A aldeia de Macondo não existe, a não ser na mente do escritor colombiano Gabriel García Marquez que inventou o pequeno povoado onde decorre a acção de «Cem Anos de Solidão», o delicioso livro por onde me 'perdi' durante os últimos dias de chuva. Numa das suas passagens, que transcrevo a seguir, é descrita a forma como o Cinema foi recebido na pequena localidade, pouco depois de o recém-chegado comboio ter trazido electricidade a Macondo. E a descrição deste acontecimento, como muitos outros no livro, é fabulosa, ao relatar a surpresa e o espanto que esta nova arte provocou nos habitantes da aldeia. (o resto do livro também é fantástico, mas esta passagem merece ser partilhada por aqui).
«(...) Indignaram-se com as imagens vivas que o próspero comerciante Bruno Crespi projectava no teatro com bilheteiras em forma de boca de leão, porque um personagem morto e enterrado no filme, por cuja desgraça se choraram lágrimas de aflição, reapareceu vivo e transformado em árabe no filme seguinte. O público, que pagava dois centavos para participar das desventuras dos personagens, não pôde suportar aquela fraude inaudita e partiu as cadeiras da sala. O alcaide, instado por Dom Bruno Crespi, explicou num édito que o cinema era uma máquina de ilusões que não merecia as reacções passionais do público. Ao ouvirem aquela explicação desencorajadora, muitos acharam que tinham sido vítimas de um novo e aparatoso truque de ciganos, de modo que optaram por não voltar ao cinema, concluindo que já tinham o suficiente com as suas próprias dores para chorar pelas desventuras fingidas de seres imaginários. (...)»
in «Cem Anos de Solidão», de Gabriel García Marquez
sábado, 30 de março de 2013
sexta-feira, 29 de março de 2013
Antes do Ford e do Leone
Foi este senhor (sempre acompanhado pelo temível Bud Spencer, também conhecido como inspector Martelada noutras andanças) que me abriu as portas aos westerns, quando ainda nem sequer sonhava que me iria apaixonar a sério pela Sétima Arte. Parabéns Terence Hill, criador de um dos meus heróis de infância: Trinitá.
quinta-feira, 28 de março de 2013
Sete Psicopatas, de Martin McDonagh (2012)
Quando estreou a sua primeira obra, o fabuloso «Em Bruges», Martin McDonagh provou ser dono de um refinado humor negro. Quatro anos depois o realizador britânico regressou e trouxe consigo uma dose ainda maior desse humor negríssimo, tão ao gosto das terras de sua majestade. Tal como o seu filme anterior, «Sete Psicopatas» conta com a presença de Colin Farrell no papel principal, mas como brinde o cineasta conseguiu ainda reunir um elenco de luxo onde encontramos nomes como Sam Rockwell, Christopher Walken ou Woody Harrelson, para referir apenas os nomes mais sonantes. Podíamos ainda acrescentar os nomes de Michael Pitt, Harry Dean Stanton ou Tom Waits, mas o texto acabaria por se tornar chato.
E chato não é um bom adjectivo para definir «Sete Psicopatas», a história de Marty (Farrell), um argumentista com problemas de álcool que está com dificuldades para escrever o seu próximo filme, chamado precisamente «Sete Psicopatas». É aqui que entra em cena o seu melhor amigo Billy (Rockwell), que se oferece para o ajudar a escrever o argumento. Acontece que Billy é um fura vidas que neste momento se dedica à lucrativa actividade de rapto de cães, animais que rapta para depois entregar aos seus donos e assim receber a recompensa. O negócio começa a dar para o torto quando Billy e o seu comparsa Hans (Walken) raptam o animal de estimação de Charlie (Harrelson), um gangster mau como as cobras que faz tudo para recuperar o seu cão e coloca a dupla em apuros. O pobre Marty acaba por se ver metido no meio desta embrulhada, mas a experiência acaba por ser útil na escrita do seu argumento.
No fundo «Sete Psicopatas» entra naquele género de filmes que costuma ser designado de «filme dentro do filme». À medida que a acção avança vamos travando conhecimento com a história dos sete psicopatas que serão depois as personagens do argumento de Marty. E aqui há personagens para todos os gostos: reais ou imaginárias, sempre dentro do universo do filme de Martin McDonagh. O resultado final acaba por ser uma comédia negra, que aponta em todas as direcções, e irá agradar aos amantes deste tipo de humor. Mesmo que à partida o argumento possa parecer confuso (e com tantas reviravoltas e personagens a entrar e sair do ecrã havia esse enorme risco), «Sete Psicopatas» consegue chegar incólume ao final, com todas as pontas soltas a ganharem sentido até ao arranque dos créditos finais. E com excelentes interpretações, sobretudo as de Rockwell, Walken (como há muito não o víamos) e Harrelson, que fazem deste um dos melhores filmes a chegar às salas portuguesas em 2013. E atenção às inúmeras referências cinéfilas que vão surgindo ao longo do filme.
Classificação: 4/5
E chato não é um bom adjectivo para definir «Sete Psicopatas», a história de Marty (Farrell), um argumentista com problemas de álcool que está com dificuldades para escrever o seu próximo filme, chamado precisamente «Sete Psicopatas». É aqui que entra em cena o seu melhor amigo Billy (Rockwell), que se oferece para o ajudar a escrever o argumento. Acontece que Billy é um fura vidas que neste momento se dedica à lucrativa actividade de rapto de cães, animais que rapta para depois entregar aos seus donos e assim receber a recompensa. O negócio começa a dar para o torto quando Billy e o seu comparsa Hans (Walken) raptam o animal de estimação de Charlie (Harrelson), um gangster mau como as cobras que faz tudo para recuperar o seu cão e coloca a dupla em apuros. O pobre Marty acaba por se ver metido no meio desta embrulhada, mas a experiência acaba por ser útil na escrita do seu argumento.
No fundo «Sete Psicopatas» entra naquele género de filmes que costuma ser designado de «filme dentro do filme». À medida que a acção avança vamos travando conhecimento com a história dos sete psicopatas que serão depois as personagens do argumento de Marty. E aqui há personagens para todos os gostos: reais ou imaginárias, sempre dentro do universo do filme de Martin McDonagh. O resultado final acaba por ser uma comédia negra, que aponta em todas as direcções, e irá agradar aos amantes deste tipo de humor. Mesmo que à partida o argumento possa parecer confuso (e com tantas reviravoltas e personagens a entrar e sair do ecrã havia esse enorme risco), «Sete Psicopatas» consegue chegar incólume ao final, com todas as pontas soltas a ganharem sentido até ao arranque dos créditos finais. E com excelentes interpretações, sobretudo as de Rockwell, Walken (como há muito não o víamos) e Harrelson, que fazem deste um dos melhores filmes a chegar às salas portuguesas em 2013. E atenção às inúmeras referências cinéfilas que vão surgindo ao longo do filme.
Classificação: 4/5
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quarta-feira, 27 de março de 2013
501 sugestões de «filmes para consumir sem moderação»
Há algumas semanas atrás publiquei um post sobre listas a propósito da divulgação da lista anual do site «They Shoot Pictures, Don't They», que tem por hábito apresentar no início do ano a lista dos mil melhores filmes de sempre, com base nas escolhas de diversas fontes. Desta vez o destaque vai para uma outra lista, não criada por um site internacional, mas por um blogger português, autor do bastante recomendável «Num Filme de Godard». A partir da colecção da videoteca da Biblioteca Municipal da Póvoa de Varzim, composta por cerca de 3600 títulos em DVD, Daniel Curval escolheu 501 «filmes para consumir sem moderação», nas palavras do próprio. De A a Z (ou, se preferirem, de «(500) Dias com Verão» a «Zelig»), o guia «501 filmes para ver durante a vida» inclui filmes para todos os gostos e pode ser consultado neste link.
Duetos Cinéfilos #9
Música: Temptation (New Order)
Filme: Control (Anton Corbijn)
terça-feira, 26 de março de 2013
Ferrugem e Osso, de Jacques Audiard (2012)
Jacques Audiard tem sido um dos melhores cineastas a sair de França nos últimos anos. Dono de uma curta, mas segura, carreira (seis filmes entre 1994 e 2012) o realizador gaulês chegou ao ano passado com a pesada tarefa de fazer algo a seguir a dois grandes filmes: «De Tanto Bater o Meu Coração Parou» e «Um Profeta». Este último valeu-lhe mesmo um mais do que merecido reconhecimento mundial ao ser nomeado para Melhor Filme Estrangeiro nos Óscares. Teve o azar de concorrer contra outra obra-prima do cinema recente: «O Laço Branco», de Michael Haneke, que acabou por conquistar a estatueta dourada. Por tudo isso, e por ser um dos realizadores favoritos cá da casa (os interessados podem seguir neste link uma espécie de especial que lhe dediquei durante a última edição da Festa do Cinema Francês, quando Jacques Audiard foi um dos homenageados), «Ferrugem e Osso» era aguardado com enormes expectativas. E como acontece na maior parte das vezes, com enormes expectativas, vêm enormes desilusões.
Dizer que «Ferrugem e Osso» é um mau filme é uma barbaridade, porque não é. Mas tendo em conta os filmes a que Audiard nos habituou ao longo da sua carreira, o seu mais recente filme acaba por saber a pouco. Muito pouco. Apesar de não fugir muito dos seus universos (a história centra-se em duas figuras que vivem à margem da sociedade dita normal), falta a «Ferrugem e Osso» uma certa tensão e nervosismo que existia nos outros filmes do cineasta, nomeadamente desde «Nos Meus Lábios», e se notava em cada plano dos três filmes anteriores de Audiard. E esta talvez seja a maior desilusão do filme, que nem a presença de Marion Coutillard (que apesar de ter uma forte interpretação, está longe do seu melhor) ajuda a melhorar um filme que se fica apenas pela mediania, precisamente por sentirmos a falta dessa tensão à flor da pele que Audiard nos habituara a sentir nos seus filmes.
Um dos principais problemas de «Ferrugem e Osso» é uma história um pouco frouxa, que ainda por cima avança aos abanões, como se alguém se tivesse esquecido de ler o capítulo 'como encadear a acção' nos manuais que ensinam a fazer bom Cinema. Esta falha faz com que certos pormenores não se percebam muito bem na história de Alain (Matthias Schoenaerts) e Stéphanie (Marion Cotillard), o par central de «Ferrugem e Osso», que fica bastante distante de outros pares presentes nas obras de Audiard (que nem sempre correspondem a um par amoroso, note-se). Este apontamento não é tanto dirigido à forma como o se optou por montar o filme, que funciona em certos filmes, mas não neste caso, onde o método se prova ineficaz. Parece-nos que ficou muito de fora por contar e acaba por ter um efeito oposto ao que talvez fosse o desejado. Mesmo que consigamos perceber por que razão determinada cena vem a seguir a outra e até faz sentido, nunca percebemos muito bem como fomos lá parar. Falta-lhe algo para conseguirmos compreender melhor o que se passa no universo de «Ferrugem e Osso».
Esta é a principal falha num filme de alguém que no passado nos habituou a obras mais seguras. Quanto à dureza do 'mundo' de Audiard, essa continua presente. Pena não estar à altura dos restantes filmes do cineasta.
Classificação: 3/5
Dizer que «Ferrugem e Osso» é um mau filme é uma barbaridade, porque não é. Mas tendo em conta os filmes a que Audiard nos habituou ao longo da sua carreira, o seu mais recente filme acaba por saber a pouco. Muito pouco. Apesar de não fugir muito dos seus universos (a história centra-se em duas figuras que vivem à margem da sociedade dita normal), falta a «Ferrugem e Osso» uma certa tensão e nervosismo que existia nos outros filmes do cineasta, nomeadamente desde «Nos Meus Lábios», e se notava em cada plano dos três filmes anteriores de Audiard. E esta talvez seja a maior desilusão do filme, que nem a presença de Marion Coutillard (que apesar de ter uma forte interpretação, está longe do seu melhor) ajuda a melhorar um filme que se fica apenas pela mediania, precisamente por sentirmos a falta dessa tensão à flor da pele que Audiard nos habituara a sentir nos seus filmes.
Um dos principais problemas de «Ferrugem e Osso» é uma história um pouco frouxa, que ainda por cima avança aos abanões, como se alguém se tivesse esquecido de ler o capítulo 'como encadear a acção' nos manuais que ensinam a fazer bom Cinema. Esta falha faz com que certos pormenores não se percebam muito bem na história de Alain (Matthias Schoenaerts) e Stéphanie (Marion Cotillard), o par central de «Ferrugem e Osso», que fica bastante distante de outros pares presentes nas obras de Audiard (que nem sempre correspondem a um par amoroso, note-se). Este apontamento não é tanto dirigido à forma como o se optou por montar o filme, que funciona em certos filmes, mas não neste caso, onde o método se prova ineficaz. Parece-nos que ficou muito de fora por contar e acaba por ter um efeito oposto ao que talvez fosse o desejado. Mesmo que consigamos perceber por que razão determinada cena vem a seguir a outra e até faz sentido, nunca percebemos muito bem como fomos lá parar. Falta-lhe algo para conseguirmos compreender melhor o que se passa no universo de «Ferrugem e Osso».
Esta é a principal falha num filme de alguém que no passado nos habituou a obras mais seguras. Quanto à dureza do 'mundo' de Audiard, essa continua presente. Pena não estar à altura dos restantes filmes do cineasta.
Classificação: 3/5
segunda-feira, 25 de março de 2013
Mestre...até a promover os seus filmes
Anúncio dedicado a «Janela Indiscreta», onde Alfred Hitchcock explica a forma correcta de cortar a garganta aos exibidores que ainda não mostraram o filme. Brilhante, como a obra do mestre do suspense.
Via Deadline Hollywood
Via Deadline Hollywood
Io Sono Li, de Andrea Segre (2011)
«Io Sono Li» é a primeira obra de ficção assinada por Andrea Segre, realizador italiano já com algum historial na área do documentário, e foi o filme que no ano passado levou a melhor sobre «Tabu», de Miguel Gomes, nos prémios Lux, atribuídos pelo Parlamento Europeu. Vitória justa ou não, cada um julgará por si. Por estes lados, deixando de parte a questão da nacionalidade dos dois filmes, considero que o filme italiano fica aquém de «Tabu». O que não significa que «Io Sono Li» não seja um bom filme, sobretudo se tivermos em conta que foi realizado por alguém que não está de todo habituado às regras da ficção e mostrou nesta sua estreia num campo diferente que consegue sair do seu habitat natural para fazer algo novo. Mas acabam por ser obras bastante distantes uma da outra, por isso de difícil comparação. Talvez o filme italiano puxe mais para um sentimento humanista, que nada tem a ver com o universo de «Tabu».
Em «Io Sono Li» Andrea Segre conta-nos a história de Shun Li (Tao Zhao), uma emigrante chinesa que é enviada para uma pequena localidade piscatória perto de Veneza para trabalhar num café, depois de ter trabalhado anteriormente numa fábrica têxtil. Tal como muitos outros emigrantes na sua situação, Shun Li tem de trabalhar para pagar as dívidas ao seu patrão, que a levou para Itália. Além disso, assim que a dívida esteja paga o patrão prometera-lhe também que traria para junto dela o seu filho. Junto da nova comunidade, situada numa pequena ilha-cidade na lagoa de Veneto, Shun Li desenvolve uma relação de amizade com Bepi (Rade Serbedzija) um pescador mais velho, relação essa que não é bem vista, nem pela comunidade local, nem pela comunidade chinesa.
É a partir da relação entre estas duas personagens, ambas emigrantes (Bepi veio da ex-Jugoslávia e vive naquela comunidade há várias décadas), que Andrea Segre filma uma bela história de amizade entre duas pessoas que partilham um gosto em comum: a poesia. Ao mesmo tempo «Io Sono Li» consegue ser um filme bastante actual ao retratar a história de alguém que veio para a Velha Europa, quiçá à procura de uma vida melhor, como se Shun Li personificasse cada um destes 'novos europeus'. E é aqui que Andrea Segre acaba por pôr o seu olhar de documentarista ao dispor da ficção para contar a história de Shun Li, que pode ser semelhante às de muitos outros emigrantes com a sua origem que existem na realidade e terão um historial semelhante ao de Shun Li.
O mesmo olhar de documentarista é visível na forma como Andrea Segre nos mostra as diferenças entre as duas comunidades, cada uma com os seus hábitos e códigos enraizados. Algumas das cenas que mostram este choque de culturas (nem todas, é bom realçar) dão-nos alguns dos momentos mais cómicos do filme, mesmo quando se tratam de coisas mais sérias. E a história de Shun Li e Bepi, unidos pela poesia e pelo seu passado de estrangeiros, é um belo filme sobre a diferença e um exemplo do que é hoje ser estranho numa Europa que ainda continua a servir de porto de abrigo para muita gente à procura de uma vida melhor. Sem cair necessariamente na história da desgraçadinha ou da lágrima fácil. Mais um trunfo nesta estreia do cineasta italiano no universo da ficção, que acaba por relegar para segundo plano as preocupações sociais que um documentário deste tipo poderia mostrar. Elas estão lá, é certo, mas o que interessa a Segre é contar história de duas pessoas, que vai muito além do espaço e do tempo onde se encontram.
«Io Sono Li» passou ontem, dia 24 de Março, em antestreia nacional na sexta edição da Festa do Cinema Italiano no Cinema São Jorge, em Lisboa. O filme de Andrea Segre vai ainda passar pelo Funchal, no dia 14 de Abril às 18h30, no Teatro Municipal Baltazar Dias, e por Loulé no dia 21 de Abril às 21h30, no Cine-Teatro Louletano.
Classificação: 4/5
Em «Io Sono Li» Andrea Segre conta-nos a história de Shun Li (Tao Zhao), uma emigrante chinesa que é enviada para uma pequena localidade piscatória perto de Veneza para trabalhar num café, depois de ter trabalhado anteriormente numa fábrica têxtil. Tal como muitos outros emigrantes na sua situação, Shun Li tem de trabalhar para pagar as dívidas ao seu patrão, que a levou para Itália. Além disso, assim que a dívida esteja paga o patrão prometera-lhe também que traria para junto dela o seu filho. Junto da nova comunidade, situada numa pequena ilha-cidade na lagoa de Veneto, Shun Li desenvolve uma relação de amizade com Bepi (Rade Serbedzija) um pescador mais velho, relação essa que não é bem vista, nem pela comunidade local, nem pela comunidade chinesa.
É a partir da relação entre estas duas personagens, ambas emigrantes (Bepi veio da ex-Jugoslávia e vive naquela comunidade há várias décadas), que Andrea Segre filma uma bela história de amizade entre duas pessoas que partilham um gosto em comum: a poesia. Ao mesmo tempo «Io Sono Li» consegue ser um filme bastante actual ao retratar a história de alguém que veio para a Velha Europa, quiçá à procura de uma vida melhor, como se Shun Li personificasse cada um destes 'novos europeus'. E é aqui que Andrea Segre acaba por pôr o seu olhar de documentarista ao dispor da ficção para contar a história de Shun Li, que pode ser semelhante às de muitos outros emigrantes com a sua origem que existem na realidade e terão um historial semelhante ao de Shun Li.
O mesmo olhar de documentarista é visível na forma como Andrea Segre nos mostra as diferenças entre as duas comunidades, cada uma com os seus hábitos e códigos enraizados. Algumas das cenas que mostram este choque de culturas (nem todas, é bom realçar) dão-nos alguns dos momentos mais cómicos do filme, mesmo quando se tratam de coisas mais sérias. E a história de Shun Li e Bepi, unidos pela poesia e pelo seu passado de estrangeiros, é um belo filme sobre a diferença e um exemplo do que é hoje ser estranho numa Europa que ainda continua a servir de porto de abrigo para muita gente à procura de uma vida melhor. Sem cair necessariamente na história da desgraçadinha ou da lágrima fácil. Mais um trunfo nesta estreia do cineasta italiano no universo da ficção, que acaba por relegar para segundo plano as preocupações sociais que um documentário deste tipo poderia mostrar. Elas estão lá, é certo, mas o que interessa a Segre é contar história de duas pessoas, que vai muito além do espaço e do tempo onde se encontram.
«Io Sono Li» passou ontem, dia 24 de Março, em antestreia nacional na sexta edição da Festa do Cinema Italiano no Cinema São Jorge, em Lisboa. O filme de Andrea Segre vai ainda passar pelo Funchal, no dia 14 de Abril às 18h30, no Teatro Municipal Baltazar Dias, e por Loulé no dia 21 de Abril às 21h30, no Cine-Teatro Louletano.
Classificação: 4/5
sábado, 23 de março de 2013
Hoje é um bom dia para regressar ao Oeste de Sergio Leone
sexta-feira, 22 de março de 2013
O Terceiro Homem, de Carol Reed (1949)
Se alguém me perguntar de que material são feitas as obras-primas, não saberei responder. Mas se neste momento alguém me viesse pedir um exemplo de um filme perfeito não hesitaria em responder «O Terceiro Homem», de Carol Reed. Sem pensar duas vezes. Não só é baseado num excelente livro escrito por Graham Greene, que também assinou o argumento do filme, como é um dos melhores filmes Noir de sempre. Passado na Viena do pós-II Guerra Mundial, «O Terceiro Homem» conta a história de Holly Martins (Joseph Cotten), um escritor de livros de cowboys que chega à capital austríaca a convite de um amigo de juventude que lhe prometera uma oportunidade de emprego. Contudo, assim que Holly chega a solo vienense descobre que Harry Lime (Orson Welles) morreu e uma das suas primeiras paragens é precisamente o funeral de Harry. De repente o pobre escritor de romances que ninguém lê, a não ser um dos militares que o recebe, vê-se metido numa embrulhada passada numa cidade ocupada pelas potências que ganharam a II Guerra Mundial para tentar perceber o que aconteceu ao seu amigo. E, como não podia deixar de ser, como acontece sempre nos filmes Noir, nem tudo é o que parece e à medida que o novelo se desenrola tudo fica mais claro para Holly.
Mas se o argumento já era brilhante, o que dizer do resto do filme? Além das enormes interpretações com que somos brindados (a começar pela estrondosa criação de Orson Welles, que segundo a lenda, tem mais do próprio Welles do que o que terá sido escrito por Greene), a grande estrela de «O Terceiro Homem» é Viena e a forma como a cidade é filmada pela equipa liderada por Carol Reed, que nos remete para o imaginário dos filmes expressionistas alemães dos anos 1920. Com a diferença de que neste caso os cenários não são tão fantasiosos, mas muito mais reais. As ruas pequenas estreitas e as ruínas de Viena do pós-Guerra, filmadas através de planos (aparentemente) estranhos, raramente na horizontal, ajudam a criar um cenário onde as sombras ganham outra dimensão. As perseguições, sempre a pé ou em passo de corrida, criam um ambiente de cerco que culminam na fabulosa sequência final nos esgotos da capital austríaca, quando Harry é encurralado e acaba por ter o fim esperado.
De realçar que sendo «O Terceiro Homem» um excelente exemplo do Noir, com todas as características do género, não podemos deixar de dar razão a quem considera este um dos primeiros filmes sobre a Guerra Fria. Ao retratar uma cidade dividida em quatro, consequência do final da II Guerra Mundial, Carol Reed mostra já o clima que iria surgir na Europa até final dos anos 1980 e início da década de 1990. E todas as personagens neste filme acabam por estar sujeitas já a essa divisão, pois estão circunscritas, de certa forma, à zona em que se encontram. Já para não falar na relação entre os militares das quatro potências, que têm de conviver no mesmo espaço e respeitar as regras de cada um.
Todos estes pormenores estão na obra-prima de Carol Reed, onde não há heróis, como diria Harry Lime (já vos disse quão magistral é esta criação de Orson Welles? Nunca é demais repeti-lo) a Holly Martins quando os dois se encontram para justificar as suas acções: «What did you want me to do? Be reasonable. You didn't expect me to give myself up... 'It's a far, far better thing that I do.' The old limelight. The fall of the curtain. Oh, Holly, you and I aren't heroes. The world doesn't make any heroes outside of your stories». E nem Holly consegue ser o típico herói, pois a sua imagem é manchada pela forma como lida com todo o caso, sobretudo a partir do momento em que se apaixona por Anna Schmidt (Alida Valli), a amante de Lime. Como muito bem diz João Bénard da Costa na análise que faz a «O Terceiro Homem», esta é a única personagem que sai limpa da enorme sujeira que era Viena naquele período, mesmo que o seu destino futuro seja incerto.
Por tudo isto e muito mais (faltou falar da fabulosa banda sonora assinada por Anton Karas, que se tornou icónica, por exemplo) «O Terceiro Homem» é um dos filmes mais perfeitos da História do Cinema. E para mim passou a ser um dos meus filmes favoritos e será uma das minhas recomendações para quem nos próximos tempos me perguntar um exemplo de filme perfeito. Para os interessados, publiquei um post com uma fotogaleria alusiva ao filme, que pode ser vista aqui.
Classificação: 5/5
Mas se o argumento já era brilhante, o que dizer do resto do filme? Além das enormes interpretações com que somos brindados (a começar pela estrondosa criação de Orson Welles, que segundo a lenda, tem mais do próprio Welles do que o que terá sido escrito por Greene), a grande estrela de «O Terceiro Homem» é Viena e a forma como a cidade é filmada pela equipa liderada por Carol Reed, que nos remete para o imaginário dos filmes expressionistas alemães dos anos 1920. Com a diferença de que neste caso os cenários não são tão fantasiosos, mas muito mais reais. As ruas pequenas estreitas e as ruínas de Viena do pós-Guerra, filmadas através de planos (aparentemente) estranhos, raramente na horizontal, ajudam a criar um cenário onde as sombras ganham outra dimensão. As perseguições, sempre a pé ou em passo de corrida, criam um ambiente de cerco que culminam na fabulosa sequência final nos esgotos da capital austríaca, quando Harry é encurralado e acaba por ter o fim esperado.
De realçar que sendo «O Terceiro Homem» um excelente exemplo do Noir, com todas as características do género, não podemos deixar de dar razão a quem considera este um dos primeiros filmes sobre a Guerra Fria. Ao retratar uma cidade dividida em quatro, consequência do final da II Guerra Mundial, Carol Reed mostra já o clima que iria surgir na Europa até final dos anos 1980 e início da década de 1990. E todas as personagens neste filme acabam por estar sujeitas já a essa divisão, pois estão circunscritas, de certa forma, à zona em que se encontram. Já para não falar na relação entre os militares das quatro potências, que têm de conviver no mesmo espaço e respeitar as regras de cada um.
Todos estes pormenores estão na obra-prima de Carol Reed, onde não há heróis, como diria Harry Lime (já vos disse quão magistral é esta criação de Orson Welles? Nunca é demais repeti-lo) a Holly Martins quando os dois se encontram para justificar as suas acções: «What did you want me to do? Be reasonable. You didn't expect me to give myself up... 'It's a far, far better thing that I do.' The old limelight. The fall of the curtain. Oh, Holly, you and I aren't heroes. The world doesn't make any heroes outside of your stories». E nem Holly consegue ser o típico herói, pois a sua imagem é manchada pela forma como lida com todo o caso, sobretudo a partir do momento em que se apaixona por Anna Schmidt (Alida Valli), a amante de Lime. Como muito bem diz João Bénard da Costa na análise que faz a «O Terceiro Homem», esta é a única personagem que sai limpa da enorme sujeira que era Viena naquele período, mesmo que o seu destino futuro seja incerto.
Por tudo isto e muito mais (faltou falar da fabulosa banda sonora assinada por Anton Karas, que se tornou icónica, por exemplo) «O Terceiro Homem» é um dos filmes mais perfeitos da História do Cinema. E para mim passou a ser um dos meus filmes favoritos e será uma das minhas recomendações para quem nos próximos tempos me perguntar um exemplo de filme perfeito. Para os interessados, publiquei um post com uma fotogaleria alusiva ao filme, que pode ser vista aqui.
Classificação: 5/5
quinta-feira, 21 de março de 2013
Duetos Cinéfilos #8
Música: No One Loves Me And Neither Do I (Them Crooked Vultures)
Filme: Planeta Terror (Robert Rodriguez)
quarta-feira, 20 de março de 2013
E se os filmes de Tarantino fossem clássicos da Penguin?
Estas poderiam bem ser as capas dos livros. No site do designer gráfico Sharm Murugiah podem ainda ser vistos posters alternativos de séries televisivas e outros filmes icónicos, uns recentes, outros mais antigos. Vale a pena uma visita a este link para quem gostar deste tipo de imagens.
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Quentin Tarantino
terça-feira, 19 de março de 2013
segunda-feira, 18 de março de 2013
A Última Vez Que Vi Macau (2012) e Alvorada Vermelha (2011), de João Pedro Rodrigues e João Rui Guerra da Mata
«A Última Vez Que Vi Macau» é um daqueles objectos cinematográficos difíceis de catalogar. Metade documentário, metade ficção, o filme da dupla João Pedro Rodrigues e João Rui Guerra da Mata leva-nos a Macau, onde ambos têm as raízes, depois de João Rui Guerra da Mata receber um pedido de ajuda por parte de uma amiga auto-exilada na antiga colónia portuguesa que se encontra em apuros. Enquanto aguarda por novo contacto da sua amiga, que se envolveu com uma misteriosa seita local, João Rui Guerra da Mata aproveita para visitar alguns dos locais da sua juventude. É entre estes dois elementos que «A Última Vez Que Vi Macau» balança: um documentário sobre o regresso a um local da juventude da dupla, fugindo do típico cartão postal que poderia ser um documentário deste tipo, e ao mesmo tempo uma aventura ficcional com alguns toques de Film Noir, onde as personagens principais são a dupla e a sua amiga. Que curiosamente são personagens que estão bastante ausentes. Tudo o que vemos são sombras, sons dos locais à medida que a história é contada pelo narrador, o próprio Guerra da Mata.
E se a premissa inicial podia ter tudo para dar mau resultado (juntar dois elementos completamente diferentes no mesmo filme poderia facilmente resultar em algo que não é carne, nem peixe), o resultado final acaba por ser uma aposta ganha. «A Última Vez Que Vi Macau» consegue escapar aos clichés do documentário de regresso às origens, sem querer puxar por um sentimento de nostalgia por uma antiga colónia portuguesa à força (que não há no filme, onde apenas vemos imagens da Macau que faz parte do imaginário da infância de Guerra da Mata e não a Macau histórica ou dos casinos), imprimindo-lhe um tom diferente do habitual, graças aos tons Noir que vão surgindo na segunda narrativa, relativa ao desaparecimento da amiga.
Classificação: 4/5
A acompanhar a estreia comercial do filme está a ser projectada a curta-metragem «Alvorada Vermelha», também assinada a meias pelos dois realizadores portugueses. Aqui entramos no domínio do documentário puro para vermos o que se passa no Mercado Vermelho de Macau. Filmada em Fevereiro de 2011, a curta é um olhar dos dois realizadores sobre aquele espaço macaense, onde há de tudo, tal como num mercado normal. Sem qualquer tipo de narração e utilizando quase sempre planos fixos, «Alvorada Vermelha» é como que um retrato filmado do Mercado Vermelho e as rotinas dos que lá trabalham.
Por vezes demasiado visceral, sobretudo para quem possa ser mais sensível a imagens mais fortes (há por aqui muitos animais vivos a serem mortos à frente da câmara), a curta funciona na perfeição como complemento a «A Última Vez Que Vi Macau». Até porque ambos os filmes partilham um plano singular de um sapato de salto alto e a homenagem a Jane Russell, estrela de «Macau», o célebre Noir realizado por Josef von Sternberg em 1952 (mais explícita em «Alvorada Vermelha» do que em «A Última Vez Que Vi Macau»). Mas apenas há-de ser bem apreciada pelos adeptos do documentário. Quem não o for, como é o caso do autor deste blogue, poderá não gostar tanto deste prato de entrada para o regresso a Macau de João Pedro Rodrigues e João Rui Guerra da Mata.
Classificação: 3/5
E se a premissa inicial podia ter tudo para dar mau resultado (juntar dois elementos completamente diferentes no mesmo filme poderia facilmente resultar em algo que não é carne, nem peixe), o resultado final acaba por ser uma aposta ganha. «A Última Vez Que Vi Macau» consegue escapar aos clichés do documentário de regresso às origens, sem querer puxar por um sentimento de nostalgia por uma antiga colónia portuguesa à força (que não há no filme, onde apenas vemos imagens da Macau que faz parte do imaginário da infância de Guerra da Mata e não a Macau histórica ou dos casinos), imprimindo-lhe um tom diferente do habitual, graças aos tons Noir que vão surgindo na segunda narrativa, relativa ao desaparecimento da amiga.
Classificação: 4/5
A acompanhar a estreia comercial do filme está a ser projectada a curta-metragem «Alvorada Vermelha», também assinada a meias pelos dois realizadores portugueses. Aqui entramos no domínio do documentário puro para vermos o que se passa no Mercado Vermelho de Macau. Filmada em Fevereiro de 2011, a curta é um olhar dos dois realizadores sobre aquele espaço macaense, onde há de tudo, tal como num mercado normal. Sem qualquer tipo de narração e utilizando quase sempre planos fixos, «Alvorada Vermelha» é como que um retrato filmado do Mercado Vermelho e as rotinas dos que lá trabalham.
Por vezes demasiado visceral, sobretudo para quem possa ser mais sensível a imagens mais fortes (há por aqui muitos animais vivos a serem mortos à frente da câmara), a curta funciona na perfeição como complemento a «A Última Vez Que Vi Macau». Até porque ambos os filmes partilham um plano singular de um sapato de salto alto e a homenagem a Jane Russell, estrela de «Macau», o célebre Noir realizado por Josef von Sternberg em 1952 (mais explícita em «Alvorada Vermelha» do que em «A Última Vez Que Vi Macau»). Mas apenas há-de ser bem apreciada pelos adeptos do documentário. Quem não o for, como é o caso do autor deste blogue, poderá não gostar tanto deste prato de entrada para o regresso a Macau de João Pedro Rodrigues e João Rui Guerra da Mata.
Classificação: 3/5
domingo, 17 de março de 2013
CCOP: Top de Fevereiro de 2013
«The Master - O Mestre», de Paul Thomas Anderson, foi o filme preferido pelos membros do CCOP no último mês, chegando à segunda posição do top anual ao igualar a pontuação de «Django Libertado», de Quentin Tarantino. O pódio do top de Fevereiro, mês em que apenas 10 dos 26 filmes estreados comercialmente em Portugal foram considerados elegíveis para o top, é composto ainda por «Bestas do Sul Selvagem», de Benh Zeitlin e «Laurence Para Sempre», de Xavier Dolan. Também estes dois filmes conseguiram chegar ao top anual. Os resultados completos das votações do CCOP relativas a Fevereiro de 2013 podem ser consultados aqui.
O Tigre Ataca, de Claude Chabrol (1964)
Apesar de não ser um dos cineastas que ficou entre os grandes da Nouvelle Vague (apesar do seu inegável papel para aquela geração), como Jean-Luc Godard ou François Truffaut, para citar os suspeitos do costume, Claude Chabrol conseguiu cimentar uma longa e prolifera carreira desde a sua estreia, em 1958, até 2009, com o recentemente estreado por cá «Bellamy». Mas esta longevidade não significa que a carreira de Chabrol, cujas obras mais populares tendem a ser policiais ácidos ambientados num mundo burguês, com críticas mordazes ao meio (quase como se de um Buñuel sem surrealismo se tratasse), tivesse sido pêra doce. Logo em 1964 o cineasta gaulês, a braços com más críticas a alguns dos seus filmes, viu-se obrigado a aceitar projectos que não eram do seu agrado. Um desses projectos foi «Tigre Ataca», uma espécie de filme de espiões a la 007.
Nesse mesmo ano o agente preferido de Sua Majestade chegava ao grande ecrã pela terceira vez. O sucesso das aventuras de James Bond, que ainda hoje continua a ser uma das séries de maior longevidade da história do Cinema, levou os produtores de outros países a tentarem seguir a mesma fórmula de sucesso. Em França o clone de 007 chamava-se Tigre e as suas aventuras foram levadas ao Cinema precisamente por Claude Chabrol, numa altura em que a sua carreira estava na mó de baixo. Mas se na origem do projecto estava um filme de acção e espionagem relativamente sério, focado no entretenimento, o universo de Tigre não podia ser mais diferente do de James Bond e cedo constatamos que entrámos no domínio da comédia. Basta ver a entrada em cena do espião francês, interpretado por Roger Hanin, também responsável pelo argumento (escrito a meias com Jean Halain), para chegarmos a essa conclusão.
A partir desta apresentação, já depois de assistirmos à sequência que desencadeia os acontecimentos do filme (um assassinato político ocorrido na Turquia durante a visita de um responsável governamental francês ao país para vender aviões militares), «Tigre Ataca» começa a ser delirante. Aproveitando todos os clichés dos filmes de 007 (vilões maus como as cobras ajudados por anões que não lhes ficam atrás no campo da malvadez, gadgets mirabolantes, belas mulheres e cenas de acção a rodos) a primeira aventura do agente Tigre (que ainda teve direito a mais um filme, também realizado por Chabrol) é divertimento puro. Não sendo um grande filme, longe disso, «Tigre Ataca» é antes uma obra curiosa na carreira de um cineasta que nos habitou a um outro tipo de filmes, completamente diferentes.
E mesmo que não se goste, não há como evitar soltar umas valentes gargalhadas durante o visionamento da estreia de Tigre, de tão absurdo que é. E dar graças por o sucesso alcançado por «Tigre Ataca» por altura da sua estreia ter ajudado Claude Chabrol (que nunca apreciou estes seus filmes) a relançar a sua carreira mais tarde, tornando-se um dos nomes fundamentais do Cinema francês da segunda metade do século passado. «Tigre Ataca» não será uma boa porta de entrada para quem não conhece o cineasta, mas para os fãs do realizador será um filme engraçado de descobrir.
Classificação: 3/5
Nesse mesmo ano o agente preferido de Sua Majestade chegava ao grande ecrã pela terceira vez. O sucesso das aventuras de James Bond, que ainda hoje continua a ser uma das séries de maior longevidade da história do Cinema, levou os produtores de outros países a tentarem seguir a mesma fórmula de sucesso. Em França o clone de 007 chamava-se Tigre e as suas aventuras foram levadas ao Cinema precisamente por Claude Chabrol, numa altura em que a sua carreira estava na mó de baixo. Mas se na origem do projecto estava um filme de acção e espionagem relativamente sério, focado no entretenimento, o universo de Tigre não podia ser mais diferente do de James Bond e cedo constatamos que entrámos no domínio da comédia. Basta ver a entrada em cena do espião francês, interpretado por Roger Hanin, também responsável pelo argumento (escrito a meias com Jean Halain), para chegarmos a essa conclusão.
A partir desta apresentação, já depois de assistirmos à sequência que desencadeia os acontecimentos do filme (um assassinato político ocorrido na Turquia durante a visita de um responsável governamental francês ao país para vender aviões militares), «Tigre Ataca» começa a ser delirante. Aproveitando todos os clichés dos filmes de 007 (vilões maus como as cobras ajudados por anões que não lhes ficam atrás no campo da malvadez, gadgets mirabolantes, belas mulheres e cenas de acção a rodos) a primeira aventura do agente Tigre (que ainda teve direito a mais um filme, também realizado por Chabrol) é divertimento puro. Não sendo um grande filme, longe disso, «Tigre Ataca» é antes uma obra curiosa na carreira de um cineasta que nos habitou a um outro tipo de filmes, completamente diferentes.
E mesmo que não se goste, não há como evitar soltar umas valentes gargalhadas durante o visionamento da estreia de Tigre, de tão absurdo que é. E dar graças por o sucesso alcançado por «Tigre Ataca» por altura da sua estreia ter ajudado Claude Chabrol (que nunca apreciou estes seus filmes) a relançar a sua carreira mais tarde, tornando-se um dos nomes fundamentais do Cinema francês da segunda metade do século passado. «Tigre Ataca» não será uma boa porta de entrada para quem não conhece o cineasta, mas para os fãs do realizador será um filme engraçado de descobrir.
Classificação: 3/5
sábado, 16 de março de 2013
Coisas que não se fazem
«Uma Mulher é Uma Mulher», de Jean-Luc Godard
«A Paixão de Joana D'Arc», de Carl Theodor Dreyer
Etiquetas:
Carl Theodor Dreyer,
Cinemateca,
Jean-Luc Godard
sexta-feira, 15 de março de 2013
Duetos Cinéfilos #7
Música: Strangers (The Kinks)
Filme: Darjeeling Limited (Wes Anderson)
sábado, 9 de março de 2013
segunda-feira, 4 de março de 2013
«Tecnicamente fizemos tudo mal». Ou a opinião de um jovem cineasta sobre a sua primeira obra
«We did everything wrong, technically…. The only thing we did right was to get a group of people together who were young, full of life, and wanted to do something of meaning.»
— John Cassavetes sobre SHADOWS
Via The Criterion Collection
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