segunda-feira, 18 de março de 2013

A Última Vez Que Vi Macau (2012) e Alvorada Vermelha (2011), de João Pedro Rodrigues e João Rui Guerra da Mata

«A Última Vez Que Vi Macau» é um daqueles objectos cinematográficos difíceis de catalogar. Metade documentário, metade ficção, o filme da dupla João Pedro Rodrigues e João Rui Guerra da Mata leva-nos a Macau, onde ambos têm as raízes, depois de João Rui Guerra da Mata receber um pedido de ajuda por parte de uma amiga auto-exilada na antiga colónia portuguesa que se encontra em apuros. Enquanto aguarda por novo contacto da sua amiga, que se envolveu com uma misteriosa seita local, João Rui Guerra da Mata aproveita para visitar alguns dos locais da sua juventude. É entre estes dois elementos que «A Última Vez Que Vi Macau» balança: um documentário sobre o regresso a um local da juventude da dupla, fugindo do típico cartão postal que poderia ser um documentário deste tipo, e ao mesmo tempo uma aventura ficcional com alguns toques de Film Noir, onde as personagens principais são a dupla e a sua amiga. Que curiosamente são personagens que estão bastante ausentes. Tudo o que vemos são sombras, sons dos locais à medida que a história é contada pelo narrador, o próprio Guerra da Mata.

E se a premissa inicial podia ter tudo para dar mau resultado (juntar dois elementos completamente diferentes no mesmo filme poderia facilmente resultar em algo que não é carne, nem peixe), o resultado final acaba por ser uma aposta ganha. «A Última Vez Que Vi Macau» consegue escapar aos clichés do documentário de regresso às origens, sem querer puxar por um sentimento de nostalgia por uma antiga colónia portuguesa à força (que não há no filme, onde apenas vemos imagens da Macau que faz parte do imaginário da infância de Guerra da Mata e não a Macau histórica ou dos casinos), imprimindo-lhe um tom diferente do habitual, graças aos tons Noir que vão surgindo na segunda narrativa, relativa ao desaparecimento da amiga.

Classificação: 4/5

A acompanhar a estreia comercial do filme está a ser projectada a curta-metragem «Alvorada Vermelha», também assinada a meias pelos dois realizadores portugueses. Aqui entramos no domínio do documentário puro para vermos o que se passa no Mercado Vermelho de Macau. Filmada em Fevereiro de 2011, a curta é um olhar dos dois realizadores sobre aquele espaço macaense, onde há de tudo, tal como num mercado normal. Sem qualquer tipo de narração e utilizando quase sempre planos fixos, «Alvorada Vermelha» é como que um retrato filmado do Mercado Vermelho e as rotinas dos que lá trabalham.

Por vezes demasiado visceral, sobretudo para quem possa ser mais sensível a imagens mais fortes (há por aqui muitos animais vivos a serem mortos à frente da câmara), a curta funciona na perfeição como complemento a «A Última Vez Que Vi Macau». Até porque ambos os filmes partilham um plano singular de um sapato de salto alto e a homenagem a Jane Russell, estrela de «Macau», o célebre Noir realizado por Josef von Sternberg em 1952 (mais explícita em «Alvorada Vermelha» do que em «A Última Vez Que Vi Macau»). Mas apenas há-de ser bem apreciada pelos adeptos do documentário. Quem não o for, como é o caso do autor deste blogue, poderá não gostar tanto deste prato de entrada para o regresso a Macau de João Pedro Rodrigues e João Rui Guerra da Mata.

Classificação: 3/5

2 comentários:

  1. Estou bastante curioso para ver "A última vez que vi macau". Era o filme que mais ansiava ver na edição passada do doclisboa mas estupidamente atrasei-me e os bilhetes estavam esgotados -_-
    Agora deixaste-me ainda mais curioso

    Cumprimentos,
    Rafael Santos
    Memento mori

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Eu gostei muito. Achei a mistura entre os dois géneros bem conseguida. Felizmente que chegou ao circuito comercial, é uma boa oportunidade para o ver em conjunto com outra obra da dupla.

      Cumprimentos

      Eliminar