Woody Allen é como o Natal: goste-se ou não, sabemos que uma vez por ano temos sempre direito a uma aparição do cineasta nova-iorquino. Desta vez, continuando a explorar a sua 'fase europeia', Allen leva-nos a Roma, cidade onde têm lugar quatro histórias diferentes protagonizadas por personagens que vivem na capital italiana ou vêm de fora, umas para recordar o passado, outras para conhecerem novos familiares ou a cidade. Cada uma destas histórias explora diferentes aspectos e faz lembrar um pouco certos filmes de sketches que já foram populares no Cinema italiano, com a diferença de que neste caso as histórias são contadas em simultâneo, apesar de o tempo da acção não coincidir (há histórias que decorrem durante um dia e outras que têm uma maior duração), e não em separado, como se fossem episódios.
E temos um pouco de tudo em «Para Roma com Amor»: uma história inspirada em «Sheik Branco», o primeiro filme realizado por Fellini a solo, que pode ser vista quase como uma homenagem ao realizador italiano, um episódio sobre relações (o episódio protagonizado por Jesse Eisenberg e Ellen Page) e que talvez seja o mais Alleniano dos segmentos, uma sátira à forma como os italianos lidam com a fama, onde um pobre cidadão comum passa a famoso de um dia para o outro (um regresso em grande forma do desaparecido Roberto Benigni) e um quarto episódio que conta com a presença de Woody Allen em mais um dos seus típicos papéis de neurótico, algo que já não acontecia desde 2006, mas é sempre um prazer ver, pois sentimos que estamos na presença de um velho amigo que já não encontramos há anos.
Mas se as histórias até têm partes curiosas, que nos fazem rir com coisas sérias, e as interpretações estão todas no sítio certo, características habituais nos filmes de Woody Allen (salvo raras excepções), esta dispersão acaba por prejudicar o resultado final de «Para Roma com Amor», sobretudo por um aspecto que, a meu ver, joga contra o filme: a opção de contar os quatro episódios em simultâneo, como se de um filme mosaico se tratasse, onde no final todas as personagens se encontram por um acaso do destino, algo que não é. A mais recente obra do cineasta nova-iorquino talvez tivesse tido melhor resultado se seguisse pelo estilo tradicional dos episódios contados cada um à sua vez. Assim acaba por ser um objecto algo confuso e pouco coeso. E todos os episódios podiam ter sido explorados como apenas um filme e ao serem encurtados acabam por perder alguma força. Em suma, «Para Roma com Amor» é um filme que irá agradar aos fãs de Woody Allen, mas não deixa de ser isso: apenas mais um filme de Woody Allen.
Classificação: 3/5
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