sábado, 27 de abril de 2013

IndieLisboa 2013, Dia 9: Geeks ao poder

O nono dia de IndieLisboa trouxe algumas desilusões («A Batalha de Tabatô», de João Viana, e «Ape», de Joel Potrykus) e uma boa comédia indie que recupera o espírito geek da década de 1980 («Computer Chess», de Andrew Bujalski).


Praticamente chegado de Berlim, onde recebeu uma menção especial naquele que é um dos principais festivais de cinema do mundo, «A Batalha de Tabatô» era à partida mais um dos filmes obrigatórios do IndieLisboa este ano. Estreia de João Viana nas longas metragens, o filme relata a chegada de um homem à Guiné Bissau para assistir ao casamento da filha e que aos poucos começa a reviver o seu passado de guerra colonial que o fez abandonar o país. Filmado a preto e branco, com excepção de algumas sequências onde a guerra é representada em tons de vermelho, «A Batalha de Tabatô» é um filme onde os fantasmas do passado e do presente andam lado a lado e procuram uma certa reconciliação que acaba por chegar através da música, na aldeia remota de Tabatô, onde decorre parte da acção.

Talvez o facto de «A Batalha de Tabatô» ter chegado ao festival com uma aura de filme especial tenha elevado demasiado as expectativas em relação ao filme. A verdade é que não há nenhum rasgo que o torne um dos grandes filmes que passaram pelo IndieLisboa este ano. Antes um objecto curioso que continua a desbravar territórios como os de «Tabu», de Miguel Gomes, que nos levou a olhar de novo para África, mas com menos sucesso. Neste caso João Viana não conta uma história de amor protagonizada pelos colonos, antes uma história alicerçada na cultura local, como que um regresso às origens, num conto pacifista em que defende as tradições locais, destruídas com a colonização. Tem alguns bons pormenores, é certo, mas ao mesmo tempo as suas fragilidades saltam à vista, em grande parte graças a interpretações demasiado simples, que acabam por se tornar o pior aspecto do filme.

Classificação: 3/5


Completamente diferente é o universo de «Computer Chess». Passado num fim de semana da década de 1980, o mais recente filme de Andrew Bujalski tem como cenário um torneio onde várias equipas de informáticos apresentam os seus programas de xadrez mais recentes. O objectivo é descobrir qual o melhor programa de xadrez em competição, através de várias partidas onde as máquinas se defrontam entre si, sendo que além do prémio final o vencedor irá ter a oportunidade de defrontar um jogador humano, como tem acontecido nas anteriores edições do torneio anual. Desta vez os computadores estão mais evoluídos e não se sabe se pela primeira vez as máquinas vão conseguir bater o homem ou não.

Povoado pelas mais estranhas personagens, entre as quais um grupo de auto-ajuda que escolheu o mesmo hotel para se reunir naquele fim de semana, «Computer Chess» é a comédia geek por excelência e dificilmente terá rival à altura neste campo. Todo o universo dos programadores informáticos daquela época é recriado magistralmente por Andrew Bujalski, não só na forma como o filme nos é apresentado (a preto e branco e em vídeo), mas também nos delirantes diálogos entre as personagens, que vivem apenas para aquilo que fazem. As rivalidades, a presença de um estranho programador independente, aparentemente não tão geek como os outros concorrentes, e o destaque dado à primeira mulher a participar no torneio (a grande curiosidade daquela edição do torneio, sempre a ser destacada pelo apresentador), está tudo lá para nos mostrar o maravilhoso mundo da programação informática nos seus primórdios. Continua a não ser uma obra-prima que vamos levar do Indie em 2013, mas de certeza que vai ser uma das boas recordações que vamos levar do festival este ano.

Classificação: 4/5


Continuando nos EUA, o nono dia de IndieLisboa terminou com «Ape», uma comédia negra sobre um jovem comediante sem sucesso, que tem mais jeito para atear fogos do que para contar piadas. A obra de estreia de Joel Potrykus, também ele um ex-comediante sem sucesso, pertence ao mesmo universo de «The First Winter»: um filme completamente independente, feito por amigos através de uma produtora própria. E, tal como o filme canadiano, não vive para as expectativas, mesmo sendo um filme um pouco melhor. Por muito que se esforce o actor principal, Joshua Burge, que encarna na perfeição o comediante pirómano azarado, «Ape» foi um dos filmes mais fracos a passar pelo festival. Mas não deixa de ser a prova de que quando um grupo de amigos se junta para fazer um filme (rodado ao longo de três meses, durante fins de semana e folgas de todos os envolvidos, e com um orçamento baixíssimo - 2 mil dólares, mais algum dinheiro para pós-produção -, segundo explicou o produtor no final da sessão) consegue fazê-lo. Mesmo que o resultado não seja bom, tem esse mérito de manter o espírito indie.

Classificação: 2/5

2 comentários:

  1. A Batalha de Tabatô não correspondeu mesmo ao cunho que tanto lhe apregoavam. Não é que seja um mau filme, mas realmente esperava-se muito mais deste produto tão elogiado. Mas adorei certos planos, eram belíssimos.

    Cumprimentos,
    Rafael Santos
    Memento mori

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    1. Foi uma pequena desilusão, sobretudo por estar com a tal aura vinda de Berlim e depois acaba por ser algo sem sal. É que nem sequer há por ali quase nada que me tenha deixado cativado, mesmo tendo alguns temas que podiam estar bem trabalhados.

      Cumprimentos,
      PMF

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