Os filmes sobre Kaijus (monstros marinhos, em japonês) nunca tiveram grande tradição fora do cinema oriental, mas de vez em quando surgem filmes feitos por cineastas oriundos de outras latitudes que tentam recuperar esse espírito, cujo expoente máximo (ou talvez mais popular) será a célebre série de filmes protagonizada por Gojira, também conhecido como Godzilla. Se este monstro nipónico foi recuperado no final dos anos 1990 por Roland Emmerich, com Godzilla a invadir Manhattan, desta vez foi o mexicano Guillermo del Toro a prestar homenagem ao género, com «Batalha do Pacífico», projecto que agarrou depois de abandonar a adaptação de «O Hobbit».
A abordagem de del Toro vai um pouco mais além da de Emmerich, ao focar o filme num confronto entre a Humanidade e um conjunto de monstros que emerge das profundezas do Pacífico para tomar conta do planeta Terra. A resposta dos humanos contra esta ameaça está nas mãos de um grupo de equipas especiais que controlam gigantescos robots denominados jaegers para defrontar os kaijus. O filme acompanha o confronto final, quando os governos mundiais decidem cortar os fundos desta espécie de projecto militar numa altura em que os monstros estão mais fortes do que nunca. Resta ao líder do projecto um último esforço para derrotar de vez os kaijus, com a ajuda de um antigo piloto de robots caído em desgraça, numa batalha final sem precedentes.
No seu âmago, «Batalha do Pacífico» é uma homenagem sincera a este tipo de cinema fantástico oriundo de terras orientais. Quem cresceu a ver na televisão a série Power Rangers, já uma adaptação norte-americana de um produto japonês, perceberá a lógica deste universo. Mas, tal como geralmente acontece com todas imitações, não é perfeito e acaba por falhar ao tentar alcançar a tal perfeição do material de origem. Aqui tudo é em grande e carregou-se em força no campo dos efeitos especiais para criar excelentes criaturas e robots, esquecendo-se del Toro de algo que parece andar esquecido ultimamente nos blockbusters dos últimos tempos: um equilíbrio bem conseguido entre divertimento e um lado mais sério. O que há em excesso (o lado mais sério, que dá um tom bastante negro à história), falta no campo da diversão. Não há momentos divertidos em «Batalha do Pacífico». E os que há (basicamente as cenas protagonizadas pela dupla de cientistas loucos ao serviço dos heróis e pelo enorme Ron Pearlman, com uma personagem que entra a matar mas acaba por ser desperdiçada), falham um bocado o alvo.
Uma pena, pois apesar de as expectativas em torno de «Batalha do Pacífico» não serem tão grandes quanto isso, esperávamos um pouco mais de Guillermo del Toro, um cineasta que raramente nos desiludiu no passado e regressa à cadeira de realizador cinco anos depois do segundo episódio de «Hellboy». Não é um mau filme para este Verão, onde os blockbusters têm sido bastante fracos, mas podia ser melhor tendo em conta o historial do seu autor. Se há algo que nos deixa é saudades do bom velho del Toro, que esperamos ver de novo em forma no futuro.
Nota: 3/5