domingo, 16 de setembro de 2012

O Túmulo Vazio, de Robert Wise (1945)


Para a maioria dos cinéfilos o nome de Robert Wise talvez seja mais conhecido por filmes como «Música no Coração» ou «Amor Sem Barreiras» («West Side Story»). Mas a carreira de Wise foi muito além destes dois clássicos e andou pelos mais variados géneros, incluindo o terror. Um desses exemplos é «O Túmulo Vazio», o seu terceiro filme, produzido por Val Lewton, um lendário produtor de filmes de série B em Hollywood, daqueles que gostava de controlar os seus filmes sem pedir licença aos realizadores, que foi recentemente 'homenageado' por Edgar Pêra no seu último filme, «O Barão». Neste filme, baseado num conto de Robert Louis Stevenson, a história centra-se num negócio obscuro, mas de certa forma comum, na Edimburgo do século XIX: a venda de cadáveres para as universidades de Medicina, onde os corpos que não eram reclamados nas morgues iam parar aos auditórios.

Com a escassez de matéria-prima começaram a surgir formas alternativas de encontrar cadáveres e o caso da dupla Burke e Hare (dois destes comerciantes que começaram a matar pessoas para venderem os corpos às universidades e mais tarde acabaram condenados à morte - o caso é relatado na comédia negra «Burke and Hare», o último filme realizado por John Landis e que passou no ano passado no Motelx) terá servido de base a «O Túmulo Vazio». Se no filme de Landis é a própria dupla a protagonizar o filme, no caso da obra de Robert Wise os protagonistas são o Dr. MacFarlane (Henry Danniel), um professor de Medicina, e John Gray (Boris Karloff), o seu fornecedor de cadáveres. Esta relação irá atravessar todo o filme num arco narrativo tão simples como eficaz, o suficiente para conseguir atingir o objectivo: contar uma boa história com poucos meios.

Estes poucos meios permitem criar cenários, tão ao gosto dos filmes de série B, que nos remetem para ambientes obscuros, desde pequenas ruelas pouco recomendáveis a salas onde são guardados cadáveres onde aparentemente a luz não se sente à vontade. A forma como estes cenários e as luzes são exploradas, basta ver a brutal sequência (em todos os sentidos) da morte de uma das vítimas de Gray, que não mostra o que se passa, mas ao mesmo tempo é um não mostrar que acaba por dizer tudo, ajuda bastante a levar-nos até à Edimburgo do século XIX.

Depois temos ainda direito à presença de dois 'monstros' do cinema de terror: Boris Karloff, naquela que é considerada por muitos como uma das suas melhores interpretações, e o seu grande rival Bela Lugosi, que não tem tanto destaque no filme. Apesar de ter a sua importância, o seu papel acaba por ser mínimo. Mas, reza a lenda, este foi bastante cortado na sala de montagem.

Em suma, este filme de Robert Wise tem vários atractivos que o tornam bastante recomendável: não só é uma obra muito diferente dos filmes mais conhecidos do cineasta, mas também um bom filme de terror, que conta com a presença de um dos seus maiores nomes, Boris Karloff, também ele num registo bastante diferente do seu mais conhecido Frankenstein. Só é pena não ter havido mais espaço para Bela Lugosi, com quem nunca terá tido uma grande relação, apesar de ambos terem participado juntos noutros filmes.

Classificação: 4/5

2 comentários:

  1. Muito bem. Também gosto muito deste filme --- há qualquer coisa no preto e branco do Wise que o leva mais longe que muitos dos seus contemporâneos.

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  2. Adorei o filme e a cópia que passaram na Cinemateca estava excepcional. E neste filme o preto e branco funciona na perfeição, sem dúvida. Conheço pouco do Wise, mas o que tenho vindo a descobrir está a valer a pena.

    Cumprimentos

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