Verdade seja dita: depois de «Haverá Sangue», filme que por estes lados é considerado um dos melhores títulos norte-americanos da década passada, as expectativas em torno da chegada de «The Master - O Mentor» estavam elevadíssimas. A presença de dois excelentes actores no elenco (Joaquin Phoenix e Philip Seymour Hoffman) apenas ajudou a aumentar essas mesmas expectativas e no final da sessão o novo filme de Paul Thomas Anderson acabou por saber a pouco e a sensação de desilusão ficou no ar. Não que «The Master - O Mentor» seja um filme fraco. Não é. É um daqueles filmes que respira Cinema por todos os frames e tomara muitos realizadores actualmente levarem a cabo uma obra destas. Mas tendo em conta o que Thomas Anderson fez no passado, este ficou bastante aquém do que seria esperado.
A grande falha reside sobretudo num argumento um pouco atabalhoado, que torna a história de Freddie Quell (Phoenix num excelente regresso ao activo), um marinheiro veterano da II Guerra Mundial com problemas mentais e de álcool que tenta regressar à 'vida normal' em sociedade, mas sem grande sucesso, ainda mais confusa do que a cabeça da personagem principal. «The Master - O Mentor» podia ter sido um excelente filme se não se tivesse perdido entre a história de Freddie e a história de uma misteriosa seita liderada por Lancaster Dodd (Seymour Hoffman, também a assinar uma interpretação notável), conhecido como o Mestre (não se entende como os tradutores portugueses chamam Mestre à personagem e Mentor ao título do filme...). Quando estas duas personagens, bastante contraditórias entre si, se cruzam, o Mestre acaba por tornar Freddie a sua cobaia e é nele que vai testando alguns dos métodos utilizados nas sessões públicas onde apresenta a sua causa. Apesar de ambos os arcos narrativos terem algum potencial para andar por si só, nenhuma acaba por ser explorada bem para dar um objecto coeso e muito fica por explicar, tal como acontece com as estranhas teorias de Lancaster Dodd. E é aqui que Paul Thomas Anderson falha as expectativas.
O que é pena, pois «The Master - O Mentor» está em alta em todos os outros pontos. Ambos os protagonistas têm interpretações soberbas, sobretudo Joaquin Phoenix, que faz esquecer o seu passado recente e aquele que podia ter sido o suicídio da sua carreira enquanto actor (sim, Joaquin, estou a falar dessa experiência chamada «I'm Still Here»). A banda sonora, uma vez mais assinada por Jonny Greenwood, o guitarrista dos Radiohead que se tinha estreado nestas andanças do Cinema com a partitura de «Haverá Sangue», está bastante bem conseguida, com os seus tons minimalistas a fazerem todo o sentido ao longo da narrativa. A juntar a estes dois elementos temos ainda uma fotografia belíssima, que não fica nada atrás dos anteriores filmes de Thomas Anderson.
O elo mais fraco é mesmo a forma como a história é contada, que faz com que «The Master - O Mentor» não esteja ao nível de outras obras do realizador, como o já referido «Haverá Sangue» ou «Jogos de Prazer». Mesmo assim, não deixa de ser curioso que apesar das suas falhas continue a ser um daqueles filmes que lhe reconhecemos inúmeras qualidades e o colocam acima da mediania da produção de Hollywood nos dias de hoje. Talvez no futuro, num segundo visionamento mais distante da experiência de ter visto essa obra-prima chamada «Haverá Sangue», a minha opinião em torno de «The Master - O Mentor» seja melhor. Para já é esta.
Classificação: 3/5
Pelas várias críticas que tendo andado a ler este é um filme que anda a dividir muitas opiniões. Até agora a tua é talvez a que vai mais de encontro com a minha própria opinião. Convido-te também a ler a minha opinião sobre o filme. Depois do seu genial filme anterior, este foi claramente uma desilusão. Mas tal como dizes, não quer dizer que seja um filme mau, tem muitas qualidades, nomeadamente na realização e na direcção de fotografia. O que realmente me desiludiu foi um argumento um tanto ou quanto mal trabalhado, que se vai perdendo e ganhando novos sentidos no decorrer do filme. Não me consegui realmente embrenhar naquela história. Talvez seja mesmo isso que também preciso, uma segunda visualização.
ResponderEliminarCumprimentos,
Rafael Santos
Memento mori
Depois de ler a tua crítica, penso que estamos de acordo em relação ao «The Master» na maior parte dos pontos. Penso que o grande problema deste filme é ser o filme do PTA após o «Haverá Sangue». Talvez com uma distância maior, daqui a uns anos, consiga ter uma outra opinião sobre o filme.
EliminarCumprimentos