viveu Duas Vezes» ou «Intriga Internacional», ambos de Alfred Hitchcock e presentes nesta singela homenagem onde a gigante norte-americana substituiu o habitual logótipo do motor de busca por um pequeno vídeo animado com a recriação de vários genéricos criados por Bass. A única diferença é que em lugar do título de filmes como os já citados ou «Anatomia de Um Crime», por exemplo, surge o nome da empresa. Tudo para homenagear um dos mestres dos genéricos, que faria hoje 93 anos se fosse vivo. O resultado final pode ser visto no vídeo abaixo.


segunda-feira, 6 de maio de 2013

Não, de Pablo Larraín (2012)

Ao quarto filme o chileno Pablo Larraín volta a dar provas de ser um dos cineastas actuais a ter debaixo de olho. Se «Tony Manero» e «Post Mortem» já tinham sido obras bastante recomendáveis, sobretudo a primeira, o talento de Larraín explodiu no ano passado com «Não», um filme sobre a campanha política que afastou Pinochet do Governo no Chile e abriu as portas à democracia naquele país, depois de 15 anos de ditadura militar. Além de ser um excelente estudo sobre os meandros da propaganda política na década de 1980, «Não» é um retrato dos últimos dias de um regime, através do olhar de um publicitário que a princípio não quer estar ligado a questões políticas, mas acaba por se ver envolvido no olho do furacão ao tomar as rédeas de uma campanha destinada a defender o voto no Não num referendo criado pelo governo chileno para legitimar o poder de Pinochet.

Candidato chileno na última edição dos Óscares ao galardão de Melhor Filme Estrangeiro (acabaria por perder para «Amor», de Michael Haneke), «Não» podia ficar-se pelo simples retrato histórico de uma época. E a utilização de uma fotografia que faz lembrar o vídeo (efeito que vimos recentemente num outro filme completamente diferente: «Computer Chess», de Andrew Bujalski) está lá para isso, para nos relembrar que o filme 'é' daquela época. Mas não, vai muito mais além do simples retrato histórico. Não é só a representação do que aconteceu de ambos os lados da campanha, com especial enfoque na campanha de oposição à ditadura militar chilena que pensava estar a defender uma causa perdida à partida. Há todo um universo paralelo que volta a ser explorado por Pablo Larraín, tal como fizera nos seus filmes anteriores, que lhe deram fama.

Neste caso «Não» parte da campanha para nos mostrar o que se passava no Chile naquela altura e é curiosa a relação entre o protagonista René (Gael Garcia Bernal) e Lucho (Alfredo Castro, habitual colaborador de Larraín com mais uma excelente interpretação, apesar de não ser o protagonista, como acontecera nos dois filmes anteriores do realizador), o chefe da agência publicitária para quem o jovem trabalha e que acaba por ter um papel de relevo na campanha do Sim devido às suas relações com o governo de Pinochet. É esta relação que acaba por ser a outra face do filme e que vai culminar numa sequência final, também ela bastante curiosa e que faz espelho com a abertura, em que ambos apresentam uma nova campanha publicitária e um deles diz «agora o Chile já está preparado para uma coisa destas», algo que não acontecia na primeira campanha a um refrigerante, onde a presença de um mimo, um elemento de certa forma alegre, era bastante criticada. E o olhar desencantado de René antes de entrar o genérico final (o olhar de alguém desiludido, ficamos com essa sensação) é de uma força tremenda, dando a «Não» uma nova panóplia de leituras até então escondidas com o rabo de fora.

Classificação: 4/5

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Duetos Cinéfilos #11


Música: Belarmino (Linda Martini)
Filme: Belarmino (Fernando Lopes)

A propósito do arranque de mais uma edição do festival Panorama - Mostra do Documentário Português, que arranca amanhã no Cinema São Jorge com a projecção de «Belarmino», em homenagem a Fernando Lopes, numa sessão especial que vai contar com a actuação ao vivo do Trio Hot Club Portugal, que participou no filme, em 1964.