Nos últimos anos os filmes colectivos, compostos por curtos sketches realizados por diferentes cineastas, têm vindo a ser recuperados. Apesar de este género, se assim se pode chamar, remontar ainda ao período do mudo, terá sido nos anos 1950/1960 na Europa que teve o seu auge. O sucesso de «Paris Je T'Aime» em 2006, quando um conjunto de cerca de 20 realizadores foi convidado a criar uma curta para cada um dos bairros da capital francesa, terá contribuído para a exploração de um novo filão, que já seguiu viagem para Nova Iorque e, segundo as previsões, tem a próxima escala marcada para Xangai.
«7 Dias em Havana» não faz parte deste projecto amoroso, mas na sua génese a ideia é a mesma: sete realizadores, uma cidade como cenário (Havana), sete histórias diferentes, algumas que se cruzam, outras independentes. São os sete dias do título que correspondem a cada uma das curtas-metragens, realizadas por Benicio Del Toro, Pablo Trapero, Julio Medem, Elia Suleiman, Gaspar Noé, Juan Carlos Tabío e Laurent Cantet.
Um dos principais problemas neste tipo de produções é conseguir um resultado final coeso, mesmo quando todos os episódios são independentes, apesar de esse não ser necessariamente o principal objectivo destes filmes. No fundo estamos perante diferentes olhares ou sensibilidades e cada realizador tem a sua própria forma de filmar. Neste caso há uma mistura: dois dos episódios complementam-se, mas os restantes podem ser vistos de forma isolada, apesar de pontualmente surgirem personagens comuns.
Infelizmente, «7 Dias em Havana» acaba por não funcionar, nem como um todo, nem como a soma das várias partes. Temos cinema mais autoral, onde reconhecemos a marca de um determinado realizador (Gaspar Noé e Elia Suleiman), e filmes mais simples, como o belo episódio de Pablo Trapero que acompanha as desventuras de um Emir Kusturica (o próprio) completamente perdido em Havana e às voltas com problemas conjugais ou o segmento inicial, uma curiosa curta de Benicio Del Toro sobre um estudante de Cinema que se perde na noite da capital cubana. Este episódio falha por ser demasiado previsível, apesar de ter algumas curiosas referências que serão do agrado do cinéfilo mais atento aos pequenos pormenores. E depois temos segmentos que roçam as novelas, como é o caso do episódio realizado por Julio Medem, que chega a tornar-se cansativo de assistir, tal é o excessivo recurso aos clichés deste tipo de programas, tão ao estilo da América Latina.
Em suma, onde «7 Dias em Havana» falha é no facto de nenhum dos episódios sobressair. Mesmo a proposta de Elia Suleiman, que tanto prometia quando começa (e aquele início prova que o palestiniano é um digno sucessor de gente como Buster Keaton ou Jacques Tati), fica a perder por ser claramente um objectivo desenquadrado do resto do filme. Fora isso, podemos encontrar neste filme colectivo muito do que se espera de um filme passado em Havana: muito rum, música latina e as tradições da ilha dos irmãos Castro, tanto na vertente católica como na vertente pagã.
Classificação: 3/5
Sem comentários:
Enviar um comentário