segunda-feira, 22 de abril de 2013

IndieLisboa 2013, Dia 4: Da Maternidade filipina à Esperança austríaca

O quarto dia de IndieLisboa trouxe-nos um regresso aguardado (Brillante Mendoza com «Thy Womb»), um exemplo da vitalidade do cinema romeno («Rocker», de Marian Crisan) e mais um capítulo da trilogia Paradise do austríaco Ulrich Seidl («Paradise: Hope»).


O mais recente filme de Brillante Mendoza chega ao IndieLisboa quando ainda podemos ver em sala o seu anterior «Cativos», um filme que desilude tendo em conta aquilo que o cineasta filipino nos mostrou em obras anteriores, como foi o caso do excelente «Lola». «Thy Womb» não se aproxima tanto desse filme protagonizado por Isabelle Huppert (analisado aqui), mas mais de «Lola», apesar de ser um tema um pouco diferente. Em «Thy Womb» o cineasta filipino acompanha um casal cuja mulher é infértil à procura de uma nova esposa para o marido, para que dessa forma possam cumprir o sonho de poderem ter um filho.

Não estando à altura de «Lola», esta obra de Brillante Mendoza acaba por marcar um regresso ao que ele fez com esse filme, o primeiro da sua obra que chegou a estrear comercialmente a Portugal. Partindo de uma história enraizada na cultura local, «Thy Womb» apresenta-nos belíssimas imagens da paisagem filipina (algumas a fazer lembrar precisamente «Lola») e de algumas tradições locais, ao mesmo tempo que acompanhamos a 'saga' do casal. Esse é um dos pontos fortes do filme, sempre filmado com o mesmo estilo de câmara à mão tão caro a Mendoza, que acaba por compensar um argumento onde a história não tem a força que poderia ter tendo em conta a premissa. Sobretudo a partir do momento em que o marido é colocado perante um dilema complicado (contá-lo seria estragar a surpresa do filme) cujo desenlace terá consequências duras para o casal. Mesmo assim não deixa de ser uma agradável surpresa constatar que o realizador não se deixou levar pelos excessos de «Cativos» e soube regressar às origens.

Classificação: 3/5


Outro dos filmes bastante aguardados por estes lados era «Rocker», o único representante do cinema romeno na edição deste ano do IndieLisboa. Realizado por Marian Crisan, que apresentou há uns anos no festival a sua primeira longa-metragem («Morgen»), «Rocker» é a história de Victor, o pai do vocalista de uma banda de rock à procura de fama que faz tudo para ajudar o filho toxicodependente. Esta segunda obra de Marian Crisan é mais um exemplo do bom cinema que se tem feito na Roménia nos últimos anos, assente num realismo social bastante forte, apesar de estar longe da qualidade de títulos mais consagrados, como «A Morte do Senhor Lazarescu» ou «Quatro Meses, Três Semanas e Dois Dias», para referir apenas dois bons exemplos.

Contudo, apesar de alguns bons pormenores, «Rocker» não faz parte do mesmo campeonato do melhor que se fez na Roménia ultimamente e que foi alvo de uma homenagem há uns anos no Indie. Faz lembrar um outro filme que já assistimos este ano no festival, o norte-americano «Francine». Aqui em vez de acompanharmos uma ex-presidiária à procura de regressar à normalidade, temos um pai a tentar ajudar um filho. Todo o filme é centrado na personagem de Victor, numa excelente interpretação a cargo de Dan Chiorean, alguém que está à beira de explodir e acaba por fazê-lo apenas no último momento para depois voltar a estar ao lado do filho e ajudá-lo quando é preciso. E o olhar desencantado de Victor no plano final de «Rocker» acaba por fazer eco com o olhar de Francine no final de «Francine». Falta esperança a estas personagens, mas a Roménia continua a provar que tem muito para dar ao Cinema, mesmo quando produz obras que não são tão boas como outras que já foram apresentadas no passado.

Classificação: 3/5


O final do quarto dia de Indie ficou reservado para mais um capítulo da trilogia Paradise, de Ulrich Seidl, desta vez dedicado ao tema da Esperança e protagonizado por Melanie (Melanie Lenz), a filha de Teresa (protagonista de «Paradise: Love») e sobrinha de Anna Maria (protagonista de «Paradise: Faith»). Neste capítulo acompanhamos a adolescente Melanie durante a estadia num campo de emagrecimento, onde a jovem vai travar conhecimento com novas amigas e a maior parte das conversas acaba por ir parar ao tema
do sexo e a partilha de experiências. Aos poucos Melanie começa a aproximar-se de um dos médicos do campo por quem acaba por se apaixonar. A relação entre ambos vai evoluindo até que o médico acaba por se aproveitar da jovem. Seidl não mostra o que realmente se passou entre os dois em dois momentos em que ambos estão isolados, mas dá a entender que algo de pouco inocente se passou nesses momentos.

Em «Paradise: Hope» voltamos ao mesmo território de «Paradise: Faith»: uma comédia negra sobre um tema forte, que nos faz rir com coisas sérias, filmada através do olhar pouco inocente de Ulrich Seidl. Os planos utilizados são semelhantes, bem filmados e certinhos, criando quase que quadros protagonizados pelas personagens, e a fotografia recorre aos mesmos tons que já tínhamos visto em «Paradise: Faith». E uma vez mais o cineasta austríaco torna-nos voyeurs de uma determinada situação. Nada de novo em relação ao capítulo anterior da trilogia, apenas uma transgressão um pouco mais difícil de engolir pois apesar de o tema ser a Esperança (Melanie procura sempre algo melhor do que tem nas situações que enfrenta ao longo do filme), o filme foca também um tema mais complicado de aceitar como é o caso dos abusos contra menores, no caso contra uma jovem inadaptada, com problemas em relação a si própria e em casa (é das poucas que não consegue falar com os pais na chamada hora do telemóvel) que acaba por se apaixonar por alguém que pensa ser o amor da sua vida e apenas vai ser alguém que se aproveita dela e se afasta no final. Provavelmente será a primeira grande desilusão amorosa da adolescente. E o que é a destruição de símbolos religiosos vista em «Paradise: Faith» em comparação com a história de Melanie? É a questão (e, gostemos ou não, são muitas as questões que a obra de Seidl nos coloca) que nos deixa o cineasta quando arranca o genérico final de «Paradise: Hope».

Classificação: 3/5

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