Depois de ter passado na edição de 2011 do Festival Indie Lisboa «Neds» chega (finalmente) às salas portuguesas, a mais recente longa metragem realizada pelo actor escocês Peter Mullan, responsável por um bastante recomendável filme de 2002 chamado «As Irmãs de Maria Madalena». Apesar de estar apenas numa única sessão em Lisboa, este é um daqueles filmes que corre o risco de passar completamente despercebido tal como poderia ter acontecido com «Bellamy», de Claude Chabrol. Felizmente a afluência de público deu à derradeira obra do cineasta francês o direito a estar em sala durante mais algumas semanas e se o mesmo acontecer a «Neds» será uma boa oportunidade para as distribuidoras que compram filmes a torto e a direito e depois não sabem o que fazer para estreá-los em condições pensarem um bocado melhor nestas políticas. Porque no meio da avalanche de estreias semanais, já para não falar nos filmes que vão directos para DVD, há sempre pérolas que acabam por não ter o devido destaque e são afastadas do público que ainda gosta de ver Cinema em sala.
Desabafos à parte vale a pena esperar pelo regresso de Mullan à cadeira de realizador, pois «Neds» não irá desiludir quem gostou de «Irmãs de Maria Madalena». Tal como neste filme, que conta a história de três raparigas nos anos 1960 que vão parar a um convento na Irlanda para expiarem os seus pecados, «Neds» também remete para um passado recente nas ilhas britânicas, centrando-se num jovem de classe baixa, John McGill (Conor McCarron), que tudo faz para ser aceite na escola e pelos colegas de classe superior, mas a sociedade não o ajuda.
Em casa o panorama não é muito diferente, pois o seu irmão mais velho vive sempre metido em sarilhos e o pai alcoólico passa a vida a bater na mãe. Estes factores levam o jovem a procurar refúgio num gangue de jovens delinquentes. Aos poucos o miúdo promissor e com boas notas começa a tornar-se num jovem violento.
«Neds» não é um filme fácil de se ver, pois é um valente murro no estômago e por vezes ganha contornos demasiado violentos.
Mas é um grande filme, que pode ser inserido dentro do género conhecido como realismo britânico, ao recriar bastante bem a época em que decorre a acção, desde a música aos cenários, e mesmo a fotografia, que nos ajuda a entrar nesta viagem ao passado, que segundo o realizador é bastante pessoal, mas não autobiográfica. Outro dos grandes destaques de «Neds» é que conseguiu arrancar excelentes interpretações, como é o caso do estreante Conor McCarron. O próprio Peter Mullan também participa, interpretando o pai de John, e é também uma interpretação notável.
Resta esperar que «Neds» consiga o público suficiente para que estreias como esta não passem ao lado da maior parte dos espectadores.
Classificação: 4/5
quinta-feira, 29 de novembro de 2012
quarta-feira, 28 de novembro de 2012
O trailer tem pinta
Vamos esperar que o filme corresponda às expectativas geradas. «Mata-os Suavemente», de Andrew Dominik estreia amanhã e é um dos títulos mais aguardados por estes lados.
terça-feira, 27 de novembro de 2012
Operação Outono, de Bruno de Almeida (2012)
Num país que nem sempre trata bem a sua História recente são de louvar as tentativas de alguns para darem a conhecer certos episódios que não vêm nos livros da escola. O projecto mais recente de Bruno de Almeida recupera o caso a morte de Humberto Delgado, um dos poucos homens que defrontou a ditadura de Salazar e acabou por sofrer as consequências de tal façanha ao ser assassinado por agentes da PIDE. O assassinato do General Sem Medo, como Humberto Delgado era chamado, resultou da chamada Operação Outono, que dá nome ao filme de Bruno de Almeida.
Se a ideia original era boa, adaptar uma obra publicada recentemente pelo neto de Humberto Delgado que trouxe novos dados sobre o episódio, o resultado final deixa muito a desejar. A começar pela escolha de John Ventimiglia para interpretar o papel do general. Apesar de o actor norte-americano ser bastante parecido com Humberto Delgado e até estar convincente no papel, o péssimo trabalho de dobragem do filme deita tudo a perder e distrai-nos completamente durante toda a primeira parte do filme, ou seja, sempre que o opositor de Salazar está em cena. A partir daqui dificilmente nos conseguimos abstrair deste pequeno pormenor e de todas as falhas de «Operação Outono».
As personagens não passam de meras caricaturas, sobretudo os operacionais da PIDE, que vão desde o agente com ar de labrego que mal fala a não ser para balbuciar ao informador com ar de mau que nos faz lembrar um Boris Karloff. O que podia ser um bom filme sobre um episódio histórico, com um elenco bem conseguido e uma boa utilização de imagens de arquivo para mostrar a época em que decorre a acção, não consegue ser mais do que um filme de série B de má qualidade. No meio disto tudo uma surpresa: Camané, que se estreia como actor num pequeno papel e não sai nada mal.
Classificação: 2/5
Se a ideia original era boa, adaptar uma obra publicada recentemente pelo neto de Humberto Delgado que trouxe novos dados sobre o episódio, o resultado final deixa muito a desejar. A começar pela escolha de John Ventimiglia para interpretar o papel do general. Apesar de o actor norte-americano ser bastante parecido com Humberto Delgado e até estar convincente no papel, o péssimo trabalho de dobragem do filme deita tudo a perder e distrai-nos completamente durante toda a primeira parte do filme, ou seja, sempre que o opositor de Salazar está em cena. A partir daqui dificilmente nos conseguimos abstrair deste pequeno pormenor e de todas as falhas de «Operação Outono».
As personagens não passam de meras caricaturas, sobretudo os operacionais da PIDE, que vão desde o agente com ar de labrego que mal fala a não ser para balbuciar ao informador com ar de mau que nos faz lembrar um Boris Karloff. O que podia ser um bom filme sobre um episódio histórico, com um elenco bem conseguido e uma boa utilização de imagens de arquivo para mostrar a época em que decorre a acção, não consegue ser mais do que um filme de série B de má qualidade. No meio disto tudo uma surpresa: Camané, que se estreia como actor num pequeno papel e não sai nada mal.
Classificação: 2/5
Etiquetas:
Bruno de Almeida,
Camané,
Crítica,
Estreias 2012,
John Ventimiglia
segunda-feira, 26 de novembro de 2012
Kubrick, o documentarista
Quando se fala em Stanley Kubrick a primeira coisa que passa pela cabeça da maior parte dos fãs do realizador será talvez os seus filmes mais conhecidos, como «Laranja Mecânica» ou «2001: Odisseia no Espaço». O que talvez muitos não sabem é que o jovem Kubrick, que começou por ser fotógrafo antes de se dedicar à Sétima Arte, realizou três curtos documentários antes de a sua carreira como realizador arrancar a sério, com «O Beijo Assassino». (antes de realizar este filme o cineasta ainda realizou um primeira longa-metragem, «Fear and Desire», que renegou até à sua morte. Esta obra foi editada recentemente em DVD e Blu-ray, ficando disponível pela primeira vez para o público em geral, pois Kubrick nunca chegou a autorizar em vida a apresentação do filme).
Realizados entre 1951 e 1953, os três documentários abordam temas distintos e cada um tem o seu estilo próprio. E, curiosamente, o melhor dos três é o primeiro, talvez por ser o mais pessoal e onde se nota uma marca própria. «Day of The Fight» começa por ser um documentário sobre boxe, com uma breve introdução sobre este desporto e a sua popularidade nos EUA, e acaba por se focar num lutador que irá entrar no ringue para participar num combate decisivo. Assim que conhecemos Walter Cartier, um dos vários boxistas presente no livro de estatísticas do boxe, a câmara de Kubrick vai segui-lo durante o dia do combate, mostrando como se prepara e passa as últimas horas antes de entrar em acção. Como se fosse o retrato de um dia de trabalho de alguém, cuja profissão é lutar boxe. O que sobressai nesta estreia de Stanley Kubrick é que, apesar de ser um documentário, encontramos diversos características que nos remetem para o Noir, género explorado nas duas longas realizadas após «Fear and Desire»: «O Beijo Assassino» e «Um Roubo no Hipódromo». Sendo este o documentário menos tradicional, quando comparado com os outros dois (este é também o único documentário de Kubrick que não resulta de uma encomenda), quase que podemos dizer que neste primeiro filme Stanley Kubrick já começa a ensaiar para o que seriam as suas primeiras longas.
Depois de conseguir vender «Day of The Fight» à RKO-Pathé, Kubrick foi contratado por esta produtora-distribuidora norte-americana para filmar um novo documentário. O resultado foi «Flying Padre» e não poderia ser mais diferente da estreia. Muito mais pequena, com cerca de metade da duração de «Day of The Fight», esta curta é o retrato de um padre do Novo México que viaja no seu avião para chegar às populações daquele estado norte-americano, seja para celebrar uma missa ou para ajudar quem precisa de chegar ao hospital o mais depressa possível. Considerado mais tarde como uma obra menor pelo próprio realizador, «Flying Padre» quase que se assemelha a uma pequena reportagem sobre esta 'personagem', e hoje em dia mais não é do que uma curiosidade no legado de Kubrick, que nada vem acrescentar à restante obra do cineasta.
O último documentário, «The Seafarers», acaba por ser o mais tradicional dos três. Realizado por encomenda do Seafarers International Union, um sindicato de marinheiros nos EUA, este é também o primeiro filme a cores de Stanley Kubrick. Mas, tal como já acontecera com «Flying Padre», aqui não há nenhuma marca pessoal do cineasta. «The Seafarers» faz lembrar alguns filmes de propaganda realizados durante a II Guerra Mundial, mas aqui não se trata de promover os valores dos EUA em tempo de guerra, antes o trabalho do sindicato na defesa dos direitos dos seus membros. Em comum aos outros dois filmes encontramos um narrador, que desta vez surge no ecrã, no início e no final do filme, para nos contar a história e o trabalho do Seafarers International Union. Apesar de Kubrick não ter feito grandes referências a «The Seafarers» mais tarde, este encomenda terá sido fundamental para pagar os custos de «Fear and Desire».
Para quem quiser conhecer um pouco melhor a história destas três curtas-metragens, sobretudo de «The Day of The Fight», recomendo a leitura deste artigo publicado no site Open Culture, onde podem também ser visionados os três documentários, disponíveis no YouTube.
Day of The Fight (1951)
Realizados entre 1951 e 1953, os três documentários abordam temas distintos e cada um tem o seu estilo próprio. E, curiosamente, o melhor dos três é o primeiro, talvez por ser o mais pessoal e onde se nota uma marca própria. «Day of The Fight» começa por ser um documentário sobre boxe, com uma breve introdução sobre este desporto e a sua popularidade nos EUA, e acaba por se focar num lutador que irá entrar no ringue para participar num combate decisivo. Assim que conhecemos Walter Cartier, um dos vários boxistas presente no livro de estatísticas do boxe, a câmara de Kubrick vai segui-lo durante o dia do combate, mostrando como se prepara e passa as últimas horas antes de entrar em acção. Como se fosse o retrato de um dia de trabalho de alguém, cuja profissão é lutar boxe. O que sobressai nesta estreia de Stanley Kubrick é que, apesar de ser um documentário, encontramos diversos características que nos remetem para o Noir, género explorado nas duas longas realizadas após «Fear and Desire»: «O Beijo Assassino» e «Um Roubo no Hipódromo». Sendo este o documentário menos tradicional, quando comparado com os outros dois (este é também o único documentário de Kubrick que não resulta de uma encomenda), quase que podemos dizer que neste primeiro filme Stanley Kubrick já começa a ensaiar para o que seriam as suas primeiras longas.
Flying Padre (1951)
The Seafarers (1953)
domingo, 25 de novembro de 2012
Lubitsch era um realizador cheio de estilo
E as sequências iniciais de «Ladrão de Alcova» são a prova de que as suas comédias estão entre as mais deliciosas de sempre.
sexta-feira, 23 de novembro de 2012
Cine Fiesta: Mientras Duermes, de Jaume Balagueró (2011)
Com os dois primeiros filmes da série [Rec], co-realizados em parceria com Paco Plaza, o nome de Jaume Balagueró ganhou uma certa notoriedade junto dos fãs do cinema de terror. «Mientras Duermes», filme escolhido para abrir a mostra de cinema espanhol Cine Fiesta, que por estes dias está a decorrer no Cinema São Jorge, em Lisboa, e segue em breve para o Porto, é a primeira obra do cineasta após ter abandonado o franchise que lhe deu fama. Este não é um filme de terror puro e duro, com sangue a jorrar a rodos, mas um filme onde reina o suspense.
No centro da trama encontramos César (Luis Tosar), o porteiro de um edifício que resolve fazer a vida negra a uma das inquilinas que vive sozinha no prédio, a jovem Clara (Marta Etura). As razões que levam César a ter aquele comportamento são explicadas ao longo do filme pelo próprio quando liga para uma estação de rádio, em monólogos interiores ou em diálogos solitários com a mãe que, doente e presa a uma cama de hospital sem falar, não consegue responder ao que o porteiro lhe diz sobre o que tem feito à sua vítima. Em suma, César é um ser perturbado em todos os sentidos e sem qualquer sentimento de culpa em relação ao que faz, capaz de fazer tudo para atingir o seu objectivo.
E se César é uma personagem arrepiante, os louros vão parar à excelente interpretação de Luis Tosar, que depois de ter sido Malamadre, o temível líder da revolta dos prisioneiros em «Cela 211» (outro filme recente bastante recomendável vindo de Espanha), em «Mientras Duermes» volta a brilhar no papel do mau da fita. Mesmo num registo diferente deste filme anterior, quando interpretou um criminoso altamente perigoso, aqui continua também bastante convincente no papel de um normal porteiro com muitos segredos escondidos atrás da sua aparência.
O último filme de Jaume Balagueró poderá desiludir quem for à procura de um verdadeiro filme de terror (não há grandes sustos para apanhar e as cenas regadas a sangue são escassas), mas não deixa de ser um eficaz filme de suspense. Praticamente filmado num único espaço, o edifício onde tem lugar a acção, «Mientras Duermes» funciona muito graças ao poder da sugestão e deixa-nos a pensar que nem tudo é o que parece nas pessoas com quem convivemos no dia-a-dia e com quem muitas vezes trocamos os bons dias. E de certeza que muitos dos espectadores vão começar a olhar para os porteiros de outra forma depois de verem este filme.
Classificação: 4/5
No centro da trama encontramos César (Luis Tosar), o porteiro de um edifício que resolve fazer a vida negra a uma das inquilinas que vive sozinha no prédio, a jovem Clara (Marta Etura). As razões que levam César a ter aquele comportamento são explicadas ao longo do filme pelo próprio quando liga para uma estação de rádio, em monólogos interiores ou em diálogos solitários com a mãe que, doente e presa a uma cama de hospital sem falar, não consegue responder ao que o porteiro lhe diz sobre o que tem feito à sua vítima. Em suma, César é um ser perturbado em todos os sentidos e sem qualquer sentimento de culpa em relação ao que faz, capaz de fazer tudo para atingir o seu objectivo.
E se César é uma personagem arrepiante, os louros vão parar à excelente interpretação de Luis Tosar, que depois de ter sido Malamadre, o temível líder da revolta dos prisioneiros em «Cela 211» (outro filme recente bastante recomendável vindo de Espanha), em «Mientras Duermes» volta a brilhar no papel do mau da fita. Mesmo num registo diferente deste filme anterior, quando interpretou um criminoso altamente perigoso, aqui continua também bastante convincente no papel de um normal porteiro com muitos segredos escondidos atrás da sua aparência.
O último filme de Jaume Balagueró poderá desiludir quem for à procura de um verdadeiro filme de terror (não há grandes sustos para apanhar e as cenas regadas a sangue são escassas), mas não deixa de ser um eficaz filme de suspense. Praticamente filmado num único espaço, o edifício onde tem lugar a acção, «Mientras Duermes» funciona muito graças ao poder da sugestão e deixa-nos a pensar que nem tudo é o que parece nas pessoas com quem convivemos no dia-a-dia e com quem muitas vezes trocamos os bons dias. E de certeza que muitos dos espectadores vão começar a olhar para os porteiros de outra forma depois de verem este filme.
Classificação: 4/5
Etiquetas:
Cine Fiesta,
Crítica,
Jaume Balagueró,
Luis Tosar,
Marta Etura,
Paco Plaza
quinta-feira, 22 de novembro de 2012
«Boa noite e as crianças brasileiras não devem ver o super-homem»
O ciclo dedicado à obra de Glauber Rocha, organizado pela Cinemateca Portuguesa no passado mês de Setembro, foi um dos grandes acontecimentos do ano em Portugal, quando se fala em cinema, apesar de a maior parte das sessões ter estado às moscas. Autor de obras de difícil classificação, com um forte teor político e contestatário, Glauber Rocha continua ainda hoje a ser um dos nomes grandes do cinema brasileiro, que merece ser descoberto por quem gosta do cinema mais marginal. Além de utilizar o cinema para espalhar as suas ideias, o cineasta fez algumas intervenções, sempre sem papas na língua, onde era tão contestatário como nos seus filmes. É isso que acontece neste pequeno vídeo, feito para um programa de televisão, onde Glauber Rocha faz inúmeras reflexões, algumas das quais continuam bastante actuais e podem ser lidas à luz de outras realidades além do Brasil daquela época. A descoberta da obra de Rocha foi, para o autor deste blogue, uma das melhores do ano. Deixo-vos as suas palavras.
quarta-feira, 21 de novembro de 2012
Para (re)descobrir Luis García Berlanga
Arranca hoje a CineFiesta, uma mostra de cinema espanhol que irá mostrar em Lisboa e no Porto algumas obras recentes, e outras nem por isso, como é o caso do mini ciclo dedicado a Victor Erice que terá lugar na Cinemateca Portuguesa, realizadas por cineastas do nosso país vizinho. Não é objectivo deste post promover o evento, cuja programação pode ser consultada aqui, mas antes dedicar umas linhas a uma excelente iniciativa recente criada em Espanha para homenagear um grande realizador espanhol, por vezes esquecido, sobretudo fora do seu país de origem: Luis García Berlanga.
Desde o passado dia 12 de Novembro que está on-line o Berlanga Film Museum, um site que reúne informação sobre a vida e obra do cineasta e pretende ser, segundo os seus responsáveis, «uma base de dados internacional de referência obrigatória sobre o realizador valenciano que possa ser consultada por investigadores e historiadores de Cinema, mas também por adeptos do Cinema». Neste site é possível encontrar textos pessoais, fotografias do realizador, vídeos, ficheiros áudio e até consultar os guiões de 21 dos seus filmes, elementos que nos ajudam a compreender melhor a vida e obra do realizador de «Bem-vindo Senhor Marshall». Mais informações sobre o projecto e a sua génese podem ser encontradas neste link. A viagem de (re)descoberta sobre a obra de Luis García Berlanga começa aqui.
Desde o passado dia 12 de Novembro que está on-line o Berlanga Film Museum, um site que reúne informação sobre a vida e obra do cineasta e pretende ser, segundo os seus responsáveis, «uma base de dados internacional de referência obrigatória sobre o realizador valenciano que possa ser consultada por investigadores e historiadores de Cinema, mas também por adeptos do Cinema». Neste site é possível encontrar textos pessoais, fotografias do realizador, vídeos, ficheiros áudio e até consultar os guiões de 21 dos seus filmes, elementos que nos ajudam a compreender melhor a vida e obra do realizador de «Bem-vindo Senhor Marshall». Mais informações sobre o projecto e a sua génese podem ser encontradas neste link. A viagem de (re)descoberta sobre a obra de Luis García Berlanga começa aqui.
terça-feira, 20 de novembro de 2012
As faces de Hannibal
Hannibal Lecter, que nasceu nos livros de Thomas Harris, tornou-se um ícone do Cinema na década de 1990 graças à interpretação de Anthony Hopkins em «O Silêncio dos Inocentes», dando origem a uma série de filmes com a presença do serial killer. Estas foram as várias encarnações desta personagem, antes e depois do clássico realizado por Jonathan Demme, de uma personagem que muitos consideram ser a verdadeira face do mal.
Brian Cox, em «Caçada ao Amanhecer», de Michael Mann (1986)
Anthony Hopkins, em «O Silêncio dos Inocentes», de Jonathan Demme (1991)
Anthony Hopkins, em «Hannibal», de Ridley Scott (2001)
Anthony Hopkins, em «Dragão Vermelho», de Brett Ratner (2002)
Gaspard Uliel, em «Hannibal - A Origem do Mal», de Peter Webber (2007)
Hannibal - A Origem do Mal (2007), de Peter Webber
No início da década de 1990 o Cinema conheceu um dos mais icónicos serial killers da história da Sétima Arte. O filme chamava-se «O Silêncio dos Inocentes» e a personagem era um tal de Hannibal Lecter, um psicopata que se encontrava detido numa prisão de alta segurança onde era entrevistado por Clarice Starling, uma agente do FBI que estava no encalço de um outro serial killer. Apesar de a personagem já ter surgido anteriormente em «Caçada ao Amanhecer», de Michael Mann (filme que mais tarde seria alvo de um remake assinado por Brett Ratner: «Dragão Vermelho», foi com o filme de Jonathan Demme que Hannibal Lecter alcançou o estatuto de mito, dando início a uma série de filmes onde esta personagem secundária viria a ganhar cada vez mais protagonismo.
Curiosamente a sua última encarnação não é sobre o que acontece a Hannibal Lecter no final de «Hannibal», a sequela de «O Silêncio dos Inocentes», mas antes como é que Hannibal se torna o terrível serial killer canibal que conhecemos nos anteriores filmes da série. Realizado pelo britânico Peter Webber, que antes apenas tinha realizado «A Rapariga do Brinco de Pérola», «Hannibal - A Origem do Mal» retrata a infância e juventude de Hannibal Lecter, um rapaz lituano que sofre os horrores da II Guerra Mundial às mãos de um grupo de mercenários locais. Depois de um período de cativeiro, durante o qual os seus captores acabam por matar a irmã mais nova de Hannibal, o jovem resolve ir atrás dos carrascos e começa a matá-los um a um, obviamente com recurso a requintes de malvadez.
Comparar o Lecter de Anthony Hopkins com o Lecter de Gaspard Uliel, o actor escolhido para interpretar o jovem serial killer, é quase como comparar um Ferrari e um Mini, tal o estatuto alcançado pela criação do primeiro, sobretudo em «O Silêncio dos Inocentes». É certo que este filme é um pouco diferente dos restantes títulos que compõem a série. Os ambientes não são tão sombrios, apesar de serem à mesma sinistros, e a história é completamente diferente. Não se trata de um filme onde Lecter é um secundário em fuga ou um prisioneiro a quem as autoridades tentam sacar informações, como acontece nos anteriores, mas uma história de vingança pessoal. Mesmo assim, perante o peso da interpretação de Hopkins, Gaspard Uliel consegue ter um bom desempenho, com certas expressões, por vezes forçadas em demasia, que dão algumas feições animalescas ao jovem Lecter, mostrando o verdadeiro terror da personagem.
Não sendo um filme extraordinário, «Hannibal - A Origem do Mal» é um thriller simpático e que se vê bem, encerrando (pelo menos para já, pois não sabemos se Hollywood ainda terá mais cartas escondidas na manga para acrescentar a este universo) o mito de Hannibal Lecter. A nível técnico, há que destacar o trabalho do director de fotografia, Ben Davis, que conseguiu um excelente resultado ao dar diferentes ambientes aos cenários por onde o jovem serial killer vai passando durante o filme. Um regalo para o olhar do espectador, que merecia um pouco mais para colocar este primeiro capítulo da história ao nível dos restantes, sobretudo «O Silêncio dos Inocentes» e «Hannibal».
Classificação: 3/5
Curiosamente a sua última encarnação não é sobre o que acontece a Hannibal Lecter no final de «Hannibal», a sequela de «O Silêncio dos Inocentes», mas antes como é que Hannibal se torna o terrível serial killer canibal que conhecemos nos anteriores filmes da série. Realizado pelo britânico Peter Webber, que antes apenas tinha realizado «A Rapariga do Brinco de Pérola», «Hannibal - A Origem do Mal» retrata a infância e juventude de Hannibal Lecter, um rapaz lituano que sofre os horrores da II Guerra Mundial às mãos de um grupo de mercenários locais. Depois de um período de cativeiro, durante o qual os seus captores acabam por matar a irmã mais nova de Hannibal, o jovem resolve ir atrás dos carrascos e começa a matá-los um a um, obviamente com recurso a requintes de malvadez.
Comparar o Lecter de Anthony Hopkins com o Lecter de Gaspard Uliel, o actor escolhido para interpretar o jovem serial killer, é quase como comparar um Ferrari e um Mini, tal o estatuto alcançado pela criação do primeiro, sobretudo em «O Silêncio dos Inocentes». É certo que este filme é um pouco diferente dos restantes títulos que compõem a série. Os ambientes não são tão sombrios, apesar de serem à mesma sinistros, e a história é completamente diferente. Não se trata de um filme onde Lecter é um secundário em fuga ou um prisioneiro a quem as autoridades tentam sacar informações, como acontece nos anteriores, mas uma história de vingança pessoal. Mesmo assim, perante o peso da interpretação de Hopkins, Gaspard Uliel consegue ter um bom desempenho, com certas expressões, por vezes forçadas em demasia, que dão algumas feições animalescas ao jovem Lecter, mostrando o verdadeiro terror da personagem.
Não sendo um filme extraordinário, «Hannibal - A Origem do Mal» é um thriller simpático e que se vê bem, encerrando (pelo menos para já, pois não sabemos se Hollywood ainda terá mais cartas escondidas na manga para acrescentar a este universo) o mito de Hannibal Lecter. A nível técnico, há que destacar o trabalho do director de fotografia, Ben Davis, que conseguiu um excelente resultado ao dar diferentes ambientes aos cenários por onde o jovem serial killer vai passando durante o filme. Um regalo para o olhar do espectador, que merecia um pouco mais para colocar este primeiro capítulo da história ao nível dos restantes, sobretudo «O Silêncio dos Inocentes» e «Hannibal».
Classificação: 3/5
segunda-feira, 19 de novembro de 2012
Dúvida da semana #4
Quando ficamos com uma enorme vontade de rever um filme que vimos há relativamente poucos meses é sinal que o filme é realmente bom ou esta coisa de ver filmes começa a ganhar o estatuto de doença?
domingo, 18 de novembro de 2012
Argo, de Ben Affleck (2012)
Se Ben Affleck como actor deixa algo a desejar (salvo raras, raríssimas excepções), o caso muda de figura quando o actor se lembra de se sentar na cadeira de realizador. Ao terceiro filme nessa posição Affleck volta a provar que sabe o que faz quando chega a hora de dirigir um filme, mesmo que «Argo» não seja tão bom como os anteriores «Vista Pela Última Vez...» e «A Cidade». Contudo, há que realçar que o território e género são diferentes. Ao contrário dos seus dois primeiros filmes, dramas urbanos passados em Boston, com o crime como pano de fundo, para esta terceira obra o actor-realizador resolveu recriar um episódio verídico que teve lugar durante a crise dos reféns da embaixada dos EUA no Irão, no final dos anos 1970, quando a maior parte dos funcionários da representação diplomática norte-americana em Teerão foi feita refém depois de o edifício ser invadido por apoiantes do ayatolah Khomeini. Seis dos funcionários conseguiram escapar antes da invasão dos manifestantes e encontraram refúgio na embaixada do Canadá, que lhes deu guarida durante algum período.
Perante este cenário a CIA entra em acção e tenta encontrar um plano para o resgate deste grupo de funcionários, antes que as autoridades iranianas descubram que há seis pessoas a menos no grupo de reféns. E essa tarefa vai ser levada a cabo por Tony Mendez (Ben Affleck), especialista em missões de evacuação, que idealiza um plano definido pelos membros da CIA como a melhor de todas as más ideias para uma missão daquele tipo, já por si destinada ao falhanço: o próprio Tony Mendez faz-se passar por membro de uma equipa de filmagens canadiana para entrar no Irão e resgatar os seis funcionários, que têm de assumir a identidade de membros da equipa que supostamente foi a Teerão para escolher os locais de rodagem de um filme de ficção científica chamado «Argo».
«Argo», o filme de Ben Affleck, retrata este estranho episódio histórico, que esteve desconhecido até meados da década de 1990, desde a invasão da embaixada norte-americana pelos manifestantes iranianos até ao resgate dos seis funcionários. Rodeado de um bom elenco secundário (só a dupla composta por John Goodman e Alan Arkin, os homens em Hollywood que vão ajudar Mendez a tornar a sua falsa produção o mais credível possível, é simplesmente deliciosa. A personagem de Arkin ganhou já o estatuto de um dos melhores secundários do ano), a terceira longa-metragem de Affleck tem como grande ponto forte uma reconstituição de época muito bem conseguida, com todos os detalhes no sítio certo, que podem ser comprovados durante os créditos finais, quando as imagens do filme são colocadas lado a lado com fotografias tiradas na mesma altura.
O mesmo acontece com a atenção aos pormenores históricos e a forma como o filme contextualiza a situação no Irão, logo no início através de uma excelente sequência animada. O que volta a falhar, tal como já tinha acontecido em «A Cidade», é que Ben Affleck como actor nunca consegue convencer e está a anos-luz do Ben Affleck realizador. E sendo mais uma vez o protagonista principal, «Argo» só tem a perder com esta opção, quando o resto do filme consegue estar à altura do que lhe é pedido, sendo sério quando tem de o ser e mais leve quando tem de seguir por essa via, captando o espírito da época, tanto nos corredores dos organismos de espionagem como da própria Hollywood, que acaba por ser alvo de uma sátira mordaz, sempre pela boca da personagem de Arkin.
Classificação: 4/5
Perante este cenário a CIA entra em acção e tenta encontrar um plano para o resgate deste grupo de funcionários, antes que as autoridades iranianas descubram que há seis pessoas a menos no grupo de reféns. E essa tarefa vai ser levada a cabo por Tony Mendez (Ben Affleck), especialista em missões de evacuação, que idealiza um plano definido pelos membros da CIA como a melhor de todas as más ideias para uma missão daquele tipo, já por si destinada ao falhanço: o próprio Tony Mendez faz-se passar por membro de uma equipa de filmagens canadiana para entrar no Irão e resgatar os seis funcionários, que têm de assumir a identidade de membros da equipa que supostamente foi a Teerão para escolher os locais de rodagem de um filme de ficção científica chamado «Argo».
«Argo», o filme de Ben Affleck, retrata este estranho episódio histórico, que esteve desconhecido até meados da década de 1990, desde a invasão da embaixada norte-americana pelos manifestantes iranianos até ao resgate dos seis funcionários. Rodeado de um bom elenco secundário (só a dupla composta por John Goodman e Alan Arkin, os homens em Hollywood que vão ajudar Mendez a tornar a sua falsa produção o mais credível possível, é simplesmente deliciosa. A personagem de Arkin ganhou já o estatuto de um dos melhores secundários do ano), a terceira longa-metragem de Affleck tem como grande ponto forte uma reconstituição de época muito bem conseguida, com todos os detalhes no sítio certo, que podem ser comprovados durante os créditos finais, quando as imagens do filme são colocadas lado a lado com fotografias tiradas na mesma altura.
O mesmo acontece com a atenção aos pormenores históricos e a forma como o filme contextualiza a situação no Irão, logo no início através de uma excelente sequência animada. O que volta a falhar, tal como já tinha acontecido em «A Cidade», é que Ben Affleck como actor nunca consegue convencer e está a anos-luz do Ben Affleck realizador. E sendo mais uma vez o protagonista principal, «Argo» só tem a perder com esta opção, quando o resto do filme consegue estar à altura do que lhe é pedido, sendo sério quando tem de o ser e mais leve quando tem de seguir por essa via, captando o espírito da época, tanto nos corredores dos organismos de espionagem como da própria Hollywood, que acaba por ser alvo de uma sátira mordaz, sempre pela boca da personagem de Arkin.
Classificação: 4/5
Etiquetas:
Alan Arkin,
Ben Affleck,
Crítica,
Estreias 2012,
John Goodman
Quem disse que os filmes de Guerra não podem ser belos?
A Verdade Vence Sempre, de Henry Hathaway (1948)
Henry Hathaway ficou conhecido na História do Cinema sobretudo pelos westerns que realizou durante a sua longa carreira, género no qual se estreou em 1932 com a realização de «Heritage of the Desert». Mas nem só de westerns viveu o realizador de «A Velha Raposa», o filme que deu o único Óscar a John Wayne. Um dos exemplos da variedade da filmografia de Hathaway é «A Verdade Vence Sempre», um filme protagonizado por James Stewart que recuperou um caso verídico que ocorreu em Chicago, durante o período da Lei Seca, que resultou na detenção de um homem inocente acusado de assassinar um polícia num bar ilegal. Mais de dez anos depois do incidente, a publicação de um anúncio na secção de classificados do Chicago Times, onde se oferece uma recompensa por informações sobre o autor dos disparos que vitimaram o agente, vai despertar a atenção do editor do jornal, Brian Kelly (Lee J. Cobb), que encarrega o repórter McNeal (James Stewart) de investigar o estanho anúncio.
Este é o início de uma investigação jornalística que mais tarde acabou por dar origem ao filme realizado por Henry Hathaway em 1948, que mistura elementos de documentário (o filme foi rodado em Chicago e, segundo uma nota dos produtores que surge no arranque de «A Verdade Vence Sempre», precisamente nos locais onde tiveram lugar os acontecimentos, e a narração está bastante presente) e do film Noir. Apesar de não ser um Noir puro (mesmo tratando-se de uma história sobre crime, os ambientes não são tão sombrios como os principais títulos dentro deste universo - aliás o próprio investigador neste caso não é um detective ou um polícia caído em desgraça, mas um jornalista que tenta provar a inocência de alguém condenado injustamente), este é talvez o género no qual melhor se pode enquadrar «A Verdade Vence Sempre».
O que acaba por tornar esta obra de Henry Hathaway também num dos melhores filmes sobre o papel do jornalismo na procura da verdade, tema que tem sido bem explorado pela Sétima Arte ao longo de vários anos e com resultados bastante diferentes, desde comédias como «O Grande Escândalo», de Howard Hawks, a filmes mais sérios como «Mentira Maldita», de Alexander Mackendrick, sobre a influência e a ética do chamado quarto poder. No caso de «A Verdade Vence Sempre», a junção de características do documentário e do Noir dá-nos uma nova forma de retratar o papel do repórter ao serviço da sociedade e na busca pela verdade, ultrapassando todas as dificuldades para o fazer, mesmo que a certa altura se discuta se o objectivo desta investigação não é apenas a venda de mais exemplares do periódico, através de um certo sensacionalismo. Outra curiosa reflexão que poderia ser feita a propósito desta obra de Hathaway.
O final, em defesa da Justiça (ou de certas decisões do Governo) dos EUA, é demasiado moralista e totalmente em consonância com o espírito da época, altura em que o Cinema ainda era utilizado, de certa forma, como máquina de propaganda na defesa dos valores norte-americanos. Mas aqui o filme de Henry Hathaway acaba por se afastar totalmente do Noir, pois o final é tudo menos infeliz para as personagens e tudo acaba por se resolver, mesmo que tenhamos de esperar quase pelo último minuto para assistir ao desenlace.
Classificação: 4/5
Este é o início de uma investigação jornalística que mais tarde acabou por dar origem ao filme realizado por Henry Hathaway em 1948, que mistura elementos de documentário (o filme foi rodado em Chicago e, segundo uma nota dos produtores que surge no arranque de «A Verdade Vence Sempre», precisamente nos locais onde tiveram lugar os acontecimentos, e a narração está bastante presente) e do film Noir. Apesar de não ser um Noir puro (mesmo tratando-se de uma história sobre crime, os ambientes não são tão sombrios como os principais títulos dentro deste universo - aliás o próprio investigador neste caso não é um detective ou um polícia caído em desgraça, mas um jornalista que tenta provar a inocência de alguém condenado injustamente), este é talvez o género no qual melhor se pode enquadrar «A Verdade Vence Sempre».
O que acaba por tornar esta obra de Henry Hathaway também num dos melhores filmes sobre o papel do jornalismo na procura da verdade, tema que tem sido bem explorado pela Sétima Arte ao longo de vários anos e com resultados bastante diferentes, desde comédias como «O Grande Escândalo», de Howard Hawks, a filmes mais sérios como «Mentira Maldita», de Alexander Mackendrick, sobre a influência e a ética do chamado quarto poder. No caso de «A Verdade Vence Sempre», a junção de características do documentário e do Noir dá-nos uma nova forma de retratar o papel do repórter ao serviço da sociedade e na busca pela verdade, ultrapassando todas as dificuldades para o fazer, mesmo que a certa altura se discuta se o objectivo desta investigação não é apenas a venda de mais exemplares do periódico, através de um certo sensacionalismo. Outra curiosa reflexão que poderia ser feita a propósito desta obra de Hathaway.
O final, em defesa da Justiça (ou de certas decisões do Governo) dos EUA, é demasiado moralista e totalmente em consonância com o espírito da época, altura em que o Cinema ainda era utilizado, de certa forma, como máquina de propaganda na defesa dos valores norte-americanos. Mas aqui o filme de Henry Hathaway acaba por se afastar totalmente do Noir, pois o final é tudo menos infeliz para as personagens e tudo acaba por se resolver, mesmo que tenhamos de esperar quase pelo último minuto para assistir ao desenlace.
Classificação: 4/5
sexta-feira, 16 de novembro de 2012
Ainda a propósito das reposições
No próximo mês de Dezembro, nos EUA, regressam às salas de cinema dois grandes clássicos de Quentin Tarantino: «Cães Danados» e «Pulp Fiction». Talvez seja uma manobra de marketing para abrir o apetite aos fãs do cineasta que vai estrear o seu próximo filme, «Django Libertado», no final do mesmo mês. Mas, tal como o regresso de «Vertigo - A Mulher Que Viveu Duas Vezes», de Alfred Hitchcock, às salas portuguesas, esta é uma excelente oportunidade para recordar dois clássicos dos anos 1990 no grande ecrã. Pena que a iniciativa não se repita por cá, onde decerto muitos dos actuais fãs de Tarantino não tiveram oportunidade de ver estas duas obras em sala.
Via Miramax
Via Miramax
quarta-feira, 14 de novembro de 2012
10 Filmes: Tempos Difíceis
Hoje é dia de greve geral e um pouco por toda a Europa há várias manifestações a decorrer. Para fugir um bocado à recomendação do costume para dias como este (para os mais distraídos, há quem goste de recomendar o visionamento de «A Greve», de Sergei Eisenstein), apresento uma lista de 10 filmes sobre tempos conturbados como os que vivemos hoje. Alguns são autênticos murros no estômago, outros dão-nos alguma esperança para esperar por dias melhores. Tal como em outras listas desta rubrica, volto a sublinhar que esta não pretende ser uma lista com os melhores filmes sobre um determinado tema. E propostas alternativas são sempre bem-vindas na caixa dos comentários.
A Multidão, de King Vidor (1928)
Tokyo Chorus, de Yasujiro Ozu (1931)
As Vinhas da Ira, de John Ford (1940)
Umberto D., de Vittorio De Sica (1952)
Vidas Secas, de Nelson Pereira dos Santos (1963)
Ariel, de Aki Kaurismaki (1988)
Ou Tudo Ou Nada, de Paolo Cattaneo (1997)
Rosetta, de Jean-Pierre e Luc Dardenne (1999)
Às Segundas ao Sol, de Fernando Léon Aranoa (2002)
Sangue e Ouro, de Jafar Panahi (2003)
Etiquetas:
10 Filmes...,
Aki Kaurismaki,
Fernando Léon Aranoa,
Irmãos Dardenne,
Jafar Panahi,
John Ford,
King Vidor,
Nelson Pereira dos Santos,
Paolo Cattaneo,
Sergei Eisenstein,
Vittorio De Sica,
Yasujiro Ozu
A culpa é do Ozu
Neste pequeno vídeo Aki Kaurismaki explica como foi influenciado pela obra de Yasujiro Ozu para seguir a carreira de realizador. Em 1976 perdeu-se um potencial escritor e o mundo ganhou um excelente realizador. Tudo graças ao mestre japonês e a uma visita forçada ao British Film Institute.
segunda-feira, 12 de novembro de 2012
Massacre no Texas, de Tobe Hooper (1974)
Em 1974 um grupo de amigos resolveu pôr mãos à obra e criou um dos grandes clássicos do cinema de terror moderno, na vertente slasher. Na cadeira de realizador estava um senhor chamado Tobe Hooper, que mais tarde viria a ser (e ainda hoje é) um dos nomes incontornáveis do género de terror. Baseado em factos reais, «Massacre no Texas» acompanha a viagem de cinco jovens a uma localidade inóspita daquele estado norte-americano para visitarem a casa abandonada de um familiar de dois deles. O dia não começa da melhor maneira, com notícias sobre um estranho incidente que ocorreu num cemitério do Texas. Mais tarde os jovens dão boleia a uma ainda mais estranha personagem e começa o pesadelo do qual não se irão esquecer tão depressa.
Filmado com poucos meios e com um elenco reduzido, «Massacre no Texas» foi apenas a segunda longa-metragem realizada por Tobe Hooper e continua a ser uma daquelas obras cuja influência se nota em praticamente todos os filmes feitos desde então cuja acção envolve um grupo de adolescentes a ser massacrado como se não houvesse amanhã. As cenas são visualmente muito fortes, mesmo se compararmos com os tão amados torture porn dos dias de hoje (estes um pouco mais fortes, é certo, mas nota-se que vieram beber muita da sua vontade de sangue aqui), e todo o ambiente criado à volta dos carrascos e assassinos do grupo ajuda a transportar o espectador literalmente para dentro do sinistro casarão onde acontece a maior parte da acção. Mesmo quando tentamos desviar a atenção do que se está a passar, não há como escapar a este festim macabro.
E «Massacre no Texas» tem ainda aquele final em aberto fabuloso, com um dos carrascos a dançar no meio da estrada, tão arrepiante como qualquer uma das sequências que entretanto assistimos até chegar ali. Mas o que faz desta segunda obra de Tobe Hooper um enorme clássico dentro do género é o facto de não ter envelhecido mal como aconteceu com outros filmes da altura. Os apertos no estômago que se as plateias devem ter sentido aquando da estreia em Cinema continuam tão fortes como hoje, quase quarenta anos depois. Um grande filme para os amantes do género. Quem não gostar, está avisado que não há-de ser fácil travar conhecimento com uma família texana bastante invulgar (à falta de melhor termo).
Classificação: 4/5
Filmado com poucos meios e com um elenco reduzido, «Massacre no Texas» foi apenas a segunda longa-metragem realizada por Tobe Hooper e continua a ser uma daquelas obras cuja influência se nota em praticamente todos os filmes feitos desde então cuja acção envolve um grupo de adolescentes a ser massacrado como se não houvesse amanhã. As cenas são visualmente muito fortes, mesmo se compararmos com os tão amados torture porn dos dias de hoje (estes um pouco mais fortes, é certo, mas nota-se que vieram beber muita da sua vontade de sangue aqui), e todo o ambiente criado à volta dos carrascos e assassinos do grupo ajuda a transportar o espectador literalmente para dentro do sinistro casarão onde acontece a maior parte da acção. Mesmo quando tentamos desviar a atenção do que se está a passar, não há como escapar a este festim macabro.
E «Massacre no Texas» tem ainda aquele final em aberto fabuloso, com um dos carrascos a dançar no meio da estrada, tão arrepiante como qualquer uma das sequências que entretanto assistimos até chegar ali. Mas o que faz desta segunda obra de Tobe Hooper um enorme clássico dentro do género é o facto de não ter envelhecido mal como aconteceu com outros filmes da altura. Os apertos no estômago que se as plateias devem ter sentido aquando da estreia em Cinema continuam tão fortes como hoje, quase quarenta anos depois. Um grande filme para os amantes do género. Quem não gostar, está avisado que não há-de ser fácil travar conhecimento com uma família texana bastante invulgar (à falta de melhor termo).
Classificação: 4/5
Dúvida da Semana #3
Na semana passada ficámos a saber que o clássico «Vertigo - A Mulher Que Viveu Duas Vezes», de Alfred Hitchcock, o filme considerado recentemente pela revista Sight and Sound como o melhor de sempre, vai regressar ao circuito comercial em Dezembro numa iniciativa da Midas. A prática é bastante comum a nível internacional e em Portugal não é de todo inédita, pois as distribuidoras de Paulo Branco têm reposto alguns clássicos de forma irregular nas salas que pertencem ao grupo do produtor, mas de forma pontual. Esta é contudo a primeira vez em muitos anos que me lembro de ver um clássico chegar ao circuito comercial. Assim de repente recordo-me de ter visto em cartaz, há muitos anos, versões alargadas de filmes como «O Exorcista», de William Friedkin, ou «Blade Runner - Perigo Iminente», de Ridley Scott, no velhinho Quarteto e pouco mais. De acordo com a Midas, esta será a primeira de várias reposições de clássicos a chegar às salas portuguesas. Mas, a dúvida da semana é: será que existe público para estas reposições no circuito comercial?
domingo, 11 de novembro de 2012
No universo de Miike, a resposta é quase sempre sim
Underwater love
O Atalante, de Jean Vigo (1934)
Era Uma Vez Um País, de Emir Kusturica (1995)
Duas formas de filmar o amor debaixo de água em dois filmes completamente diferentes. Mas ambos poéticos à sua maneira.
sexta-feira, 9 de novembro de 2012
Dos Homens Sem Lei, de John Hillcoat (2012)
A parceria entre o realizador John Hillcoat e o seu compatriota Nick Cave volta a dar frutos no ano da graça de 2012. Depois de ter escrito os argumentos de «Ghost...of the Civil Dead» e «Escolha Mortal», o cantor australiano assina o argumento do mais recente filme de John Hillcoat. Desta vez somos transportados para o período da Lei Seca nos EUA onde travamos conhecimento com três irmãos que se dedicam ao contrabando de álcool numa altura em que a venda desse líquido era ilegal. Esta proibição acabou por ter efeitos indesejados e toda uma economia paralela, dominada pela máfia, nasceu à conta da polémica legislação.
Os irmãos Jack, Forrest e Howard Bondurant (Shia LaBeouf, Tom Hardy e Jason Clarke), personagens que existiram de facto e cujas proezas são descritas no livro que serve de base ao filme de Hillcoat («The Wettest County in the World», escrito por um dos netos dos Bondurant e publicado em 2008), eram apenas um dos elos da cadeia de distribuição dessa economia paralela e juntos criaram um negócio familiar no condado de Franklin, à semelhança de muitos outros habitantes daquele condado do estado da Virgínia. O filme descreve a forma como os três irmãos criaram o seu negócio e enfrentaram as autoridades, encabeçadas por Charley Rakes (Guy Pearce), um agente especial que vem de Chicago supostamente para manter a lei, mas apenas quer uma parte dos lucros dos produtores de álcool da região para que ninguém seja prejudicado. Ao contrário dos seus conterrâneos, os Bondurant não temem as ameaças de Rakes e recusam-se a pagar, dando início a uma guerra sem quartel, com espaço para tudo: lealdade familiar, conflitos entre grupos de contrabandistas rivais e agentes corruptos.
Tal como «Escolha Mortal» já tinha de certa forma recuperado os westerns, «Dos Homens Sem Lei» vem recuperar os filmes de gangsters que ultimamente estão a ser alvo de um certo revivalismo (assim de repente lembramo-nos de «Inimigos Públicos», o último filme de Michael Mann). Os tons violentos estão presentes em ambos os filmes, assim como a recriação da época, mas falta qualquer coisa ao novo filme de John Hillcoat para estar ao nível de obras anteriores do cineasta. Contando com um elenco de luxo, tanto a nível dos protagonistas, como dos secundários (aqui não podíamos deixar de destacar a presença de Gary Oldman, que mesmo sendo um secundaríssimo e com poucas cenas tem mais uma interpretação magnífica a juntar ao currículo), há que dar mérito a Shia LaBeouf na sua composição bem conseguida da figura do irmão mais novo dos Bondurant.
Contudo o elo mais fraco do filme acaba por ser o argumento, que nunca vai muito além da simples história e não dá grande espaço de evolução às personagens. Mesmo a história de Jack, que é o narrador e no fundo é também a personagem principal de «Dos Homens Sem Lei», é demasiado vaga e pouco explorada. Tudo corre demasiado depressa, quase que não há espaço para a acção fluir e certos episódios não se percebem porque raio aconteceram. O que acaba por ser um ponto negativo num filme que tinha tudo para ter melhores resultados: um bom elenco e um realizador com talento que conseguiu recriar bastante bem o período que se pretendia retratar. Mas faltou o essencial: uma história bem contada.
Classificação: 3/5
Os irmãos Jack, Forrest e Howard Bondurant (Shia LaBeouf, Tom Hardy e Jason Clarke), personagens que existiram de facto e cujas proezas são descritas no livro que serve de base ao filme de Hillcoat («The Wettest County in the World», escrito por um dos netos dos Bondurant e publicado em 2008), eram apenas um dos elos da cadeia de distribuição dessa economia paralela e juntos criaram um negócio familiar no condado de Franklin, à semelhança de muitos outros habitantes daquele condado do estado da Virgínia. O filme descreve a forma como os três irmãos criaram o seu negócio e enfrentaram as autoridades, encabeçadas por Charley Rakes (Guy Pearce), um agente especial que vem de Chicago supostamente para manter a lei, mas apenas quer uma parte dos lucros dos produtores de álcool da região para que ninguém seja prejudicado. Ao contrário dos seus conterrâneos, os Bondurant não temem as ameaças de Rakes e recusam-se a pagar, dando início a uma guerra sem quartel, com espaço para tudo: lealdade familiar, conflitos entre grupos de contrabandistas rivais e agentes corruptos.
Tal como «Escolha Mortal» já tinha de certa forma recuperado os westerns, «Dos Homens Sem Lei» vem recuperar os filmes de gangsters que ultimamente estão a ser alvo de um certo revivalismo (assim de repente lembramo-nos de «Inimigos Públicos», o último filme de Michael Mann). Os tons violentos estão presentes em ambos os filmes, assim como a recriação da época, mas falta qualquer coisa ao novo filme de John Hillcoat para estar ao nível de obras anteriores do cineasta. Contando com um elenco de luxo, tanto a nível dos protagonistas, como dos secundários (aqui não podíamos deixar de destacar a presença de Gary Oldman, que mesmo sendo um secundaríssimo e com poucas cenas tem mais uma interpretação magnífica a juntar ao currículo), há que dar mérito a Shia LaBeouf na sua composição bem conseguida da figura do irmão mais novo dos Bondurant.
Contudo o elo mais fraco do filme acaba por ser o argumento, que nunca vai muito além da simples história e não dá grande espaço de evolução às personagens. Mesmo a história de Jack, que é o narrador e no fundo é também a personagem principal de «Dos Homens Sem Lei», é demasiado vaga e pouco explorada. Tudo corre demasiado depressa, quase que não há espaço para a acção fluir e certos episódios não se percebem porque raio aconteceram. O que acaba por ser um ponto negativo num filme que tinha tudo para ter melhores resultados: um bom elenco e um realizador com talento que conseguiu recriar bastante bem o período que se pretendia retratar. Mas faltou o essencial: uma história bem contada.
Classificação: 3/5
quinta-feira, 8 de novembro de 2012
Por falar em Gary Oldman
Numa sondagem realizada hoje no Facebook, a propósito do 165º aniversário de Bram Stoker, o British Film Institute resolveu perguntar aos seus fãs na rede social qual o melhor intérprete de Drácula. E o vencedor foi...Gary Oldman, o actor que deu vida ao conde Vlad Dracul em «Drácula de Bram Stoker», a adaptação da obra de Bram Stoker assinada por Francis Ford Coppola. Atrás de Oldman ficaram Max Schreck, o protagonista de Nosferatu, de F.W. Murnau e Christopher Lee, o Drácula dos filmes saídos da mítica Hammer.
Dúvida da Semana #2
Porque será que Gary Oldman consegue dominar todos os filmes em que entra, mesmo quando não é de todo o protagonista e tem papéis relativamente pequenos, como acontece no recente «Dos Homens Sem Lei», de John Hillcoat?
quarta-feira, 7 de novembro de 2012
A arte dos genéricos #2 Passarinhos e Passarões, de Pier Paolo Pasolini
Continuando a nossa descoberta de genéricos fora do normal, hoje é tempo de irmos até Itália do final dos anos 1960. Desta vez o destaque vai para «Passarinhos e Passarões», a magnifica fábula de Pier Paolo Pasolini protagonizada pelos inocentes Totò (Totò) e Ninetto (Ninetto Davoli), pai e filho que partem pela estrada fora acompanhados por um corvo intelectual de esquerda. Ao contrário dos genéricos tradicionais, neste estranho road movie com tons vincadamente políticos o genérico é cantado.
Este genérico cantado é uma certa variante de outros genéricos de abertura narrados, que tinham surgido anteriormente em filmes de Ingmar Bergman ou em algumas obras do período da Nouvelle Vague. Outra das particularidades deste original arranque do filme é que o cantor, Domenico Modugno, não se limita a musicar os nomes dos protagonistas e técnicos do filme, mas faz também alguns pequenos e deliciosos reparos sobre cada um deles. Por exemplo, no caso de Pier Paolo Pasolini, o cantor recorda que o realizador está a arriscar a sua reputação ao realizar este filme. E por aí fora, com todos os actores principais e os técnicos a terem direito a uma pequeno tempo de antena. O resultado final abre-nos o apetite com um sorriso nos lábios para a genial obra que virá a seguir e pode ser visto no vídeo seguinte:
domingo, 4 de novembro de 2012
Descubra as diferenças #3 (com spoilers)
Tempos Modernos, de Charles Chaplin (1936)
Passarinhos e Passarões, de Pier Paolo Pasolini (1966)
(post com spoilers)
Aparentemente estes dois filmes não têm nada a ver um com o outro. Ambos são clássicos incontestáveis, realizados por cineastas com linguagens próprias no universo da Sétima Arte, mas acabam por partilhar uma cena praticamente igual. No final de «Tempos Modernos», o vagabundo Charlot caminha rumo ao horizonte com a sua amada, em busca de um melhor futuro. O mesmo objectivo é o que procuram as duas personagens principais de «Passarinhos e Passarões», que partem estrada fora no final do filme de Pasolini, depois de inúmeras aventuras passadas ao lado de um corvo intelectual de esquerda. É curioso como estes dois filmes, tão diferentes entre si como a noite do dia (apesar do forte teor político, mais presente no filme de Pasolini do que na obra de Chaplin, que acaba por uni-los), conseguem convergir num mesmo final.
sábado, 3 de novembro de 2012
007 - Skyfall, de Sam Mendes (2012)
James Bond faz 50 anos e como prenda de aniversário os fãs tiveram direito a mais um filme protagonizado pelo espião preferido de Sua Majestade. Passado meio século após a estreia do primeiro filme dedicado ao mítico 007, continuará a fazer sentido um novo filme com a personagem criada por Ian Fleming? Aparentemente sim, quanto mais não seja pelos resultados de bilheteira que «007 - Skyfall» está a ter, o que garante que James Bond continua a ter público, mesmo numa altura em que filmes como a saga de Jason Bourne conseguiram estabelecer uma novo padrão neste género de filmes. E a influência de Bourne notou-se quando Daniel Craig foi contratado para vestir o smoking do agente secreto, em 2006, numa tentativa de renovação da série.
Em «007 - Skyfall», James Bond está de regresso mas a um estilo mais clássico. A trama do filme gira à volta do roubo de uma lista com o nome de vários espiões britânicos que James Bond não consegue recuperar mesmo depois de uma longa perseguição pelas ruas de uma cidade turca. Como seria de esperar a lista vai parar às mãos de quem não deve e aos poucos os nomes dos espiões começam a ser divulgados na Internet. 007 é então chamado de volta para ir atrás do autor do roubo, que mais tarde sabemos estar ligado ao passado de M (Judi Dench), personagem que neste episódio do franchise ganha um certo destaque, merecido, tendo em conta o desfecho do filme.
Mais do que um filme de acção e espionagem, com 007 a lutar contra uma conspiração mundial, este novo capítulo das aventuras de James Bond mostra-nos uma personagem mais vulnerável. Se antes James Bond era imbatível, fosse quem fosse o inimigo, neste novo filme tanto 007 como M estão a ficar mais velhos e demonstram algumas vulnerabilidades que outrora eram inimagináveis. Esta foi também uma forma de os responsáveis pela saga aproveitarem para apresentar alguns detalhes do passado destas duas personagens e ao mesmo tempo adequar o franchise aos dias de hoje, ao escolher um inimigo (Javier Bardem a fazer mais do mesmo e um pouco mal aproveitado) que de início não se sabe bem quem é e que intenções tem. Mas no fim este objectivo acaba por falhar, pois ficamos a saber que as intenções do inimigo não são assim tão fortes, não há uma agenda de domínio global ou para instituir uma nova ordem, como seria de esperar.
Contudo, este elemento da explicação do passado de 007 serve também para introduzir algumas piadas e um piscar de olho aos que criticaram a renovação da série. Há em «007 - Skyfall» várias cenas onde se nota isso, desde o primeiro diálogo entre James Bond e um jovem Q, que lhe apresenta os novos gadgets de uma forma a espicaçar 007, à espera de novas engenhocas, até à entrada em cena do popular Auston Martin, que recupera a faceta mais clássica do espião. Apesar disso, o filme acaba por desiludir um pouco os fãs da série, pois não consegue manter o equilíbrio entre ser um filme para captar novos adeptos ou um filme para os verdadeiros fãs de 007.
Sam Mendes, um bom realizador com provas dadas nos seus filmes anteriores, dá um passo em falso na sua carreira. É certo que este não é o habitat natural do cineasta, mais habituado a produções não tão megalómanas como um filme de James Bond, mas o peso da saga nota-se no resultado final. O que Sam Mendes anteriormente tinha conseguido fazer com menos meios, filmes mais pessoais e de certa forma com uma marca própria, desta vez não consegue pois o realizador parece estar demasiado preso às grilhetas de 007. Ou seja, tudo aquilo que vemos é tudo o que estamos à espera de um novo filme de James Bond. Nem mais, nem menos. E, claramente, Sam Mendes não teve unhas para tocar esta guitarra e não traz nada de novo à saga.
Classificação: 3/5
Em «007 - Skyfall», James Bond está de regresso mas a um estilo mais clássico. A trama do filme gira à volta do roubo de uma lista com o nome de vários espiões britânicos que James Bond não consegue recuperar mesmo depois de uma longa perseguição pelas ruas de uma cidade turca. Como seria de esperar a lista vai parar às mãos de quem não deve e aos poucos os nomes dos espiões começam a ser divulgados na Internet. 007 é então chamado de volta para ir atrás do autor do roubo, que mais tarde sabemos estar ligado ao passado de M (Judi Dench), personagem que neste episódio do franchise ganha um certo destaque, merecido, tendo em conta o desfecho do filme.
Mais do que um filme de acção e espionagem, com 007 a lutar contra uma conspiração mundial, este novo capítulo das aventuras de James Bond mostra-nos uma personagem mais vulnerável. Se antes James Bond era imbatível, fosse quem fosse o inimigo, neste novo filme tanto 007 como M estão a ficar mais velhos e demonstram algumas vulnerabilidades que outrora eram inimagináveis. Esta foi também uma forma de os responsáveis pela saga aproveitarem para apresentar alguns detalhes do passado destas duas personagens e ao mesmo tempo adequar o franchise aos dias de hoje, ao escolher um inimigo (Javier Bardem a fazer mais do mesmo e um pouco mal aproveitado) que de início não se sabe bem quem é e que intenções tem. Mas no fim este objectivo acaba por falhar, pois ficamos a saber que as intenções do inimigo não são assim tão fortes, não há uma agenda de domínio global ou para instituir uma nova ordem, como seria de esperar.
Contudo, este elemento da explicação do passado de 007 serve também para introduzir algumas piadas e um piscar de olho aos que criticaram a renovação da série. Há em «007 - Skyfall» várias cenas onde se nota isso, desde o primeiro diálogo entre James Bond e um jovem Q, que lhe apresenta os novos gadgets de uma forma a espicaçar 007, à espera de novas engenhocas, até à entrada em cena do popular Auston Martin, que recupera a faceta mais clássica do espião. Apesar disso, o filme acaba por desiludir um pouco os fãs da série, pois não consegue manter o equilíbrio entre ser um filme para captar novos adeptos ou um filme para os verdadeiros fãs de 007.
Sam Mendes, um bom realizador com provas dadas nos seus filmes anteriores, dá um passo em falso na sua carreira. É certo que este não é o habitat natural do cineasta, mais habituado a produções não tão megalómanas como um filme de James Bond, mas o peso da saga nota-se no resultado final. O que Sam Mendes anteriormente tinha conseguido fazer com menos meios, filmes mais pessoais e de certa forma com uma marca própria, desta vez não consegue pois o realizador parece estar demasiado preso às grilhetas de 007. Ou seja, tudo aquilo que vemos é tudo o que estamos à espera de um novo filme de James Bond. Nem mais, nem menos. E, claramente, Sam Mendes não teve unhas para tocar esta guitarra e não traz nada de novo à saga.
Classificação: 3/5
Etiquetas:
Crítica,
Daniel Craig,
Estreias 2012,
Javier Bardem,
Judi Dench,
Sam Mendes
sexta-feira, 2 de novembro de 2012
Shut Up and Play the Hits - O Fim dos LCD Soundsystem, de Will Lovelace e Dylan Southern (2012)
Declaração de interesses: o autor deste blogue é um grande fã dos LCD Soundsystem, banda que considera ser uma das mais importantes da primeira década do século XXI dentro do universo da música popular. Ideia que já tinha ficado expressa, de forma talvez não muito explícita, quando publiquei o primeiro post neste espaço e onde expliquei a origem do nome do blogue. Não foi bem um rasgo de imaginação, mas adaptação descarada do título de um documentário dedicado ao último concerto da banda nova-iorquina liderada por James Murphy. Posto isto, este texto não vai ser bem uma crítica a esse documentário, antes uma crónica de um fã de uma banda que dá graças por esse filme ter chegado ao circuito comercial, mesmo que numa mísera sessão diária num pequeno cinema lisboeta.
Em 2010 aquando do lançamento do último álbum de originais da banda, «This Is Happening», James Murphy, a mais improvável das estrelas rock (seja lá o que isso for, neste caso em concreto) deste século, começou a espalhar rumores, meio a sério, meio a brincar, de que a banda iria terminar no final da digressão de promoção ao álbum, porque estavam todos cansados da vida na estrada e tinha uma editora para gerir, a DFA, nome sonante das sonoridades electrónicas made in Nova Iorque. A ideia acabou por se concretizar no início do ano seguinte, quando os LCD Soundsystem anunciaram a marcação de um concerto de despedida para o dia 2 de Abril de 2011, em Nova Iorque. O concerto foi anunciado como o melhor funeral de sempre, à imagem de uma banda que não quis ser dramática com o final e conseguiu sair de cena no auge da popularidade, com três grandes álbuns de originais, cada um melhor do que o outro e sem dar tiros no pé.
É curioso reparar que a questão que James Murphy tem mais dificuldade em responder quando é entrevistado no documentário «Shut Up and Play the Hits - O Fim dos LCD Soundsystem» (por muitos anos que viva nunca hei-de perceber porque raio é que tanto se gosta de acrescentar frases aos títulos originais dos filmes) é precisamente qual foi o grande falhanço dos LCD Soundsystem. E a única falha que o líder da DFA se lembra foi um concerto que não conseguiram dar na Irlanda porque os voos foram afectados na altura de um certo vulcão islandês que provocou o caos no espaço aéreo mundial. Na minha experiência com a banda poderia recordar um certo concerto, numa edição de um festival de Verão em 2010, quando os rumores sobre o fim da banda já eram demasiado fortes para serem evitados em qualquer conversa sobre o assunto, onde os LCD Soundsystem foram prejudicados e praticamente impedidos de dar um concerto em condições para dar espaço a uns cabeças de cartaz que há muito deveriam ter arrumado as guitarras para dar espaço a quem realmente merecia. Mas, uma vez mais, a culpa deste mau concerto não pode ser imputada à banda que merecia mais respeito.
Esta entrevista, realizada uma semana antes do concerto, é uma das partes mais interessantes do documentário realizado por Will Lovelace e Dylan Southern, pois é aqui que o líder da banda explica como nasceram os LCD Soundsystem, o que o levou a avançar com o projecto mais além do que inicialmente previsto (a história relatada por Murphy é fantástica e espelha bem o espírito da banda até ao final), algumas das suas influências e, sobretudo, porque raio um tipo com 30 anos resolveu tornar-se estrela de rock numa idade em que a maior parte destes artistas é considerada mais do que ultrapassada. Pelo meio temos imagens do dia seguinte de James Murphy, sempre acompanhado pelo seu buldogue francês, uma das figuras mais castiças do filme, e várias sequências do último concerto da banda, o tal que eles queriam que fosse o melhor funeral de sempre.
E foi, de facto, uma bela festa. O autor destas linhas chegou a ponderar perder a cabeça (e uma boa parte da conta bancária) para apanhar um avião para Nova Iorque e assim assistir ao dito concerto. O bom senso acabou por imperar (ou talvez não) e o mais perto que estive de entrar na arena do Madison Square Garden no dia 2 de Abril de 2011 foi através do YouTube, que transmitiu o concerto em directo. Por isso, ver hoje em sala este documentário foi um pouco como recordar esse dia e esse concerto, assim como as memórias pessoais que tenho com os LCD Soundsystem. Não só o mau concerto que deram em Algés em 2010, mas também uma noite de Julho de 2007 quando o senhor James Murphy e companhia me puseram a gritar a plenos pulmões «North American Scum», na altura uma das poucas músicas que conhecia do seu reportório. E foi aí o início de uma paixão, daquelas que não conseguimos explicar porque a sentimos, que ainda perdura e só tende a aumentar a cada nova audição dos álbuns da banda. Este concerto de 2007, mesmo que no dia anterior tivesse assistido pela primeira vez a um concerto dos Arcade Fire (outra banda de eleição por aqui e cujos espectáculos ao vivo são simplesmente indescritíveis e uma verdadeira experiência que só quem já teve oportunidade de os ver sabe como são), continua a ser um daqueles que melhores memórias me traz quando me recordo de grandes concertos onde estive presente.
Só por isso, por trazer de volta, nem que seja por uma hora e pouco, uma das melhores e mais influentes bandas da última década, já valeu a pena perder tempo a ver este documentário. Agora dizer-vos se o documentário é bom ou não, terão de pedir a opinião a alguém mais imparcial, algo que neste momento não consigo ser enquanto fã acérrimo da banda. Mas se forem verdadeiros fãs dos LCD Soundsystem e do trabalho de James Murphy (mais do que nunca, o patrão da DFA passou a ser um dos meus heróis), podem ir à confiança, que não vão dar o tempo ou o dinheiro por mal empregue. Se precisarem de uma segunda opinião, falem com o senhor que estava sentado algumas cadeiras ao meu lado na sessão de hoje e literalmente dançava em cada sequência do concerto.
Em 2010 aquando do lançamento do último álbum de originais da banda, «This Is Happening», James Murphy, a mais improvável das estrelas rock (seja lá o que isso for, neste caso em concreto) deste século, começou a espalhar rumores, meio a sério, meio a brincar, de que a banda iria terminar no final da digressão de promoção ao álbum, porque estavam todos cansados da vida na estrada e tinha uma editora para gerir, a DFA, nome sonante das sonoridades electrónicas made in Nova Iorque. A ideia acabou por se concretizar no início do ano seguinte, quando os LCD Soundsystem anunciaram a marcação de um concerto de despedida para o dia 2 de Abril de 2011, em Nova Iorque. O concerto foi anunciado como o melhor funeral de sempre, à imagem de uma banda que não quis ser dramática com o final e conseguiu sair de cena no auge da popularidade, com três grandes álbuns de originais, cada um melhor do que o outro e sem dar tiros no pé.
É curioso reparar que a questão que James Murphy tem mais dificuldade em responder quando é entrevistado no documentário «Shut Up and Play the Hits - O Fim dos LCD Soundsystem» (por muitos anos que viva nunca hei-de perceber porque raio é que tanto se gosta de acrescentar frases aos títulos originais dos filmes) é precisamente qual foi o grande falhanço dos LCD Soundsystem. E a única falha que o líder da DFA se lembra foi um concerto que não conseguiram dar na Irlanda porque os voos foram afectados na altura de um certo vulcão islandês que provocou o caos no espaço aéreo mundial. Na minha experiência com a banda poderia recordar um certo concerto, numa edição de um festival de Verão em 2010, quando os rumores sobre o fim da banda já eram demasiado fortes para serem evitados em qualquer conversa sobre o assunto, onde os LCD Soundsystem foram prejudicados e praticamente impedidos de dar um concerto em condições para dar espaço a uns cabeças de cartaz que há muito deveriam ter arrumado as guitarras para dar espaço a quem realmente merecia. Mas, uma vez mais, a culpa deste mau concerto não pode ser imputada à banda que merecia mais respeito.
Esta entrevista, realizada uma semana antes do concerto, é uma das partes mais interessantes do documentário realizado por Will Lovelace e Dylan Southern, pois é aqui que o líder da banda explica como nasceram os LCD Soundsystem, o que o levou a avançar com o projecto mais além do que inicialmente previsto (a história relatada por Murphy é fantástica e espelha bem o espírito da banda até ao final), algumas das suas influências e, sobretudo, porque raio um tipo com 30 anos resolveu tornar-se estrela de rock numa idade em que a maior parte destes artistas é considerada mais do que ultrapassada. Pelo meio temos imagens do dia seguinte de James Murphy, sempre acompanhado pelo seu buldogue francês, uma das figuras mais castiças do filme, e várias sequências do último concerto da banda, o tal que eles queriam que fosse o melhor funeral de sempre.
E foi, de facto, uma bela festa. O autor destas linhas chegou a ponderar perder a cabeça (e uma boa parte da conta bancária) para apanhar um avião para Nova Iorque e assim assistir ao dito concerto. O bom senso acabou por imperar (ou talvez não) e o mais perto que estive de entrar na arena do Madison Square Garden no dia 2 de Abril de 2011 foi através do YouTube, que transmitiu o concerto em directo. Por isso, ver hoje em sala este documentário foi um pouco como recordar esse dia e esse concerto, assim como as memórias pessoais que tenho com os LCD Soundsystem. Não só o mau concerto que deram em Algés em 2010, mas também uma noite de Julho de 2007 quando o senhor James Murphy e companhia me puseram a gritar a plenos pulmões «North American Scum», na altura uma das poucas músicas que conhecia do seu reportório. E foi aí o início de uma paixão, daquelas que não conseguimos explicar porque a sentimos, que ainda perdura e só tende a aumentar a cada nova audição dos álbuns da banda. Este concerto de 2007, mesmo que no dia anterior tivesse assistido pela primeira vez a um concerto dos Arcade Fire (outra banda de eleição por aqui e cujos espectáculos ao vivo são simplesmente indescritíveis e uma verdadeira experiência que só quem já teve oportunidade de os ver sabe como são), continua a ser um daqueles que melhores memórias me traz quando me recordo de grandes concertos onde estive presente.
Só por isso, por trazer de volta, nem que seja por uma hora e pouco, uma das melhores e mais influentes bandas da última década, já valeu a pena perder tempo a ver este documentário. Agora dizer-vos se o documentário é bom ou não, terão de pedir a opinião a alguém mais imparcial, algo que neste momento não consigo ser enquanto fã acérrimo da banda. Mas se forem verdadeiros fãs dos LCD Soundsystem e do trabalho de James Murphy (mais do que nunca, o patrão da DFA passou a ser um dos meus heróis), podem ir à confiança, que não vão dar o tempo ou o dinheiro por mal empregue. Se precisarem de uma segunda opinião, falem com o senhor que estava sentado algumas cadeiras ao meu lado na sessão de hoje e literalmente dançava em cada sequência do concerto.
Etiquetas:
Crónica,
Dylan Southern,
Estreias 2012,
Will Lovelace
quinta-feira, 1 de novembro de 2012
10 Filmes: Documentários sobre música
A propósito da chegada às salas portuguesas do filme «Shut Up and Play the Hits - O Fim dos LCD Soundsystem», de Will Lovelace e Dylan Southern, proponho uma lista de documentários sobre música. Desta vez não foram bem os primeiros dez filmes dentro deste tema que me vieram à cabeça, mas sim dez documentários sobre bandas, eventos ou movimentos que me dizem alguma coisa. Claro que poderiam estar aqui outros, mas optei por deixar de fora pelo menos quatro quase obrigatórios para mim, que apenas não estão nesta lista por serem de realizadores que já surgem noutros filmes: «Joe Strummer: The Future Is Unwritten» e «Sex Pistols - O Filme!» (este é recomendadíssimo para quem quiser o fenómeno dos Sex Pistols), de Julien Temple e «Monterey Pop», de D.A. Pennebaker. Como sempre, podem deixar as vossas propostas na caixa de comentários.
Don't Look Back, de D.A. Pennebaker (1967)
Woodstock - 3 Dias de Paz, Música e Amor, de Michael Wadleigh (1970)
Gimme Shelter, de Albert Maysles, David Maysles e Charlotte Zwerin (1970)
Hype!, de Doug Pray (1996)
Live Forever, de John Dower (2003)
Glastonbury, de Julien Temple (2006)
Joy Division, de Grant Gee (2007)
Bananaz, de Ceri Levy (2008)
Lemmy, de Greg Olliver e Wes Orshoski (2010)
«No Distance Left to Run», de Will Lovelace e Dylan Southern (2010)
Etiquetas:
10 Filmes...,
Albert Maysles,
Ceri Levy,
D.A. Pennebaker,
David Maysles,
Doug Pray,
Dylan Southern,
Grant Gee,
Greg Olliver,
John Dower,
Julien Temple,
Michael Wadleigh,
Wes Orshoski,
Will Lovelace
Subscrever:
Mensagens (Atom)