sábado, 27 de outubro de 2012

O Gebo e a Sombra, de Manoel de Oliveira (2012)


Manoel de Oliveira não é, de todo, um dos cineastas mais populares por estes lados. Nada contra a cinematografia do veteraníssimo realizador português, cuja obra fala por si e não tem provas a dar a ninguém, muito menos a um jovem cinéfilo. Mas dada a importância do cineasta no panorama português e mundial, é sempre com agrado que vemos um dos seus filmes chegar às salas do circuito comercial e a curiosidade fala sempre mais alto na hora de escolher que filme ver em sala, no meio das dúzias de estreias que nos chegam todas as semanas.

E, neste caso, «O Gebo e a Sombra», mesmo que não fuja muito ao estilo de Oliveira, nomeadamente no recurso aos planos fixos, com excelentes enquadramentos (quase que podemos dizer que neste filme estamos perante belos quadros vivos onde as personagens ganham vida), e uma certa teatralidade na interpretação, que se nota sobretudo na primeira parte, é um daqueles filmes que nos deixa reconfortados por saber que ainda há quem consiga fazer algo assim, que aparentemente requer pouco esforço. De realçar que o elemento teatral acaba por fazer todo o sentido neste caso em concreto, pois o filme adapta a peça homónima, escrita por Raul Brandão em 1923.

Diz-se sobre esta adaptação que Manoel de Oliveira quis fazer um filme sobre os dias de hoje e os tempos conturbados que se vivem um pouco por todo o lado. Se o conseguiu ou não, apenas o tempo o dirá, o que é um facto é que «O Gebo e a Sombra» consegue ser mais do que isso. É um filme com uma história universal (não será à toa que nunca conseguimos saber, nem nos é dito, em que período decorre o filme), cuja acção tanto podia ter lugar em Portugal como em França. E Oliveira conseguiu transmitir bem essa ideia ao pôr as personagens a falar em francês mas todos os restantes elementos, como os nomes das pessoas ou o dinheiro, por exemplo, remetem para o imaginário luso.

Tal como na maior parte dos filmes do mestre português, o «Gebo e a Sombra» vive também muito das interpretações, e neste campo não podemos deixar em claro a presença de um elenco composto na sua maioria por veteranos e grandes nomes do Cinema mundial, como Michael Lonsdale, Jeanne Moreau e Claudia Cardinale, ladeados por Luís Miguel Cintra, Leonor Silveira e Ricardo Trêpa, que consegue surpreender pela positiva, pois está um bocadinho acima do que nos tem habituado em filmes recentes do avô. Mas é Lonsdale que domina completamente o filme, ao interpretar o pobre e honrado Gebo, um homem que vive na sombra do filho desaparecido, e esconde da mulher e da nora, com quem vive numa humilde casa, o pouco que vai sabendo sobre o que vai acontecendo ao seu filho para não as envergonhar.

Dizer que este é apenas um filme sobre a pobreza e os tempos difíceis é simplificar demasiado tudo o que «O Gebo e a Sombra» é, um filme sobre um homem que não abdica dos seus princípios, mesmo sabendo que estes não o levarão a lado nenhum, ao contrário de outros, que aproveitaram sempre que puderam para subir na vida através da cobiça. E Oliveira conseguiu fazer um retrato magistral desta personagem com a ajuda de uma soberba interpretação do actor francês, que dá vida a Gebo.

Classificação: 4\5

Sem comentários:

Enviar um comentário