Nem sempre é comum, mas há genéricos que nos marcam quando vemos um determinado filme. Por vezes o próprio genérico inicial, que apenas pretende servir de apresentação dos actores e técnicos de um filme, acaba por ser mais interessante do que o filme em si. Com esta rubrica pretendo apresentar alguns dos genéricos que se enquadram nesta categoria e começo por «As Ligações Perigosas», a adaptação do livro «Ligações Perigosas», escrito por Pierre Choderlos de Laclos em 1782, assinada por Roger Vadim.
Protagonizado por Jeanne Moreau e Gerard Phillipe, esta adaptação transpõe o conto original para o final dos anos 1950, no que acaba por ser uma variante bem distante de duas adaptações da mesma obra realizadas posteriormente e talvez mais conhecidas actualmente: «Ligações Perigosas», de Stephen Frears, e «Valmont», de Milos Forman.
O que é curioso neste genérico inicial é o recurso a um tabuleiro de xadrez por onde a câmara 'passeia' apresentando os nomes dos actores e da equipa técnica no meio das peças que correspondem ao papel que cada um irá desempenhar. Esta metáfora do xadrez não poderia ser mais adequada para o filme onde os jogos de intrigas começam no primeiro frame e apenas acabam no último. Em pano de fundo ouvimos o jazz de Thelonious Monk.
Como não consegui encontrar on-line um vídeo apenas com este genérico inicial, para o incluir no final do post, deixo-vos o link para o YouTube onde é possível encontrar o filme completo. Desta forma os mais curiosos podem aproveitar para ver o resto do filme.
quarta-feira, 31 de outubro de 2012
terça-feira, 30 de outubro de 2012
Assim se trata o Cinema em Portugal
Duas péssimas notícias surgiram hoje sobre dois dos principais meios de divulgação do Cinema em Portugal. A Norte, o director do Fantasporto, Mário Dorminsky, lançou um apelo, via Facebook, a todos os fãs de um dos principais e mais antigos festivais de cinema em Portugal para ajudarem o Fantas a garantir a sua sustentabilidade do evento. Mais a Sul, a Cinemateca Portuguesa apresentou hoje o seu programa mensal, relativo ao mês de Novembro, com uma diferença: desta vez o programa apenas estará disponível para consulta em versão digital, no site da Cinemateca, em vez da habitual versão em papel. Sobre esta decisão a Cinemateca colocou a seguinte nota na capa do programa: «Em cumprimento do Despacho do Senhor Ministro de Estado e das Finanças, de 12 de setembro, vimo-nos obrigados a suspender a impressão do Jornal Cinemateca deste mês.»
Duas notícias que vêm assombrar, ainda mais, o mundo da Cultura em Portugal. Neste caso concreto o Cinema, a paixão que une o autor deste espaço e muitos dos que por aqui passam enquanto leitores. Entretanto parece que toda a gente está preocupada com a nova trilogia da «Guerra da Estrelas», anunciada hoje depois de se saber que George Lucas resolveu vender a LucasFilm à Disney por uns trocos (3 mil milhões de euros, coisa pouca). Que a força esteja com o Fantasporto e com a Cinemateca Portuguesa, é tudo o que deste lado se deseja a estas duas grandes instituições que se dedicam a mostrar Cinema em Portugal e que merecem todo o nosso apoio enquanto cinéfilos que ainda sonhamos com espaços onde seja possível continuar ver filmes em sala, seja em que condições for ou em que lugar for.
Duas notícias que vêm assombrar, ainda mais, o mundo da Cultura em Portugal. Neste caso concreto o Cinema, a paixão que une o autor deste espaço e muitos dos que por aqui passam enquanto leitores. Entretanto parece que toda a gente está preocupada com a nova trilogia da «Guerra da Estrelas», anunciada hoje depois de se saber que George Lucas resolveu vender a LucasFilm à Disney por uns trocos (3 mil milhões de euros, coisa pouca). Que a força esteja com o Fantasporto e com a Cinemateca Portuguesa, é tudo o que deste lado se deseja a estas duas grandes instituições que se dedicam a mostrar Cinema em Portugal e que merecem todo o nosso apoio enquanto cinéfilos que ainda sonhamos com espaços onde seja possível continuar ver filmes em sala, seja em que condições for ou em que lugar for.
Looper - Reflexo Assassino, de Rian Johnson (2012)
Correndo o risco de ser um pouco provocador, começo este texto por questionar se «Looper - Reflexo Assassino» será um daqueles filmes de ficção científica pura, que irá ser visto no futuro como um dos clássicos do género, recordado a par de filmes que alcançaram o estatuto de culto, como «Blade Runner», nos anos 1980, «12 Macacos», na década de 1990, ou «Matrix», mais recentemente. As comparações com estes dois últimos têm sido feitas um pouco por todo o lado mas parecem-me, tal como diria Mark Twain sobre os rumores em torno da sua morte, manifestamente exageradas.
Realizado por Rian Johnson, que nos tinha apresentado há alguns anos um bem recebido «Os Irmãos Bloom» (filme interessante que teve um hype um pouco exagerado, a meu ver, mas nada que um segundo visionamento no futuro não resolva para confirmar), o novo filme deste cineasta tem à partida uma vantagem para chegar a um público mais vasto que não apenas os adeptos hard core da ficção científica: não complica demasiado na hora de explicar os ‘termos mais técnicos’ do mundo que é retratado. Neste caso entramos num mundo onde as viagens no tempo são possíveis mas ilegais, porque começaram a ser utilizadas por grupos de criminosos para fins menos próprios: enviar as suas vítimas para 30 anos no passado. Uma vez neste passado as vítimas são mortas por assassinos profissionais, chamados loopers, e despachadas sem deixar rasto no futuro, de onde vêm, pois deixaram de existir nesse mesmo futuro porque morreram há 30 anos.
Tudo muito simples e eficaz até ao dia em que um destes loopers, Joe (Joseph Gordon-Levitt), recebe como vítima a sua versão no futuro, interpretada por Bruce Willis, e acaba por não saber bem o que fazer. Contar seja o que for do filme a partir daqui é estragar completamente a surpresa de quem for ver «Looper - Reflexo Assassino», cuja história acaba por aproximá-lo mais do cinema clássico do que propriamente da ficção científica. Esticando um pouco mais a corda do exagero (ou talvez não), quase que podemos acrescentar que aqui as viagens do tempo são o macguffin, termo tão caro ao mestre Hitchcock, que apenas está no filme como pretexto para contar a história.
Daí que este «Looper - Reflexo Assassino» possa vir a ser uma desilusão para quem for à procura de um filme de ficção científica pura e dura, com grandes teorias sobre a humanidade e as tecnologias, que não deixam de estar presentes, mas não são de todo o que mais importa no filme, que consegue ser uma obra que garante o que lhe é pedido: bom entretenimento, sem grandes complicações. E como seria fácil, como tem acontecido noutros títulos do género, Rian Johnson cair no caminho da complicação para nos apresentar o mundo de «Looper - Reflexo Assassino». Aqui não há nada disso, apenas um filme que irá deliciar quem pretende assistir a uma boa fita bem diferente do que é normal no mainstream norte-americano, onde, se formos obrigados a colocar o mais recente filme do realizador numa categoria, não ficaria nada mal.
Outra boa surpresa, ou talvez não para quem tem acompanhado o percurso de Joseph Gordon-Levitt, é a interpretação deste actor que tem vindo a cimentar uma excelente carreira ao longo dos últimos anos. Aqui arranca mais uma boa interpretação, no papel de ‘herói de acção’, bem diferente do que lhe conhecíamos. Esta interpretação apenas acaba por ser de certa forma eclipsada por uma caracterização um pouco exagerada, que serve para tornar o actor mais parecido com Bruce Willis. Este é mesmo mais um daqueles casos em que a caracterização não traz nada de novo ao filme e acaba por nos distrair do essencial. Fora isso, «Looper - Reflexo Assassino» tem tudo para ser um dos bons candidatos a outsider do ano.
Classificação: 4\5
segunda-feira, 29 de outubro de 2012
Dúvida da Semana #1
Depois de ler isto, lembrei-me de uma curiosa questão: quando Quentin Tarantino tiver realizado um filme de homenagem a todos os seus géneros de eleição, como tem feito na perfeição ao longo dos últimos anos, o que fará o realizador de «Pulp Fiction» a seguir?
domingo, 28 de outubro de 2012
Grindhouse #2 S-21, la machine de mort Khmère rouge e Duch, le maître des forges de l'enfer, de Rithy Panh
Nesta segunda sessão de Grindhouse entramos no território do documentário. Mesmo que não tenha acompanhado de perto a edição deste ano do DocLisboa, que termina hoje, não podia deixar passar em claro aquele que é um dos mais importantes festivais de Cinema em Portugal, dedicado exclusivamente ao género do documentário. Para tal dedico este post da rubrica Grindhouse a dois documentários realizados por Rithy Pahn, que passaram pelo festival: «S-21, la machine de mort Khmère rouge», há alguns anos, e «Duch, le maître des forges de l'enfer», na presente edição do certame.
Nascido em 1964 em Phnom Pehn, no Cambodja, Rithy Pahn teve a sorte de ser um dos cambodjanos a escapar vivo aos terrores do regime dos Khmers Vermelhos, um partido liderado por Pol Pot que dominou o país entre 1975 e 1979 e cuja doutrina provocou o genocídio de uma grande fatia da população do país: as estimativas variam entre os 850 mil e os 2.5 milhões de pessoas mortas em campos de trabalho forçado, pela fome, execuções, tortura e doenças. Este episódio negro da História da Humanidade tem sido abordado por Rithy Pahn nos seus filmes, tanto documentais como ficcionais. Dois dos mais conhecidos, que são destacados nesta rubrica, passaram precisamente pelo DocLisboa em anos diferentes.
«S-21, la machine de mort Khmère rouge», realizado em 2003, leva-nos a um dos centros de detenção dos Khmers Vermelhos, situado em Phnom Pehn e onde terão morrido quase 13 mil pessoas. Depois de um breve enquadramento histórico, o documentário junta dois sobreviventes do S-21 e membros do partido que trabalharam (guardas, fotógrafos, médicos e interrogadores) neste centro de detenção, uma antiga escola que funciona actualmente como um museu em memória das vítimas daquele regime. Ao longo de quase duas horas os sobreviventes questionam os seus captores sobre as razões que os levaram a fazer o que fizeram durante aquele período.
Através destes diálogos tomamos conhecimento dos horrores do regime, com descrições de sessões de tortura e a leitura de relatórios sobre os prisioneiros, relatos impressionantes onde tanto os sobreviventes como os carrascos se questionam quem eram as verdadeiras vítimas: quem tinha o azar de ser considerado inimigo do Partido (e estava à partida condenado não só à morte mas a longas sessões de tortura cujo objectivo era levar os prisioneiros a denunciarem outros inimigos do partido. Na maior parte das vezes bastava ser familiar de alguém que tivesse sido preso para ser considerado inimigo do partido, fosse qual fosse o grau de parentesco, para ir parar às mãos dos Khmers Vermelhos) ou quem era guarda num destes campos e afirmava que preferia morrer na frente de combate a ter de fazer o que o mandavam fazer neste centro de detenção. Há pelo menos um dos guardas que o afirma, apesar de muitos admitirem que o faziam porque tinham medo de ter o mesmo destino dos prisioneiros ou que apenas seguiam a doutrina que lhes era incutida desde sempre e que nunca era posta em causa por ninguém.
Sempre sem intervir directamente nos diálogos, dando destaque aos 'protagonistas' o realizador conseguiu com «S-21, la machine de mort Khmère rouge» fazer um retrato chocante do que se passava num local destes e que ficará marcado para sempre como uma pequena parte de um período negro na História do Século XX. Os sobreviventes, que em diversas sequências do filme questionam o porquê daquelas práticas, apenas pedem que estes acontecimentos não sejam esquecidos, preferindo salvaguardar a memória para as gerações futuras se recordarem do que se passou, em vez de alguém lhes vir pedir perdão por algo que não podem recuperar e que podia ter sido evitado.
Em 2011 Rithy Pahn voltou ao local do crime, desta vez para entrevistar Kang Kek Iew, também conhecido pelo nome de guerra Duch, o director do centro de detenção S-21 e um dos nomes que é referido por diversas vezes no documentário «S-21, la machine de mort Khmère rouge», sem contudo chegar a aparecer directamente no mesmo. Em «Duch, le maître des forges de l'enfer» o estilo é completamente diferente do anterior. Duch (o primeiro membro dos Khmers Vermelhos a ser chamado à Justiça, que o condenou primeiro a 30 anos de prisão por crimes contra a Humanidade, sentença que no início deste ano foi alargada para prisão perpétua) fala na primeira pessoa sobre o papel que teve não só enquanto membro do regime, mas também enquanto líder daquele campo de detenção, considerado um dos mais importantes dos Khmers Vermelhos, pois juntou num mesmo complexo todas as anteriores prisões de Phonm Pehn.
Em vez de imagens dentro do centro de detenção, como acontecia no documentário anterior de Rithy Pahn sobre o S-21, «Duch, le maître des forges de l'enfer» centra-se quase em exclusivo na figura de Duch, que é confrontado com cópias de fotografias dos prisioneiros e de figuras do regime, assim como relatórios escritos e assinados por ele mesmo à medida que vai falando dos acontecimentos. As únicas intervenções externas vão surgindo num ecrã de computador, onde o antigo responsável pelo centro de detenção assiste a imagens de «S-21, la machine de mort Khmère rouge» e relatos de outras pessoas envolvidas nas actividades do S-21, algumas das quais são negadas por Duch, que chega a rir-se das declarações em alguns casos.
As imagens de arquivo, já presentes no documentário de 2003, aqui ganham mais peso e estão bastante presentes ao longo do filme para mostrar alguns dos protagonistas do regime. Ao contrário de «S-21, la machine de mort Khmère rouge», que pretendia mostrar o horror dos campos de detenção dos Khmers Vermelhos, «Duch, le maître des forges de l'enfer» é o retrato de uma das figuras mais sinistras de um regime responsável por um período que tão depressa não será esquecido pela população do Cambodja. Apesar de serem documentários diferentes no seu formato, vistos em conjunto formam um interessante díptico que ajuda a compreender melhor o S-21, apenas um dos vários centros de detenção criados pelos Khmers Vermelhos entre 1975 e 1979, e o que se passou naquele local.
E o visionamento destes filmes, mesmo que por vezes nos deixe com o estômago às voltas devido às horríveis descrições das práticas que são feitas, tanto em «S-21, la machine de mort Khmère rouge», pelos sobreviventes e pelos guardas, como em «Duch, le maître des forges de l'enfer», por um dos líderes do centro de detenção, é fundamental para quem quiser saber mais sobre este período histórico. Quanto ao objectivo de preservar a memória destes acontecimentos, estas obras de Rithy Pahn não falham, mesmo que por vezes sejam difíceis de ver.
«S-21, la machine de mort Khmère rouge», realizado em 2003, leva-nos a um dos centros de detenção dos Khmers Vermelhos, situado em Phnom Pehn e onde terão morrido quase 13 mil pessoas. Depois de um breve enquadramento histórico, o documentário junta dois sobreviventes do S-21 e membros do partido que trabalharam (guardas, fotógrafos, médicos e interrogadores) neste centro de detenção, uma antiga escola que funciona actualmente como um museu em memória das vítimas daquele regime. Ao longo de quase duas horas os sobreviventes questionam os seus captores sobre as razões que os levaram a fazer o que fizeram durante aquele período.
Através destes diálogos tomamos conhecimento dos horrores do regime, com descrições de sessões de tortura e a leitura de relatórios sobre os prisioneiros, relatos impressionantes onde tanto os sobreviventes como os carrascos se questionam quem eram as verdadeiras vítimas: quem tinha o azar de ser considerado inimigo do Partido (e estava à partida condenado não só à morte mas a longas sessões de tortura cujo objectivo era levar os prisioneiros a denunciarem outros inimigos do partido. Na maior parte das vezes bastava ser familiar de alguém que tivesse sido preso para ser considerado inimigo do partido, fosse qual fosse o grau de parentesco, para ir parar às mãos dos Khmers Vermelhos) ou quem era guarda num destes campos e afirmava que preferia morrer na frente de combate a ter de fazer o que o mandavam fazer neste centro de detenção. Há pelo menos um dos guardas que o afirma, apesar de muitos admitirem que o faziam porque tinham medo de ter o mesmo destino dos prisioneiros ou que apenas seguiam a doutrina que lhes era incutida desde sempre e que nunca era posta em causa por ninguém.
Sempre sem intervir directamente nos diálogos, dando destaque aos 'protagonistas' o realizador conseguiu com «S-21, la machine de mort Khmère rouge» fazer um retrato chocante do que se passava num local destes e que ficará marcado para sempre como uma pequena parte de um período negro na História do Século XX. Os sobreviventes, que em diversas sequências do filme questionam o porquê daquelas práticas, apenas pedem que estes acontecimentos não sejam esquecidos, preferindo salvaguardar a memória para as gerações futuras se recordarem do que se passou, em vez de alguém lhes vir pedir perdão por algo que não podem recuperar e que podia ter sido evitado.
Em 2011 Rithy Pahn voltou ao local do crime, desta vez para entrevistar Kang Kek Iew, também conhecido pelo nome de guerra Duch, o director do centro de detenção S-21 e um dos nomes que é referido por diversas vezes no documentário «S-21, la machine de mort Khmère rouge», sem contudo chegar a aparecer directamente no mesmo. Em «Duch, le maître des forges de l'enfer» o estilo é completamente diferente do anterior. Duch (o primeiro membro dos Khmers Vermelhos a ser chamado à Justiça, que o condenou primeiro a 30 anos de prisão por crimes contra a Humanidade, sentença que no início deste ano foi alargada para prisão perpétua) fala na primeira pessoa sobre o papel que teve não só enquanto membro do regime, mas também enquanto líder daquele campo de detenção, considerado um dos mais importantes dos Khmers Vermelhos, pois juntou num mesmo complexo todas as anteriores prisões de Phonm Pehn.
Em vez de imagens dentro do centro de detenção, como acontecia no documentário anterior de Rithy Pahn sobre o S-21, «Duch, le maître des forges de l'enfer» centra-se quase em exclusivo na figura de Duch, que é confrontado com cópias de fotografias dos prisioneiros e de figuras do regime, assim como relatórios escritos e assinados por ele mesmo à medida que vai falando dos acontecimentos. As únicas intervenções externas vão surgindo num ecrã de computador, onde o antigo responsável pelo centro de detenção assiste a imagens de «S-21, la machine de mort Khmère rouge» e relatos de outras pessoas envolvidas nas actividades do S-21, algumas das quais são negadas por Duch, que chega a rir-se das declarações em alguns casos.
As imagens de arquivo, já presentes no documentário de 2003, aqui ganham mais peso e estão bastante presentes ao longo do filme para mostrar alguns dos protagonistas do regime. Ao contrário de «S-21, la machine de mort Khmère rouge», que pretendia mostrar o horror dos campos de detenção dos Khmers Vermelhos, «Duch, le maître des forges de l'enfer» é o retrato de uma das figuras mais sinistras de um regime responsável por um período que tão depressa não será esquecido pela população do Cambodja. Apesar de serem documentários diferentes no seu formato, vistos em conjunto formam um interessante díptico que ajuda a compreender melhor o S-21, apenas um dos vários centros de detenção criados pelos Khmers Vermelhos entre 1975 e 1979, e o que se passou naquele local.
E o visionamento destes filmes, mesmo que por vezes nos deixe com o estômago às voltas devido às horríveis descrições das práticas que são feitas, tanto em «S-21, la machine de mort Khmère rouge», pelos sobreviventes e pelos guardas, como em «Duch, le maître des forges de l'enfer», por um dos líderes do centro de detenção, é fundamental para quem quiser saber mais sobre este período histórico. Quanto ao objectivo de preservar a memória destes acontecimentos, estas obras de Rithy Pahn não falham, mesmo que por vezes sejam difíceis de ver.
sábado, 27 de outubro de 2012
O Gebo e a Sombra, de Manoel de Oliveira (2012)
Manoel de Oliveira não é, de todo, um dos cineastas mais populares por estes lados. Nada contra a cinematografia do veteraníssimo realizador português, cuja obra fala por si e não tem provas a dar a ninguém, muito menos a um jovem cinéfilo. Mas dada a importância do cineasta no panorama português e mundial, é sempre com agrado que vemos um dos seus filmes chegar às salas do circuito comercial e a curiosidade fala sempre mais alto na hora de escolher que filme ver em sala, no meio das dúzias de estreias que nos chegam todas as semanas.
E, neste caso, «O Gebo e a Sombra», mesmo que não fuja muito ao estilo de Oliveira, nomeadamente no recurso aos planos fixos, com excelentes enquadramentos (quase que podemos dizer que neste filme estamos perante belos quadros vivos onde as personagens ganham vida), e uma certa teatralidade na interpretação, que se nota sobretudo na primeira parte, é um daqueles filmes que nos deixa reconfortados por saber que ainda há quem consiga fazer algo assim, que aparentemente requer pouco esforço. De realçar que o elemento teatral acaba por fazer todo o sentido neste caso em concreto, pois o filme adapta a peça homónima, escrita por Raul Brandão em 1923.
Diz-se sobre esta adaptação que Manoel de Oliveira quis fazer um filme sobre os dias de hoje e os tempos conturbados que se vivem um pouco por todo o lado. Se o conseguiu ou não, apenas o tempo o dirá, o que é um facto é que «O Gebo e a Sombra» consegue ser mais do que isso. É um filme com uma história universal (não será à toa que nunca conseguimos saber, nem nos é dito, em que período decorre o filme), cuja acção tanto podia ter lugar em Portugal como em França. E Oliveira conseguiu transmitir bem essa ideia ao pôr as personagens a falar em francês mas todos os restantes elementos, como os nomes das pessoas ou o dinheiro, por exemplo, remetem para o imaginário luso.
Tal como na maior parte dos filmes do mestre português, o «Gebo e a Sombra» vive também muito das interpretações, e neste campo não podemos deixar em claro a presença de um elenco composto na sua maioria por veteranos e grandes nomes do Cinema mundial, como Michael Lonsdale, Jeanne Moreau e Claudia Cardinale, ladeados por Luís Miguel Cintra, Leonor Silveira e Ricardo Trêpa, que consegue surpreender pela positiva, pois está um bocadinho acima do que nos tem habituado em filmes recentes do avô. Mas é Lonsdale que domina completamente o filme, ao interpretar o pobre e honrado Gebo, um homem que vive na sombra do filho desaparecido, e esconde da mulher e da nora, com quem vive numa humilde casa, o pouco que vai sabendo sobre o que vai acontecendo ao seu filho para não as envergonhar.
Dizer que este é apenas um filme sobre a pobreza e os tempos difíceis é simplificar demasiado tudo o que «O Gebo e a Sombra» é, um filme sobre um homem que não abdica dos seus princípios, mesmo sabendo que estes não o levarão a lado nenhum, ao contrário de outros, que aproveitaram sempre que puderam para subir na vida através da cobiça. E Oliveira conseguiu fazer um retrato magistral desta personagem com a ajuda de uma soberba interpretação do actor francês, que dá vida a Gebo.
Classificação: 4\5
E, neste caso, «O Gebo e a Sombra», mesmo que não fuja muito ao estilo de Oliveira, nomeadamente no recurso aos planos fixos, com excelentes enquadramentos (quase que podemos dizer que neste filme estamos perante belos quadros vivos onde as personagens ganham vida), e uma certa teatralidade na interpretação, que se nota sobretudo na primeira parte, é um daqueles filmes que nos deixa reconfortados por saber que ainda há quem consiga fazer algo assim, que aparentemente requer pouco esforço. De realçar que o elemento teatral acaba por fazer todo o sentido neste caso em concreto, pois o filme adapta a peça homónima, escrita por Raul Brandão em 1923.
Diz-se sobre esta adaptação que Manoel de Oliveira quis fazer um filme sobre os dias de hoje e os tempos conturbados que se vivem um pouco por todo o lado. Se o conseguiu ou não, apenas o tempo o dirá, o que é um facto é que «O Gebo e a Sombra» consegue ser mais do que isso. É um filme com uma história universal (não será à toa que nunca conseguimos saber, nem nos é dito, em que período decorre o filme), cuja acção tanto podia ter lugar em Portugal como em França. E Oliveira conseguiu transmitir bem essa ideia ao pôr as personagens a falar em francês mas todos os restantes elementos, como os nomes das pessoas ou o dinheiro, por exemplo, remetem para o imaginário luso.
Tal como na maior parte dos filmes do mestre português, o «Gebo e a Sombra» vive também muito das interpretações, e neste campo não podemos deixar em claro a presença de um elenco composto na sua maioria por veteranos e grandes nomes do Cinema mundial, como Michael Lonsdale, Jeanne Moreau e Claudia Cardinale, ladeados por Luís Miguel Cintra, Leonor Silveira e Ricardo Trêpa, que consegue surpreender pela positiva, pois está um bocadinho acima do que nos tem habituado em filmes recentes do avô. Mas é Lonsdale que domina completamente o filme, ao interpretar o pobre e honrado Gebo, um homem que vive na sombra do filho desaparecido, e esconde da mulher e da nora, com quem vive numa humilde casa, o pouco que vai sabendo sobre o que vai acontecendo ao seu filho para não as envergonhar.
Dizer que este é apenas um filme sobre a pobreza e os tempos difíceis é simplificar demasiado tudo o que «O Gebo e a Sombra» é, um filme sobre um homem que não abdica dos seus princípios, mesmo sabendo que estes não o levarão a lado nenhum, ao contrário de outros, que aproveitaram sempre que puderam para subir na vida através da cobiça. E Oliveira conseguiu fazer um retrato magistral desta personagem com a ajuda de uma soberba interpretação do actor francês, que dá vida a Gebo.
Classificação: 4\5
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Claudia Cardinale,
Crítica,
Estreias 2012,
Jeanne Moreau,
Leonor Silveira,
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Manoel de Oliveira,
Michael Lonsdale,
Raul Brandão,
Ricardo Trêpa
sexta-feira, 26 de outubro de 2012
quinta-feira, 25 de outubro de 2012
TCN Blog Awards 2012: Shut up and watch the movies nomeado na categoria de Novo Blogue de Cinema/TV
É com enorme prazer que vejo o meu blogue nomeado na categoria Novo Blogue de Cinema/TV da edição deste ano dos TCN Blog Awards. Além desta nomeação, estou também presente, na qualidade de participante, em duas das iniciativas nomeadas na categoria de Melhor Iniciativa: Cinema Bloggers Awards e Círculo de Críticos Online Portugueses.
A todos os restantes nomeados, nesta e noutras categorias, os meus sinceros parabéns.
A lista completa dos nomeados pode ser consultada no Cinema Notebook e a votação decorre na barra lateral do mesmo blogue. Quem quiser votar neste cantinho, fica aqui o meu apelo e não posso fazer mais a não ser agradecer-vos o apoio. A campanha fica por aqui e que vençam os melhores.
A todos os restantes nomeados, nesta e noutras categorias, os meus sinceros parabéns.
A lista completa dos nomeados pode ser consultada no Cinema Notebook e a votação decorre na barra lateral do mesmo blogue. Quem quiser votar neste cantinho, fica aqui o meu apelo e não posso fazer mais a não ser agradecer-vos o apoio. A campanha fica por aqui e que vençam os melhores.
10 filmes: Infância
O objectivo desta rubrica é apresentar 10 filmes temáticos. Não são necessariamente obras-primas, nem estes posts pretendem ser tops definitivos. A ordem é a cronológica, precisamente para não dar mais ou menos destaque a um determinado filme. São simplesmente os dez primeiros filmes que me vieram à cabeça sobre um determinado tema e quase todos bastante recomendáveis. A proposta de hoje são filmes protagonizados por crianças. Convido-vos também, se quiserem, a partilhar na caixa de comentários outras propostas. Estas são as minhas:
O Garoto de Charlot, de Charlie Chaplin (1921)
Eu Nasci, Mas..., de Yasujiro Ozu (1932)
Zero em Comportamento, de Jean Vigo (1933)
Aniki Bóbó, de Manoel de Oliveira (1942)
Os Quatrocentos Golpes, de François Truffaut (1959)
E.T. - O Extra-Terrestre, de Steven Spielberg (1982)
Os Goonies, de Richard Donner (1985)
Onde é a Casa do Amigo?, de Abbas Kiarostami (1987)
Mel, de Semi Kaplanoglu (2010)
Nana, de Valérie Massadian (2011)
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quarta-feira, 24 de outubro de 2012
Bill Murray e Wes Anderson: combinação vencedora
As várias faces de Bill Murray nos filmes de Wes Anderson: (da esquerda para a direita, respeitando a ordem de entrada de Murray nos filmes Anderson) Herman Blume, Raleigh St. Clair, Steve Zissou, The Businessman, Badger e Walt Bishop.
Via Miami International Film Festival
Via Miami International Film Festival
Descubra as diferenças #2
Frankenstein, de James Whale (1931)
Frankenweenie, de Tim Burton (2012)
Mais do que um bom filme de animação, a mais recente obra de Tim Burton a chegar às salas, «Frankenweenie», é também uma homenagem aos clássicos filmes de terror. A inspiração máxima do realizador de «Eduardo Mãos de Tesoura» foi a versão de «Frankenstein» assinada por James Whale em 1931, talvez a melhor adaptação do livro de Mary Shelley.
Uma das cenas principais de «Frankenweenie» tem lugar quando o jovem Victor dá vida ao seu cão, Sparky. Adaptada à história de uma criança, a sequência é um bocado mais leve do que a do filme de James Whale. O sótão de Victor pouco se assemelha ao laboratório Doutor Frankenstein, onde este dá vida ao monstro através de uma parafernália de instrumentos que ajudam a dar uma imagem mais sombria e de respeito ao cenário. No caso de Victor, a energia é captada com a ajuda dos mais variados electrodomésticos da mãe, dando um tom de certa forma mais divertido a toda a cena.
Outra das diferenças entre os dois filmes diz respeito à presença de outras personagens em cena. Se Victor realiza a sua experiência sozinho, já o Doutor Frankenstein conta com um ajudante corcunda e a presença de alguns habitantes da localidade onde vive para mostrar ao mundo o resultado da experiência. Apesar de ambas as cenas serem completamente diferentes, não deixam de ser igualmente fascinantes na forma como recriam o episódio central dos dois filmes: o regresso de uma criatura do mundo dos mortos.
segunda-feira, 22 de outubro de 2012
Frankenweenie, de Tim Burton (2012)
2012 está a ser um ano de regresso ao passado para Tim Burton. Depois de ter estreado «Sombras da Escuridão», adaptando ao grande ecrã, de forma bastante razoável, uma das séries de televisão que mais o marcaram na infância, o realizador que conseguiu conquistar Hollywood através de uma obra marcada por tons sombrios, apresentou agora um projecto que já vem desde os primórdios da sua carreira, quando ainda era um desconhecido à procura da sua oportunidade no Cinema. Corria o ano de 1984 quando o jovem Tim Burton foi despedido pela Disney depois de ter realizado uma curta-metragem intitulada «Frankenweenie». A justificação do estúdio criado por Walt Disney foi que o realizador tinha gasto dinheiro da empresa num projecto que não era vendável para um público mais novo, pois era demasiado assustador. A curta apenas teve o devido crédito anos mais tarde, já Tim Burton era um nome consagrado, quando foi incluída numa edição especial do DVD de «O Estranho Mundo de Jack».
Mas, como o destino dá muitas voltas, quase 30 anos depois deste despedimento, a Disney resolveu dar luz verde a Tim Burton para realizar uma longa metragem baseada em «Frankenweenie», que acaba de chegar às salas de cinema. À semelhança de «A Noiva Cadáver», a outra animação realizada por Burton (também podíamos quase incluir aqui «O Estranho Mundo de Jack», filme de Henry Selick, mas quase sempre associado ao criador de «Eduardo Mãos de Tesoura», que escreveu a história original), o filme recorre à técnica stop motion, uma das paixões do cineasta neste género de Cinema.
Filmado a preto e branco, «Frankenweenie» não só recupera o espírito da curta original, apesar de também ser em 3D, como acaba por ser uma homenagem a um dos filmes favoritos de Burton: «Frankenstein», na versão de 1931, realizada por James Whale e protagonizada pelo ícone do terror clássico Boris Karloff. Com a diferença de que neste caso o 'herói' não é um cientista que realiza experiências para dar vida a um corpo morto, mas um rapaz que, utilizando o mesmo método, tenta ressuscitar o seu cão, personagem principal dos seus filmes caseiros, que fora atropelado.
Se a ideia original da Disney era fazer um filme para crianças, o resultado final não parece o mais adequado para este tipo de público, apesar de a moral do filme estar presente, de modo um pouco forçado, e alertar os mais novos para os perigos da má utilização de algo, neste caso a Ciência. Mas mal não faz, para quem é mais novo, apanhar um ou outro susto, se no final levar na memória a história de amizade entre um miúdo e o seu melhor amigo canino. Já um público mais adulto e fã do imaginário dos filmes de terror, sobretudo os grandes clássicos do género, irá divertir-se e perceber um pouco melhor as inúmeras referências a personagens e cenas destes filmes.
Tecnicamente «Frankenweenie» está sublime, mesmo no 3D, bem melhor do que no anterior «Alice no País das Maravilhas», e é difícil encontrar grandes defeitos neste capítulo. O único ponto negativo do filme é que parece que Tim Burton se perdeu um pouco no meio de tantas referências aos seus filmes favoritos (às tantas parece que estamos num filme de Quentin Tarantino, tal é a diversidade de referências a outros filmes dentro do filme) e descurou a história. A moral, como já referi mais acima, parece um pouco forçada e metida a martelo, mas o que conta é que no final podemos contar com uma bela homenagem aos filmes de terror clássico. E mesmo em modo preguiçoso, Tim Burton não falha.
Classificação: 4/5
Filmado a preto e branco, «Frankenweenie» não só recupera o espírito da curta original, apesar de também ser em 3D, como acaba por ser uma homenagem a um dos filmes favoritos de Burton: «Frankenstein», na versão de 1931, realizada por James Whale e protagonizada pelo ícone do terror clássico Boris Karloff. Com a diferença de que neste caso o 'herói' não é um cientista que realiza experiências para dar vida a um corpo morto, mas um rapaz que, utilizando o mesmo método, tenta ressuscitar o seu cão, personagem principal dos seus filmes caseiros, que fora atropelado.
Se a ideia original da Disney era fazer um filme para crianças, o resultado final não parece o mais adequado para este tipo de público, apesar de a moral do filme estar presente, de modo um pouco forçado, e alertar os mais novos para os perigos da má utilização de algo, neste caso a Ciência. Mas mal não faz, para quem é mais novo, apanhar um ou outro susto, se no final levar na memória a história de amizade entre um miúdo e o seu melhor amigo canino. Já um público mais adulto e fã do imaginário dos filmes de terror, sobretudo os grandes clássicos do género, irá divertir-se e perceber um pouco melhor as inúmeras referências a personagens e cenas destes filmes.
Tecnicamente «Frankenweenie» está sublime, mesmo no 3D, bem melhor do que no anterior «Alice no País das Maravilhas», e é difícil encontrar grandes defeitos neste capítulo. O único ponto negativo do filme é que parece que Tim Burton se perdeu um pouco no meio de tantas referências aos seus filmes favoritos (às tantas parece que estamos num filme de Quentin Tarantino, tal é a diversidade de referências a outros filmes dentro do filme) e descurou a história. A moral, como já referi mais acima, parece um pouco forçada e metida a martelo, mas o que conta é que no final podemos contar com uma bela homenagem aos filmes de terror clássico. E mesmo em modo preguiçoso, Tim Burton não falha.
Classificação: 4/5
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domingo, 21 de outubro de 2012
Grindhouse #1: Os Heróis não Choram e Códigos de Guerra, de John Woo
Há coisas que eu, enquanto fã de Cinema (para não dizer cinéfilo, palavra que ultimamente parece que tende a ganhar o estatuto de insulto/palavrão), gosto de fazer. Ou, como diz o ditado, cada maluco tem a sua mania. Uma delas é, tendo oportunidade de o fazer, ver obras de um determinado realizador, que tenham ou não pontos em comum, que possam dar uma imagem da sua obra em diferentes fases da carreira do cineasta, para tentar identificar o que mudou de um filme para o outro. Ou, no caso deste artigo em concreto, dedicado a dois filmes de John Woo («Os Heróis Não Chora», de 1986, quando o realizador era um nome consagrado do cinema feito em Hong Kong, e «Códigos de Guerra», de 2002), já no período norte-americano de Woo), o que mudou de um período da carreira do realizador para outro. Foi um bocado neste espírito que me lembrei de criar esta rubrica, com a análise de dois filmes de um realizador, a que chamarei de Grindhouse, à semelhança das sessões duplas que foram homenageadas há uns anos no projecto homónimo realizado por Quentin Tarantino e Robert Rodriguez.
Seguindo a ordem cronológica e de visionamento, comecemos então por «Os Heróis Não Choram». Realizado no mesmo ano de «Crime em Hong Kong» («A Better Tomorrow»), um dos filmes mais populares da fase de Hong Kong de Woo, este não é um policial, género que fez do realizador um dos nomes consagrados nos anos 1980 naquelas latitudes. É antes um filme de acção, à semelhança de obras que se faziam nos EUA na mesma década e protagonizadas por vedetas como Sylvester Stallone ou Arnold Schwarzenegger, tais como «Comando» ou os dois últimos episódios da série «Rambo». Neste caso, a história centra-se num grupo de mercenários contratado pelo Governo da Tailândia para raptar um poderoso traficante de droga.
Depois de conseguirem levar a cabo a sua tarefa, numa missão que é mostrada logo no início do filme, com todo o esplendor dos filmes de acção, com mortes e explosões por todo o lado, que fazem corpos voar pelo cenário, os mercenários têm de levar o traficante à Justiça e pelo caminho atravessar uma perigosa floresta onde se vão deparar com novos inimigos. Apesar do tom violento que encontramos em «Os Heróis Não Choram» (título curioso, tirado da versão inglesa do filme, pois não há personagem que não tenha uma lágrima ao canto do olho, por mais pequena que seja), onde o sangue é uma constante, esta obra não deixa de ter uma certa faceta poética, tão ao estilo dos filmes que deram fama a John Woo, sobretudo os já referidos policiais. E a comédia é algo que está bem presente em todo o filme, seja em pequenos apartes entre os protagonistas, seja em alguns gags visuais, o que torna o filme um entretenimento garantido para os fãs do género, mesmo que por vezes a história seja pouco mais do que básica, o que, para o propósito deste tipo de filmes, divertir, era suficiente.
Em 2002, data de estreia de «Códigos de Guerra», John Woo já estava praticamente enraizado em Hollywood, onde realizou o primeiro filme em 1993: «Perseguição Implacável», protagonizado por Jean-Claude Van Damme. Vindo directamente do terceiro episódio do franchise «Missão: Impossível», o cineasta asiático foi o responsável por levar ao grande ecrã um filme de guerra inspirado em factos verídicos: o recurso a índios Navajo e ao seu dialecto por parte do Exército dos EUA, na região do Pacífico durante a II Guerra Mundial, para enviar mensagens em código impossíveis de detectar pelos japoneses. Protagonizado por Nicolas Cage, cuja personagem acaba por ser mais importante do que os índios, actor com quem Woo já tinha trabalhado naquele que será o seu melhor filme e o que mais se aproximará dos seus policiais de Hong Kong nesta fase norte-americana («A Outra Face»), «Códigos de Guerra» não poderia ser mais diferente do que «Os Heróis Não Choram».
A acção também está bastante presente neste filme, mas já não é a mesma coisa em comparação com o filme de 1986. Mesmo com mais meios e com as cenas de guerra mais trabalhadas, à semelhança de outros filmes passados na II Guerra Mundial que foram retratados nos EUA no final da década de 1990 e início da década de 2000, falta a «Códigos de Guerra» uma certa poesia e a forma de filmar das cenas de acção, mais coreográficas, que encontrávamos em «Os Heróis Não Choram» e noutros filmes de Woo no passado. O tom aqui é mais dramático, tudo é muito mais sério, e não é a acção pura e dura dos filmes de John Woo de Hong Kong que nos dão. Mesmo comparando com algumas obras norte-americanas deste período, que têm este conflito como pano de fundo, «Códigos de Guerra» não está certamente entre os melhores exemplos e possivelmente vai entrar para a história como «mais um dos projectos onde Nicolas Cage entrou na primeira década do século XX».
Moral da história: à semelhança de muitos cineastas que trocaram os seus países de origem por Hollywood, esta mudança de ares parece que não fez bem a John Woo. Se em Hong Kong (que não deixa de ter uma indústria com uma realidade completamente diferente da norte-americana, é certo) o realizador conseguia filmar mais do que um filme por ano, nos EUA John Woo apenas conseguiu realizar seis filmes (mais três se considerarmos os telefilmes) em 10 anos. Todo o estilo que criou na primeira fase da sua carreira, cimentado em excelentes policiais e filmes de acção e artes marciais, acabou por desaparecer aos poucos nos EUA, onde a sua marca praticamente apenas se nota nos três primeiros filmes que realizou por lá. «Códigos de Guerra» acaba por ser, neste caso, uma pálida imagem do que foi em tempos o cinema de Woo, cujo exemplo aqui dado é «Os Heróis Não Choram».
Seguindo a ordem cronológica e de visionamento, comecemos então por «Os Heróis Não Choram». Realizado no mesmo ano de «Crime em Hong Kong» («A Better Tomorrow»), um dos filmes mais populares da fase de Hong Kong de Woo, este não é um policial, género que fez do realizador um dos nomes consagrados nos anos 1980 naquelas latitudes. É antes um filme de acção, à semelhança de obras que se faziam nos EUA na mesma década e protagonizadas por vedetas como Sylvester Stallone ou Arnold Schwarzenegger, tais como «Comando» ou os dois últimos episódios da série «Rambo». Neste caso, a história centra-se num grupo de mercenários contratado pelo Governo da Tailândia para raptar um poderoso traficante de droga.
Depois de conseguirem levar a cabo a sua tarefa, numa missão que é mostrada logo no início do filme, com todo o esplendor dos filmes de acção, com mortes e explosões por todo o lado, que fazem corpos voar pelo cenário, os mercenários têm de levar o traficante à Justiça e pelo caminho atravessar uma perigosa floresta onde se vão deparar com novos inimigos. Apesar do tom violento que encontramos em «Os Heróis Não Choram» (título curioso, tirado da versão inglesa do filme, pois não há personagem que não tenha uma lágrima ao canto do olho, por mais pequena que seja), onde o sangue é uma constante, esta obra não deixa de ter uma certa faceta poética, tão ao estilo dos filmes que deram fama a John Woo, sobretudo os já referidos policiais. E a comédia é algo que está bem presente em todo o filme, seja em pequenos apartes entre os protagonistas, seja em alguns gags visuais, o que torna o filme um entretenimento garantido para os fãs do género, mesmo que por vezes a história seja pouco mais do que básica, o que, para o propósito deste tipo de filmes, divertir, era suficiente.
Em 2002, data de estreia de «Códigos de Guerra», John Woo já estava praticamente enraizado em Hollywood, onde realizou o primeiro filme em 1993: «Perseguição Implacável», protagonizado por Jean-Claude Van Damme. Vindo directamente do terceiro episódio do franchise «Missão: Impossível», o cineasta asiático foi o responsável por levar ao grande ecrã um filme de guerra inspirado em factos verídicos: o recurso a índios Navajo e ao seu dialecto por parte do Exército dos EUA, na região do Pacífico durante a II Guerra Mundial, para enviar mensagens em código impossíveis de detectar pelos japoneses. Protagonizado por Nicolas Cage, cuja personagem acaba por ser mais importante do que os índios, actor com quem Woo já tinha trabalhado naquele que será o seu melhor filme e o que mais se aproximará dos seus policiais de Hong Kong nesta fase norte-americana («A Outra Face»), «Códigos de Guerra» não poderia ser mais diferente do que «Os Heróis Não Choram».
A acção também está bastante presente neste filme, mas já não é a mesma coisa em comparação com o filme de 1986. Mesmo com mais meios e com as cenas de guerra mais trabalhadas, à semelhança de outros filmes passados na II Guerra Mundial que foram retratados nos EUA no final da década de 1990 e início da década de 2000, falta a «Códigos de Guerra» uma certa poesia e a forma de filmar das cenas de acção, mais coreográficas, que encontrávamos em «Os Heróis Não Choram» e noutros filmes de Woo no passado. O tom aqui é mais dramático, tudo é muito mais sério, e não é a acção pura e dura dos filmes de John Woo de Hong Kong que nos dão. Mesmo comparando com algumas obras norte-americanas deste período, que têm este conflito como pano de fundo, «Códigos de Guerra» não está certamente entre os melhores exemplos e possivelmente vai entrar para a história como «mais um dos projectos onde Nicolas Cage entrou na primeira década do século XX».
Moral da história: à semelhança de muitos cineastas que trocaram os seus países de origem por Hollywood, esta mudança de ares parece que não fez bem a John Woo. Se em Hong Kong (que não deixa de ter uma indústria com uma realidade completamente diferente da norte-americana, é certo) o realizador conseguia filmar mais do que um filme por ano, nos EUA John Woo apenas conseguiu realizar seis filmes (mais três se considerarmos os telefilmes) em 10 anos. Todo o estilo que criou na primeira fase da sua carreira, cimentado em excelentes policiais e filmes de acção e artes marciais, acabou por desaparecer aos poucos nos EUA, onde a sua marca praticamente apenas se nota nos três primeiros filmes que realizou por lá. «Códigos de Guerra» acaba por ser, neste caso, uma pálida imagem do que foi em tempos o cinema de Woo, cujo exemplo aqui dado é «Os Heróis Não Choram».
sexta-feira, 19 de outubro de 2012
Um Profeta, de Jacques Audiard (2009)
Depois do excelente «De Tanto Bater o Meu Coração Bateu», o francês Jacques Audiard brinda-nos com mais um grande filme. «Um Profeta», estreado por cá no final de 2009, é a história de um jovem delinquente que vai parar à prisão dos 'grandes' e por um acaso (estar na ala de um preso que tem de ser morto) acaba por se adaptar ao crime e aos poucos torna-se uma figura bastante influente, conseguindo amigos e aliados juntos dos dois principais grupos da prisão: os árabes e os nacionalistas da Córsega.
Para o papel principal de Malik, o profeta do título, Jacques Audiard conseguiu escolher um desconhecido Tahar Rahim que se continuar assim será um nome a reter no futuro. Como contraponto temos um repetente na obra do realizador, Niels Arestrup, que depois de interpretar o pai de Roman Duris em «De Tanto Bater o Meu Coração Bateu» uma vez mais apresenta uma figura patriarcal, ao ser o mentor de Malik.
Estes dois actores conseguem interpretações de luxo num filme de prisão que não conta uma fuga, como é mais comum neste tipo de filmes, mas antes a vida de um prisioneiro, que aproveita os contactos que faz para progredir na sua 'carreira', se assim se pode dizer. E consegue-o primeiro a fazer favores aos corsos dentro da cadeia, depois fora da prisão e por fim aproveitando as ideias de um companheiro para criar contactos e uma rede que trabalha para si enquanto cumpre pena. Sempre com a vantagem de se conseguir movimentar com as pessoas certas na altura certa e sair do barco quando este começa a meter água.
Tal como no anterior «De Tanto Bater...» Jacques Audiard filma um ambiente bastante sombrio, com as relações entre personagens marginais que procuram uma chance de redenção. A de Malik vai acontecendo com a presença do fantasma do homem que assassinou, que vai aparecendo ao longo do filme para falar com ele, e culmina no fim do filme, quando um dos seus companheiros morre e ele fica encarregue de tomar conta da sua família. Mesmo que para isso continue com 'más companhias' ao lado. O final fica um bocado em aberto, pois não se sabe se os criminosos que o esperam quando sai da prisão estão ali para o proteger ou para o matar.
Classificação: 4/5
(Crítica publicada originalmente a 3 de Janeiro de 2010 no blogue A Última Sessão)
quinta-feira, 18 de outubro de 2012
De Tanto Bater o Meu Coração Parou, de Jacques Audiard (2005)
Para o seu quarto filme Jacques Audiard optou por realizar um remake de «Fingers» («Melodia para Um Assassino», no título em português, um filme do final dos anos 1970 realizado por James Toback e protagonizado por Harvey Keitel) e o resultado foi uma obra com os nervos à flor da pele, dominada por um jovem actor que na altura já estava a dar nas vistas, sobretudo depois de ter participado nesse hino ao programa Erasmus que é «A Residência Espanhola»: Roman Duris. Ao interpretar o papel de Thomas Seyr, um jovem que trabalha no ramo imobiliário (numa variante bastante original do sector, como podemos ver logo numa das cenas iniciais) a quem é dada uma segunda oportunidade para seguir uma das suas paixões, tocar piano, e tentar deixar a sua profissão, Duris conseguiu uma das melhores interpretações da sua carreira, provando que o actor não servia apenas para comédias e lhe garantiu várias nomeações para prémios, entre as quais a terceira nomeação para os prémios César, os Óscares franceses, e outra para o Prémio de Melhor Actor nos European Film Awards.
À semelhança da personagem principal, todo o filme vive e respira de acordo com o estado de espírito de Thomas, com a câmara mais nervosa nas cenas mais violentas (e neste filme a violência já tem mais espaço em comparação com o anterior «Nos Meus Lábios», onde já se começava a sentir este factor) e mais calma quando Thomas está rodeado pela música, seja quando está nas aulas de piano, seja quando está no carro ou na rua a ouvir as suas canções favoritas, geralmente mais ritmadas. A música (com Alexandre Desplat a assinar uma vez mais a banda sonora) ganha assim particular destaque e torna-se um elemento fundamental, como não podia deixar de ser, mais do que em qualquer outro filme de Audiard.
E é esta forma de filmar, aliada à já referida excelente interpretação de Roman Duris, que faz deste «De Tanto Bater o Meu Coração Parou» um dos melhores filmes do cineasta francês, apesar de ser um remake, e aquele onde a violência entra finalmente de rompante no universo de Audiard. Curiosamente, mesmo a violência sendo em algumas sequências um pouco mais forte e visual, o contraste com a música e o lado mais introspectivo de Thomas faz com que esta violência tenha ao mesmo tempo uma certa imagem mais poética, mais uma mais valia no filme.
Classificação: 4/5
À semelhança da personagem principal, todo o filme vive e respira de acordo com o estado de espírito de Thomas, com a câmara mais nervosa nas cenas mais violentas (e neste filme a violência já tem mais espaço em comparação com o anterior «Nos Meus Lábios», onde já se começava a sentir este factor) e mais calma quando Thomas está rodeado pela música, seja quando está nas aulas de piano, seja quando está no carro ou na rua a ouvir as suas canções favoritas, geralmente mais ritmadas. A música (com Alexandre Desplat a assinar uma vez mais a banda sonora) ganha assim particular destaque e torna-se um elemento fundamental, como não podia deixar de ser, mais do que em qualquer outro filme de Audiard.
E é esta forma de filmar, aliada à já referida excelente interpretação de Roman Duris, que faz deste «De Tanto Bater o Meu Coração Parou» um dos melhores filmes do cineasta francês, apesar de ser um remake, e aquele onde a violência entra finalmente de rompante no universo de Audiard. Curiosamente, mesmo a violência sendo em algumas sequências um pouco mais forte e visual, o contraste com a música e o lado mais introspectivo de Thomas faz com que esta violência tenha ao mesmo tempo uma certa imagem mais poética, mais uma mais valia no filme.
Classificação: 4/5
quarta-feira, 17 de outubro de 2012
Lisbon & Estoril Film Festival 2012: destaques da programação
Já são conhecidos alguns dos filmes que vão estar presentes na edição de 2012 do Lisbon & Estoril Film Festival, que este ano vai decorrer entre os dias 9 e 18 de Novembro. Além de 11 filmes em competição, o festival volta a contar com propostas de luxo na secção Fora de Competição, com a apresentação dos novos filmes de realizadores como Paul Thomas Anderson, Michael Haneke, Marco Bellocchio, François Ozon, Hong Sang-Soo, Leos Carax, Bernardo Bertolucci, Harmony Korine, Alain Resnais, Michel Gondry e Brian de Palma, entre outros. Brian de Palma vai também estar em destaque na presente edição do evento, ao ser alvo de uma retrospectiva integral. Outro dos realizadores agraciados com uma retrospectiva é Hou Hsiao-Hsien.
No campo das homenagens, o Lisbon & Estoril Film Festival vai prestar homenagem a Monte Hellman, Lucrecia Martel, João Pedro Rodrigues e João Rui Guerra da Mata e Serge Daney. Já Artavazd Peleshyan e Adolpho Arrietta são os nomes que integram a secção Cineastas Raros. Para a secção CinemArt, definida como «uma secção dedicada às personalidades do mundo das artes que, pelo menos uma vez nas suas vidas, deixaram o seu fascínio pelo cinema desafiar a sua própria criatividade, através de uma linguagem específica de expressão artística», o festival vai destacar cinco personalidades: Noronha da Costa, Enrique Vila-Matas, Alfred Brendel, David Hockney e Hanif Kureishi.
Por fim, como tem ocorrido nas edições anteriores do festival, vai haver espaço para ir ao passado e trazer de volta algumas obras clássicas. Em 2012 o evento vai apresentar um conjunto de filmes recuperados pela Filmoteca Espanhola, a projecção de uma nova versão restaurada de Heaven's Gate, o filme maldito de Michael Cimino, quatro sessões dedicadas ao tema Cinema e História e uma secção dedicada a Miguel Alexandre.
Segue a lista dos principais filmes que vamos poder ver este ano no Lisbon & Estoril Film Festival nas principais secções do evento:
«After Lucia», de Michel Franco;
«Children of Sarajevo», de Aida Bejic;
«Laurence Always», de Xavier Dolan;
«Rengaine», de Rachid Djaïdani;
«Student», de Darezhan Omirbayev;
«Winter, Go Away!», de Elena Khoreva, Denis Klebleev, Askold Kurov, Dmitry Kusabov, Nadezhda Leonteva, Anna Moiseenko, Madina Mustafina, Sofia Rodkevich, Anton Seregin, Alexey Zhiriakov;
«Sueño y silencio», de Jaime Rosales;
«The Shine of Day», de Tizza Covi e Rainer Frimmel;
«Low Tide», de Roberto Minervini;
«L'intervallo», de Leonardo di Constanzo;
«Avalon», de Axel Petersén
«O Mestre», de Paul Thomas Anderson (Filme de Abertura);
«Beasts of the Southern Wild», de Benh Zeitlin (Filme de Abertura);
«Amor», de Michael Haneke;
«Antiviral», de Brandon Cronenberg;
«Bella Addormentata», de Marco Bellocchio;
«Dans la maison», de François Ozon;
«Da-reun na-ra-e-suh», de Hong Sang-Soo;
«Holy Motors», de Leos Carax;
«Ingrid Caven, musique et voix», de Bertrand Bonello;
«Io e te», de Bernardo Bertolucci;
«La noche de enfrente», de Raul Ruiz;
«Operação Outono», de Bruno de Almeida;
«Padroni di Casa», de Edoardo Gabbriellini;
«Passion», de Brian de Palma;
«Spring Breakers», de Harmony Korine;
«Vous n’avez encore rien vu», de Alain Resnais;
«The We and the I», de Michel Gondry;
«West of Memphis», de Amy Berg;
«Cloud Atlas», de Tom Tykwer, Andy Wachowski, Lana Wachowski (Filme de Encerramento);
«As Voltas da Vida», de Robert Lorenz (Filme de Encerramento)
Sessões Especiais - Preservar a Memória do Cinema - Filmoteca Espanhola:
«Campanadas a medianoche, Chimes at Midnight», de Orson Welles;
«Las Hurdes, tierra sin pan», de Luis Buñuel;
«Vida en sombras», de Lorenzo Llobet Gracia;
«Restauraciones de campanas a medianoche», de Luciano Berriatúa;
«Un chien andalu», de Luis Buñuel
Sessões Especiais - Preservar a Memória do Cinema:
«Heaven's Gate», de Michael Cimino
Sessões Especiais - Cinema e História:
Hitler, ein Film aus Deutschland, de Hans-Jurgen Syberberg;
Exodus, de Otto Preminger;
Inconscio italiano, de Luca Guadagnigno;
Bab el Shams, de Yousry Nasrallah
Mais informações sobre o festival no site oficial do Lisbon & Estoril Film Festival.
No campo das homenagens, o Lisbon & Estoril Film Festival vai prestar homenagem a Monte Hellman, Lucrecia Martel, João Pedro Rodrigues e João Rui Guerra da Mata e Serge Daney. Já Artavazd Peleshyan e Adolpho Arrietta são os nomes que integram a secção Cineastas Raros. Para a secção CinemArt, definida como «uma secção dedicada às personalidades do mundo das artes que, pelo menos uma vez nas suas vidas, deixaram o seu fascínio pelo cinema desafiar a sua própria criatividade, através de uma linguagem específica de expressão artística», o festival vai destacar cinco personalidades: Noronha da Costa, Enrique Vila-Matas, Alfred Brendel, David Hockney e Hanif Kureishi.
Por fim, como tem ocorrido nas edições anteriores do festival, vai haver espaço para ir ao passado e trazer de volta algumas obras clássicas. Em 2012 o evento vai apresentar um conjunto de filmes recuperados pela Filmoteca Espanhola, a projecção de uma nova versão restaurada de Heaven's Gate, o filme maldito de Michael Cimino, quatro sessões dedicadas ao tema Cinema e História e uma secção dedicada a Miguel Alexandre.
Segue a lista dos principais filmes que vamos poder ver este ano no Lisbon & Estoril Film Festival nas principais secções do evento:
«Children of Sarajevo», de Aida Bejic
Secção Em Competição:«After Lucia», de Michel Franco;
«Children of Sarajevo», de Aida Bejic;
«Laurence Always», de Xavier Dolan;
«Rengaine», de Rachid Djaïdani;
«Student», de Darezhan Omirbayev;
«Winter, Go Away!», de Elena Khoreva, Denis Klebleev, Askold Kurov, Dmitry Kusabov, Nadezhda Leonteva, Anna Moiseenko, Madina Mustafina, Sofia Rodkevich, Anton Seregin, Alexey Zhiriakov;
«Sueño y silencio», de Jaime Rosales;
«The Shine of Day», de Tizza Covi e Rainer Frimmel;
«Low Tide», de Roberto Minervini;
«L'intervallo», de Leonardo di Constanzo;
«Avalon», de Axel Petersén
«O Mestre», de Paul Thomas Anderson
Secção Fora de Competição:«O Mestre», de Paul Thomas Anderson (Filme de Abertura);
«Beasts of the Southern Wild», de Benh Zeitlin (Filme de Abertura);
«Amor», de Michael Haneke;
«Antiviral», de Brandon Cronenberg;
«Bella Addormentata», de Marco Bellocchio;
«Dans la maison», de François Ozon;
«Da-reun na-ra-e-suh», de Hong Sang-Soo;
«Holy Motors», de Leos Carax;
«Ingrid Caven, musique et voix», de Bertrand Bonello;
«Io e te», de Bernardo Bertolucci;
«La noche de enfrente», de Raul Ruiz;
«Operação Outono», de Bruno de Almeida;
«Padroni di Casa», de Edoardo Gabbriellini;
«Passion», de Brian de Palma;
«Spring Breakers», de Harmony Korine;
«Vous n’avez encore rien vu», de Alain Resnais;
«The We and the I», de Michel Gondry;
«West of Memphis», de Amy Berg;
«Cloud Atlas», de Tom Tykwer, Andy Wachowski, Lana Wachowski (Filme de Encerramento);
«As Voltas da Vida», de Robert Lorenz (Filme de Encerramento)
«Heaven's Gate», de Michael Cimino
Sessões Especiais - Preservar a Memória do Cinema - Filmoteca Espanhola:
«Campanadas a medianoche, Chimes at Midnight», de Orson Welles;
«Las Hurdes, tierra sin pan», de Luis Buñuel;
«Vida en sombras», de Lorenzo Llobet Gracia;
«Restauraciones de campanas a medianoche», de Luciano Berriatúa;
«Un chien andalu», de Luis Buñuel
Sessões Especiais - Preservar a Memória do Cinema:
«Heaven's Gate», de Michael Cimino
Sessões Especiais - Cinema e História:
Hitler, ein Film aus Deutschland, de Hans-Jurgen Syberberg;
Exodus, de Otto Preminger;
Inconscio italiano, de Luca Guadagnigno;
Bab el Shams, de Yousry Nasrallah
Mais informações sobre o festival no site oficial do Lisbon & Estoril Film Festival.
Nos Meus Lábios, de Jacques Audiard (2001)
E ao terceiro filme Jacques Audiard começa a aprimorar um estilo que vai estar bastante presente nos filmes que realiza posteriormente. Os tons sombrios que tínhamos visto em «Regarde Les Hommes Tomber», a sua obra de estreia, entram de rompante e tomam conta das personagens de «Nos Meus Lábios». A principal diferença em relação aos dois filmes seguintes («De Tanto Bater o Meu Coração Parou» e «Um Profeta») reside no facto de neste caso a personagem principal ser feminina, algo que não encontramos nos filmes anteriores, nem posteriores do realizador.
«Nos Meus Lábios» é a história de Carla (Emmanuelle Devos) uma empregada de escritório praticamente surda que é desprezada pelos seus colegas de trabalho devido à sua condição. Ao travar conhecimento com Paul (Vincent Cassel), um novo colega, recentemente saído da prisão, e com quem vai estabelecer uma certa relação de cumplicidade, começa a ter algo que não tinha antes: alguém que, de certa forma, e independentemente das suas razões, lhe dá alguma atenção e a ajuda a ultrapassar as suas dificuldades. São estas duas personagens marginalizadas, que acabam por se complementar, que vamos encontrar no terceiro filme de Audiard, onde unem esforços para tentar alcançar uma vida melhor num mundo no qual não se conseguem inserir.
Uma vez mais um dos pontos fortes nesta segura terceira obra do cineasta gaulês é a excelente interpretação arrancada aos seus actores, neste caso concreto Devos e Cassel, dois grandes nomes do Cinema francês. É algo comum na obra de Audiard, a junção de grandes actores que dão corpo a estas histórias de pessoas que vivem um pouco à margem da sociedade. E o resultado não volta a desiludir, apesar de representar uma certa mudança em relação aos filmes anteriores do realizador. E «Nos Meus Lábios» pode mesmo ser visto como o filme que marca um antes e um depois na sua obra, que começa a ganhar contornos mais violentos e sombrios e a ficar centrada em personagens um pouco marginalizadas.
Classificação: 4/5
«Nos Meus Lábios» é a história de Carla (Emmanuelle Devos) uma empregada de escritório praticamente surda que é desprezada pelos seus colegas de trabalho devido à sua condição. Ao travar conhecimento com Paul (Vincent Cassel), um novo colega, recentemente saído da prisão, e com quem vai estabelecer uma certa relação de cumplicidade, começa a ter algo que não tinha antes: alguém que, de certa forma, e independentemente das suas razões, lhe dá alguma atenção e a ajuda a ultrapassar as suas dificuldades. São estas duas personagens marginalizadas, que acabam por se complementar, que vamos encontrar no terceiro filme de Audiard, onde unem esforços para tentar alcançar uma vida melhor num mundo no qual não se conseguem inserir.
Uma vez mais um dos pontos fortes nesta segura terceira obra do cineasta gaulês é a excelente interpretação arrancada aos seus actores, neste caso concreto Devos e Cassel, dois grandes nomes do Cinema francês. É algo comum na obra de Audiard, a junção de grandes actores que dão corpo a estas histórias de pessoas que vivem um pouco à margem da sociedade. E o resultado não volta a desiludir, apesar de representar uma certa mudança em relação aos filmes anteriores do realizador. E «Nos Meus Lábios» pode mesmo ser visto como o filme que marca um antes e um depois na sua obra, que começa a ganhar contornos mais violentos e sombrios e a ficar centrada em personagens um pouco marginalizadas.
Classificação: 4/5
terça-feira, 16 de outubro de 2012
Um Herói Muito Discreto, de Jacques Audiard (1996)
O segundo filme de Jacques Audiard, estreado em 1996, é talvez o mais leve e menos sombrio dentro do conjunto da obra do cineasta francês, contando mesmo com alguns toques de comédia (o final demasiado irónico e ambíguo é delicioso), algo que não veremos nos seus seguintes filmes. Filmado em jeito de falso documentário, com depoimentos de historiadores e alguns dos supostos envolvidos na história, «Um Herói Muito Discreto» conta o percurso de Albert Dehousse (Mathieu Kassovitz e Jean-Louis Trintignant, que interpretam a versão jovem e mais velha da personagem, respectivamente) um jovem tímido e fechado, criado por uma mãe que o convence que o seu pai foi um herói da I Guerra Mundial, que se faz passar por herói da resistência francesa no final da II Guerra Mundial junto das forças militares gaulesas para ultrapassar este seu trauma. Tudo vai bem neste jogo de enganos até Dehousse ser descoberto e cair em desgraça.
A história de Dehousse, apesar de fictícia, foi baseada em casos reais que aconteceram em França no final da II Guerra Mundial e serviu neste filme para Audiard fazer um retrato sobre a ténue linha entre a realidade e a ficção, criada por um pobre diabo que quis ser alguém na vida. Uma vez mais Kassovitz, que já tinha algum destaque na obra de estreia do cineasta, está à altura do papel, levando aos ombros todo o filme. É curioso que para o pequeno papel de Albert mais velho tenha sido escolhido Jean-Louis Trintignant, que em «Regarde Les Hommes Tomber» interpretava uma figura paternal para a a personagem de Kassovitz. Mais um espelho neste jogo de enganos que é «Um Herói Muito Discreto».
Quem também transita do primeiro filme de Audiard é o compositor Alexandre Desplat, colaborador habitual do cineasta, que volta a ser responsável pela banda sonora do filme. Neste caso com um certo impacto visual, pois o realizador optou por colocar os intérpretes musicais em cena nas sequências onde a música precisa de dar força às imagens, algo que acaba por funcionar quase como uma espécie de entretítulos sonoros. E bastante bem.
Classificação: 4/5
A história de Dehousse, apesar de fictícia, foi baseada em casos reais que aconteceram em França no final da II Guerra Mundial e serviu neste filme para Audiard fazer um retrato sobre a ténue linha entre a realidade e a ficção, criada por um pobre diabo que quis ser alguém na vida. Uma vez mais Kassovitz, que já tinha algum destaque na obra de estreia do cineasta, está à altura do papel, levando aos ombros todo o filme. É curioso que para o pequeno papel de Albert mais velho tenha sido escolhido Jean-Louis Trintignant, que em «Regarde Les Hommes Tomber» interpretava uma figura paternal para a a personagem de Kassovitz. Mais um espelho neste jogo de enganos que é «Um Herói Muito Discreto».
Quem também transita do primeiro filme de Audiard é o compositor Alexandre Desplat, colaborador habitual do cineasta, que volta a ser responsável pela banda sonora do filme. Neste caso com um certo impacto visual, pois o realizador optou por colocar os intérpretes musicais em cena nas sequências onde a música precisa de dar força às imagens, algo que acaba por funcionar quase como uma espécie de entretítulos sonoros. E bastante bem.
Classificação: 4/5
segunda-feira, 15 de outubro de 2012
Regarde Les Hommes Tomber, de Jacques Audiard (1994)
(Crítica com spoilers)
Depois de na década de 1980 ter assinado um punhado de bons argumentos para Cinema, o francês Jacques Audiard resolveu sentar-se na cadeira de realizador pela primeira vez quando corria o ano de 1994. Foi nessa altura que escreveu e realizou «Regarde Les Hommes Tomber», a sua obra de estreia, um estranho thriller que nos conta a história de Simon (Jean Yanne), um vendedor que está com o seu melhor amigo, um polícia, quando este é baleado e entra em coma. Depois deste acontecimento Simon resolve ir atrás dos autores dos disparos e entra numa espiral de confusão, deixando para trás familiares e emprego. Em simultâneo o filme retrata a história da relação entre dois homens, Marx (Jean-Louis Trintignant) e Johnny (Mathieu Kassovitz), que começou antes do trágico acontecimento e mais tarde sabemos que estiveram relacionados com o incidente que envolveu o amigo de Simon.
Mesmo com a ajuda de um bom naipe de actores, com destaque para os dois veteranos Yanne e Trintignant e o novato Kassovitz (que teve neste filme um dos seus primeiros grandes papéis no Cinema e uma excelente interpretação), e uma boa banda sonora, assinada por Alexandre Desplat, a estreia de Audiard não é de todo uma das melhores obras do cineasta gaulês. Ou pelo menos a mais acessível, apesar de ter sido reconhecida com a nomeação para alguns prémios, incluindo nos Césares (os Óscares franceses), onde o filme foi distinguido com três galardões, incluindo o de Melhor Primeira Obra.
Tal deve-se a uma certa fragmentação do argumento e à forma como a história se vai desenrolando, tornando o filme a espaços demasiado confuso. Mas, mais do que um thriller policial, diferente dos padrões normais do género, «Regarde Les Hommes Tomber» não deixa de ser um interessante estudo sobre a personalidade de três personagens bastante complexas, cada uma com as suas motivações que as levam a ter as acções que tomaram em determinadas situações. É este o ponto forte da estreia de Jacques Audiard, que mais tarde viria a explorar bastante bem este tipo de personagens, mas focando-se apenas sobretudo numa só personagem, como foi o caso dos filmes seguintes: «Um Herói Muito Discreto», «De Tanto Bater o Meu Coração Parou» e «Um Profeta».
Classificação: 3/5
Depois de na década de 1980 ter assinado um punhado de bons argumentos para Cinema, o francês Jacques Audiard resolveu sentar-se na cadeira de realizador pela primeira vez quando corria o ano de 1994. Foi nessa altura que escreveu e realizou «Regarde Les Hommes Tomber», a sua obra de estreia, um estranho thriller que nos conta a história de Simon (Jean Yanne), um vendedor que está com o seu melhor amigo, um polícia, quando este é baleado e entra em coma. Depois deste acontecimento Simon resolve ir atrás dos autores dos disparos e entra numa espiral de confusão, deixando para trás familiares e emprego. Em simultâneo o filme retrata a história da relação entre dois homens, Marx (Jean-Louis Trintignant) e Johnny (Mathieu Kassovitz), que começou antes do trágico acontecimento e mais tarde sabemos que estiveram relacionados com o incidente que envolveu o amigo de Simon.
Mesmo com a ajuda de um bom naipe de actores, com destaque para os dois veteranos Yanne e Trintignant e o novato Kassovitz (que teve neste filme um dos seus primeiros grandes papéis no Cinema e uma excelente interpretação), e uma boa banda sonora, assinada por Alexandre Desplat, a estreia de Audiard não é de todo uma das melhores obras do cineasta gaulês. Ou pelo menos a mais acessível, apesar de ter sido reconhecida com a nomeação para alguns prémios, incluindo nos Césares (os Óscares franceses), onde o filme foi distinguido com três galardões, incluindo o de Melhor Primeira Obra.
Tal deve-se a uma certa fragmentação do argumento e à forma como a história se vai desenrolando, tornando o filme a espaços demasiado confuso. Mas, mais do que um thriller policial, diferente dos padrões normais do género, «Regarde Les Hommes Tomber» não deixa de ser um interessante estudo sobre a personalidade de três personagens bastante complexas, cada uma com as suas motivações que as levam a ter as acções que tomaram em determinadas situações. É este o ponto forte da estreia de Jacques Audiard, que mais tarde viria a explorar bastante bem este tipo de personagens, mas focando-se apenas sobretudo numa só personagem, como foi o caso dos filmes seguintes: «Um Herói Muito Discreto», «De Tanto Bater o Meu Coração Parou» e «Um Profeta».
Classificação: 3/5
domingo, 14 de outubro de 2012
13ª Festa do Cinema Francês: «A L’Abri de la Tempête», de Camille Brottes-Beaulieu (2010)
A presente edição da Festa do Cinema Francês tem sido farta
em primeiras obras. Uma delas é «A L’Abri de la Tempête », realizada por
Camille Brottes-Beaulieu e inserida na secção dedicada a Maria de Medeiros, a
madrinha do evento, filme escolhido também para encerrar este mini ciclo onde
foram apresentadas várias obras seleccionadas pela própria actriz e realizadora
portuguesa.
Em «A L’Abri de la Tempête » acompanhamos as desventuras de Valentine
(Judith Magre e Maria de Medeiros) e Léo (Jean-Claude Leguay e Vincent Deniard)
um casal de vagabundos: ela é uma antiga estrela de Cinema, que trabalhou com
os grandes nomes da Nouvelle Vague e começa a perder a visão, ele um homem mais
novo, perdido com os seus problemas mentais. Cada um à sua maneira, ambos
tentam tomar conta um do outro, formando um par no mínimo bastante peculiar que
percorre as ruas de uma cidade à beira-mar, nunca identificada.
A estreia de Camille Brottes-Beaulieu é um daqueles filmes
em tons oníricos onde duas pessoas à margem da sociedade vão sobrevivendo às
agruras do dia-a-dia, através das suas deambulações e pensamentos, alguns dos
quais são expressos em estranhos diálogos que apenas eles conseguem entender,
na medida em que vivem num mundo que é só deles. Só que o resultado é demasiado
vago: as personagens andam à deriva, não se entende bem a relação que existe
entre elas ou como se conheceram, nem como chegaram ali.
Nota-se algum esforço da parte dos actores em dar vida a
estas personagens, mas nunca nos conseguem convencer em pleno que sabem onde
estão, tal é a confusão da história, que se perde ainda mais a dada altura, com
um flash forward que acaba por levar ao desenlace.
Classificação: 2/5
«A L’Abri de la Tempête » vai passar hoje, dia 14 de Outubro, às 17h00 horas, no Cinema São Jorge, em Lisboa, e de novo no dia 5 de Novembro, às 21h45, no Cinema São Mamede, em Guimarães.
sábado, 13 de outubro de 2012
13ª Festa do Cinema Francês: Galinha com Ameixas, de Vincent Paronnaud e Marjane Satrapi (2011)
Quatro anos depois de ter levado ao grande ecrã a Banda Desenhada «Persepolis», a dupla Vincent Paronnaud e Marjane Satrapi está de regresso e uma vez mais traz-nos um belo filme. E em todos os sentidos, pois não só «Galinha com Ameixas» é um dos filmes mais poéticos, um verdadeiro regalo para os olhos, que passou pela 13ª Festa do Cinema Francês, como um grande filme e até ver a melhor obra que passou pelos ecrãs do São Jorge na presente edição do evento. Tal como «Persepolis», também este filme é baseado numa BD de Satrapi, com cariz autobiográfico, pois relata a história de um familiar da cineasta, o violinista Nasser Ali Khan (Mathieu Amalric), que desistiu de viver depois de o seu instrumento se ter partido e não ter encontrado um violino suficientemente bom para o substituir.
Ao contrário da primeira obra da dupla, exclusivamente em animação a preto e branco, desta vez o resultado é muito mais colorido, apesar do tom melodramático da história, e mistura animação e imagem real. Em alguns casos chegamos a identificar um certo imaginário que nos remete para os filmes de Michel Gondry. Todos os elementos de «Galinha com Ameixas», que nos dão a ver os últimos dias de vida do violinista e a recordação do passado, através de inúmeros flashbacks que nos contam o seu passado e como se apaixonou pela música, e mesmo o que acontece no futuro aos seus familiares (belíssimas, cada uma à sua maneira, as sequências que mostram o que acontece aos filhos de Nasser Ali Khan), nos dão um dos mais belos filmes a chegar ao grande público este ano.
A juntar a estas maravilhosas imagens, Vincent Paronnaud e Marjane Satrapi conseguiram também reunir para este segundo filme da dupla um excelente elenco, liderado por Amalric, um dos melhores actores franceses da actualidade, e bem acompanhado por Maria de Medeiros, que este ano é a Madrinha da Festa do Cinema Francês. Difícil é não nos apaixonarmos por este universo, tal como já tinha acontecido na anterior obra da dupla.
Classificação: 5/5
«Galinha com Ameixas» passa apenas hoje, dia 13 de Outubro, em antestreia na Festa do Cinema Francês às 22h, na Sala Manoel de Oliveira do Cinema São Jorge.
Ao contrário da primeira obra da dupla, exclusivamente em animação a preto e branco, desta vez o resultado é muito mais colorido, apesar do tom melodramático da história, e mistura animação e imagem real. Em alguns casos chegamos a identificar um certo imaginário que nos remete para os filmes de Michel Gondry. Todos os elementos de «Galinha com Ameixas», que nos dão a ver os últimos dias de vida do violinista e a recordação do passado, através de inúmeros flashbacks que nos contam o seu passado e como se apaixonou pela música, e mesmo o que acontece no futuro aos seus familiares (belíssimas, cada uma à sua maneira, as sequências que mostram o que acontece aos filhos de Nasser Ali Khan), nos dão um dos mais belos filmes a chegar ao grande público este ano.
A juntar a estas maravilhosas imagens, Vincent Paronnaud e Marjane Satrapi conseguiram também reunir para este segundo filme da dupla um excelente elenco, liderado por Amalric, um dos melhores actores franceses da actualidade, e bem acompanhado por Maria de Medeiros, que este ano é a Madrinha da Festa do Cinema Francês. Difícil é não nos apaixonarmos por este universo, tal como já tinha acontecido na anterior obra da dupla.
Classificação: 5/5
«Galinha com Ameixas» passa apenas hoje, dia 13 de Outubro, em antestreia na Festa do Cinema Francês às 22h, na Sala Manoel de Oliveira do Cinema São Jorge.
13ª Festa do Cinema Francês: Un heureux événement, de Rémi Bezançon (2011)
Que efeito pode trazer na vida de um casal a chegada de um filho? É esta a questão abordada em «Un heureux événement», uma comédia romântica realizada por Rémi Bezançon, nome que já passou este ano pela Festa do Cinema Francês na qualidade de um dos realizadores da animação «Zarafa» (os mais atentos notarão a presença deste filme, curiosamente estreado posteriormente, em algumas das cenas, como se de um pequeno cameo fosse). E se a história da primeira girafa a pisar solo gaulês é bastante recomendável (conferir aqui), também esta longa-metragem, com actores de carne e osso, merece destaque, apesar de direccionada para um público mais velho. Em «Un heureux événement» partilhamos com o casal Barbara (Louise Bourgoin) e Nicolas (Pio Marmaï) todas as alegrias e tristezas de uma história de amor que sofre uma reviravolta quando decidem ter um filho.
Toda a primeira parte do filme é contada através de um olhar mais leve e cómico (a sequência de como o casal se conhece está bastante bem conseguida e de certo irá agradar a alguns cinéfilos) que nos mostra as peripécias e dificuldades da relação até ao momento do nascimento da criança. A partir daqui o novo elemento da família vem causar um pequeno abalo na relação, o verniz estala e os problemas começam a surgir, trazendo o drama e um tom mais pesado ao filme. Mas, mesmo com esta mudança brusca de género, «Un heureux événement» consegue ser um filme equilibrado que aguenta bem, em grande parte devido à enorme química que parece existir entre a dupla protagonista. Os secundários também não desiludem, nomeadamente a personagem da mãe de Barbara, interpretada por Josiane Balasko, que acaba por ter o seu espaço próprio sem roubar o filme a quem de direito.
Uma boa surpresa, que está a anos-luz de comédias recentes que abordam o mesmo tema da gravidez. Assim de repente lembro-me do inenarrável «O Que Se Espera Enquanto Se Está à Espera», de Kirk Jones, que passou há alguns meses pelas salas e não deixou saudades.
Classificação: 4/5
«Un heureux événement» vai passar hoje, dia 13 de Outubro, às 19h30 horas, no Cinema São Jorge, em Lisboa, e de novo no dia 20, às 19h30 no Teatro Municipal de Faro no dia 26 de Outubro, às 18h00 horas, no Teatro Académico de Gil Vicente, em Coimbra.
Toda a primeira parte do filme é contada através de um olhar mais leve e cómico (a sequência de como o casal se conhece está bastante bem conseguida e de certo irá agradar a alguns cinéfilos) que nos mostra as peripécias e dificuldades da relação até ao momento do nascimento da criança. A partir daqui o novo elemento da família vem causar um pequeno abalo na relação, o verniz estala e os problemas começam a surgir, trazendo o drama e um tom mais pesado ao filme. Mas, mesmo com esta mudança brusca de género, «Un heureux événement» consegue ser um filme equilibrado que aguenta bem, em grande parte devido à enorme química que parece existir entre a dupla protagonista. Os secundários também não desiludem, nomeadamente a personagem da mãe de Barbara, interpretada por Josiane Balasko, que acaba por ter o seu espaço próprio sem roubar o filme a quem de direito.
Uma boa surpresa, que está a anos-luz de comédias recentes que abordam o mesmo tema da gravidez. Assim de repente lembro-me do inenarrável «O Que Se Espera Enquanto Se Está à Espera», de Kirk Jones, que passou há alguns meses pelas salas e não deixou saudades.
Classificação: 4/5
«Un heureux événement» vai passar hoje, dia 13 de Outubro, às 19h30 horas, no Cinema São Jorge, em Lisboa, e de novo no dia 20, às 19h30 no Teatro Municipal de Faro no dia 26 de Outubro, às 18h00 horas, no Teatro Académico de Gil Vicente, em Coimbra.
sexta-feira, 12 de outubro de 2012
Alfred Hitchcock e os novos pássaros
Um Alfred Hitchcock alternativo num hipotético cenário do clássico «Os Pássaros» protagonizado pelas personagens de Angry Birds.
13ª Festa do Cinema Francês: Le cochon de Gaza, de Sylvain Estibal (2011)
Depois de «Le Fils de l'autre», o conflito israelo-palestiniano volta a ser o pano de fundo de um outro filme apresentado na edição deste ano da Festa do Cinema Francês. «Le cochon de Gaza» é uma daquelas comédias com uma boa premissa mas cujo resultado final acaba por não se cumprir de todo. Neste caso, o filme conta-nos a história de um pobre pescador palestiniano que 'pesca' um porco, animal impuro para os muçulmanos, e não sabe o que fazer para se ver livre do animal, envolvendo-se em inúmeras peripécias e episódios caricatos que envolvem a comunidade local, desde os colonos aos militares israelitas, passando por um grupo de terroristas ou as autoridades locais.
Através da história do pescador Jafaar (Sasson Gabai), Sylvain Estibal, que assina aqui a sua primeira obra, faz-nos um retrato demasiado leve dos problemas que dividem Israel e a Palestina, representados muitas vezes sob a forma de clichés: uma comunidade de colonos que estão prestes a ser expulsos, postos fronteiriços que ficam literalmente dentro da casa de palestinianos, polícias corruptos, entre outros exemplos, são todos retratados em «Le cochon de Gaza». Ou seja, nada que já não tenha sido visto noutros filmes ou nos noticiários do dia-a-dia.
Mesmo que tenha boas intenções, e o final do filme (um pouco escusado e forçado, a meu ver) é a melhor prova disso, a estreia de Sylvain Estibal nunca vai mais além de um filme simpático, que pretende utilizar os mecanismos da comédia para mostrar o que se passa numa comunidade dividida por questões tão complicadas. Conseguimos simpatizar com a personagem de Jafaar e a tarefa que tem em mãos, mas há demasiadas falhas, tanto a nível de argumento como técnicos (o som parece de um filme dobrado, por exemplo), para conseguir gostar de «Le cochon de Gaza». Com muito menos espalhafato, Elia Suleiman fez há anos uma das melhores comédias sobre este tema, sem deixar de ser tão absurda: «Intervenção Divina».
Classificação: 2/5
«Le cochon de Gaza» vai passar hoje, dia 12 de Outubro, às 19h30 horas, no Cinema São Jorge, em Lisboa, e de novo no dia 13, às 23h00 no Fórum Romeu Correia, em Almada, no dia 25 às 18h30, no Rivoli Teatro Municipal, no Porto, e no dia 29 de Outubro, às 23h30 horas, no Teatro Académico de Gil Vicente, em Coimbra.
Através da história do pescador Jafaar (Sasson Gabai), Sylvain Estibal, que assina aqui a sua primeira obra, faz-nos um retrato demasiado leve dos problemas que dividem Israel e a Palestina, representados muitas vezes sob a forma de clichés: uma comunidade de colonos que estão prestes a ser expulsos, postos fronteiriços que ficam literalmente dentro da casa de palestinianos, polícias corruptos, entre outros exemplos, são todos retratados em «Le cochon de Gaza». Ou seja, nada que já não tenha sido visto noutros filmes ou nos noticiários do dia-a-dia.
Mesmo que tenha boas intenções, e o final do filme (um pouco escusado e forçado, a meu ver) é a melhor prova disso, a estreia de Sylvain Estibal nunca vai mais além de um filme simpático, que pretende utilizar os mecanismos da comédia para mostrar o que se passa numa comunidade dividida por questões tão complicadas. Conseguimos simpatizar com a personagem de Jafaar e a tarefa que tem em mãos, mas há demasiadas falhas, tanto a nível de argumento como técnicos (o som parece de um filme dobrado, por exemplo), para conseguir gostar de «Le cochon de Gaza». Com muito menos espalhafato, Elia Suleiman fez há anos uma das melhores comédias sobre este tema, sem deixar de ser tão absurda: «Intervenção Divina».
Classificação: 2/5
«Le cochon de Gaza» vai passar hoje, dia 12 de Outubro, às 19h30 horas, no Cinema São Jorge, em Lisboa, e de novo no dia 13, às 23h00 no Fórum Romeu Correia, em Almada, no dia 25 às 18h30, no Rivoli Teatro Municipal, no Porto, e no dia 29 de Outubro, às 23h30 horas, no Teatro Académico de Gil Vicente, em Coimbra.
quinta-feira, 11 de outubro de 2012
A partir de hoje Jacques Audiard toma conta do Nimas
No âmbito da 13ª Festa do Cinema Francês começa hoje no Espaço Nimas, em Lisboa, um ciclo dedicado a Jacques Audiard, um dos cineastas gauleses mais interessantes da actualidade. A mais recente obra de Audiard, «De Rouille et d'os», vai também estar em destaque na Festa no próximo domingo, onde será projectado como filme de encerramento do evento no Cinema São Jorge, às 22h00. Ficam aqui os horários para o ciclo do Nimas, uma boa sugestão para os próximos dias.
Regarde Les Hommes Tomber (1994)
11 de Outubro às 21h30
14 de Outubro às 18h30
Um Herói Muito Discreto (1996)
14 de Outubro às 16h00
17 de Outubro às 21h30
Nos Meus Lábios (2001)
13 de Outubro às 18h30
15 de Outubro às 21h30
De Tanto Bater o Meu Coração Parou (2005)
13 de Outubro às 21h30
16 de Outubro às 21h30
Um Profeta (2009)
12 de Outubro às 21h30
14 de Outubro às 21h30
quarta-feira, 10 de outubro de 2012
13ª Festa do Cinema Francês: Elas, de Malgorzata Szumowska (2011)
«Elas», de Malgorzata Szumowska, é uma das propostas de hoje da 13ª Festa do Cinema Francês. Protagonizado por Juliette Binoche, o filme conta-nos a história de uma jornalista, Anne, que está a escrever um artigo sobre estudantes de Paris que se prostituem para ganhar dinheiro e ter uma vida que de outra forma não conseguiriam ter. A escrita do artigo e a convivência com as duas jovens entrevistadas, Charlotte (Anaïs Demoustier) e Alicja (Joanna Kulig), acaba por ter alguma influência no dia-a-dia de Anne e na forma como esta lida com um casamento que atravessa uma fase conturbada.
Com carreira cimentada sobretudo na área do documentário, esta é a quarta incursão da cineasta polaca no mundo da ficção. E este passado no universo do documentário nota-se talvez demasiado em «Elas», o que acaba por ser uma das maiores falhas no filme, na medida em que nunca consegue cativar o espectador, seja através da história de Anne, seja pelas histórias das duas jovens. O resultado é algo demasiado vago e confuso, que não chega a aprofundar nenhuma das partes. Pouco sabemos da jornalista, aparentemente a personagem principal do filme, mas que nos parece demasiado perdida, apesar de no início parecer alguém seguro. Binoche bem tenta levar avante a sua interpretação, mas pouco consegue fazer para alcançar uma interpretação ao nível do que nos tem habituado. O mesmo sucede com a parte dedicada às jovens, pois pouco ficamos a saber em relação a estas personagens, como por exemplo, quais foram os motivos que as levaram a enveredar pela prostituição.
Classificação: 2/5
«Elas» vai passar hoje, dia 10 de Outubro, às 22 horas no Cinema São Jorge, em Lisboa, e de novo no dia 17 de Outubro, às 21h30, no Teatro Municipal de Faro, e no dia 31 de Outubro, às 21 horas, no Teatro Académico de Gil Vicente, em Coimbra.
Com carreira cimentada sobretudo na área do documentário, esta é a quarta incursão da cineasta polaca no mundo da ficção. E este passado no universo do documentário nota-se talvez demasiado em «Elas», o que acaba por ser uma das maiores falhas no filme, na medida em que nunca consegue cativar o espectador, seja através da história de Anne, seja pelas histórias das duas jovens. O resultado é algo demasiado vago e confuso, que não chega a aprofundar nenhuma das partes. Pouco sabemos da jornalista, aparentemente a personagem principal do filme, mas que nos parece demasiado perdida, apesar de no início parecer alguém seguro. Binoche bem tenta levar avante a sua interpretação, mas pouco consegue fazer para alcançar uma interpretação ao nível do que nos tem habituado. O mesmo sucede com a parte dedicada às jovens, pois pouco ficamos a saber em relação a estas personagens, como por exemplo, quais foram os motivos que as levaram a enveredar pela prostituição.
Classificação: 2/5
«Elas» vai passar hoje, dia 10 de Outubro, às 22 horas no Cinema São Jorge, em Lisboa, e de novo no dia 17 de Outubro, às 21h30, no Teatro Municipal de Faro, e no dia 31 de Outubro, às 21 horas, no Teatro Académico de Gil Vicente, em Coimbra.
terça-feira, 9 de outubro de 2012
13ª Festa do Cinema Francês: Captive, de Brillante Mendoza (2012)
(crítica com spoilers)
Que ninguém sai inteiro de um filme de Brillante Mendoza não é grande novidade. Mas em «Captive» saímos um bocadinho mais inteiros do que nos anteriores filmes do cineasta filipino, apesar de alguma violência percorrer as duas horas deste filme, que relata o cativeiro de um grupo de reféns raptado por terroristas islâmicos. Não sabemos se os murros no estômago que estavam presentes nos últimos filmes de Brillante Mendoza, tanto o poético «Lola» como o mais duro «Kinatay», sobretudo este, foram suavizados devido ao facto de «Captive» ser uma co-produção com financiamento europeu ou não, mas o que é certo é que esta última obra do realizador não é tão forte como as duas anteriores, mesmo tocando situações sensíveis.
Filmado como se de um documentário ficcionado se tratasse, com uma câmara sempre nervosa, a mostrar a tensão do que se vive, «Captive» mostra-nos a dura realidade do cativeiro desde que o grupo é raptado até à sua libertação. Pelo meio há ainda tempo para reflectir sobre temas como o terrorismo e as suas ligações tanto à religião como às forças políticas. Mas o que falta a este filme em relação às duas anteriores obras do realizador, talvez as mais conhecidas, é precisamente essa dureza que fazia dos filmes de Mendoza quase como uma experiência.
Em «Captive» não há nada que nos prenda suficientemente à história ou nos leve a viver o que se passa com as personagens, como acontecia em «Lola» ou «Kinatay». Aqui estamos demasiado afastados do filme, mas talvez seja esse o objectivo, tal como é explicado nas legendas que aparecem no início e no final de «Captive», onde em traços gerais é descrita a situação dos raptos de pessoas nas Filipinas, que tiveram a sua génese precisamente no episódio que é relatado neste filme. Apesar da presença de uma certa violência, não só nas sequências mais previsíveis, como são as dos conflitos entre os terroristas e o exército ou milícias armadas, o filme poderia ter ido um bocado mais longe na exploração dos cenários, como a floresta onde decorre grande parte da acção, que não conseguem ser opressivos e falham em criar a sensação de que aquelas pessoas estão numa situação desesperante. Mesmo que todo o elenco tenha boas interpretações, «Captive» acaba por ser pouco satisfatório para quem estava à espera de algo mais à semelhança dos outros filmes de Brillante Mendoza.
Classificação: 3/5
«Captive» vai passar hoje, dia 9 de Outubro, às 22 horas no Cinema São Jorge, em Lisboa, e no dia 7 de Novembro às 21h45 no Cinema São Mamede, em Guimarães.
Que ninguém sai inteiro de um filme de Brillante Mendoza não é grande novidade. Mas em «Captive» saímos um bocadinho mais inteiros do que nos anteriores filmes do cineasta filipino, apesar de alguma violência percorrer as duas horas deste filme, que relata o cativeiro de um grupo de reféns raptado por terroristas islâmicos. Não sabemos se os murros no estômago que estavam presentes nos últimos filmes de Brillante Mendoza, tanto o poético «Lola» como o mais duro «Kinatay», sobretudo este, foram suavizados devido ao facto de «Captive» ser uma co-produção com financiamento europeu ou não, mas o que é certo é que esta última obra do realizador não é tão forte como as duas anteriores, mesmo tocando situações sensíveis.
Filmado como se de um documentário ficcionado se tratasse, com uma câmara sempre nervosa, a mostrar a tensão do que se vive, «Captive» mostra-nos a dura realidade do cativeiro desde que o grupo é raptado até à sua libertação. Pelo meio há ainda tempo para reflectir sobre temas como o terrorismo e as suas ligações tanto à religião como às forças políticas. Mas o que falta a este filme em relação às duas anteriores obras do realizador, talvez as mais conhecidas, é precisamente essa dureza que fazia dos filmes de Mendoza quase como uma experiência.
Em «Captive» não há nada que nos prenda suficientemente à história ou nos leve a viver o que se passa com as personagens, como acontecia em «Lola» ou «Kinatay». Aqui estamos demasiado afastados do filme, mas talvez seja esse o objectivo, tal como é explicado nas legendas que aparecem no início e no final de «Captive», onde em traços gerais é descrita a situação dos raptos de pessoas nas Filipinas, que tiveram a sua génese precisamente no episódio que é relatado neste filme. Apesar da presença de uma certa violência, não só nas sequências mais previsíveis, como são as dos conflitos entre os terroristas e o exército ou milícias armadas, o filme poderia ter ido um bocado mais longe na exploração dos cenários, como a floresta onde decorre grande parte da acção, que não conseguem ser opressivos e falham em criar a sensação de que aquelas pessoas estão numa situação desesperante. Mesmo que todo o elenco tenha boas interpretações, «Captive» acaba por ser pouco satisfatório para quem estava à espera de algo mais à semelhança dos outros filmes de Brillante Mendoza.
Classificação: 3/5
«Captive» vai passar hoje, dia 9 de Outubro, às 22 horas no Cinema São Jorge, em Lisboa, e no dia 7 de Novembro às 21h45 no Cinema São Mamede, em Guimarães.
segunda-feira, 8 de outubro de 2012
Adeus, Minha Rainha, de Benoît Jacquot (2012)
O ano é 1789, o mês Julho. Tudo corre bem na corte de Luís XVI e Maria Antonieta instalada em Versalhes. Pelo menos até ao dia em que o povo toma a Bastilha iniciando assim um processo que irá ficar conhecido como a Revolução Francesa. Este período conturbado da História de França é o pano de fundo de «Adeus, Minha Rainha», o mais recente filme de Benoît Jacquot, que nos mostra o início do fim da monarquia francesa através do olhar de Sidonie Laborde (Léa Seydoux), a leitora de Maria Antonieta (Diane Kruger).
«Adeus, Minha Rainha» é um retrato dos jogos de aparências em Versalhes, centrado nas relações ambíguas entre a própria leitora e a Rainha e Gabrielle de Polignac (Virginie Ledoyen), uma figura da nobreza com um passado obscuro que surge na lista de cabeças a cortar para que tudo se resolva, e Maria Antonieta. Filmado a partir de um ponto de vista feminino (as personagens masculinas aqui não têm grande protagonismo), o filme aproveita os esplendorosos cenários de Versalhes para nos apresentar um mundo em decadência, bem diferente do retrato mais glamouroso que Sofia Coppola fez do mesmo universo há uns anos, onde mesmo com a tragédia no horizonte as ordens da monarca têm de ser acatadas, tenha ou não razão.
Léa Seydoux, actriz que se está a tornar um dos nomes a ter em conta no Cinema gaulês actual, tem uma interpretação segura e convincente. O facto de estar ladeada por bons secundários ajuda a dar corpo a esta história que nos dá a ver Versalhes a partir de alguém que viveu por dentro da corte, mas sem necessariamente colher os frutos dessa vida de luxo. Basta ver a forma como é tratada pela Rainha: de início pensamos que é quase uma confidente de Maria Antonieta, mas no final o papel muda completamente quando é preciso proteger certos interesses. «Adeus, Minha Rainha» consegue ser um bom filme de época sem cair em excessos, bastante comuns neste tipo de produções.
Classificação: 4/5
«Adeus, Minha Rainha» é um retrato dos jogos de aparências em Versalhes, centrado nas relações ambíguas entre a própria leitora e a Rainha e Gabrielle de Polignac (Virginie Ledoyen), uma figura da nobreza com um passado obscuro que surge na lista de cabeças a cortar para que tudo se resolva, e Maria Antonieta. Filmado a partir de um ponto de vista feminino (as personagens masculinas aqui não têm grande protagonismo), o filme aproveita os esplendorosos cenários de Versalhes para nos apresentar um mundo em decadência, bem diferente do retrato mais glamouroso que Sofia Coppola fez do mesmo universo há uns anos, onde mesmo com a tragédia no horizonte as ordens da monarca têm de ser acatadas, tenha ou não razão.
Léa Seydoux, actriz que se está a tornar um dos nomes a ter em conta no Cinema gaulês actual, tem uma interpretação segura e convincente. O facto de estar ladeada por bons secundários ajuda a dar corpo a esta história que nos dá a ver Versalhes a partir de alguém que viveu por dentro da corte, mas sem necessariamente colher os frutos dessa vida de luxo. Basta ver a forma como é tratada pela Rainha: de início pensamos que é quase uma confidente de Maria Antonieta, mas no final o papel muda completamente quando é preciso proteger certos interesses. «Adeus, Minha Rainha» consegue ser um bom filme de época sem cair em excessos, bastante comuns neste tipo de produções.
Classificação: 4/5
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Benoît Jacquot,
Crítica,
Diane Kruger,
Estreias 2012,
Léa Seydoux
domingo, 7 de outubro de 2012
13ª Festa do Cinema Francês: L'art d'aimer, de Emmanuel Mouret (2011)
Amor. O Amor nos seus mais diversos tamanhos e feitios. Entre jovens e mais velhos, entre gente casada e entre desconhecidos, e mesmo o amor de quem nunca encontrou o verdadeiro Amor, seja lá o que isso for. É esse o tema de «L'art d'aimer», um filme mosaico realizado por Emmanuel Mouret, que acumula ainda o papel de argumentista e tem um pequeno papel num dos segmentos. Se a premissa é boa, mostrar as diferentes formas de amor a partir de uma determinada música que toda a gente ouve quando se apaixona (pelo menos é o que diz o narrador para justificar todas estas histórias), o resultado final é um pouco confuso e pouco atractivo para quem vier à procura de uma comédia.
Na maior parte os episódios são bastante desequilibrados e pouco credíveis. Nunca chegamos a perceber se o objectivo de «L'art d'aimer» é brincar um pouco com os clichés das relações na vida real ou ser levado mais a sério, por muito que os actores se esforcem por mostrar estas diferentes facetas do Amor. Um tiro ao lado, que acaba por ser um dos filmes mais fracos desta edição da Festa do Cinema Francês.
Classificação: 2/5
«L'art d'aimer» vai passar hoje, dia 7 de Outubro, às 22 horas no Cinema São Jorge, em Lisboa, e repete no dia 12 de Outubro em Almada, no Fórum Romeu Correia, às 21h00, no dia 16 em Faro, no Teatro Municipal de Faro, às 21h30, no dia 26 no Rivoli Teatro Municipal, no Porto, às 21h30 e no dia 31 em Coimbra, no Teatro Académico de Gil Vicente, às 21h30.
Na maior parte os episódios são bastante desequilibrados e pouco credíveis. Nunca chegamos a perceber se o objectivo de «L'art d'aimer» é brincar um pouco com os clichés das relações na vida real ou ser levado mais a sério, por muito que os actores se esforcem por mostrar estas diferentes facetas do Amor. Um tiro ao lado, que acaba por ser um dos filmes mais fracos desta edição da Festa do Cinema Francês.
Classificação: 2/5
«L'art d'aimer» vai passar hoje, dia 7 de Outubro, às 22 horas no Cinema São Jorge, em Lisboa, e repete no dia 12 de Outubro em Almada, no Fórum Romeu Correia, às 21h00, no dia 16 em Faro, no Teatro Municipal de Faro, às 21h30, no dia 26 no Rivoli Teatro Municipal, no Porto, às 21h30 e no dia 31 em Coimbra, no Teatro Académico de Gil Vicente, às 21h30.
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