A aldeia de Macondo não existe, a não ser na mente do escritor colombiano Gabriel García Marquez que inventou o pequeno povoado onde decorre a acção de «Cem Anos de Solidão», o delicioso livro por onde me 'perdi' durante os últimos dias de chuva. Numa das suas passagens, que transcrevo a seguir, é descrita a forma como o Cinema foi recebido na pequena localidade, pouco depois de o recém-chegado comboio ter trazido electricidade a Macondo. E a descrição deste acontecimento, como muitos outros no livro, é fabulosa, ao relatar a surpresa e o espanto que esta nova arte provocou nos habitantes da aldeia. (o resto do livro também é fantástico, mas esta passagem merece ser partilhada por aqui).
«(...) Indignaram-se com as imagens vivas que o próspero comerciante Bruno Crespi projectava no teatro com bilheteiras em forma de boca de leão, porque um personagem morto e enterrado no filme, por cuja desgraça se choraram lágrimas de aflição, reapareceu vivo e transformado em árabe no filme seguinte. O público, que pagava dois centavos para participar das desventuras dos personagens, não pôde suportar aquela fraude inaudita e partiu as cadeiras da sala. O alcaide, instado por Dom Bruno Crespi, explicou num édito que o cinema era uma máquina de ilusões que não merecia as reacções passionais do público. Ao ouvirem aquela explicação desencorajadora, muitos acharam que tinham sido vítimas de um novo e aparatoso truque de ciganos, de modo que optaram por não voltar ao cinema, concluindo que já tinham o suficiente com as suas próprias dores para chorar pelas desventuras fingidas de seres imaginários. (...)»
in «Cem Anos de Solidão», de Gabriel García Marquez
Wow cativaste-me para o ler. Já tinha vontade mas agora ainda fiquei com mais curiosidade :D Ainda não li nada do escritor.
ResponderEliminarCumprimentos,
Rafael Santos
Memento mori
:) o livro é muito bom, devorei-o em poucos dias. Mas atenção que não é sobre cinema. Só achei piada a esta citação e resolvi partilhá-la aqui.
EliminarCumprimentos,
PMF
Sim sim, eu sei do que se trata :)
EliminarCumprimentos,
Rafael Santos
Memento mori