«Pela Estrada Fora» é um daqueles clássicos literários cuja adaptação ao Cinema foi falada durante anos mas adiada sucessivamente. Foi preciso chegarmos a 2012 para o brasileiro Walter Salles levar ao grande ecrã o relato da vida de Sal Paradise (Sam Riley) e Dean Moriarty (Garrett Hedlund) pelas estradas dos EUA, aventuras essas de cariz autobiográfico e que tornaram «Pela Estrada Fora» um dos mais bem conseguidos retratos da chamada Beat Generation, da qual o escritor de origem canadiana foi um dos mais conhecidos representantes. O filme de Walter Salles tem alguns aspectos interessantes, mas acaba por ficar um pouco aquém da obra literária em que se baseia, em parte porque a adaptação foge demasiado ao original. E estamos perante mais um daqueles exemplos em que dizer que o livro é bem melhor do que o filme não é nenhum exagero.
Uma das principais falhas da adaptação cinematográfica do livro de Kerouac é precisamente o afastamento do original. Se no livro o centro é a personagem de Sal Paradise, o alter-ego do escritor que acompanhamos nas suas várias viagens pelos EUA, o filme opta por se focar mais na relação entre Sal e Dean. Apesar de esta relação ter um certo peso no livro, o filme acaba por deixar cair grande parte dos episódios protagonizados por Sal quando este se faz à estrada. A relação de Sal com Terry (Alice Braga) é um dos exemplos, pois no filme foi praticamente apagada e pouco tem a ver com a narração original. O que é pena, pois a forma como as duas personagens se conhecem na obra de Kerouac é uma das mais belas passagens de «Pela Estrada Fora». O mesmo sucede nos vários devaneios de Sal antes de se encontrar com os seus companheiros de estrada, que foram omitidos do filme de Salles. Compreende-se que seja difícil levar ao cinema um livro como este, onde as descrições dos lugares são bastante fortes e nos conseguem literalmente levar para os cenários por onde vagueou Sal Paradise, mas não deixa de ser uma grande perda para o resultado final. A própria forma como o filme conta a história é confusa e os episódios não seguem os eventos do livro, o que acaba por também jogar contra a coerência do argumento.
Contudo, o espírito de partir à aventura pelos EUA está bem captado graças a uma excelente fotografia, que se nota principalmente nas sequências passadas na estrada, seja em cenários onde o calor se nota e quase que podemos sentir o cheiro do suor das personagens, seja nas paisagens geladas que também aparecem em certas sequências. Mas não é suficiente para sairmos do filme com a sensação de que soube a pouco, tendo em conta o excelente livro que está na sua origem.
Classificação: 3/5
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