Há qualquer coisa no olhar de Hirokazu Koreeda que nos fascina. Não serão apenas os belos filmes que nos tem apresentado ao longo dos últimos anos, mas a forma serena e terna como filma as histórias que nos traz e volta e meia temos o prazer de ver em estreia comercial. Pequenas pérolas vindas do Japão, criadas por um dos dignos sucessores do génio de Ozu (recomenda-se o visionamento de «Andando», uma espécie de variação de «Viagem a Tóquio» passada nos dias de hoje, para o confirmar), que quase passam sem darmos por elas, mas que se lhes dermos atenção acabam por ser experiências memoráveis. «Tal Pai, Tal Filho» não é excepção e foi uma das mais agradáveis fitas a passar pelas salas portuguesas no final do ano passado.
A história de um pai que descobre, seis anos depois, que o seu filho foi trocado por outro no hospital, facilmente poderia ser um dramalhão de primeira, com lágrima a espreitar ao canto do olho. Mas Koreeda foge disso como o diabo da cruz e o resultado é algo completamente diferente. Um filme sincero, que retrata o drama de alguém que a dado momento e a partir de uma situação em específico se coloca perante inúmeras questões que no limite põem em causa toda a sua vida. Não só o que fazer quando descobre que o seu filho natural não é o que criou durante seis anos, mas um miúdo criado por uma família de menos recursos do que a dele, mas também o que falhou ao longo dos mesmos seis anos para que se sinta tão longe do menino que criou e ao mesmo tempo incapaz de acarinhar e aproximar-se do seu verdadeiro filho quando este vai viver com o casal natural.
Mais do que um belo filme, «Tal Pai, Tal Filho» acaba por ser um retrato da época em que foi feito (já Fritz Lang na sua extraordinária conversa com Jean-Luc Godard - Le dinosaure et le bébé - dizia que todos os filmes são como que documentários de uma determinada época), algo que já acontecia nos filmes anteriores de Hirokazu Koreeda, onde a família é sempre o centro da trama. Os dilemas de alguém que sempre deu tudo o que tinha a dar no emprego, descurando dessa forma a família e os que o rodeiam, da esposa ao pai, passam em pano de fundo. O final é aparentemente feliz, mas não sabemos se esta experiência limite pela qual todos passaram será suficiente para algo mudar ou se tudo irá continuar na mesma. O que não mudou, de certeza, foi o olhar sereno de Koreeda perante as suas personagens, que não deixa de nos fascinar desde que vimos pela primeira vez um dos seus filmes. Mais do que recomendável, «Tal Pai, Tal Filho» é um dos filmes obrigatórios em exibição por estes dias.
Nota: 4/5
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quarta-feira, 1 de janeiro de 2014
domingo, 8 de setembro de 2013
segunda-feira, 17 de junho de 2013
terça-feira, 16 de abril de 2013
Sugestões para o IndieLisboa 2013: dia 26 de Abril
«Os Carabineiros», de Jean-Luc Godard

Uma das particularidades da edição deste ano do Indie surge na secção Director's Cut, dedicada a filmes sobre Cinema ou a restaurações de obras chave da Sétima Arte. Em 2013 esta secção do festival, uma vez mais em parceria com a Cinemateca, coloca as escolhas da programação do festival em espelho com alguns filmes clássicos. Um deles é «Os Carabineiros, um dos primeiros filmes de Jean-Luc Godard, realizado em 1963, um filme absurdo sobre o mais absurdo dos temas: a Guerra. A obra de Godard passa em espelho com «Jean-Louis Comolli, filmer pour voir!», um retrato de Jean-Louis Comolli, cineasta e actor francês, proveniente da 'escola' dos Cahiers do Cinema, em formato documentário assinado por Ginette Lavigne.

Dia 26 de Abril, 21h45, Cinema São Jorge (Sala Manoel de Oliveira)
«Sightseers», de Ben Wheatley
«Sightseers» chega ao Indie depois de ter sido bem recebido um pouco por todo o lado no ano passado, tanto a nível da crítica, como em alguns festivais por onde passou, por isso tem gerado algumas expectativas. Esta comédia negra acompanha a viagem de um casal de caravanistas por terras rurais britânicas que acaba por se revelar algo mais do que dois simples amantes da natureza à procura de um pouco de calma e respeito por parte dos outros viajantes. O par é interpretado por dois dos argumentistas do filme, os comediantes Steve Oram e Alice Lowe. (sinopse e trailer)
sábado, 6 de abril de 2013
domingo, 17 de março de 2013
O Tigre Ataca, de Claude Chabrol (1964)
Apesar de não ser um dos cineastas que ficou entre os grandes da Nouvelle Vague (apesar do seu inegável papel para aquela geração), como Jean-Luc Godard ou François Truffaut, para citar os suspeitos do costume, Claude Chabrol conseguiu cimentar uma longa e prolifera carreira desde a sua estreia, em 1958, até 2009, com o recentemente estreado por cá «Bellamy». Mas esta longevidade não significa que a carreira de Chabrol, cujas obras mais populares tendem a ser policiais ácidos ambientados num mundo burguês, com críticas mordazes ao meio (quase como se de um Buñuel sem surrealismo se tratasse), tivesse sido pêra doce. Logo em 1964 o cineasta gaulês, a braços com más críticas a alguns dos seus filmes, viu-se obrigado a aceitar projectos que não eram do seu agrado. Um desses projectos foi «Tigre Ataca», uma espécie de filme de espiões a la 007.
Nesse mesmo ano o agente preferido de Sua Majestade chegava ao grande ecrã pela terceira vez. O sucesso das aventuras de James Bond, que ainda hoje continua a ser uma das séries de maior longevidade da história do Cinema, levou os produtores de outros países a tentarem seguir a mesma fórmula de sucesso. Em França o clone de 007 chamava-se Tigre e as suas aventuras foram levadas ao Cinema precisamente por Claude Chabrol, numa altura em que a sua carreira estava na mó de baixo. Mas se na origem do projecto estava um filme de acção e espionagem relativamente sério, focado no entretenimento, o universo de Tigre não podia ser mais diferente do de James Bond e cedo constatamos que entrámos no domínio da comédia. Basta ver a entrada em cena do espião francês, interpretado por Roger Hanin, também responsável pelo argumento (escrito a meias com Jean Halain), para chegarmos a essa conclusão.
A partir desta apresentação, já depois de assistirmos à sequência que desencadeia os acontecimentos do filme (um assassinato político ocorrido na Turquia durante a visita de um responsável governamental francês ao país para vender aviões militares), «Tigre Ataca» começa a ser delirante. Aproveitando todos os clichés dos filmes de 007 (vilões maus como as cobras ajudados por anões que não lhes ficam atrás no campo da malvadez, gadgets mirabolantes, belas mulheres e cenas de acção a rodos) a primeira aventura do agente Tigre (que ainda teve direito a mais um filme, também realizado por Chabrol) é divertimento puro. Não sendo um grande filme, longe disso, «Tigre Ataca» é antes uma obra curiosa na carreira de um cineasta que nos habitou a um outro tipo de filmes, completamente diferentes.
E mesmo que não se goste, não há como evitar soltar umas valentes gargalhadas durante o visionamento da estreia de Tigre, de tão absurdo que é. E dar graças por o sucesso alcançado por «Tigre Ataca» por altura da sua estreia ter ajudado Claude Chabrol (que nunca apreciou estes seus filmes) a relançar a sua carreira mais tarde, tornando-se um dos nomes fundamentais do Cinema francês da segunda metade do século passado. «Tigre Ataca» não será uma boa porta de entrada para quem não conhece o cineasta, mas para os fãs do realizador será um filme engraçado de descobrir.
Classificação: 3/5
Nesse mesmo ano o agente preferido de Sua Majestade chegava ao grande ecrã pela terceira vez. O sucesso das aventuras de James Bond, que ainda hoje continua a ser uma das séries de maior longevidade da história do Cinema, levou os produtores de outros países a tentarem seguir a mesma fórmula de sucesso. Em França o clone de 007 chamava-se Tigre e as suas aventuras foram levadas ao Cinema precisamente por Claude Chabrol, numa altura em que a sua carreira estava na mó de baixo. Mas se na origem do projecto estava um filme de acção e espionagem relativamente sério, focado no entretenimento, o universo de Tigre não podia ser mais diferente do de James Bond e cedo constatamos que entrámos no domínio da comédia. Basta ver a entrada em cena do espião francês, interpretado por Roger Hanin, também responsável pelo argumento (escrito a meias com Jean Halain), para chegarmos a essa conclusão.
A partir desta apresentação, já depois de assistirmos à sequência que desencadeia os acontecimentos do filme (um assassinato político ocorrido na Turquia durante a visita de um responsável governamental francês ao país para vender aviões militares), «Tigre Ataca» começa a ser delirante. Aproveitando todos os clichés dos filmes de 007 (vilões maus como as cobras ajudados por anões que não lhes ficam atrás no campo da malvadez, gadgets mirabolantes, belas mulheres e cenas de acção a rodos) a primeira aventura do agente Tigre (que ainda teve direito a mais um filme, também realizado por Chabrol) é divertimento puro. Não sendo um grande filme, longe disso, «Tigre Ataca» é antes uma obra curiosa na carreira de um cineasta que nos habitou a um outro tipo de filmes, completamente diferentes.
E mesmo que não se goste, não há como evitar soltar umas valentes gargalhadas durante o visionamento da estreia de Tigre, de tão absurdo que é. E dar graças por o sucesso alcançado por «Tigre Ataca» por altura da sua estreia ter ajudado Claude Chabrol (que nunca apreciou estes seus filmes) a relançar a sua carreira mais tarde, tornando-se um dos nomes fundamentais do Cinema francês da segunda metade do século passado. «Tigre Ataca» não será uma boa porta de entrada para quem não conhece o cineasta, mas para os fãs do realizador será um filme engraçado de descobrir.
Classificação: 3/5
sábado, 16 de março de 2013
Coisas que não se fazem
«Uma Mulher é Uma Mulher», de Jean-Luc Godard
«A Paixão de Joana D'Arc», de Carl Theodor Dreyer
Etiquetas:
Carl Theodor Dreyer,
Cinemateca,
Jean-Luc Godard
segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013
Duetos Cinéfilos #4
Música: Exit Music (for a Film) (Radiohead)
Filme: Viver a Sua Vida (Jean-Luc Godard)
(hoje na Cinemateca, às 15h30)
Etiquetas:
Duetos Cinéfilos,
Jean-Luc Godard,
Radiohead
segunda-feira, 3 de dezembro de 2012
Parabéns JLG
quinta-feira, 30 de agosto de 2012
Meetin' WA, de Jean-Luc Godard (1986)
Em «Meetin' WA» assistimos a um diálogo entre JLG e Woody Allen, onde o primeiro quer saber um bocado mais sobre a forma como o companheiro nova-iorquino trabalha os seus filmes. E é engraçado vermos Godard a jogar com as palavras de Allen, utilizando-as e recorrendo mesmo a alguns dos métodos de Allen na própria curta, como por exemplo o recurso a entre-títulos, que Allen incluiu em «Ana e as Suas Irmãs» e é uma técnica sobre a qual JLG quer saber porque o seu amigo a utiliza. Não estamos perante um dos melhores filmes-entrevista de sempre, longe disso e bastava recordar as entrevistas de François Truffaut a Alfred Hitchcock para colocar esta pequena pérola de parte.
Mas o diálogo entre dois cineastas com universos que parecem tão distantes entre si vale sempre bem a pena ser visto. Uma das melhores sequências é quando vem à baila a questão da 'intromissão' da cassete de vídeo nos hábitos dos cinéfilos. Estamos na década de 1980 e Allen já se mostra preocupado com o facto de haver pessoas que preferem ver filmes como «Citizen Kane» ou «2001: Odisseia no Espaço» num ecrã pequeno, como se estivessem hipnotizadas, em vez de irem à sala de Cinema, onde todo um ritual à volta da sessão é recordado por Woody Allen. Seria interessante este diálogo ser refeito nos dias de hoje, para que os dois protagonistas abordassem a questão da Internet e a sua influência na forma como os cinéfilos têm acesso aos filmes nos dias de hoje.
Para os interessados em assistir a este breve diálogo, o filme pode ser visto aqui.
Classificação: 4/5
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