Começar o IndieLisboa com o regresso de dois velhos conhecidos podia ser boa ideia. Mas infelizmente o novo filme de Gustave de Kervern e Benoît Delépine, dupla que tem sido presença constante no festival e cuja maioria dos filmes tem visto estreia comercial por terras lusas, soube a desilusão. Ambientado no universo bastante peculiar dos autores de «Aaltra», «Le Grand Soir» conta a história de dois irmãos na casa dos 40 anos que não podiam ser mais diferentes: Not (Benoît Poelvoorde), um eterno punk sem preocupações para quem a vida deve ser vivida calmamente e que espalha a sua filosofia de vida com a ajuda de um pequeno rafeiro, e Jean-Pierre (Albert Dupontel), vendedor de colchões a quem a vida começa a correr mal e acaba por ser despedido. Este despedimento, culpa da crise e da falta de resultados, leva Jean-Pierre a entrar numa espiral de auto-destruição e vai ser Not o responsável pela sua tentativa de recuperação.
No papel «Le Grand Soir» tinha tudo para ser mais uma comédia negra ao bom estilo da dupla Delépine e de Kervern. Mas o que cativou nos seus anteriores filmes, sobretudo em «Aaltra» e «Louise-Michel», críticas ácidas à economia e ao mundo dos negócios dos dias de hoje, acaba por ser mais do mesmo em «Le Grand Soir». A crítica à economia está mais uma vez lá, assim como a uma sociedade que vive alheada em centros comerciais e hipermercados e não liga às vítimas da dita crise económica. Além de ser um pouco mais do mesmo, «Le Grand Soir» vive de um argumento desequilibrado, o que se nota bastante, por exemplo, na história da relação dos dois irmãos com os pais. Nem os cameos de actores que participaram nos anteriores filmes da dupla, uns mais visíveis do que outros, acabam por safá-lo do desastre.
Vale sobretudo por algumas piadas bem conseguidas, que serão do agrado dos adeptos do estilo da dupla, e pela grande personagem que é Not, interpretada por um enorme Benoît Poelvoorde, a estrela dessa pequena pérola de culto dos anos 1990 chamada «Manual de Instruções para Crimes Banais», que conquista tudo sempre que está em cena. Pena o resto do filme não estar à altura de tamanha personagem. Em suma, «Le Grand Soir» faz-nos ter saudades dos primeiros filmes de Gustave de Kervern e Benoît Delépine e temer pela qualidade das futuras obras da dupla que tanto prometeu com a estreia de «Aaltra».
«Le Grand Soir» integra a secção Cinema Emergente do IndieLisboa 2013 e vai passar ainda nas seguintes sessões:
20 Abril, 14:45, Cinema City Classic Alvalade, Sala 3
22 Abril, 17:00, Cinema City Classic Alvalade, Sala 3
Classificação: 3/5
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