Realizado por Katell Quillévéré, Suzanne é um daqueles filmes que vale sobretudo pelas interpretações e para esta segunda longa-metragem a cineasta francesa teve a sorte de conseguir reunir um bom elenco para dar vida às personagens principais do filme. Todos os actores chegaram a ser nomeados na última edição dos prémios César, que premeiam os melhores filmes em França, tendo Adèle Haenel conquistado a estatueta de Melhor Actriz Secundária.
Partindo da história da protagonista que dá título ao filme, Suzanne é a história de uma jovem rebelde e da sua relação com a família desde a infância até cerca dos 25 anos. Não sendo um título de encher o olho, Suzanne é um filme sólido tendo em conta que estamos perante uma segunda obra, que só peca por ser pouco audaz. Se a cineasta arriscasse um pouco mais, talvez estivéssemos aqui perante uma boa surpresa. Ao invés Katell Quillévéré opta por jogar pelo seguro, tendo por base um argumento bastante simples, por vezes semelhante a muitos dos dramas familiares que temos visto oriundos do cinema francês. A única e grande diferença é que neste caso, o único risco que Katell Quillévéré corre é utilizar uma estrutura narrativa assente em inúmeras elipses, que funciona bem e não sentimos falta dos buracos deixados pelos saltos na narrativa.
E não há como não destacar a enorme presença de Sara Forestier que dá corpo e alma a uma personagem em constante luta consigo própria e com os que estão à sua volta. A jovem actriz, descoberta por Abdellatif Kechiche em A Cativa, mostra aqui que é uma boa actriz, mesmo que os seus trabalhos por cá sejam pouco conhecidos.
Num registo completamente diferente surge-nos R100, apesar de aqui também haver um drama familiar em pano de fundo. Mas é esse o único ponto de contacto entre o mais recente filme do japonês Hitoshi Matsumoto e o título de Katell Quillévéré. Contar em pormenor o drama familiar do protagonista de R100 é estragar a surpresa do visionamento deste delirante filme, tão delirante quanto Symbol, que já tinha passado pelo IndieLisboa há uns anos atrás. O melhor é ficarmos pela premissa: triste com a sua vida bastante cinzenta (e o cinzento é uma boa cor para descrever a fotografia do filme) o vendedor de mobiliário Takafumi inscreve-se num clube de sadomasoquismo e compromete-se a durante um ano submeter-se ao domínio de um conjunto de dominatrix que o vão fazer sofrer em ataques aleatórios ao longo do período do contrato, que não pode ser cancelado.
A partir daqui estamos por nossa conta e risco. Assim como já estávamos em Symbol, um daqueles objectos cinematográficos que nos deixam completamente fora de pé, tal é a quantidade de delírio que vai surgindo no ecrã e que no final, se conseguirmos sobreviver, acaba por fazer (algum) sentido. E o risco vale bastante a pena, tendo em conta que este é uma daquelas comédias descabeladas para rir do início ao fim. Hitoshi Matsumoto joga com todos os elementos da comédia e dos filmes série B (a sequência final de R100 de certeza que faz inveja a qualquer Grindhouse realizado a meias por Quentin Tarantino ou Robert Rodriguez), subverte-os e no final ainda temos direito a uma espécie de moral da história completamente delirante. O próprio título do filme faz parte do jogo, basta estar atento ao que se passa e tentar perceber este excêntrico labirinto criado por Hitoshi Matsumoto. Ou então não, podemos sempre deixar-nos levar pela loucura do filme e apenas passarmos um bom bocado, tendo em conta que vale tudo. Mesmo tudo para levar R100 a bom porto.
Suzanne repete no dia 28 de Abril às 16h30 na Sala 1 do Cinema City Campo Pequeno.
R100 repete no dia 30 de Abril às 23h50 na Sala 1 do Cinema City Campo Pequeno.
Sem comentários:
Enviar um comentário