No seu mais recente filme, «Le Fils de l'autre», a francesa Lorraine Lévy aborda o conflito israelo-palestiniano através de uma abordagem curiosa: duas famílias, uma de cada lado do conflito, descobrem que um dos seus filhos, acabado de fazer 18 anos, foi trocado à nascença na maternidade. Esta descoberta vai trazer um forte abalo nas duas famílias, que não sabem muito bem como lidar com a situação, sobretudo os pais, que começam logo por abandonar o consultório onde lhes é dada a notícia. Caberá então às duas mães, que se mostram mais abertas à situação, apesar de reticentes numa primeira fase, dar os passos para tentar resolver o diferendo. A situação acaba também por tocar os dois jovens, que de um momento para o outro vêem as suas vidas mudar completamente: o adolescente israelita, prestes a entrar para o serviço militar obrigatório, que sempre se viu como judeu deixa de o ser e o jovem que é o verdadeiro filho da sua família descobre que afinal deveria ter crescido no outro lado da fronteira.
Um dos aspectos mais bem conseguidos neste filme de Lorraine Lévy, uma das obras apresentadas na presente edição da Festa do Cinema Francês, é o facto de a cineasta não assumir necessariamente a defesa de um dos lados, apesar de as maiores críticas, quando surgem, serem dirigidas ao lado israelita, seja o lado militarista do país ou a forma como são tratados os palestinianos. Mas o que interessa mais em «Le Fils de l'autre» são as relações destas duas famílias, que por vezes assumem tons um pouco naives, como acontece na forma como as famílias se habituam à nova situação. Mesmo quando se sente no ar a presença de ódios demasiado fortes, este depressa desaparece, como se nada fosse. Isto acaba por resultar num retrato um pouco mais leve e tímido do conflito israelo-palestiniano, que apenas serve de pano de fundo ao resto da trama. Mas não deixa de ser um belo drama familiar sobre as relações entre pessoas oriundas de universos tão diferentes.
Classificação: 3/5
«Le Fils de l'autre» vai passar hoje, dia 5 de Outubro, às 21h00 no Cinema São Jorge, em Lisboa e repete nos dias 6 e 9 no Institut Français du Portugal, também em Lisboa, às 18h45 e 21h45, respectivamente. O filme vai ainda passar pelo Teatro Municipal de Faro no dia 17 de Outubro, às 19h30, pelo Rivoli Teatro Municipal, no Porto, no dia 28 de Outubro, às 21h30, e pelo Teatro Académico de Gil Vicente, em Coimbra, no dia 26 de Outubro, às 21h00.
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