Há cerca de dez anos atrás Robert Zemeckis resolveu começar a realizar filmes em animação digital. Desde 2000, ano de estreia de «O Náufrago» e «A Verdade Escondida», o responsável pela popular série «Regresso ao Futuro» apresentou três longas metragens animadas, terreno que não lhe era de todo desconhecido. Basta recordarmos o extraordinário «Quem Tramou Roger Rabbit?», ainda hoje um dos grandes clássicos dos anos 1980. No final do ano passado chegou às salas norte-americanas «Decisão de Risco», o seu mais recente trabalho e o regresso à imagem real. Neste filme, que seria o filme ideal para um domingo à tarde, se a maior parte dos filmes que passam num domingo à tarde na televisão fosse minimamente decente, Whip Whitaker (Denzel Washington) é um piloto de avião que se torna o herói do dia depois de conseguir salvar a vida à maior parte dos passageiros e tripulação que viajavam no voo 227, através de uma manobra bastante arrojada. O pior acontece no dia em que uma investigação ao incidente descobre que Whip tinha consumido álcool e drogas antes de entrar no avião que ia pilotar.
«Decisão de Risco» acompanha o piloto no seu dia-a-dia após o acidente que o tornou herói e a sua luta contra o alcoolismo, ao mesmo tempo que decorre a investigação no final da qual pode vir a ser condenado a uma pena de prisão, se se provar que Whip estava alcoolizado no dia em que tinha era responsável pelo voo 227. E não sendo o típico feel good movie para agradar às audiências à espera de deixarem cair uma pequena lágrima no final, e talvez por isso não tenha caído nas boas graças da Academia que apenas o nomeou em duas categorias na presente edição dos Óscares (Melhor Actor Principal e Argumento Original), este regresso de Zemeckis à live action é uma boa surpresa. Ancorado numa excelente interpretação de Denzel Washington, que merece justamente a nomeação para as estatuetas douradas, o filme aborda mais as questões com que se debate alguém viciado no álcool do que a investigação propriamente dita. Ao lado do protagonista, não há como deixar em claro a prestação de um bom conjunto de secundários, a começar por John Goodman (por onde terá andado este excelente actor nos últimos anos, perguntamos nós quando o vemos entrar em cena pela primeira vez) e Kelly Reilly (uma das actrizes de «A Residência Espanhola», que tem vindo a cimentar uma curiosa carreira desde então).
O resultado final é um filme simples, que deixa de lado questões mais complicadas relacionadas com a investigação e a audiência ao piloto, que podiam ser outro dos 'ângulos de abordagem' do filme, mas certamente mais chatos (ou difíceis de lidar, pelo menos, para tornar «Decisão de Risco» menos maçudo) para se focar no lado humano de alguém que é visto por todos como herói, mas afinal tem um lado negro escondido. E este lado é sempre mostrado, até ao final, para que nos caiba a nós decidir se Whip é o herói ou o vilão da história.
Classificação: 3/5
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