Declaração de interesses: o autor deste blogue é um grande fã dos LCD Soundsystem, banda que considera ser uma das mais importantes da primeira década do século XXI dentro do universo da música popular. Ideia que já tinha ficado expressa, de forma talvez não muito explícita, quando publiquei o primeiro post neste espaço e onde expliquei a origem do nome do blogue. Não foi bem um rasgo de imaginação, mas adaptação descarada do título de um documentário dedicado ao último concerto da banda nova-iorquina liderada por James Murphy. Posto isto, este texto não vai ser bem uma crítica a esse documentário, antes uma crónica de um fã de uma banda que dá graças por esse filme ter chegado ao circuito comercial, mesmo que numa mísera sessão diária num pequeno cinema lisboeta.
Em 2010 aquando do lançamento do último álbum de originais da banda, «This Is Happening», James Murphy, a mais improvável das estrelas rock (seja lá o que isso for, neste caso em concreto) deste século, começou a espalhar rumores, meio a sério, meio a brincar, de que a banda iria terminar no final da digressão de promoção ao álbum, porque estavam todos cansados da vida na estrada e tinha uma editora para gerir, a DFA, nome sonante das sonoridades electrónicas made in Nova Iorque. A ideia acabou por se concretizar no início do ano seguinte, quando os LCD Soundsystem anunciaram a marcação de um concerto de despedida para o dia 2 de Abril de 2011, em Nova Iorque. O concerto foi anunciado como o melhor funeral de sempre, à imagem de uma banda que não quis ser dramática com o final e conseguiu sair de cena no auge da popularidade, com três grandes álbuns de originais, cada um melhor do que o outro e sem dar tiros no pé.
É curioso reparar que a questão que James Murphy tem mais dificuldade em responder quando é entrevistado no documentário «Shut Up and Play the Hits - O Fim dos LCD Soundsystem» (por muitos anos que viva nunca hei-de perceber porque raio é que tanto se gosta de acrescentar frases aos títulos originais dos filmes) é precisamente qual foi o grande falhanço dos LCD Soundsystem. E a única falha que o líder da DFA se lembra foi um concerto que não conseguiram dar na Irlanda porque os voos foram afectados na altura de um certo vulcão islandês que provocou o caos no espaço aéreo mundial. Na minha experiência com a banda poderia recordar um certo concerto, numa edição de um festival de Verão em 2010, quando os rumores sobre o fim da banda já eram demasiado fortes para serem evitados em qualquer conversa sobre o assunto, onde os LCD Soundsystem foram prejudicados e praticamente impedidos de dar um concerto em condições para dar espaço a uns cabeças de cartaz que há muito deveriam ter arrumado as guitarras para dar espaço a quem realmente merecia. Mas, uma vez mais, a culpa deste mau concerto não pode ser imputada à banda que merecia mais respeito.
Esta entrevista, realizada uma semana antes do concerto, é uma das partes mais interessantes do documentário realizado por Will Lovelace e Dylan Southern, pois é aqui que o líder da banda explica como nasceram os LCD Soundsystem, o que o levou a avançar com o projecto mais além do que inicialmente previsto (a história relatada por Murphy é fantástica e espelha bem o espírito da banda até ao final), algumas das suas influências e, sobretudo, porque raio um tipo com 30 anos resolveu tornar-se estrela de rock numa idade em que a maior parte destes artistas é considerada mais do que ultrapassada. Pelo meio temos imagens do dia seguinte de James Murphy, sempre acompanhado pelo seu buldogue francês, uma das figuras mais castiças do filme, e várias sequências do último concerto da banda, o tal que eles queriam que fosse o melhor funeral de sempre.
E foi, de facto, uma bela festa. O autor destas linhas chegou a ponderar perder a cabeça (e uma boa parte da conta bancária) para apanhar um avião para Nova Iorque e assim assistir ao dito concerto. O bom senso acabou por imperar (ou talvez não) e o mais perto que estive de entrar na arena do Madison Square Garden no dia 2 de Abril de 2011 foi através do YouTube, que transmitiu o concerto em directo. Por isso, ver hoje em sala este documentário foi um pouco como recordar esse dia e esse concerto, assim como as memórias pessoais que tenho com os LCD Soundsystem. Não só o mau concerto que deram em Algés em 2010, mas também uma noite de Julho de 2007 quando o senhor James Murphy e companhia me puseram a gritar a plenos pulmões «North American Scum», na altura uma das poucas músicas que conhecia do seu reportório. E foi aí o início de uma paixão, daquelas que não conseguimos explicar porque a sentimos, que ainda perdura e só tende a aumentar a cada nova audição dos álbuns da banda. Este concerto de 2007, mesmo que no dia anterior tivesse assistido pela primeira vez a um concerto dos Arcade Fire (outra banda de eleição por aqui e cujos espectáculos ao vivo são simplesmente indescritíveis e uma verdadeira experiência que só quem já teve oportunidade de os ver sabe como são), continua a ser um daqueles que melhores memórias me traz quando me recordo de grandes concertos onde estive presente.
Só por isso, por trazer de volta, nem que seja por uma hora e pouco, uma das melhores e mais influentes bandas da última década, já valeu a pena perder tempo a ver este documentário. Agora dizer-vos se o documentário é bom ou não, terão de pedir a opinião a alguém mais imparcial, algo que neste momento não consigo ser enquanto fã acérrimo da banda. Mas se forem verdadeiros fãs dos LCD Soundsystem e do trabalho de James Murphy (mais do que nunca, o patrão da DFA passou a ser um dos meus heróis), podem ir à confiança, que não vão dar o tempo ou o dinheiro por mal empregue. Se precisarem de uma segunda opinião, falem com o senhor que estava sentado algumas cadeiras ao meu lado na sessão de hoje e literalmente dançava em cada sequência do concerto.
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