Quando se fala em Stanley Kubrick a primeira coisa que passa pela cabeça da maior parte dos fãs do realizador será talvez os seus filmes mais conhecidos, como «Laranja Mecânica» ou «2001: Odisseia no Espaço». O que talvez muitos não sabem é que o jovem Kubrick, que começou por ser fotógrafo antes de se dedicar à Sétima Arte, realizou três curtos documentários antes de a sua carreira como realizador arrancar a sério, com «O Beijo Assassino». (antes de realizar este filme o cineasta ainda realizou um primeira longa-metragem, «Fear and Desire», que renegou até à sua morte. Esta obra foi editada recentemente em DVD e Blu-ray, ficando disponível pela primeira vez para o público em geral, pois Kubrick nunca chegou a autorizar em vida a apresentação do filme).
Day of The Fight (1951)
Realizados entre 1951 e 1953, os três documentários abordam temas distintos e cada um tem o seu estilo próprio. E, curiosamente, o melhor dos três é o primeiro, talvez por ser o mais pessoal e onde se nota uma marca própria. «Day of The Fight» começa por ser um documentário sobre boxe, com uma breve introdução sobre este desporto e a sua popularidade nos EUA, e acaba por se focar num lutador que irá entrar no ringue para participar num combate decisivo. Assim que conhecemos Walter Cartier, um dos vários boxistas presente no livro de estatísticas do boxe, a câmara de Kubrick vai segui-lo durante o dia do combate, mostrando como se prepara e passa as últimas horas antes de entrar em acção. Como se fosse o retrato de um dia de trabalho de alguém, cuja profissão é lutar boxe. O que sobressai nesta estreia de Stanley Kubrick é que, apesar de ser um documentário, encontramos diversos características que nos remetem para o Noir, género explorado nas duas longas realizadas após «Fear and Desire»: «O Beijo Assassino» e «Um Roubo no Hipódromo». Sendo este o documentário menos tradicional, quando comparado com os outros dois (este é também o único documentário de Kubrick que não resulta de uma encomenda), quase que podemos dizer que neste primeiro filme Stanley Kubrick já começa a ensaiar para o que seriam as suas primeiras longas.
Flying Padre (1951)
Depois de conseguir vender «Day of The Fight» à RKO-Pathé, Kubrick foi contratado por esta produtora-distribuidora norte-americana para filmar um novo documentário. O resultado foi «Flying Padre» e não poderia ser mais diferente da estreia. Muito mais pequena, com cerca de metade da duração de «Day of The Fight», esta curta é o retrato de um padre do Novo México que viaja no seu avião para chegar às populações daquele estado norte-americano, seja para celebrar uma missa ou para ajudar quem precisa de chegar ao hospital o mais depressa possível. Considerado mais tarde como uma obra menor pelo próprio realizador, «Flying Padre» quase que se assemelha a uma pequena reportagem sobre esta 'personagem', e hoje em dia mais não é do que uma curiosidade no legado de Kubrick, que nada vem acrescentar à restante obra do cineasta.
The Seafarers (1953)
O último documentário, «The Seafarers», acaba por ser o mais tradicional dos três. Realizado por encomenda do Seafarers International Union, um sindicato de marinheiros nos EUA, este é também o primeiro filme a cores de Stanley Kubrick. Mas, tal como já acontecera com «Flying Padre», aqui não há nenhuma marca pessoal do cineasta. «The Seafarers» faz lembrar alguns filmes de propaganda realizados durante a II Guerra Mundial, mas aqui não se trata de promover os valores dos EUA em tempo de guerra, antes o trabalho do sindicato na defesa dos direitos dos seus membros. Em comum aos outros dois filmes encontramos um narrador, que desta vez surge no ecrã, no início e no final do filme, para nos contar a história e o trabalho do Seafarers International Union. Apesar de Kubrick não ter feito grandes referências a «The Seafarers» mais tarde, este encomenda terá sido fundamental para pagar os custos de «Fear and Desire».
Para quem quiser conhecer um pouco melhor a história destas três curtas-metragens, sobretudo de «The Day of The Fight», recomendo a leitura deste
artigo publicado no site Open Culture, onde podem também ser visionados os três documentários, disponíveis no YouTube.
Sem comentários:
Enviar um comentário