domingo, 18 de novembro de 2012

A Verdade Vence Sempre, de Henry Hathaway (1948)

Henry Hathaway ficou conhecido na História do Cinema sobretudo pelos westerns que realizou durante a sua longa carreira, género no qual se estreou em 1932 com a realização de «Heritage of the Desert». Mas nem só de westerns viveu o realizador de «A Velha Raposa», o filme que deu o único Óscar a John Wayne. Um dos exemplos da variedade da filmografia de Hathaway é «A Verdade Vence Sempre», um filme protagonizado por James Stewart que recuperou um caso verídico que ocorreu em Chicago, durante o período da Lei Seca, que resultou na detenção de um homem inocente acusado de assassinar um polícia num bar ilegal. Mais de dez anos depois do incidente, a publicação de um anúncio na secção de classificados do Chicago Times, onde se oferece uma recompensa por informações sobre o autor dos disparos que vitimaram o agente, vai despertar a atenção do editor do jornal, Brian Kelly (Lee J. Cobb), que encarrega o repórter McNeal (James Stewart) de investigar o estanho anúncio.

Este é o início de uma investigação jornalística que mais tarde acabou por dar origem ao filme realizado por Henry Hathaway em 1948, que mistura elementos de documentário (o filme foi rodado em Chicago e, segundo uma nota dos produtores que surge no arranque de «A Verdade Vence Sempre», precisamente nos locais onde tiveram lugar os acontecimentos, e a narração está bastante presente) e do film Noir. Apesar de não ser um Noir puro (mesmo tratando-se de uma história sobre crime, os ambientes não são tão sombrios como os principais títulos dentro deste universo - aliás o próprio investigador neste caso não é um detective ou um polícia caído em desgraça, mas um jornalista que tenta provar a inocência de alguém condenado injustamente), este é talvez o género no qual melhor se pode enquadrar «A Verdade Vence Sempre».

O que acaba por tornar esta obra de Henry Hathaway também num dos melhores filmes sobre o papel do jornalismo na procura da verdade, tema que tem sido bem explorado pela Sétima Arte ao longo de vários anos e com resultados bastante diferentes, desde comédias como «O Grande Escândalo», de Howard Hawks, a filmes mais sérios como «Mentira Maldita», de Alexander Mackendrick, sobre a influência e a ética do chamado quarto poder. No caso de «A Verdade Vence Sempre», a junção de características do documentário e do Noir dá-nos uma nova forma de retratar o papel do repórter ao serviço da sociedade e na busca pela verdade, ultrapassando todas as dificuldades para o fazer, mesmo que a certa altura se discuta  se o objectivo desta investigação não é apenas a venda de mais exemplares do periódico, através de um certo sensacionalismo. Outra curiosa reflexão que poderia ser feita a propósito desta obra de Hathaway.

O final, em defesa da Justiça (ou de certas decisões do Governo) dos EUA, é demasiado moralista e totalmente em consonância com o espírito da época, altura em que o Cinema ainda era utilizado, de certa forma, como máquina de propaganda na defesa dos valores norte-americanos. Mas aqui o filme de Henry Hathaway acaba por se afastar totalmente do Noir, pois o final é tudo menos infeliz para as personagens e tudo acaba por se resolver, mesmo que tenhamos de esperar quase pelo último minuto para assistir ao desenlace.

Classificação: 4/5

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