quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Meetin' WA, de Jean-Luc Godard (1986)

Quando dois grandes amigos se juntam para meter a conversa em dia, a ideia tem tudo para dar bom resultado. Se esses dois amigos forem Woody Allen e Jean-Luc Godard (JLG) e houver uma câmara de filmar por perto, ficamos todos a ganhar. É essa a proposta de «Meetin' WA», uma curta-metragem do mestre da Nouvelle Vague realizada em 1986, quando JLG resolveu conhecer o realizador nova-iorquino para lhe propor a participação numa adaptação da peça «Rei Lear», de William Shakespeare. Este projecto viu a luz do dia um ano mais tarde, mas não chega a ser focado nestes 25 minutos de conversa entre os dois grandes cineastas.

Em «Meetin' WA» assistimos a um diálogo entre JLG e Woody Allen, onde o primeiro quer saber um bocado mais sobre a forma como o companheiro nova-iorquino trabalha os seus filmes. E é engraçado vermos Godard a jogar com as palavras de Allen, utilizando-as e recorrendo mesmo a alguns dos métodos de Allen na própria curta, como por exemplo o recurso a entre-títulos, que Allen incluiu em «Ana e as Suas Irmãs» e é uma técnica sobre a qual JLG quer saber porque o seu amigo a utiliza. Não estamos perante um dos melhores filmes-entrevista de sempre, longe disso e bastava recordar as entrevistas de François Truffaut a Alfred Hitchcock para colocar esta pequena pérola de parte.


Mas o diálogo entre dois cineastas com universos que parecem tão distantes entre si vale sempre bem a pena ser visto. Uma das melhores sequências é quando vem à baila a questão da 'intromissão' da cassete de vídeo nos hábitos dos cinéfilos. Estamos na década de 1980 e Allen já se mostra preocupado com o facto de haver pessoas que preferem ver filmes como «Citizen Kane» ou «2001: Odisseia no Espaço» num ecrã pequeno, como se estivessem hipnotizadas, em vez de irem à sala de Cinema, onde todo um ritual à volta da sessão é recordado por Woody Allen. Seria interessante este diálogo ser refeito nos dias de hoje, para que os dois protagonistas abordassem a questão da Internet e a sua influência na forma como os cinéfilos têm acesso aos filmes nos dias de hoje.


Para os interessados em assistir a este breve diálogo, o filme pode ser visto aqui.


Classificação: 4/5

2 comentários:

  1. sobre os ecrãs ainda seria pior, hoje em dia vêm-se filmes em psp's e telemóveis...

    A mim faz-me muita confusão, alguma vez ver um filme no tlm, é que até me parece uma falta de respeito para quem fez o filme.

    abraço

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  2. Sem dúvida. Se Allen já se queixava no final dos anos 1980 da redução do tamanho do ecrã do Cinema para a televisão, que dirá o nova-iorquino nos dias de hoje onde há cada vez mais ecrãs e cada vez mais pequenos.

    A minha opinião é um bocado parecida com a do Woody Allen: a experiência em sala é sempre completamente diferente. Por muito mau que seja o filme ou a condição da cópia, uma sessão numa sala de cinema ainda é qualquer coisa de mágico.

    Abraço

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