Ter e Não Ter, de Howard Hawks (1944)
Ela entra no quarto dele e pede-lhe lume. Começa assim o primeiro encontro entre Lauren Bacall e 'Bogey' em «Ter e Não Ter», obra-prima de Howard Hawks por vezes comparada (erroneamente) a «Casablanca», de Michael Curtiz, uma outra história de expatriados em terra de ninguém durante a II Guerra Mundial. Podia ter ido buscar a cena do assobio recordada por João Bénard da Costa como «um dos melhores diálogos da história do cinema» («You know you don't have to act with me, Steve. You don't have to say anything, and you don't have to do anything. Not a thing. Oh, maybe just whistle. You know how to whistle, don't you, Steve? You just put your lips together and... blow.»), mas esta parece-me a que melhor espelha a relação amor-ódio (mais amor do que ódio, como sempre nestas coisas) das personagens centrais do filme. E entre trocas de cigarros e lume, nasceu um dos míticos casais de Hollywood, que iria contracenar ainda em mais três filmes: «À Beira do Abismo» («The Big Sleep», de Howard Hawks, 1946), «O Prisioneiro do Passado» («Dark Passage», de Delmer Daves, 1947) e «Paixões em Fúria» («Key Largo», de John Huston, 1948). Mas isso são contas de outro rosário. Aqui celebra-se a magia de «Ter e Não Ter» e as trocas de lume entre Bacall e Bogart. E em tempos politicamente correctos pensamos para com os nossos botões: como seria este belo filme se não houvessem os cigarros?
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