Casos de argumentistas que arriscam saltar da escrita para a realização não são raros no mundo do Cinema. O mais recente a entrar neste clube é Carlos Saboga, que começou nestas andanças ao assinar o argumento de «O Lugar do Morto», de António-Pedro Vasconcellos, e ultimamente esteve envolvido nos argumentos de dois filmes de cariz histórico: «Mistérios de Lisboa» e «As Linhas de Wellington». «Photo» é um filme completamente diferente destes dois últimos projectos de Raul Ruiz (o segundo acabou por ser terminado pela viúva do cineasta chileno, que faleceu antes do arranque das filmagens), mas a História não deixa de estar presente. Na sua estreia na cadeira de realizador Carlos Saboga conta-nos a história de Elisa (Anna Mouglalis), uma mulher que resolve ir à procura das suas raízes depois de tomar conhecimento da morte da mãe. Essas raízes, recuperadas através de inúmeras fotografias que encontra em casa da mãe, trazem-na a Portugal para tentar descobrir quem foi o seu pai. E é em Portugal que acaba por desenterrar um punhado de fantasmas que estiveram envolvidos na luta contra a ditadura de Salazar, todos com ligações à sua mãe na década de 1970.
Não sendo um grande filme, longe disso, «Photo» consegue ser uma estreia simpática para Carlos Saboga que não se espalha ao conciliar a História com H grande e a pequena história, de algumas das personagens que a viveram, mesmo que a partir do olhar de alguém que vem duplamente de fora: Elisa não só é uma estrangeira a desenterrar fantasmas longe de casa, mas também é alguém mais novo, que não viveu os factos relatados pelos homens que estiveram ligados à sua mãe. Entre ajustes de contas com o passado e diálogos que abordam os dilemas da geração que derrotou a ditadura (são vários os comentários que apontam a uma certa crítica a quem passou da idolatria a Mao a idolatrar ideologias completamente opostas para chegar a cargos políticos - só falta dar-lhes os nomes, mas quem conhece a realidade portuguesa conhecerá sem dúvida alguns exemplos), a primeira obra de Saboga enquanto realizador não desilude, pois não vai mais além do que lhe é pedido. Talvez o seu maior defeito seja essa simplicidade e falta de medo em arriscar ir um pouco mais longe. Não será um filme para ombrear com as grandes fitas portuguesas, mas passa no teste.
Classificação: 3/5
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