terça-feira, 28 de agosto de 2012

Wes Anderson: um álbum de família

Continuando a prestar homenagem a Wes Anderson, hoje é dia de recordar algumas das minhas personagens favoritas dos filmes do realizador norte-americano. Tal como em todas as listas, esta é subjectiva e para outros fãs do cineasta, as escolhas podiam bem ser outras. De fora desta espécie de álbum de família fica a primeira longa-metragem de Anderson, «Roda Livre», filme que vi há já alguns anos e cujas recordações não me ficaram na memória. Situação a rever num destes dias, para tirar a prova dos nove.


Gostam Todos da Mesma (Rushmore, 1998)
Max Fischer (Jason Schwartzman)
No filme onde Wes Anderson começou a atrair as atenções do grande público, a personagem que mais se destaca é Max Fischer, um jovem estudante do colégio privado Rushmore que se envolve em várias actividades. Este excesso de actividades extra-curriculares acaba por afectar o seu aproveitamento escolar e a ameaça de expulsão paira no ar. Entretanto o facto de se apaixonar pela sua jovem professora não ajuda o jovem Max, que ainda tem de lidar com a traição de Herman Blume (Bill Murray), figura que assume o papel de pai que Max nunca teve e resolve roubar o alvo de paixão do jovem. Tal como acontece com as jovens personagens do mais recente «Moonrise Kingdom», Max é um jovem a tentar adaptar-se às vicissitudes da vida de adulto, com todas as preocupações que daí advém.


Os Tenenbaums - Uma Comédia Genial (The Royal Tenenbaums, 2001)
Royal Tenenbaum (Gene Hackman)
Naquele que é o meu filme preferido na obra de Wes Anderson, a escolha só poderia recair em Royal Tenenbaum, o patriarca da família interpretado por um genial (fazendo eco do título em português, bastante idiota, diga-se de passagem) e em grande forma Gene Hackman. Este foi, aliás, um dos últimos papéis do protagonista de «Os Incorruptíveis Contra a Droga». Que dizer em relação a Royal? O Cinema já teve personagens sacanas ao máximo expoente, (Herman Blume, de «Rushmore», é uma delas), mas poucas alcançaram o estatuto de Royal, o homem que abandonou e destruiu uma família com três filhos prodígio a cargo e resolve regressar a casa passados vários anos para tentar recuperar o tempo perdido. O pretexto utilizado: um suposto cancro terminal, que é diagnosticado precisamente na altura em que a ex-mulher está prestes a voltar a casar. E esta é apenas uma das artimanhas utilizadas pelo velho Royal para reconquistar a família.


Um Peixe Fora de Água (The Life Aquatic with Steve Zissou, 2004)
Steve Zissou (Bill Murray)
Na quarta longa-metragem do currículo, Wes Anderson resolve, literalmente, ir para baixo de água, levando-nos a acompanhar as aventuras de Steve Zissou, personagem inspirada no mergulhador francês Jean Jacques Cousteau. O destaque vai todo para o capitão desta aventura, interpretado por um actor que é presença assídua nas obras do realizador texano desde «Rushmore». Bill Murray é o amargurado Steve Zissou que parte com a sua equipa de exploradores em busca do tubarão responsável pela morte do seu melhor amigo. À volta dele temos gente tão excêntrica que é difícil escolher alguém, mas a forte personalidade deste velho lobo do mar, que não cede perante filhos que desconhecia ter, ex-mulheres que fogem com o grande rival de Zissou ou uma jornalista grávida (já para não falar do fantástico Pelé e a sua viola que faz maravilhas com as músicas de David Bowie cantadas em brasileiro), leva a melhor.


The Darjeeling Limited (The Darjeeling Limited, 2007)
Francis Whitman (Owen Wilson)
A Índia foi o cenário escolhido para «The Darjeeling Limited», uma maravilhosa viagem em família onde três irmãos partem em viagem num comboio de sonho em busca de si próprios. Escolher um dos três não é tarefa fácil, tais são os dilemas que movem cada uma das personagens, mas a escolha recai na personagem de Francis, o responsável por este reencontro. Owen Wilson não é, de todo, um dos meus actores de eleição. É até um daqueles actores cuja presença na ficha técnica é capaz de me afastar de um determinado filme. Tirando, como é óbvio, as suas interpretações nos filmes de Wes Anderson, onde é também um dos membros da ‘família’ e cuja presença vai além das interpretações, pois o mais velho dos irmãos Wilson (o outro é Luke e ainda há um mais velho, Andrew, mas menos conhecido) chegou a escrever argumentos para Anderson. Neste caso o papel do trapalhão Francis, com os seus mil e um incidentes, assenta-lhe como uma luva.


O Fantástico Senhor Raposo (Fantastic Mr. Fox, 2009)
Kylie Sven Opossum (Wallace Wolodarsky)
Para muitos este filme poderá parecer à partida uma carta fora do baralho na obra de Wes Anderson, devido ao facto de o cineasta norte-americano ter enveredado pelo mundo da animação. Mas no cerne, acaba por não ser, pois tudo no universo do realizador está centrado nas questões familiares. Curiosamente, a minha personagem favorita não faz parte da família do Senhor Raposo (um raposo afastado da arte de roubar galinheiros com a voz de George Clooney que se sente tentado a roubar um último golpe). A grande personagem desta galeria (e até podia ser Jarvis Cocker, esse mesmo, o vocalista dos Pulp, que tem um belo cameo) é Kylie, o companheiro do Senhor Raposo cuja especialidade é: nenhuma. E vê-lo com os olhos esgazeados é uma delícia.


Moonrise Kingdom (Moonrise Kingdom, 2012)
Sam Shakusky (Jared Gilman)
Para terminar este álbum de família do Cinema de Wes Anderson, voltamos a uma personagem inadaptada, como é o caso de Max Fischer, o protagonista de «Rushmore». A última longa metragem de Wes Anderson é toda de Sam, o escuteiro rebelde que foge do acampamento para se encontrar com o grande amor da sua vida. Ou pelo menos da infância. Não há obstáculo que não possa ser ultrapassado, nem adulto que o possa travar. Podem até chamar o comandante Pierce para ajudar às buscas, mas isso não é insuficiente para impedir a missão do intrépido Sam e a sua amada Suzy.

2 comentários:

  1. Não sabia deste teu regresso. Ainda bem que voltaste.

    Wes Anderson é efectivamente um realizador brilhante e os seus filmes falam por si. A "família" em todos os problemas e virtudes é sempre o cerne da questão. É difícil ter um preferido, com este cineasta.

    http://www.cineroad.net/search/label/Wes%20Anderson

    Roberto Simões
    CINEROAD.net

    ResponderEliminar
  2. :) resolvi regressar ao activo, não consegui resistir ao bichinho.

    O Wes Anderson é para mim um dos melhores realizadores norte-americanos da actualidade e dos poucos que conseguiu cimentar uma carreira assente num universo muito próprio. Mas também é um facto que é daqueles casos em que se gosta ou odeia.

    Obrigado pelo comentário e volta sempre

    ResponderEliminar