Se Ben Affleck como actor deixa algo a desejar (salvo raras, raríssimas excepções), o caso muda de figura quando o actor se lembra de se sentar na cadeira de realizador. Ao terceiro filme nessa posição Affleck volta a provar que sabe o que faz quando chega a hora de dirigir um filme, mesmo que «Argo» não seja tão bom como os anteriores «Vista Pela Última Vez...» e «A Cidade». Contudo, há que realçar que o território e género são diferentes. Ao contrário dos seus dois primeiros filmes, dramas urbanos passados em Boston, com o crime como pano de fundo, para esta terceira obra o actor-realizador resolveu recriar um episódio verídico que teve lugar durante a crise dos reféns da embaixada dos EUA no Irão, no final dos anos 1970, quando a maior parte dos funcionários da representação diplomática norte-americana em Teerão foi feita refém depois de o edifício ser invadido por apoiantes do ayatolah Khomeini. Seis dos funcionários conseguiram escapar antes da invasão dos manifestantes e encontraram refúgio na embaixada do Canadá, que lhes deu guarida durante algum período.
Perante este cenário a CIA entra em acção e tenta encontrar um plano para o resgate deste grupo de funcionários, antes que as autoridades iranianas descubram que há seis pessoas a menos no grupo de reféns. E essa tarefa vai ser levada a cabo por Tony Mendez (Ben Affleck), especialista em missões de evacuação, que idealiza um plano definido pelos membros da CIA como a melhor de todas as más ideias para uma missão daquele tipo, já por si destinada ao falhanço: o próprio Tony Mendez faz-se passar por membro de uma equipa de filmagens canadiana para entrar no Irão e resgatar os seis funcionários, que têm de assumir a identidade de membros da equipa que supostamente foi a Teerão para escolher os locais de rodagem de um filme de ficção científica chamado «Argo».
«Argo», o filme de Ben Affleck, retrata este estranho episódio histórico, que esteve desconhecido até meados da década de 1990, desde a invasão da embaixada norte-americana pelos manifestantes iranianos até ao resgate dos seis funcionários. Rodeado de um bom elenco secundário (só a dupla composta por John Goodman e Alan Arkin, os homens em Hollywood que vão ajudar Mendez a tornar a sua falsa produção o mais credível possível, é simplesmente deliciosa. A personagem de Arkin ganhou já o estatuto de um dos melhores secundários do ano), a terceira longa-metragem de Affleck tem como grande ponto forte uma reconstituição de época muito bem conseguida, com todos os detalhes no sítio certo, que podem ser comprovados durante os créditos finais, quando as imagens do filme são colocadas lado a lado com fotografias tiradas na mesma altura.
O mesmo acontece com a atenção aos pormenores históricos e a forma como o filme contextualiza a situação no Irão, logo no início através de uma excelente sequência animada. O que volta a falhar, tal como já tinha acontecido em «A Cidade», é que Ben Affleck como actor nunca consegue convencer e está a anos-luz do Ben Affleck realizador. E sendo mais uma vez o protagonista principal, «Argo» só tem a perder com esta opção, quando o resto do filme consegue estar à altura do que lhe é pedido, sendo sério quando tem de o ser e mais leve quando tem de seguir por essa via, captando o espírito da época, tanto nos corredores dos organismos de espionagem como da própria Hollywood, que acaba por ser alvo de uma sátira mordaz, sempre pela boca da personagem de Arkin.
Classificação: 4/5
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